tag:blogger.com,1999:blog-58570936939477340222024-03-13T13:25:24.662-03:00Ouriço Elegante''Desejamos apaixonadamente que algo nos salve dos destinos biológicos para que toda poesia e toda grandeza não sejam excluídas deste mundo.''
MURIEL BARBERY in "A elegância do ouriço"Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.comBlogger1181125tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-89059836953790745612019-04-06T07:39:00.000-03:002019-04-06T07:39:03.675-03:00Aos colegas Professores<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #38761d;">Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #38761d;">aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra.</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #38761d;">O professor, assim, não morre jamais…</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;">Rubem Alves</span></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para filme O sorriso de Mona Lisa" height="239" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSNGDHbH8KDwKwoqdB7ESdtcl6be2dopQbu3vdBnKoLWiNV4wx7" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d; font-size: large;"><b>Ensinar o que não se sabe</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;"><b>Rubem Alves - </b>Revista Prosa, Verso e Arte</span></div>
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">E chega o momento quando o Mestre toma o discípulo pela mão, e o leva até o alto da montanha. Atrás, na direção do nascente, se vêem vales, caminhos, florestas, riachos, planícies ermas, aldeias e cidades. Tudo brilha sob a luz clara do sol que acaba de surgir no horizonte. E o Mestre fala:</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<i><span style="color: #38761d;">Por todos estes caminhos já andamos. Ensinei-lhe aquilo que sei. já não há surpresas. Nestes cenários conhecidos moram os homens. Também eles foram meus discípulos! Dei-lhes o meu saber e eles aprenderam as minhas lições. Constroem casas, abrem estradas, plantam campos, geram filhos… Vivem a boa vida cotidiana, com suas alegrias e tristezas. Veja estes mapas!</span></i><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Com estas palavras ele toma rolos de papel que trazia debaixo do braço e os abre diante do discípulo.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<i><span style="color: #38761d;">Aqui se encontra o retrato deste mundo. Se você prestar bem atenção, verá que há mapas dos céus, mapas das terras, mapas do corpo, mapas da alma. Andei por estes cenários. Naveguei, pensei, aprendi. Aquilo que aprendi e que sei, está aqui. E estes mapas eu lhe dou, como minha herança. Com eles você poderá andar por estes cenários sem medo e sem sustos, pisando sempre a terra firme. Dou-lhe o meu saber.</span></i><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Aí o Mestre fica silencioso, olhando dentro dos olhos do discípulo. Ele quer adivinhar o que se esconde naquele olhar. Examina os seus pés. Nos pés sólidos se revela a vocação para andar pelas trilhas conhecidas. Quem sabe isto é tudo aquilo de que aquele corpo jovem é capaz! Quem sabe isto é tudo o que aquele corpo jovem deseja! Se assim for, talvez que o melhor seria encerrar aqui a lição e nada mais dizer.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Mas o Mestre não se contém e procura, nas costas do seu discípulo, prenúncios de asas – asas que ele imaginara haver visto como sonho, dentro dos seus olhos.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O Mestre sabe que todos os homens são seres alados por nascimento, e que só se esquecem da vocação pelas alturas quando enfeitiçados pelo conhecimento das coisas já sabidas.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Ensinou o que sabia. Agora chegou a hora de ensinar o que não sabe: o desconhecido.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Volta-se então na direção oposta, o mar imenso e escuro, onde a luz do sol ainda não chegou.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;"><i>É este o seu destino. Os poetas o têm sabido desde sempre: A solidez, da terra, monótona, parece-nos fraca ilusão. Queremos a ilusão do grande mar, multiplicada em suas malhas de perigo (</i>Cecília Meireles).</span><br />
<i><span style="color: #38761d;"><br /></span></i>
<span style="color: #38761d;"><i>É preciso navegar. Deixando atrás as terras e os portos dos nossos pais e avós, nossos navios têm de buscar a terra dos nossos filhos e netos, ainda não vista, desconhecida. </i>(Nietzsche).</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Mas, para esta aventura meus mapas não lhe bastam. Todos os diplomas são inúteis. E inútil todo o saber aprendido. Você terá de navegar dispondo de uma coisa apenas: os seus sonhos. Os sonhos são os mapas dos navegantes que procuram novos mundos. Na busca dos seus sonhos você terá de construir um novo saber, que eu mesmo não sei… E os seus pensamentos terão de ser outros, diferentes daqueles que você agora tem.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O seu saber é um pássaro engaiola</span><span style="color: #38761d;">do, que pula de poleiro a poleiro, e que você leva para onde quer. Mas dos sonhos saem pássaros selvagens, que nenhuma educação pode domesticar.</span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para filme Ao mestre com carinho" height="173" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQsKWJ5tdvsqMBDLU1ZBRS6NCLLIEV0vJell7HDDtBf9gsZaiWB7A" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<span style="color: #38761d;">Meu saber o ensinou a andar por caminhos sólidos. Indiquei-lhe as pedras firmes, onde você poderá colocar os seus pés, sem medo. Mas o que fazer quando se tem de caminhar por um rio saltando de pedra em pedra, cada pedra uma incógnita? Ah! Como são diferentes o corpo movido pelo sonho, do corpo movido pelas certezas.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;"><i>Sobre leves esteios o primeiro salta para diante. a esperança e o pressentimento põem asas em seus pés. Pesadamente o segundo arqueja em seu encalço e busca esteios melhores para também alcançar aquele alvo sedutor, ao qual seu companheiro mais divino já chegou. Dir-se-ia ver dois andarilhos diante de um regato selvagem, que corre rodopiando pedras. o primeiro, com pés ligeiros, salta por sobre ele, usando as pedras e apoiando-se nelas para lançar-se mais adiante, ainda que, atrás dele, afundem bruscamente nas profundezas. O outro, a todo instante, detém-se desamparado, precisa antes construir fundamentos que sustentem seu passo pesado e cauteloso; por vezes isso não dá resultado e, então, não há deus que possa auxiliá-lo a transpor o regato</i>. (Nietzsche)</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Até agora eu o ensinei a marchar. É isto que se ensina nas escolas. Caminhar com passos firmes. Não saltar nunca sobre o vazio. Nada dizer que não esteja construído sobre sólidos fundamentos. Mas, com o aprendizado do rigor, você desaprendeu o fascínio do ousar. E até desaprendeu mesmo a arte de falar. Na Idade Média (e como a criticamos!) os pensadores só se atreviam a falar se solidamente apoiados nas autoridades. Continuamos a fazer o mesmo, embora os textos sagrados sejam outros. Também as escolas e universidades têm os seu papas, seus dogmas, suas ortodoxias. O segredo do sucesso na carreira acadêmica? Jogar bem o boca de forno, a aprender a fazer tudo o que seu mestre mandar…</span><br />
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para filme Sociedade dos" height="214" src="data:image/jpeg;base64,/9j/4AAQSkZJRgABAQAAAQABAAD/2wCEAAkGBxITEhUTEhMVFhUXFxkYFxgXFxUXFxsYGBgYFxcXFhgYHSggGBolHRUXITEhJSkrLi4uFx8zODMtNygtLisBCgoKDg0OGxAQGy0lICU1LS0tLy0vLS0tLS0vLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLf/AABEIALgBEgMBIgACEQEDEQH/xAAcAAABBQEBAQAAAAAAAAAAAAAFAAMEBgcBAgj/xABFEAACAQIDBQUEBQgJBQEAAAABAhEAAwQSIQUGMUFREyJhcZEygaGxB0JSwdEUIzNicoKy4UNTY3OSosLS8BUkNOLxk//EABkBAAMBAQEAAAAAAAAAAAAAAAECAwAEBf/EACgRAAICAgICAgICAgMAAAAAAAABAhEDIRIxE0EiUQQyYbEjkUJxgf/aAAwDAQACEQMRAD8AFbe3bupiLdi33mzsqxpJFu0BxHdk9Y8zUy3sXFWFftbVxCOHEgwDqpGYNy4deFWzboC7Qwjdbz+P9UNOPw9DwFmu21zmCFJM6Qp1Phkb1muWUVReM2ZI+NOgbKx+y6jN7gSD/lrgxdv6yshPRo9FugfAVrW1cGr24ZQe+ntKD/SLOrCYIn61U/bm7aB7fZoqBioYJmQEs5HJonhp/lPNXjGWSwKrFeF2NBo4K/5hp8KlJfuD6oYdVII/H4UZxG5qswK3WVuEFUI0j7JV+fwoVtHdO/aIhkaeBlrZ0gfXE/WH1qTg0Opo928enBpU+II+dTLIR+BBoamHvKwttm9kkg68l6z1PP1onsbDZmANGKMxz/pc8JqAdnNlJjST8CRWl4XAoiwAD5118FbIjKB5ACujxEPLsxrHJl46VBtt3tKt2++BFtgBwkGqtlioSVHRGVodt3gbhTmFVufMsPuFT1U+PoaAYLEM2NYLJ7sESdFCZiY4adatdpdKzhVGUrPFk+foalWhrz9DSt26n2bVLQWyPhE7o4+h61JW0eh9KewdvujyqWENFREcgf2R6Gudgehqf2dI2qPEHJkA4Y9KYfDufqn1H40aS3Xl7dbiHkAGsNzUjzj8aZfDt0+Io7et1EuW6HEKkB7mHbw9aZayf+GirpUe5boUNZA7M+HrXlkPh6/yqU6GuZKFBInZN4etc7M+HrU0W66tujQLIgsN0HrXsWH6D1/lRFEpG3TcReQPbCt4ev8AKmnwjR9X1P4UXFuvL2KPEHICdi3Qep/Cu0YFjwpVuIORYdtZTjsIDoc78SJP6PqwJ/zeVH7rAsBPukfIN/prIE3rutknF2mdLisGINsFSNUJQRPdGk9avOF28sGbzAgT3u0AGhkguGBHrVW0RSaLJi7K5OGXvLqO79ccwF+frwoRjVI7PVm9nWJ+twlV8eBb9082re8CsQq3rTcDo1qdDP27Z+FSMTdDKHKzljUKW0B69m0e5xQ0ZBe2hkefAz0Hj91M4/Qr3T7io+snUr08fdz9WsYueIOgBmQBqPHL99OYggwRm06T1B5A9OtH0D2D/wAlX8oBj+j6Hr6ffUfE4VVeV0/4PEn40UKDtlP9n4Tx85+FRto4fWaFaGT2TcJtEHRuNe8TtFEEzNVS/eIYjxqDicWTxNHyG8ZE3sx/auDVcY1K2pc1FR7VvMajN2dEVSPewdm5bl647CWKBU7xzZlDjQciEVT4MaNYfUAjUcjESORjlUO2hGYosM2HtE3PsLJRgv6zHKB0g1OwJBUR0oN2UlBRWifh7c0dwezCwnhQ3Z41FXPCRlEVXHFM5ckqAybNKqPAUyyVYrxEGaCX+NPKKQkZNkfJXezpy2utTLeHmlUbC5UQBbim3opcwwqJdtVnGjKQNuUxcSiRtCmXt0jiOmC3So7pRK7aiq/vVduJYbsvbbug9JmT6ClodMcNxCSAykjiAQSPOuMlY/iMJctPrxGsg1p+7F97uGtu5ltRPMwSAT46UZQSVpmUndNUDtvbYu2roS3kgqD3gTxJHIjpXm7tLFITmawYUt3QxBjxzaVPxew/yi87Z8uRFAHUnORryGlQsTsV7dprlwsSVKwWzZenuMVWMVxJyk7LNaYwD4V29OU+R+Vera6CvV8dxvI/KoFSl7JwiPbtNduYovddwoS7C91o+sdKdx2Ctdjde1cxQa3Ht3SR7QXkdeNN4nA3hh8MqI5M3CcoYxmYESRwqXbwpXBXs6OrSoObMARnUggFQPieHKrrqyHui0WbXdHkPlSohZsjKPIfKlSjGJ7t4Br923aWAXuoNZjUkax51p+G3BxdtoDWsvFgAVmdIzAcfjVC+j94xtkwT+dXhx46fGvoRsQCR7XOe4/Uc4qs0n2Thfoy7bu72KsqrFURZyy2IuOGY8NCdDodKrtntC0K+HJ4QLthT5d4T8a2feO2r27YYaG8p1kfa1r597MDEuOj6etI4bGUtGh2cPtNMri3dVoIORmI0OnsuAR61194NoJo9m83mls/xKx+NaVatgZZYGCTx6++qD9KeHBh54WIEf3g/E0ODSsNpuh7A72XibZe1cXXIQUYaaEMYIHXXLVww+MVwOtZFuBcuXbjF3diEHtEngVUcegrRralYB0iktp0Gk0QNpaXHjqaF320qXtTEBS7sYAkk+HM0Hfado/W9Qw+YpCiIOPEsPKncMmUSa832VirKQRrqPCpdqgOMpiFui0ULBUTI86Bitx2QjqBmmimBshVgdSfUzFBtoN2eUKcoLEcBoAhMCdB7NeNk7Sus9kMdHmVIEjusRqAOgplBtWbJlt0WXEYw2lzASQeHCop+k8IcrYfUf2h/wBlc2ufzZ8/xrNNombjg/8AOFUxkciNLufSgG1Fgx+2f9tRLn0kxqcOY/aP+2hVjdeyAO9cEj7Q/CnzurZYQXu/4l/21nkiBY5E219KSg/+Mf8AGf8AZRPDfSoh0/JXnwf/ANKrzbl4aJD3Z/aUf6a5g91bYTMXvIcpMZlPKRPd0orLEDxs1jY+0BiLCXshTOCcp1IhiPun31zEaAmoG6DH8hsfsf6jRC9wPlVWTXYDfbVqYJ9SAfQ1XMVv3ZVyvZsYMaOmvjVP3oE4q9+19woV2riIaI00C/hUknRS0a3sDaq4tLjKuUIVEllac0nl0j40P2+QbdyCdBm01jUDTrUbdm52WBBLd+6xYzAhQSg4DhoT76JLYMquUktpB45QssT07xrON6Gi62UXZ+At37/YznzgKDl1BOhIbw41q+C3asLaS2sjIAJU8epgzVN3bvW7WNxUICqQFYT3Mw5cZDa/80q13doG008REjxEmIPPQj0pYwrsplyc3oqm+Fs4K6GJuhbgEOnZwcvIhgSCJqu3d4kuDI732UkSCbHIzxyzWl45xtHB3VTu3F1XgSHGqx4HUetYu+LvgwbjAjqF/Cmp+uiOvZdNn72WLjBArDzy6fGjoxCMIJ4iKycAniR5hVB9VApwXGH1m9TQ8YedGgpsG0TpiMUCeS3So9wGgr02wbR0e/imAIlWu5hp4HShX0fktduEkmEHEk8WH4V532vuL6hWYd3kSPrN0rU7o1qrL4uJtgAa/D8aVZUL97+sf/E340qbixeSIm4RjG2dJ/ODT31vvaPIygnvPOnipH31gG4ZX8ttZjA7Qakxz61uzbXs22hriSblxf0o5FSQe9oRPDlFUfYibo97zqxtWwrQe2HETpD8qwKyCcS3XPW3b2bUspZtHtV/TDg+Y6Bp0k+FYbZvAYknlmmg+wrpH0yZ016zVJ3/AMKzyAEgYczmka5uXpVqt7WsNl/PWxmGg7VCfgx1ql/STtK1la2HWTZmQwMy500PhSy6DDcipfRSD2j/ALH+ofhWo7QMkeAg1mv0P/pn/u/9QrVMRa10pGuxr6M/3pMWL/7D/I0AkZfZGgHEDy+6j29g/M4jyf76COs+nyqN6LLscwQHZj9p/wCI1Nsig+Dve2kj9BdZSRJDC4II8YmieCclRPSmlBpWCM09fRG3i2dcvWwqGDmk6xpBB+deNh7KxCXLRuZcttSsiJOjATHE68fCjIaNTTew9sW8QW7PN3eMiOMxHpWUnVGcVdkzbh/M/vD5GsxvOBiDIkZtRwkSNJrTN4D+aH7X3Gsmxrxdc/rGqYhcnRt2J2aLgVsPhrlpY1zMzTwiJ4ffNR2w7LowI86rO7v0lX8KoXEWu0tAEKAyqwJMjWNRxGvrXkfSTeus2ayrKWUDUArM9Bry9Kk8TasKnTo5vFt42F0gkmANfWvGF3oS8jZiQ5VtPcedVffC/Ljxk/E6fGhezcTlI0Ounr/9qscdwsV5KnR9F7p/+Dh/7sfM0RvnunyofuqkYHDf3S/HWp+0DFpj4VV9EV2YpvJbH5ReM/0jfOg2WjW3rgN66f7R/wCI0GNBdB9lx2KM+BM6i1cbMTpCtDR46kmauO0cEQMyERoD1IMCARymKx/EbXvWrFy3bfKt0gOIGsTwJEjjyqZsH6RL9hBbuKt1VUBGYS6/HvCOE0UrNyoPbOxOTGY5vs9mpEEAiCrKRyHQnmoqx3FxDYWbYBUqe6QGKgnQoeRgAx1rPNgb0Wkxd6/iczpeJzQNWUkyCORGh48vKrbtL6TcMLJTCW7maMq5wFUaETxJMeVK4tjqVHvdC3iQSyHIgaC7cIGhBHOqhvFcS5ibzpGVnJBAgHqwHIEyffWgWNuLhcNZuLkuJdt6BSVaQNeM8CdeHlWbFKEVQJStkcCusK9lINImnELV9Huj3T+qvzP4VF3vecQP2B82qVuEv6Y+C/6qF71tOI/cX8anfzH/AOBFDUqYUmu1UnZE3Ish8ZaRkDqX1ViQCOhIrdX3bwuYlsNZJZnYzmJJYiSZ4nrWGbhXguOsk/1gHrp99b5cxKEqM54ngrHSRA0FLL9h4/rYD3s2BhVtWSMNa1vAHIuUkZXOUtxjTn0FZA1tRjMqCAGXTU66SPWtq31bNZw+UkfngZysNMj9R41ia/8AmwZ9teHHlQ9sKWl/2fS2unD0/nVb3oVTdAcBvzUaidO0B+4+tHWxCqYJgxzZQeJ461U97GR74IaYtR3HmDnP2Toa0v1BD9v9lP8AocQdpdM69mP4xWtAawayb6G1Be4eeQfxCtVxOJVCocgFmyLrxaCYA8gaHthfoz7fJIt4jzb+KqyLx5eVW/ebDG4LqgxmY/xTVTbZtwfXUe4n8K5i+wWWIZfGzd+RP3Ue2W3cXyoHi8MQ6jUwjgnzRvTWjOzToKvN3BEoKsj/APAsFkQedeNjbKtYfN2QIzGTJJ4V6t1KtNUbLUR94j+aX9r7jWS4gzcb9s/OtU3hb82vmflWVMJukfr/AOqq4fZLL0iz7QwoLW1IB0mrHs/YtowTbXkeAr1s3YN1tRb+K/jRkYZrcBhHTgeHlUt0VbTZm+3LatcAI4E1EGEQaxqKfxpY3WIDacIHWZqOBKsSdRprE8RVotpE3Gz6F3ZP/Y4b+5t/win9rR2D+VDN2Lx/I8MP7G3/AAip20747FppnJUySi7Rje17M3LjT/SP/EaFMtFccZdyD9dv4jUFhRACNrpKeINAiaN7dYAKPM0ENVh0JPsdMj4eXDQ+ddS4w5UctYaMIyka5c3v9r5aUCFZOzGibCwvaYVDroWETIBmTHTjXi5s8zwpzcRiMM4Jn84YHTurxo3hhJNHiI5bKziMAQOFQHs1fb2EUjhQDHYIA0HGjKYZ+jzAyl8/s/JqB712AMQ2o9lP4Qfvq67h7PixePVgPQfzqi724YjEv4BP4FqdfIrdxBgUUqjhq5RsFDVvHW8PmFvQ8m+uTzafqjoB8eNSdib8YqxdVluMw0lXYupEzEHh5iqti7ZW4yHiGI686I4PZ0MhLDkT4Hp4xQajHbKxUpuorRtO9e2kfBYS6s95wco1YQjg6eBEVj2Gvg40MdAbiz5SKsmG2xhVUi7fyNJVrdqwjNA+t2zKSCegOlQDjNjq2YW8axmZFy2vp3RWSb2CTS1/J6+ka0F2jfyaq7B1METnUMeI6k+lF90Ng4q3bd2KoLgUqhDNcM8DkUSoOmrRyodi79jH4gXrbm0ttUVhibly47nM3slEY8IEV63t3nxd/EtaFwqqkhVU5R3Z1McTFLO6obH3ZYtw8KuBusLt+1mYKAslX1IIJVhwIIIM1Yt79uXRdw6WlC3M5KjKWOb2ANRDAq7HTUSKznZN65aK3HIZlIJDQ3dHCJBBqxbQ3mw14WRdu3rV60WY3UFssWb7JFxOz0A+r/OUW3eyuTHVaLDtViCwMSGIMcJnWKq+1MX2aM+mg51Cv7aw6BzZe/eYmS150Zz/AISaqe19v3boKFQqnwM6GeJ91aOJtiyyKKONj77FQQSG1XTkTqfnV33a2Pimsm8wVrcwpB70j2pHE+dUPA7S0AbiNAeUfdzrbNkO9rA2rC5WMMSVggSSxAic0SdRQzJxWkOnFpNOyvGVMHQ09bemtrEBwRzkR4jpTdm7U9+w9je3m7i+Zqibs7PF/GIjA5DclyvFUDS7TyhZNXXbr9xff91A/o92lbtPiA/F0hT+9PpMVWMuMWxJR5SSL822tn4ZD2Vy8wTu8QZPmVqsNvMmIvWrdhsgAclrpnUieOg0g/KqfvHjVNxkt8J1jhUR8KeyVhOZnCiOhDUYQ9v2abW1H0T9s7TQErbZmgRm4Annp0rxYwOW2WaSSJnlJ5DrVg2ZuJiLdn8pK2byNb1UMGuWySO8Vj2hHjxoXicZFtrRBB0GnAa8KfI2mooGGKac2bRsFCMLh/7m3/AK8bXvIEIZ8kniQSPfFT9m2osWh0tp/CKZxuFDgqRINJJCxZm9zYSEkjGYfUk6lhz8qZfd7piMMfK4f9tWjaeDs2cuZM8zAAAGnU++q5tPGWchYKisIhVJbUzIJP7JpPI+iixJ7KTvTbCXTbLKxWJKmV1AOh94qPu9se5irwt2lBPtESB3RE6k+IHvpjarTeuHkWPgKuP0fbGV7dy+5WMwtqDJJMZmgDwiupvjCzmUeU6DK7k4wiOxOojRk5/vVmN201t2RwQyMVYdCDBracDewltsrlgR0S98wtZv9Iez1sY5yg/N3At1OOocTz14zxoY5qRskHEm7j33bNZt2yzHv90EkgQDIHLhrVzwmBxAMtYujzRvwqjfRttC1bxim87KjBgxUspEqY1XXiFrUbm9GEQjM+MVSYzlmKz/AIiY93Onc6dCcHLaIpsvzR/8LfhQvF2jm4H0NDN7PpDu27gTCu4AGrF88zwiRoIpjdv6SMZcvJau3WAchQVW2SCTAkMuupFNzf0L469mnboFVsMCQCXPGBwVZqj74WQb1w+I+CqKh754u72rG5cYlZVSQFDROi5YHPhQ7d7alwslnMJdspZgGVYMCBx5gaVDy2+jof49R7IHZClV7OzcT/WWv/zpUeUvoXivsxkbR1EojEaS05jqTqZ14xw4AVYdi2ziIKZRB7wLAHzjiaqBrttyCCCQRwI0PuNPPEpAxfkSgaSm6+GGrKzHxZuPkIqPtTA4a0rEWkEDjEn40N3X3juvcFq6wYEGCfakCQJ58OetENu95GB51zS5RlTZ0R4yjaQI3eUviFKMLZkFViQ2U5gpjhqvStS2lsPB3oxFywUuFfat3NNBHApDt5Cs/wDo4w03ncn2YUfvEz8F+NX3aOLAZkNyMqkwNTABM/A12KFrZzOdPRQN5lOGjKT31lQwAYSdZ1OtUy5cJMkyaO7bxLXRndGQEnJmkkjiDJ5+WlAGFJCCjaQcs5Sps6G6U+xYrJJOvOvGHsljAq0Nu7cfDI1trUQSQWIfzgA6UZZIRfyYIYpzXxRUZq8/R3tNgLlntrVsAG4DcFw+yO8ECEaxr5AnlVQu7PuKYIHrSwoykzxg1p8Zxo0VKEraLNtveZs8Ky3AODKroPcHJPrFetk70gkLdGWdMwOnvnh51VLlebaknQTSeGNDeaVmkbaudwe+qduthGu4q1bVS2dwpUGCQxgieWh48oqx4dg1q2rZhC5STEkjRo1Ok9a5hto2cPIw6hDpLD2jH63Ee6lww07Hyy2qJO9f0bX7Dhk/OWydWHEfu8eFCkhCFP8ARsT79RHxNP7Q3nxTCPyi7HQ3HI9Cart7abuSznMx4nQSfEU3jdr6QPKuLX2W+9vMBbyjQjhBI+IqtYvahxFxrjKqsYByyAYEZiOpihF9XEFgQGEgkGCPA869YS5B1qs1y2RhLiz6mt24RB0VR8BTF21QnB764G4FCYlCcoMHMp0Gs5gIo3hMSl1Q9tgyngQZBqMkm6HVpWZL9IOLv2cTlVywZQwDRCyW7o04d2qYcY05suvgT48vfV4+lu1/3af3S/Nqz3aTlRABE86jGK5HbdYrYLunXx51bth7TNm2qZGIGpErEnnBPuqrYWwSRpoCJovNVzO/iT/Fx9yYbubcWZ7GfMD7jQnevaXbm0xTLlXJoI0Go++ms1N4tcyEc+IqWP4svmxKUWRMBcC3EadFYGOZggmrljsbauLl1AJ4lTw8CR41WcRuzibeGGKuoEtMYQsyqzz9hCZI8Yp8byotpUysxCgGdBIHWmz43KSlHtHP+PkjGLUnSY1tPZzPdyoOQgtoIGkn0NTdg7JWziLVy5cDZLiMVQEyFYEgFoGoFecDtO5fGe48ngYA0UaAAcByqNi9pwzETpp46eNblO+KC4Y38i3b1Obhu3BJW5mZQoYkMxBylQOUDXrzoLuPsW+2Ntk22yW2DMzAhQBqNesxpQa5tu7IZXZesGrbsXfN1UKzhieoA9Y4msuUFsWVT6ZpbXtaVVNNvMQD4eFKh5AeJmJNXK9tab7J9DXnKehrts46Z6t3CCCDBBkHxHA1eNn3RirUgntBoyAZif1lUa5aoy2yQSASBqSBoB1PQU9gsXctMHtuyMOBUkHXxFLKCl2NCbh0XjYWJTB5g9xQxaSrZlYaCJHHr61H3q3iS9DW7iyJBAL6qQQy6qKpbuSSSSSeJOvrXmirWrM5J+h+9fmYmCZ1MnTQfOm7YkgExXilNEWyy4bCdnkIPA6+MiiTPkZX7+RQQxkIACPZBJ15GqkMfcgDMYHDhpSF4t7RJPiZrllhb7Z3R/KiqUUWPG7VwpHcw7M3VnIHw1PwqvlpbUQOEL/Orn9HW5ox1xjcYraQAsViST7KidBMEz4eNazhNx8BbUL+To+XgXAZiZmWbn5cPCmhBQ6J5cssj2fP9/YeIUBjbbKwBU8iDqDRDYezikMyiZ1B+zH4619DYywMqoqLliMsAKAOAAGgHhVU3g3Qssma2pQn2lQxI5xOgPlSzcpfEOJwg+Rk+ML9gLg9hbj258SO0Hwn0qv9qZma1LaG76WMDfsBXysVuAtlMOqmACBzmPfWY2cBcYhQhJP/ADlV1UFVkZcpvkkzzcvEjWpGw8MLl9FbhOvkNY9/D316bYmI1i2zQYJXUDmPXiKf2DbuWcQhe0+Wcrd08G0mfDQ+6g5LjpmUJKW0Xzb+BTE4QKq9+2JtAD7PtIPMcuoFZmtsHRRM8hJrRsJjMrMubVHzAg8j0o7sTZOGPa3LbC2bsBly6TmDZgRwEjh41zwm0jpeNN7MpwmJ/J2IfDgsOIc3UYeEBhH8qL7E30uYfLFtWCnUFiAwP2hwJ8Yq07U3XW+1w4q6ENsSLrBnLTwX2gT8Y99Vm9u1honM66a94R/mGlZ5YUnJGWKabUHoM4fe3B4y8tvE4VLStINxbzysKSoAPd1IA101oFvVszC22ixdLk6wHV1UchnA7zc9NBVaxqW1eLZYqObR8IHCpuxNm3b75LNtnaJ7onTmT0FVaVWiUH8uMh+3h8oinI0o/f2BiBobF3/Ax+QoZisI6HKyMDEwVIMdYPKublZ6aUUqRArhNdOlcJpjA3au0r14jtbjvlAVcxJyqBAUTwECh9TtrWClyCIMA+o41Ciu2LTVo8WceMmgts24EtM/PPB8soj5mmcTcDT1Jn4U/sm5Fm+pWRCmehkj3fyqAz1JL5Mu5f44nhiTFc7Q8q4TXmq0c9hm3tJoGp4Dr+NKpmG2AxRTMSoMeYpVH4F/8hDxDKbhCMGBJ9mQBqdNfxqJiWy6H5g/I0yfSo9xaZQ2GWZ8R3D425bYm27KSCDBIkHkeoppnnUx7gB8BXiu1Sl2c3J1QqVKuUQHaVKlWMdFSMLZLsFWJPCSB8TUYVO2S1oXF7ZSycwpgzGhnhoYoPoK7N++iXAG1s9WI1uOze4Qg/gJ99W1bikkBgSOIBEjzHKsz2pvYyYe3hcEwQJbVC7HJcMCDlBAy+fHyqs4Wx2aM91WNw5iTDMQORUqZLEn/wCca53M6lidbNwvNA1mgO0doEEwNKyFd6sQFy2b2LDSP0jgoAOMAyWJ90UW2VtvF3mC3GzqBLtlURoY1HEk0srGjj1ZZ8VtOG4/hQDauww7Ldw4AcMpNoQimDJIJIA4RHjXXxILQfjyp+3j8vj8aQYGYDGKHLW2Oi5GUMobSRDDkQdRx+6iVreTJIc3fNrKXPiDFdxVvDYoRdtjMODcGn9oakVUbmKtJ7Fu4pH9s0emtBWuh75doNby3cNiUz2nK3lBzHKLasAJ4A6HSP8Amta3e2xcs3yc5y5DIZjljQ/dXLu13OZcsgiDJU+hydaA3kYvEhiY9nUa8AKtCLd2SyzqqLdt7fIXHXIpKKOZjvSZ84EAGh13aLXQJEDpMz5n7qCNgrg4qfgflT1q+csKJIGvhWeKPaDjyyTqQ5htpPZvi7bbKykwYVuIg6MCDoTxFXLdDeYLjb1y3aC9umqgsFVxBfKByLAkDlMVnjNJmaM7s7Z/JbwuZcwghhpqp48efA+6qyj8dHPGdytmrYrei7GiST+0aqeN23efFByIK2ik5Y0LBj8uNTzvzhyP0LD3A/dUW5vPhGaSG4fZiuNcvaO1xj6YBu7ZdWuBl9pi0x4AfdUS1trQyqkASJA114VZLu18C3Ej0oZirOGvlUsEZ3ZVHKJIknwAk06p9oWXJLTCOytyb+04vgizbAy5nlixBM5QImJjlVkwv0O2B+kxFxz+qqoPjmNWnBbStWLaW0KrbTuieMAcfPnTn/XATAI6jnpVVJJUjnlFydsHY/6P8N+StYtAW+BzASzFZjOTqeJ8prB9q4M2rjIeR08q27b2/KYdSHcAkEBQuZj8eHjWX4/bWFuzIbXmV/ChyadpWMoRlHi2l9FUohsfZly/cVEUmSBoCdTwqSMFZb2Gn3/dWvfRfaWxhCSIzuSDzMaAD4+tU8iYjwuO2OWvo6vAAflFvQAcW/20qtn/AFRPH0rtT4x+h/JP7Pl0mmrrUnnnMH0rxXQkczYq7XK7RFFSpUqxhUq5SrGPVFd2wvbrIPPLAnvQYMc4OvuoTT+CxGR1bof5UJLQ0HUlZouLxMyBdDRxD2zp4EiBQa655Ip/u3j4afOmLWPcd6TkaOoYA8CJ4jxruKXq8/tW5+Ka/CuVO+zulDjtdE/ZOzTiG4sqqe8CZYk8lkkCYMk6aVMu7W7xs4dVyIYDAypji0niP1jQHC4hllBdRQ2h7x4HTUNqBx+NQsVjZBtWjltDR35v4eXRefPwNXpCqdblv+A1tLbVi4pKsVuIdCoMMeGh6c9aj4DeBZh2HmR86AX3AEEELxCzqf1mI5/LlUGnWJNEZZWmXjae9FpFK2gHcjj9UeM8zQDBi5d4kKOtB6I7OxuUEHwouHGOgwyNy29Ei7YK6H1oUl4q4ZdCCCPMGRU3GbQL6DQdfwoeAJ1owTrZs002lEuGC29dvz/2eHusoEn2T56tQXBubd69msT3bk280BJEgg8wsjTnRrdC2i2nuPcCAsBqpJ08vFojwoRti9kxOJyme6UmCOORTpy5ioxSUpRS/spJtxjKT/oC16BrxbYggjiDp5inLjySTzM6aDXXTpXUcZed19mWMTYlnZXQ5WGRCI+qRz4aceINT7u5yH2boPnbj5PVa3LxjWnZ1uQNAyxObmJ1GnGrmu8QPIen/tXnZpTjNqJ6uHjLGnIrm0d0XVSwdCB4sPxqu4LGizczgSQCB5nSfSasW9W8eZezUAE8SBGlUotXRg5Sjczl/IcYyqJPxW1bjzLH1Ndwm2ryHu3G9aGxXGro4o5ucuyXjGLsWLEk8ZMmoRr2Grja0UqFbsStGorVtyNstfsopPetd0AaaHXMfE9fCsnqfsba1zDXBctnXgRyI6GhKNoaEqZvi7TjQusjTgKVY2287kzB1149aVQ4z+i3KH2V+4zzkYmFLALJgSe9A5TA84py1gwSstCkiTGoHOBzolvfZtpfi2QVIzGIJzHRpPH6o05SepobbviBVrbSaJpR5NMYOHYcvQg14INTDcB51yaykzOEfRDrtSCK8FaaxHEZpU5lpMtEWjxXRXSKcwt4IwYqGgzBmPfWMWsYJbeGQ3XbVdEB1JOsAcuOpP8AKgV22zkFqaxW1blxszmT8AOg8KQ2keaiocJLZ1xyY2qbHfyUnTMfU15dsugMkeg6x40vy2RoI8Zn0qOaKT9mk4L9TxfPOuYO6EdWIkBgSOoBmNa5dOlNVRLRzN7ssu0dtWLyMCGVjwJUGPHQ0GvG32ZAaWV9DlIzIQOPSDTQ1roCw0jlppzkGfClUFFUh3kcnbPOcZI5gk+sfhXiyskDqQPWuSI4azx+6pOykm9bH66+HMUz0mxFtpBoK8IpUFU5AtroY4yOJmoWExhF+44mWzDr9YGD14Vf7V0WkLdj7KklpnQanjQJWyWMI+XUMS5BExeViWPNQCymTwiuOGZu9HfPCtbAmNtOboudmQFUFu6Bpr3mHKenQCoePvSswNTAiOHU1a8dkuznN19de8HmP1hJPrTLLhohrZA/e/Gj5ld0ZYHTVlLt3CvAkeVEbG1XkAge7TSrIbOA/qx/m/Gh+1lwiWibYhzook8evGn8sZ64smsM8e+RXsXfzsT6eVMCuUprpSpHI3btjgavBpA1yaIp2K5SJpCsY4a5SpVjEheApUk4Cu1jDuz9LgzpKnQyPjRe9s+yfqEeWalSqU1svjfx2iOdioeDOPMT+FR7mx3HBp9xH40qVJykn2WWOEl0MPgLw+qT5a0y1q4OKN/hNKlTxm2TyYVFWmeQG+yfQ0iG+yfQ0qVUOc5kb7J9DSNtuh9DXKVEB3s2+yfQ0uybofQ0qVYI/ZQxwPoa44PQ+hpUqWtjXoZKN0Poa52bfZPoaVKmEPQRuh9DSyN0PoaVKsE7btNI7p4jkanAlLystsCCDHeK8fEk/GuUqR7dFI9X/KDWN21ea21sW1XMCpIBBg6GKZu7ZxDoELNlgLooGgERoBSpVBQil0dLnJyGrGKa3omceRP4a1Iu7SvRoznwZFPxpUqDhGyim6Z4Tal4g91T+6o+YoRtLEPcYArw6LFKlVYQinaRDLOTilYxiMOQYAPoaY7Jvsn0NKlVV0c81UnQuzb7J9DS7Jvsn0NKlREELTfZPoa9rYYkAKZ8jSpUH0NGNySOXcO6kgqZHga89m32T6GlSrRdqwzjxk0PLbMDQ+hrtKlWFP/Z" width="320" /></div>
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Agora o que desejo é que você aprenda a dançar. Lição de Zaratustra, que dizia que para se aprender a pensar é preciso primeiro aprender a dançar. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Quem dança com as idéias descobre que pensar é alegria. Se pensar lhe dá’ tristeza e porque você só sabe marchar, como soldados em ordem unida. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Saltar sobre o vazio, pular de pico em pico. Não ter medo da queda. Foi assim que se construiu a ciência: não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Todo conhecimento começa com o sonho. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das profundezas da terra. Como Mestre só posso então lhe dizer uma coisa: “Conte-me os seus sonhos, para que sonhemos juntos!”</span><br />
<span style="color: #38761d;">**</span><br />
<b><span style="color: #38761d;">– Rubem Alves, no livro “A alegria de ensinar”. São Paulo: Ars Poetica Editora Ltda, 1994.</span></b><br />
<b><span style="color: #38761d;"><br /></span></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #38761d;">* * *</span></b></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-85429410129960833742019-03-03T11:11:00.002-03:002019-03-03T11:35:39.949-03:00Ah, sim, é Domingo de Carnaval...<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #741b47; font-size: x-large;"><i>A MÁSCARA</i></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #741b47;">Sergio Rodrigues - </span></b><span style="color: #741b47;">escritor, jornalista e crítico literário brasileiro,<b> </b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #741b47;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para máscaras pretas venezianas narigudas" height="320" src="https://2.bp.blogspot.com/-XeCYD7PNO8U/VODTMqguaFI/AAAAAAAAWn0/XRN5wfGBlb4/s320/nasone11.jpg" width="268" /></div>
<span style="color: #741b47;"><br /></span>
<span style="color: #741b47;"><i>T<b>odo cuidado é pouco com essa máscara, viu, Vi? Não, sua boba, empresto com prazer porque você sabe que é a minha neta preferida, e além disso tem outras coisas, sinto um arrepio só de imaginar que a minha máscara negra veneziana nariguda vai se soltar por essas ruas outra vez depois de meio século guardada numa caixa de chapéu com a tampa afundada, devia andar triste, a coitadinha, olha só esses olhos vazados caídos, tão merencórios. Ah, esses olhinhos viram coisa, Vi. Claro que não era como agora, era melhor, era pior. </b></i></span><i style="color: #741b47;"><b>Diferente: eu nunca fui de folia e nem podia ser, sempre fui certinha. </b></i><b style="color: #741b47;"><i>Seu avô, sim, aquele se esbodegava inteiro, saía no sábado pra voltar na quarta-feira que nem na música da camisa listrada, só que a fantasia dele, infalível, era de arlequim – conhece a música da camisa listrada? Ainda toca isso? </i>Em vez de tomar chá com torrada ele tomou parati<i>, não, imagine se vai tocar. Agora é diferente, pior, melhor, depende. </i></b><br />
<b style="color: #741b47;"><i>Por exemplo, quando você casar, duvido que aguente o que eu aguentei. Não aguenta, Vi, mudou demais. Para melhor, nesse ponto eu acho que foi para muito melhor, porque se o seu marido um dia sair por aí </i>com um canivete no cinto e um pandeiro na mão, sossega leão <i>e tal, eu acho que você pode até aceitar, mas conhecendo você como eu conheço, eu sei que mal a porta bateu você vai sair também, </i>você pra lá, eu pra cá, até quarta-feira, lalaiá, lalaiá. </b><br />
<span style="color: #741b47;"><i><b>Sossega leoa – vai ou não vai? Pois eu acho que está certíssimo, querida, nós é que éramos bobas no meu tempo, eu era. Engolia, aguentava, chorava no travesseiro, noite em cima de noite perdendo o viço. Uma mulher guardada numa caixa de chapéu com a tampa afundada, cheiro de naftalina, ih, estou melosa, estou dramática, mas era assim. Não admira que os olhinhos fossem ficando merencórios, que o marido perdesse o interesse e procurasse cada vez mais passatempos, depois vinha cair na cama sem tirar nem o sapato. </b></i></span><br />
<span style="color: #741b47;"><i><b>O seu avô, por exemplo: um homem bom, trabalhador, mas um patriarcão de antigamente, acho que um dos últimos. Pisada firme, vozeirão, chicote no cinto, chicote é maneira de dizer, que no Rio de 1950 ninguém usava chicote, mas você entende. </b></i></span><br />
<span style="color: #741b47;"><i><b>Sua mãe não era nascida ainda, os outros quatro sim, aquela escadinha, e foi aí que ele me prometeu. O baile de máscaras do sábado de carnaval no casarão da Glorinha Pissaraçuba na Praia do Flamengo – não tinha programa mais cintilante, joia social mais cobiçada naquele tempo. Era diferente demais, melhor, pior, eu não disse? Melhor, Vi, nesse caso era melhor porque nós íamos pela primeira vez no baile da Glorinha Pissaraçuba, ah, você tinha que ver a minha felicidade! </b></i></span><br />
<span style="color: #741b47;"><i><b>A máscara veneziana eu comprei na Rua do Ouvidor para a ocasião, não foi barata, negra porque assim ficava mais discreto, mais digno, seu avô aconselhou. Aconselhou? Essa é boa, aconselhou nada, mandou, pois é. </b></i></span><br />
<span style="color: #741b47;"><i><b>O vestido ia ser um verde brilhoso de festa que já começava a encardir no armário, mandei tirar, lavar, quarar, engomar, chegou o dia e eu fui fazer o cabelo, as crianças excitadas só de ver a minha felicidade, mamãe vai sambar, vai sambar, sambar, e quando chegou a hora, Vi – sambei, justamente. </b></i></span><span style="color: #741b47;"><b><i>Seu avô ligou da rua dizendo que a gente não ia mais no baile de máscaras, imprevistos, ele falou, contratempos, uma palavra assim. Eu sabia o tipo de contratempo que ele gostava, aquele que o </i>cabelo não nega<i> mas em compensação </i>a cor não pega<i>, feito dizia o Lamartine. </i></b></span><br />
<span style="color: #741b47;"><b><i>Seu avô não era fácil e a gente era boba demais, triste e amargurada, não tinha essa sabedoria das mulheres de hoje, não tinha o </i>salve o prazer, salve o prazer<i>. Me tranquei no quarto aquele sábado, os olhinhos merencórios dessa máscara negra aí, essa mesma, ficaram me olhando em cima da cama um tempão. Foi a Conceição que pôs as crianças para dormir, apagou a casa toda, você não teve tempo de conhecer a Conceição, até hoje eu sinto saudade. Ela cuidou de tudo enquanto eu ficava sentada na cama de vestido verde e laquê armado ouvindo as risadas, gritinhos, gente batendo na lata, os barulhos todos de carnaval que você conhece, isso não mudou tanto, ainda é assim. </i></b></span><br />
<span style="color: #741b47;"><i><b>Eu nunca fui de folia e nem podia ser, sempre fui certinha, e quando cheguei na esquina de máscara e vestido verde e vi um grupo de clóvis me olhando do outro lado da rua, me veio um pânico doido, quase dei meia volta. Nem sei como continuei andando, marcando o passo com o meu coração, acho que eu corria. </b></i></span><br />
<span style="color: #741b47;"><b><i>Não lembro de ter entrado no Cadillac que o pierrô de porre parou do meu lado, me deu um branco mas eu sabia que, tendo entrado ou não, a verdade era que eu estava dentro dele agora, sentada no banco do carona com a cabeça girando e a mão do pierrô no meu joelho enquanto a estradinha cheia de curvas passava por nós, o mar rugindo lá embaixo, reconheci a Niemeyer. </i>Quem é você, diga logo que eu quero saber<i>, ele me disse que se chamava Jorge, depois Álvaro, mais tarde Toninho, e com o céu começando a clarear já tinha virado Camilo, Ciro, Ismael. Eu também não pronunciei o nosso nome, Vi, e a máscara negra nariguda eu só tirei enquanto a escuridão nos protegia, o pierrô não soube que eu me chamava Elvira. </i></b></span><br />
<span style="color: #741b47;"><b><i>Mas nunca vou esquecer os olhos verdes dele, aqueles não tinham nada de merencórios, eram da cor do mar de São Conrado quando amanhece num domingo de carnaval – idênticos aos que me olham agora da sua cara espantada, Vi, isso também não mudou, e no fim daquele ano sua mãe nasceu.</i></b></span><br />
<span style="color: #741b47;"><b><i><br /></i></b></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #741b47;"><img alt="Imagem relacionada" src="http://likefotos.com/wp-content/uploads/2014/09/nascer-dia-rio-de-janeiro.jpg" height="217" width="320" /></span>
</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #741b47;"><i><b>* * * </b></i></span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-90456905232651799802019-02-18T07:30:00.001-03:002019-02-18T07:30:35.148-03:00Cecília Meireles - Contemplação<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">CONTEMPLAÇÃO</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Cecília Meireles, em 'Mar absoluto'</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-rmv_LUI_L5k/XGqJMVWn0bI/AAAAAAAAJ1k/jzK8soJU6jUo5LuSm4HXehZtKY84X3QFwCLcBGAs/s1600/capa%2Bface%2B10.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="640" height="266" src="https://1.bp.blogspot.com/-rmv_LUI_L5k/XGqJMVWn0bI/AAAAAAAAJ1k/jzK8soJU6jUo5LuSm4HXehZtKY84X3QFwCLcBGAs/s400/capa%2Bface%2B10.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Não acuso. Nem perdoo.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Nada sei. De nada.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Contemplo.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Quando os homens apareceram</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">eu não estava presente.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Eu não estava presente,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">quando a terra se desprendeu do sol.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Eu não estava presente,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">quando o sol apareceu no céu.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">E antes de haver o céu,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">EU NÃO ESTAVA PRESENTE.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Como hei de acusar ou perdoar?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Nada sei.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Contemplo.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Parece que às vezes me falam.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Mas também não tenho certeza.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Quem me deseja ouvir, nestas paragens</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">onde somos todos estrangeiros?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Também não sei com segurança, muitas vezes,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">da oferta que vai comigo, e em que resulta,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">pois o mundo é mágico!</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Tocou-se o Lírio e apareceu um Cavalo Selvagem.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">E um anel no dedo pode fazer desabar da lua um temporal.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Já vês que me enterneço e me assusto,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">entre as secretas maravilhas.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">E não posso medir todos os ângulos do meu gesto.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Noites e noites, estudei devotamente</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">nossos mitos, e sua geometria.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">eu era amor. Só isso encontro.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Caminho, navego, voo,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">- sempre amor.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Rio desviado, seta exilada, onda soprada ao contrário,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">- mas sempre o mesmo resultado: direção e êxtase.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">À beira dos teus olhos,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">por acaso detendo-me,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">que acontecimentos serão produzidos</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">em mim e em ti?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Não há resposta.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Sabem-se os nascimentos </span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">quando já foram sofridos.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Tão pouco somos, - e tanto causamos,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">com tão longos ecos!</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Nossas viagens têm cargas ocultas, de desconhecidos vínculos.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Entre o desejo do itinerário, uma lei que nos leva</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">age invisível e abriga </span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">mais que o itinerário e o desejo.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Que te direi, se me interrogas?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">As nuvens falam?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Não. As nuvens tocam-se, passam, desmancham-se.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Às vezes, pensa-se que demoram, parece que estão paradas...</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Confundiram-se.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">E até se julga que dentro delas andam estrelas e planetas.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Oh, aparência...Pode talvez andar um tonto pássaro perdido.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Voz sem pouso, no tempo surdo.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Não acuso nem perdoo.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Que faremos, errantes entre as invenções dos deuses?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Eu não estava presente, quando formaram </span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">a voz tão frágil dos pássaros.</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Quando as nuvens começaram a existir,</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">qual de nós estava presente?</span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">* * *</span></i></b></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-73151386806861556212019-01-28T09:48:00.000-02:002019-01-28T09:48:10.357-02:00Rachel de Queiroz por Ana Miranda<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;">Rachel e a natureza compatível</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><b>Ana Miranda</b>, Jornal O POVO - 29/04/2010</span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="color: #073763;"><img alt="Resultado de imagem para Rachel de queiroz e o mar" height="253" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSpoIo2lHXG_tZwItlc-N3fT8ATsXcGahQj5GNPsI3gVB9pfLzw" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="320" /></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><i><b><span style="color: blue;">'O mar.. Espécie de céu líquido, também sem fim'</span></b></i></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Pessoas de minha idade, para mais, guardam lembranças da natureza. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Antigamente morávamos em casas, e as casas possuíam quintais, e os quintais, árvores, insetos, passarinhos... Crianças contemplavam joaninhas a passear nos dedos, prendiam vaga-lumes em potes de vidro... Viam o brotar de uma semente, um grilo era preso em barbante feito animal doméstico... Algumas moravam em fazendas ou sítios, como a menina Rachel, e acompanhavam os ciclos da flora e fauna, o regime dos ventos, das chuvas, o recorte das pedras... A natureza fazia parte de nós, e por isso éramos talvez mais felizes.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Uma das faces de Rachel de Queiroz, pouco conhecida, é sua amizade com a natureza. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Ela cresceu nos sertões e percebeu o valor que tem cada árvore, cada tufo de macambiras, a beleza cortante dos conjuntos de mandacaru nas lajes, as paisagens sob irradiação do sol ou da lua... </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Rachel dividia a natureza cearense em quatro: o litoral arenoso, as serras, o sertão e o Cariri. Para esses mundos dedicou suas melhores palavras. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Descreve o mar como se a si mesma, <i>'verde, bravio, porém leal', 'todo ali, na superfície, bem à vista para quem o quiser conhecer e amar'.</i> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Reclama da indiferença, <i>'ninguém se lembra de mostrar as nossas serras',</i> oásis de clima temperado, verdes, com lampejos d-água, a face nua da áspera pedra furta-cor, cachoeiras nevoentas ou filetes que <i>'escorrem montanha abaixo como calda de açúcar desfiada'...</i> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">E sobre seu grande amor, o sertão, Rachel demora em devaneios críticos, como era de seu temperamento. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Chegam amigos ao sertão e Rachel lê nos seus olhos o espanto, '<i>que é que nos prenderá nesta secura e nesta rusticidade?' 'Tudo tão pobre. Tudo tão longe do conforto e da civilização, da boa cidade com as suas pompas e as suas obras. Aqui a gente tem apenas o mínimo, e até esse mínimo é chorado.'</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">'Por que tanto carinho e amor por estas terras ásperas? Não sei. Mistério é assim: está aí e ninguém sabe. Talvez a gente se sinta mais pura, mais nua, mais lavada'. </span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">E Rachel sonha: plantar uma árvore imensa num cabeço limpo, fazer um açudinho entre duas ombreiras, coqueiros no pé da parede, ou, no choro da revência, umas leiras de melancia...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Fala das ovelhas sertanejas que mais parecem cachorros-do-mato, do parco feijão e mãos de milho para o povo virar o ano, dos bodes magros, da confusão desolada dos galhos secos, agressivos espinhos, nuvens que são apenas enfeites do céu, e o reverdecer instantâneo. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i>'Coração de nordestino é um jericó desidratado, capaz de desabrochar de repente se posto na água, todo verde e em flor'.</i> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Apanha um pouco de terra vermelha, toca-a com o rosto <i> 'para sentir aquele cheiro de invisíveis sementes que germinam, e as pequenas raízes e pedacinhos de folhas, e até formigas e tracuás escapando pelo dorso das nossas mãos.' </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Parece uma prece, um ritual de amor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Recebeu do pai o dom, Daniel de Queiroz era um ecologista avant la lettre. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Herdou a extensa mata do Junco, onde se tirava lenha para locomotivas, mas Daniel botou critério nesse corte, poupava a madeira de lei, ali jamais se abatia um cumaru, uma aroeira, um pau d-arco. Quando Rachel recebeu de herança a intocada fazenda <i>Não Me Deixes</i>, aprofundou o trabalho de preservação. Durante décadas cuidou dos bosques da caatinga repleta de paus-brancos, catingueiras, juremas pretas, das imburanas e juazeiros, dos raros angicos, ou frejorges, e da fauna que ali vivia como num paraíso. Mas não se resumia aí sua atividade naturalista. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Em 1994 apelou para o tombamento dos inselbergs de Quixadá, e a caravana de seres fantásticos em pedra foi decretada paisagem notável, de <i> 'excepcional beleza cênica e reconhecida riqueza de seus monólitos como patrimônio natural'. </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Em 1998 escreveu de próprio punho, num papelzinho timbrado da Academia Brasileira de Letras, o requerimento para que fosse reconhecida sua fazenda como reserva particular, criando ali uma área de conservação ambiental em Quixadá.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Todo esse esforço foi coroado num dia, quando chegaram dois carros carregados de gaiolas com pássaros silvestres apreendidos, para que Rachel os libertasse e pudessem viver nas matas da fazenda. <i>'Acho que mereci essa honraria'</i>, ela comenta, numa crônica, <i>'pois sempre foi preocupação minha, desde menina, soltar passarinho'. </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">E Rachel abriu as gaiolas, uma a uma. Incrível a sensação de libertar um pássaro, '<i>senti-lo estremecer sob seus dedos, temeroso, ou antes, apavorado; retirá-lo suavemente da prisão, levantar os braços o mais longe que pode e abrir as mãos no ar, dando liberdade aos cativos'. </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">'Sentindo-se simplesmente pousado na sua mão, ele tateia com os pés os seus dedos, levanta a cabeça ainda duvidando que esteja livre. Mas agora o pássaro se ergue devagarinho nas pernas, agita as asas que você já não segura, treme, hesita e de repente se atira num voo que ele talvez suponha uma fuga.'</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">* * *</span></i></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-22688375865708712602018-12-30T11:46:00.001-02:002018-12-30T11:58:08.589-02:00Daniil Trifonov - Franz Liszt “Un Sospiro”<div style="text-align: center;">
<span style="color: #cc0000; font-size: x-large;"><i>BOAS FESTAS! FELIZ 2019!</i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para bRINDANDO aNO nOVO" height="264" src="http://marcialuz.com/wp-content/uploads/2016/12/retrospectiva-1.jpg" width="400" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/6Yf3Y_4iQpI" width="480"></iframe><br />
<br />
<br />
<br />
<br />Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-74643667419904769012018-12-29T10:08:00.000-02:002018-12-31T10:54:51.571-02:00Sobre o filme 'Bird Box' - página 'CONTI outra'<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;"><span style="font-size: x-large;">"Bird Box":</span><span style="font-size: large;"> - </span></span></b><b><span style="color: #073763; font-size: large;">Psicóloga desvenda mensagens </span></b><br />
<b><span style="color: #073763; font-size: large;">subliminares do filme</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Gabriela Souza Granero (*) - Página 'CONTI outra'</span></b></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Protagonizado por Sandra Bullock, o filme “Bird Box”, estreou na Netflix já fazendo barulho e dividindo opiniões. Há os que não se agradaram, os que gostaram muito e, como sempre, os que inevitavelmente comparam com o livro, já que “Bird Box” foi baseado no livro de mesmo nome de Josh Malerman – publicado no Brasil pela Editora Intrínseca com o título “Caixa de Pássaros”.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">O filme mostra a história de pessoas que são obrigadas a viver escondidas e vendadas, pois criaturas misteriosas e não visíveis para quem assiste, provocam o suicídio em quem enxergá-las. O maior desafio da personagem de Sandra Bullock é levar seus dois filhos para um abrigo em segurança, mas todo o trajeto deve ser feito com venda nos olhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Segundo algumas interpretações (muito bem elaboradas, diga-se de passagem), a diretora dinamarquesa Susanne Bier<b> </b>usa o tema do “pós apocalíptico” apenas como metáfora para passar outra mensagem: a questão da depressão que afeta mais e mais pessoas em todo o mundo a cada dia.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para Bird Box filme" height="253" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSyQEEAW5FlK_Yf2pWP80sipYUhq9MrdUGJLlQ-o4Y91aKyDKAu" width="400" /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Aqui apresentamos uma análise elaborada pela psicóloga <b>Gabriela Granero.</b> Vale muito a pena a leitura.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">No início do filme, a personagem principal tem dificuldade de se vincular e mostra uma incapacidade de amar; pinta no quadro a solidão instaurada dentro de si, o que evidencia seus sintomas depressivos e uma latente infelicidade.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Correlacionado ao período que vivemos na qual depressão é a doença do nosso século.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i>
<span style="color: #073763;">Depois o filme mostra que a “coisa” está se espalhando por todos países e ninguém está imune, a não ser aqueles que não olham, a “coisa” que se espalha. Faz uma analogia com a sociedade contemporânea, a qual está adoecida, e todos estão se contaminando só de olhar uns para os outros.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Esse adoecimento contemporâneo pode ser visto na enorme quantidade de pessoas com transtornos mentais (depressão, pânico, toc, TAG), além do isolamento social, a invasão tecnológica, o excesso de consumismo, etc.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">O pânico é muito bem representado no filme em diversas cenas, mas talvez a mais visível seja quando estão indo ao supermercado e o personagem negro se desespera.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Também podemos relacionar com a onda de suicídios coletivos ocorridos nesse últimos ano, em pessoas de todas as faixas etárias.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Para não se “contaminar” os personagens fecham os olhos; às vezes precisamos fechar os olhos frente aos disparadores que causam adoecimento na contemporaneidade para que possamos sobreviver, porém mais do que fechar os olhos é preciso descobrir uma nova forma de viver.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Reinventar-se , entretanto. demanda um árduo trabalho, as vendas nos olhos fazem alusão a:</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">'Ah, como é difícil acostumar-se a viver de uma outra maneira.'</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">A travessia do rio no filme , representa as travessia diária que temos que fazer para não nos contaminarmos/adoecermos, porém essa travessia não é um caminho fácil mas composto de correntezas.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Além do que, muitas vezes, é preciso fazer difíceis escolhas, como no momento que a personagem tem que escolher entre o garoto e a garota.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Quantas vezes na nossa vida não nos vemos em um beco sem saída? Sem saber qual decisão tomar?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Outro ponto são os “loucos” do filme, que fazem alusão aos transtornos mentais inerentes em todos ser humano, dos quais ninguém está imune.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i>As cenas de suicídio e pânico são chocantes e metaforicamente representam a fragilidade humana, o desespero muito bem retratado no filme, o desespero interno que estamos vivenciando.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Outro ponto que não pode ser esquecido, é com relação aos pássaros, sensíveis a captar quando a “coisa” está chegando.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Quantas vezes sentimos uma “coisa” que não sabemos nomear. Às vezes não somos capazes de reconhecer nossos próprios sentimentos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Em uma determinada parte do filme, o personagem <i>Tom</i> diz que teve um sonho na qual os pássaros estavam em um ninho em cima da árvore, depois voaram e </span><span style="color: #073763;">foram embora</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Essa metáfora representa a liberdade emocional e social que todo ser humano almeja, mas que é muito difícil encontrar. Somos como pássaros presos em gaiolas. </span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">As gaiolas representam a escravidão evidenciada no filme, as vendas fazem analogia ao fato de que não estamos vendo a gravidade da nossa situação; com o pânico instaurado a única saída possível é o suicídio. Será que não estamos engaiolados?</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Será que não ouvimos vozes que nos querem convencer do contrário? Como a cena em que estão na floresta, a atriz principal e as crianças ouvem vozes que as confundem.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Quantas vozes nos atrapalham em nosso crescimento emocional?</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Por fim, quando a personagem faz a travessia do rio, desenvolve a sua capacidade de amar, Tom não vai com ela, pois essa travessia é única, muitas vezes temos que fazê-la sozinhos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">O final do filme é o mais surpreendente: os únicos que não foram contaminados são os cegos, outra metáfora muito forte.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Eles não vêem fisicamente, mas têm a habilidade de olhar internamente para si, por isso não são “contaminados pela coisa”.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Ao final, a personagem principal aprende a amar e a lidar com seus sintomas depressivos, a capacidade de amar a salva de sua solidão e dá sentido a sua vida.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;">Ao dar um nome ao garoto e à garota, fica nítido que ela perdeu o medo de se vincular. E perdeu o medo de perder as pessoas, já que perdera sua irmã, sua amiga grávida e outros amigos.</span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i>C</i>hegar à comunidade é alcançar a liberdade, representada ao soltar os pássaros da gaiolas; chegar à comunidade é desejo de alcançar a “cura” e, mais do que isso, fugir desse adoecimento contemporâneo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i>Nessa comunidade as pessoas estão convivendo umas com as outras e as crianças estão brincando, e detalhe: as crianças não estão no celular.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i>Porém, ainda assim, os personagens não alcançam a liberdade em sua completude, pois estão presos em uma “gaiola de pessoas”.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Será possível alcançar a felicidade em sua plenitude?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">O conceito de saúde mental, de acordo com a OMS, é “o completo bem estar físico, mental e social.”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Será possível alcançar essa completude? O sofrimento não é inerente a nossa condição?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Enfim, o filme está cheio de mensagens subliminares mas às vezes estamos com os olhos vendados e não conseguimos ver.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><b>(*) Gabriela Souza Granero </b>é psicóloga,</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">pós-graduada em psicoterapia psicanálitica pelo Uni-Facef</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;">Mestranda em Psicologia pela UFTM</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-8640652332686230102018-12-08T12:36:00.002-02:002018-12-08T12:36:27.349-02:00O Requerimento - Adriana Falcão<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: large;"><i>O REQUERIMENTO</i></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><b>Adriana Falcão - </b>nascida em 12 de fevereiro de 1960. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">É escritora e também roteirista de TV.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para passagem do tempo" height="300" src="https://www.poesiafaclube.com/sites/default/files/ImagensPoemas/Passagem-do-Tempo_800x600.jpg" width="400" /></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Caro Senhor Tempo,</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Espero que esta o encontre passando bem, ou melhor, passando o mais devagar possível.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Por aqui vai-se indo, como o Senhor quer e consente, meio rápido demais para o meu gosto, e quando vi já era dezembro.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se mais um ano.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>E com ele foram-se uma quantidade incalculável de amores, cores, idades, alguns amigos, não sei quantos neurônios, memórias, remorsos, desvarios, cabelos, ilusões, alegrias, tristezas, várias certezas (se não me engano, treze), algumas verdades indiscutíveis, umas calças que não fecham mais e aquele vestido de que eu gostava tanto.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se o meu gosto por vitrine.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se quase todo o meu vidro de perfume.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se meu costume de imaginar asneiras à noite.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se meu forte instinto de acreditar no que me dizem.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se meu açucareiro de porcelana.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Que pena.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se o tempo em que uma simples farra não significava necessariamente uma condenação sumária no dia subseqüente.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se a poupança.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>O troquinho da gaveta.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se aquele antigo projeto.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foram-se exatamente nove vírgula seis por cento de todas as minhas esperanças.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Será que o Senhor não se cansa, seu Tempo?</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Não pensa em tirar umas férias, dar uma pausa, respirar um pouco? Não lhe agrada a ideia de mudar o andamento? Diminuir o ritmo? </b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Em vez de tic-tac, inventar uma palavra mais comprida para compasso, mantra, ícone, diagrama?</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Me diga sinceramente: para que tanta pressa?</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Anda difícil acompanhar seus passos ultimamente.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Não precisa dar meia-volta, eu não espero tanto. Eternidade? Não. Só queria sua amizade.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Mas já é dezembro.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Foi-se mais um ano.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>E o Senhor passou voando, rebocou os meus momentos, foi desbotando minhas lembranças, carregou mais doze meses inteiros levando cada instante meu de carona.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Tentei voltar atrás em algumas decisões. Já era tarde.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Não deixei nada para amanhã. Mesmo assim não fiz sequer metade do que pretendia. Imaginei várias maneiras de estancar os dias, segunda, terça, quarta, quando via já era quinta. Sexta. Sábado. Domingo. Pronto.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Pensei em fuga. Será que existe algum lugar deste mundo onde as horas não me encontrem? Fiquei meses trancada em casa. Foi inútil. Lá fora, o Senhor continua passando.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>E já passou mais um pouquinho.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Calma, Tempo! Espere só um minutinho para eu explicar melhor meu ponto de vista.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Nem todo mundo é pedra, concorda? Dito isso, imagine então quantos pobres mortais sofrem da mesma agonia diária: giros e mais giros nos ponteiros, os cantos dos cucos, as denúncias das sombras, os grãos de areia escorrendo (parece até hemorragia crônica), tudo escapulindo, descendo, subindo, o frenesi dos dígitos, um, dois, três, quatro, cinco, cem, o Senhor vai tirar o pai da forca? Está fugindo de alguém? De quem? De mim? De ontem?</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Eu conheço de cor suas obrigações.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Estou convencida de suas utilidades.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Não fosse o Senhor, não existiriam saudade, retrato, suvenir, antiguidade, história, época, período, calendário, outrora, passatempo, novidade, creme anti-rugas, disputa por pênaltis, antepassado, descendente, dia, noite, nada, não existiria sabedoria, eu sei disso.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Não tome como queixas minhas palavras, por favor não tome.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Aqui vai apenas uma súplica.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Ah, se o Senhor fosse mais indulgente, mais piedoso, mais pensativo, se fosse baiano, menos estressado, mais manso, menos rigoroso, um 'bon vivant', e se distraísse aí pelo caminho, e se deixasse apreciar as paisagens, e sofresse um devaneio, e ficasse de bobeira, esquecido das horas, divagando.</b></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Escute aqui, seu Tempo, que tal deixar passar o resto e parar quieto um pouco?"</b></i></span></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
<br />Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-39148382985896089212018-11-13T08:30:00.004-02:002018-11-13T08:30:52.218-02:00Sobre 'Macunaíma',de Mário de Andrade<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;">"Muito mais do que um livro de vestibular"</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Edison Veiga</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">De Milão para a BBC News Brasil </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">Fonte: Jornal UOL – 15 de setembro 2018</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><span style="color: #073763;"><img alt="Grande Otello no filme MacunaÃma" height="179" src="https://ichef.bbci.co.uk/news/660/cpsprodpb/9838/production/_103386983_01.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;" width="320" /></span></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #073763;">Adaptada para o cinema, em filme considerado por críticos <br />um dos cem melhores da filmografia nacional</span></td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;"><i>"Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são" </i>- esse slogan de Macunaíma pode ajudar a explicar metaforicamente o país até hoje, na opinião de muitos. </span><br />
<span style="color: #073763;">Mas não é só isso que faz a grandeza dessa obra-prima, o romance rapsódia 'Macunaíma - O herói sem nenhum caráter', que o modernista Mário de Andrade (1893-1945) publicou em 1928, há 90 anos.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">O escritor criou um anti-herói marginal que nasce com preguiça na Amazônia e apronta tantas traquinagens que acaba abandonado pela mãe. </span><br />
<span style="color: #073763;">Macunaíma é erotizado e, a todo custo, busca prazeres sexuais. Ainda na floresta, ele ganha um talismã indígena, a muiraquitã. Depois perde a pedra e então viaja para São Paulo e Rio de Janeiro a fim de tentar recuperá-la. No percurso, o protagonista - que nasce negro e vira branco - vive peripécias e confusões, revelando suas falhas de caráter.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">"<i>O livro reúne uma vasta pesquisa da linguagem, das práticas narrativas e das músicas, das falas, ditos, contos e cantos populares do Brasil</i>", enumera o antropólogo Paulo Santilli, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp).</span><br />
<span style="color: #073763;">(...)</span><br />
<span style="color: #073763;">"<i>Com muita pesquisa, argúcia e inventividade, Mário introduziu linguagens populares nos centros urbanos e os ambientou, amalgamados, em uma inventiva criação, tecendo uma crítica, de modo tão irreverente quanto irônico, aos cacoetes das elites</i>."</span><br />
<span style="color: #073763;">(...)</span><br />
<b><span style="color: #073763;">Uma obra 'deslumbrante e triste, como o Brasil'</span></b><br />
<b><span style="color: #073763;"><br /></span></b>
<span style="color: #073763;">A primeira edição, com 283 páginas, foi impressa nas Oficinas Gráficas de Eugenio Cupolo, em São Paulo. Saiu do prelo em 26 de julho de 1928 e, nos meses seguintes, foi assunto entre os principais expoentes da cultura nacional. "<i>A obra apresentou uma grande renovação estética. E isso provocou uma reação irada da crítica conservadora</i>", diz Santilli.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img alt="Capa da primeira edição de MacunaÃma, de 1928, hoje em domÃnio público" height="320" src="https://ichef.bbci.co.uk/news/304/cpsprodpb/BF48/production/_103386984_05.jpg" width="211" /></span></div>
<span style="color: #073763;">"<i>É um marco do modernismo, o primeiro movimento literário realmente brasileiro e, dessa forma, ele dá resposta ao anseio do brasileiro entender quem somos, afinal, como povo. Essa é uma questão eterna para um país que surge do encontro - ou desencontro - de centenas de etnias indígenas e africanas, por causa da colonização europeia. Um país que é miscigenado, que se ama e se odeia por isso</i>", comenta a antropóloga Deborah Goldemberg, curadora de um evento promovido pela organização social Poiesis para celebrar os 90 anos do livro.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">"Desde que foi lançado, o livro significou isso - um marco na literatura brasileira, algo genuinamente brasileiro, com estética e linguagem próprias e não comparáveis ao cânone europeu que influenciava a literatura brasileira até então. Sempre encantou porque ele é ao mesmo tempo deslumbrante e triste, como o nosso país."</span><br />
<span style="color: #073763;">(...)</span><br />
<span style="color: #073763;">Macunaíma já foi pintado, aliás, por uma gigante da história das artes plásticas do Brasil. É de Tarsila do Amaral (1886-1973) o quadro O batizado de Macunaíma, que hoje pertence a uma coleção particular.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img alt="Resultado de imagem para tela MacunaÃma Tarsila do Amaral" height="171" src="data:image/jpeg;base64,/9j/4AAQSkZJRgABAQAAAQABAAD/2wCEAAkGBxMTEhUTExQWFhUXFxsbGBcYFxodGBgdGhodFxkXGxsbHyggHRolHRcXITEhJSkrLi4uGB8zODMtNygtLisBCgoKDg0OGxAQGy8lICUvLy0xLy8vLS0tNS0tLS0tLS8vLS0tLS0tLS0tLS0vLS0tLS0tLS0vLS0tLy0tLS0tLf/AABEIAKQBMgMBIgACEQEDEQH/xAAbAAADAAMBAQAAAAAAAAAAAAADBAUAAgYBB//EAD8QAAECBAMFBgQEBQMEAwAAAAECEQADITEEEkEFUWFxgSKRobHB8BMyQtEGUmLhFCNygvEzkqIVU7LCJEPS/8QAGgEAAwEBAQEAAAAAAAAAAAAAAgMEAQUABv/EADERAAICAQMCBAUDBAMBAAAAAAECABEDBBIhMUETIlFhBXGBofAykbEUI9HxJELhFf/aAAwDAQACEQMRAD8Aj4CalaXpqGOheo98I8xLBiD79+Uc5s3GGWsv8pJfgXoqKUzass9k5i5ABo1+JeJtlGEbJuBxssTFoSn5iW5C5NNBeK+y9mpkkkKKnDVAGr0hTaONEklMtCc2pPlvMUcJPExCVimYeNiOhBgWY17RbMT8pvPlj5vLXgesJbSxmVACWcmnmT6dYW2rjlpVlSWZja/N9IFhcGcQ6zNAOqctU6D6hTc3nHiQoto3BgfKwC8/X/MUxGJKr0bcPGPMHNZ/doqj8PP/APb/AMB/+o9l7ASLzFHkAPvAHUYq6y8fDtQf+v3E92fPQtkTAkluyo3P6XvQWrblBZmy0/Sojgajpr5xJx0n4KmBLs4VY3p1DXi7gcV8RDsxHzBmrd23G4/aJ8tr50PBl+lCZLw5l8w/f95CxSFS1EE6XBox58oHLK5hCR2ibMz0ufOLuJwpKxMyhYShXZLuSKpYW1MZIwv834wCQFIFBoXqbWIArzhg1Hlv8uJb4beWgeL+3rf2gpWyjRyEjoT9oPNlplkAJqfqIcjkWbNytDQm8IU21tAICUs5XRiaAOKtqQSISuV8jAHn2leTSY8GIlOD6nk/+fSTp2LmJVfK1hp435mMkyFziXWAEtpSu4dIJJmonKEs9lw7kgM1wNSeFu6KWD2X8MuJiiDoUgP9j+8U5cgQUOs5ei0viMGZbXvBo2U4qsu2gA8S8by9loFysvxHoIoow6n+xEGmyRkCtahROlWboW74hOob1nY/ptMnRR/M53aCpMofLmVonMS39VaRsvZrgFCnJANWAY1JZnHKsTcNLMyeAqrrJPR1HwDRfxcjOU3GVaVBuH3EUOxx0Lk+DGmoDEoK6CuJKmkS6kByKG40qOMLgup3dzWOgmygr5gDzAN+cRcfJEtiB2TRhod3I+9IZhzhvKesl1fw44wcidPTvALSBE5GbMybvDiq3NW/t98Y8woZZJDOKHR9R1Z4pnNB4iS1Ld3PQ0jf+Moxd9eMN4qRTMOv3iXNANRGggz03kKKlcBfgIam4ZSgclSPHrBMNIIDDq2/20OoASljzePGplmc2lVYOJp0gmJlAAkXKiehMLhXfG9Z6MmaWrGmaCYNDjMdCwgmGY4uUFfKTbfRRHi0CxoE+kLGu5gvqa/eBMtRrlU29i3laNY7ObLjn9p4MJOYa3HG79YnxagOaInT1Pw44k3qbrrIMzDEn0/eCSpTJZ7x0OxtmImJUpQJ7TCpYMAXpe8K7X2SZYK0/KLg6aODqK84d4y7tsj/AKTIcfiDp95JSo1cu1OceKJ3xoJoBVe/oIHNn6VHvzhtSUmE+Pxj2MSKUFIyMnpSwuFC15HYuXLPatuIhnE7HMtObMFB2olsu43tbwhQzjLWFg1c098zF/A7YkzUlEzslVCGcHiCLdd0AxI6QDd8Tn5kuGNn7VMtKkZXGYkdpm03cIc2js8oTmCkrBtoSfI9DElKAlLmwud+pjwoiFwZvPnlRzK18Ir7OkiQBNnomyySQlXaDAj6kZXY76vusYHsnYizisOJoOUqzqT+USx8TIrieyDzMdjtslWYvUKB9D5xHqNQAQg5v/U6GkwnduPFeoiCJoUAUkKG8fvGkx4XlFZJO4twg6irVjytCGxsBc6+PX4WfZdH34/PrAmT/MlzNUZh0UL83HiYk/ilASZU0B1JIS5d2+YVvd9dYtfxGjRzG28eZv8ALSkslVSaFxo2g5wzArlx6CDrcmJcTcizyO/P4J0GxNoCch6BYJzJGm41qx+8NTzprHLbN2eTV+1vFk/c8P8AMWPipkpyJDmprx1Uelhuj2XCA1KfpB0usY49+UUB39fpKCQBU6eHOIG2Z5VM4AMD+Z7nlTwhfGT1KUQpRUAaDTm1o1USzP74RTh0+w2ZBrPiHjLsUUJrgJKlTUpRRRNFbqVPcI77B4IS0gEqWoakOo7yWoOQjnPw1IKJ6CpKgVJID2r5Gljvi1L/ABDL+ImUpKgvMEl6ByQHG8ViPW73fao4AuFo2CY7J6mU0LCmCWrrYAamEca+VRCVcB8yi1ApgSxN4mYrCrIWE4k501KE0QA57IIqWLjNWsRMPttclTy+04IVmJIVu7jVxuheLSFuVP8AMa+q2ckRWXQukqcF3SlwDe8V/wDqxU4EpRPAKbna3WIBmzJi9SVF2AADmtrARf2RhVoJz3Kbg2qKc46GZV223WTaPM3ihFNAw3x1qr8tPloQKct8DmT0qCkr5Egb+ViKeHKAYhSgVJoADQ1JbyHjaF0DdGeEjAVMGqz4sjBzfUEHpEVqyKyk92vEQKatTggENZ/doqLAAJVYCr8LmIysdLzUzZeN23s8PBkdX0ldS3DixifLlATG0uPT3wg+GOgIKTVJGunSPZt4xZjRqUusaTz1jzC6x5isSlIdRbQfsBWN7we0RxnynhE9rw6nEImBSUntAGhDOGuN8JJghPCU8EhpY6+cKzazMwNUta4I1jofwsmV8SWialK8yQA9cq2BFONRXUiOr2nsSTPQykhwOytIAWizto1PlNG74jy6tcT7WH1lOPTl1tTOOw+3yzLQ53poeo38u6Fcdifi9oA9n6eB+r0MJ7Uwi8PNVKWKg9lVcqwahSXG7uLjSKf4TQFTVZqqCHTuFQFdWIrzhmxEXxFEcM+bMRhduI/+FcGtWZYXlQ7FDPmLO9wzPeA7e2shCl4eYhaXHzUKSFfUA7tfui5lUkuktvBjm/x0QsyFC7KB6kMH5vE+J/EzeaWZ8X9Pp/K34ZDkbNUqd8NxUZs2hTTtDfcNFebsGTkKUhWarLJq+jgUZ9GibhMQqXlys4SU1D0KsxHfHTYBQmJCxY6cRcHhD9Q7rRviL+HYsGRSrC29/T2nCgbzWPYJiB2lZR2XLM7M9G4NGRWJxjwalwYcLUpOpSSg7lJPkQa8oUwMogkqGVqMd5/Z++G6pU4FUqcfbqDHk7FkpzLL+6ADdCbMp2i7hMPh/wCWqZqVGn6RTzeOq2R+HEJEueVFboQpCCAyCpOYqP5iPpsz1csY5jZW2xlCRJXlQBnW6aPctrqWju8FjEKkpS6QUgAB2CgAySnfRqcIj1jZAvl+vyhafacnmHyi0heSckuAMzOS3zBrniRBNpqyhbipIHeX8niTt2aChSaEZgTrSgbdX0hLEIKpQUha1JYZRmJccE6NUNwiZMNgMeJ0i5LHYLoXMxG08sslDFZUAkHUqUwPG7xGnqxYYmaQTVgr7Bo2xMzJlcVCsza9ivm0M40JypKAMjUIsHrd72o3WOj+mgJzseMPuZusobFx5nS3U2dJyKbUhq8HBBiPOmBSlKo5OnCgMScPtJSDOQg0mM5BtlJBbiXZ4cXs9ITmJIWA7NTp3iGUFMSuMm6nQYeeAhIAZQFmpz++sIKxEoFpkxyS5SkG/wCo6chAsHNUMOuaTSXRzfRufzCGcZg5IYFAUaM1FH9RINdawsBcZ+cpdsmpXaxoLH0SZK0ggJI0I+/3hpCEj5Qkcg1Iz8AYCWZ05xmSlMspSqoCjnrapGXe4IFCLdxtISij+blygVKmATxB+k6U4RNqNeuNwlXJk0jc8zhplGPG/j6RptLDpxKVLDZ0glaTR2+tPnvvBjLSuqVukEgFJDKYkX6QVctSpI+B28pIUhJFS9FHQs1vtDMjC1I4PrD04J3Kek5rFkhSE1KsrZRdVKjgN/KF8eRKSDNVU/LLTWmpPhw5xZwuzVSzmmkfFUHUBXI5oh97MTxpYAxC2mhMzFqSQCEIFCSNAbj+qKFcNyILWX2zzZe1ETJglgFJXY0YsLU1IFI6KZjpMvsmYkFNKufLlHI4nBpSrMgBJAcFy6Tze8VjhwlFQCWBdnL/AGjMm0xmLE4bcDREuS8KiepJCmCiAFAghib0ob746HFbEweHQPiomrd3UBMUaM7/AA6J8NY+fYHG/DkzUBgXSUgUYrVkUfXnHZ4b8TYiShlZJ2VgFKJSvgFEAhR40PO8czW4s3lGJjXoDR/eORXys7sLP52gdu7Dw0zDDEYckISQVJVmGYOzZVjMFBRSW1A1eOK2lPSU5fmDu5uOUXdv/imbicspSUoSO2yFEkkGjqUBQbmjnxhgpXaJLmrUijRplRP7x57c2a+feeI42qIhhcQUJCUdouWLPewbWGsNj1KVkmABQswboRDUnDICVpQKoVV9RoOTeIifjJdlD5hUNrwi4MCZO+AqJYwxvCczDJm4gpL5Uy3oWrTXrDuFlrIqkgtbxvugmHwGWYZhPaZsujMPGgMA+QAGjD0+mdm5XgdZLxeyJSFJIMwG4OYUPdCWAqaigam+LWNwillTEpcM6mLcmqeERcPhloJQxOWjpqARa+nDjBY23Cr5hZ8W1g22hPcQgAugsUl6aNUNxeOzH4xmzJQVKQhMwjtqXUFYHaypBFLFyekcWtRAIY2u0ZsfFZVFDBiXcmxt76QOXCuQAsLqCj7W9Lhcf+IcRMny1zyl0dnKEgJKSXUG1ffwEdDi56JJzJQcwtkFRo7/AEvXnWOY27LFFhiASk8HqPWLWGxwMpExVVKua1I7LUpRhQxpACjaPpBXHeQgnpzcZH4sKhlDBf6kg+IavSEsViwtIpUqzKFaKbKSH0UGPSJmIAMxCm7RXXjvhyXKKlBKQ5JAA3k0EEuNF5AgZHdjTG4E7oYk4hSUKQGAUXUdTRm5MIbn7DmIDkpJ1AfqxNz0ET5ig3Brx7cr9OYRTJh5PFz0HhGQj/HD8vjGQdRFyx8VRqd7fb7d0L7Q+VPMwZuyeZ8zGmMH8t+I9+MB3jlNiMfh3tSlj9ah3hMWtjTCZbK0JTbdaJGxMGUSySSCs5qGzhh4CH5eJyypiGAUxIO+ozdWND9oSSCxqNzIThFibYzFpKBqlSsvMC7RWkABCWFAGpuciOTWqgG5/Fot4PFqQkJqpwOyzl2ryFrwOoS1AEb8NcY8hJ6VHMXh0qYkAtUEh25QlMlJVdIPSsMSsUSvKoAFnFeLMfCJn4hxeSUoA5VqoO/tEbqAxPjVt22dPUPjKeJEGwpmFAZ9+hOoSd/nDu0QfhnLwe/sxH2NgqfGUxP0PYaPzeLez1KJLksGd95sHjpF8YTaw5HechFdjx37SZJw06ZKXJCMqFrBKlUsGatatFKds5fZBUCQACxYEgM7F6s1opNqYBtmcUgZfq1sQGr5RJ4hbpKxp0RSY5+EP/iz1rmTAUTUZSAC6VIVmQeIYrDs9YR/EO2FYhas2ZKEk5UG9PqIF1HwBpq8kRrR+nl/mMGFfE8Q9YgkVQlDATlCQq4dYG41AzNucDxg+z1FcxRBKUSwAEgs7uztoAO8xDsTp7/eC4baK5SiRUFswLVbjpeHkWCJOVIup0k2ehJap38+ccRhMQpeJUp6qUp+VWHgBHQ/GBrvr31jxUr6tb2Eewi7HtCbGEpvfmJTsAJhANApwSDW2jhoYlfFT/LSn4jCinZTMwzaPxcPBNRwIitggMpI1OndGMwGDcRzcoxpeage05Ha2DXKAUojMpmarZS99XeOjnBa5aTl+YJUQ9qZqcom/iztJlkGhzDq3vujpChhl3U7qQjI9qpPXmPxJWR1HTiQ8bsCYPhTysAKBBSBappfcx6RrIwrFyX3DdHR41T4WSrcVJPCpaIkxVvd4Xiys459SPvNGNVNgQUrZ6PiZ65jftECzMRYjnA58kXZzYdYcwy3Y2eAzkFwnXMNN1TSDDG+YZxrsBA6n/E0x00pWwLMBTTujJGKJUAWrYjfu6+kA2lOGclx/j34RrNTuuKjmKiNCjaLnnylcjEHi5tjJxKiEkhI8d8Ly9RGq19mmvfyjaUoOOMUY/KROfnJcGLYhNvd6xKSO2zaNzvWL0ySDrR/8QhhZaRPJUKB276Q2toiLDkSxJkMkAtatNTeFpsjKGFEFT2sbP3Q6lYUKPzaNJaszgs/nxEShjcuKrVCJYjZyaTApTpqDRlcIzCTskxC/wAqge4uYJiUqAyaO4+3fCaizDu3GHpZHMizEK/Aqd7OQ9qi4PjHEbQSM6wPzFu//MMYXaU0AoEwhISWFOy1aFna8LzQ1DuB6GrwrDiONjZlOq1QzIAB0k9WBD3jIbCDGRRunOqGx0zKni58IJOAUhtD6j9oW2kmpPAwxhj/AC23N5QJ6XGoeSJalEEAizQPFyQR7rCex5x7SDoolPI1PcT4w+CxYm9vUe98TEbTOkGDrJkiTmW2gqeX72h+VN/nNvB8GP3ghQEudL937wimb2s/EwV74qhhH1j09QExJNHSQfCI+JV/FTU505ZaMyQoH560IcasBTjFZWKzy86QbG+mhicmhcf4jcNK1kdJ7OSy7QeDNiwBQPlFE1qGtWHcIfhpDMXqoka7ughPEo7T74alDsg+xDit7x+dYtWoqRG0zmfNqXfQOPKl4Q2pOzLCdEDxNT3Bu8xrMnM5F3Ybif2r3QqEmiRUqLcyYnVaNx7uSNs1Sp3hiXObR/OPcVIyLyi2Ud4oT69YFDA3cRD478rTJ85JplHPWEZl/fL0hmaWPSNp8h0Ai4FfP7+MFuiwgUcQ+ywCk7xTvr+0Gzas9KiJ2zppSvnRvKKJGojC2xgRNRC1g9JqVOKxV2ct0A8T5xJWm8Utjn+WOZ83hOdwUoCuZZpUIyWTfEJg5Kc0tagT8KYVAUY113/tFfaOGIW6QSlfaSwf5qkU1BhCTIISafUermjd8PYedOlgJSSAbAinjaIMm7day5UoWIjtNK5eGlylD+YZillL0CWYZjYGlq3iUU0SXelebxaxEp+yO1MupZNK7zWnCJ03BqlhixDkuLCwAqH0vDsXA97/AJimxsIvKtyJ+/rHmLxhFGDsK2POPPpJ4Hyb0jSQnOMyqq1J4UtawEOodTADsBtUxBMoFQH5lVJNamsP4lDlxFLZexJk4PKSMrsVqLJcXD1JPAAwbF/hTGCoSkp/MlY8AoJPf4wDZk3UWEUKC1OXyZVh7JWCRwv4ekezUgKIGhLN6RqSMykjQtxNHfvgiEFRCQO1YceEVe8R7RaYSBSkZs1Pb5AnyHrBZ6SCykkHcbwTZSAxOtul40t5YKpbiOPE1sy0p68Rr6Q3nJUUswD8yN8aSZOVSlE6U3wCcRmTzUJmMIcJbieHukTcW7o5+hh1CnJJ18vZjMNgDOWDZKScx6WHEw4EItmSFWzZNqi57svAfEVmV/ppv+oj6fvDW3g+XQm+9gKD/kYqJSAAlIYCw9TEj8Qn/T/u6/LWJUyF8oM62bTLg0jAdeLP1k9NoyJYmEU3RkW7Zwt0sbTQxI4keJH2gmEf4aj/AEx7tUu/f5Rts9H8k8gPKAJ8sYv6okuaUqCk3C0+LAjqHEdLMlAuDHMYxFwNVIbvI+0dR8ZJO48oVl7GV6YjzAwH8HpmLbv8u0eowSANT1+0GE4Hf3RocQBp3mFbmlBVO82RKAASGbdGGWnUDuEBRiCqiW+3MwLHLISwLnwj1G54soFzX4ibFLtY8NI8WQuhJSBoCwPOFErCqZgk8X84yZhi7fMODmKtz7akY2XcJiCAQlLMkeJ9+MGwstmmPXRtB9yHgcrBFTucvMOT0egjaRhVJ+UoPU+VBC9pIheIAbm+0VOumgb19YXMHwGFM1RAanzHd033inO2IPoX3/cWhRyKnlJlIw5Mg3ATn5wpDiz2HepA8YDNk1KSCCKcRAlyBy4i0NBEldDBYYPMHN+4RVtUdfvzgOztmLBKl0DMN9eGltYdVhw3Z0vDW02UjfXE8uVQKvmKrPlG2ysQymBobjlrwguGwhmnICA4qTZI3mKGCwMqWaDMpvmPoLN3xE7qARKsCu7BhwBG/wCNypcJzbwC2jboclTcyXs4tuO7nACkHQQMymqC0SBhOrz3jClAAvSjuIgYraaVpYOz1Ud16cYqDDlXzVG7SNkygAAAAkUZoNSB1gZCzCl4nNKxJzgigZm3NV4OnAKLk9lOlS5pdvvFWdsuWogjsqFaW6pt3Rti1pBylQCmfWoe/pHU0fgZTTGvbpOLqEzY+Tz7ydIxOIw6FIlzShMwjMUioI/I75SbZr23COS23IWJhK1rmA1ClqUpXIkl3EdXjMUlKS3aPgIm46SJktw7ioBuRqIZnTFiy3j6Hr/uIUb0N9ZJ2bP7TEudCbn9xF3Zx/my/wCoRy0xLF310uOMVcBjFEZgSFoNW4VcPvheRL6T2LIF4M7qbJCgygCOIceMRJklKaJAG9g3WPMTtGaqWiYlTFwGAYKfslxapbxZo2Wp3iIY2XrOiuVcl0ICdQQhOmOpmsIZxc3QaOT03xGweJzTCC1R3NXyeKMa95LnyVxKcmXmoFAE0AIJ7y4aGtgzXE1NmUmnGqT/AOMMbFlpIUWqDQ8wH8oLIwYRMWofWzjQEa9YTly3uQy/R6atmVfe/wBv8wusR/xGqiP7j5CLZUNY5PaWL+ISoWNEcrDvv1jNMpL36RvxPKFw7e5iMvDuAXuIyKsmUAkDcBGRdunztRlUkLzFRZIJffeCrIygAMigTxrU8bXh2XggFVqzsL1f5i9zAJkszJprQEORoP08TVj13RP4gJ9paMVD3iMgoE+o0ZJ3Nc+90V0ZFkJueR9YjzpRE9PZYEkADS4HS1YvbMklIOYM+uvI7oqwYfFYDtEsdtwitnIFW998J42WlADJBffo8Vyhy7k8BaMUhg5ubg6AWeOi+lxlaAoxfiNfJk6T8oPB4lz1up/e6GMRtNKEhOVRoQ4Zh6wm3j7EcNVIazK82UFAoiuIlknsgxbwuwJapCSx+IpOZ31/K27TfCGEL3sFN0NR6xW2Vi/hkpU+W4arF2pz9IYzHoJGbnNLxK5aiASRuNeMU8POKkgsz6O8K45CVTGGpOjECvpFA09OUETxN3ESnsuYg5gAM4bPvLvlL7qd4g+NxBA7LZjvoPDW8Rtj4lGaYouxIAIqOyK+JhnFT8xLCjNW/PxiB0/uGd3Fm/4688xHGYnOp/0gA76P6nuj3BpOcEAlnL9PPhGIwiDQ5kqu4PzDrQtS8OSAnKANA3Evq+kdPR4kZxZ6czmZ3eiahgS5OnhAROGYpA0L1oI3mrejwtLWEOtRAejO/wAthxNXivNrGGfaOg+8SMI8LcepjuGmoQwU4zXVuOj8NIIqROCnGVSN9T60jnl7WSpVma37tDuFnkjskhQ/KTUdN1O/hHIfGVsjv1uW4tRvpT26VxOj5P3wKYFH6iPfSEsNjpxIAykaqUkUHRnMNzJj+/dIhKlTOrjAyC6nhlO7O/M+FaQLtAkOQdNe8HT28Iz9s5FFIQCxuSfSATduTNEoH9r+Zhyox6iS5MiK3lPSWvi5XzlIADlTsniC+vvhEjF4sTVdhyEECtHdy9dHPhCKkzJzus032fc2nQawCStUqZUM4Y7iN46tD0wUN3eSZtTZCdodYq36j4/5g0LznSXNiR+4gs5bJfcxgibAi0FFpM2rgqFY/uG79Q9Yl4bEiWc2llctDHT+INPSOax+HMtZSbaHePdIfiaxRiM+OvMJfwJslyzlg9BUnzhrELypeI+yph+GmtQW7jTwi3NGYNvEJycNG6Y2hAk6bKOVQ1UGf0iLMkmX2gaj/EXsxYPcFubUhLEhlG1Rrx/wYdiMTnXmUvw5jhZZAK6Dc6XpwcHwi1NTrHKSZIQkKDXoCHTWltdYd/jcQk3Sobm/wfGJs2Hc25Z0dFrhjx7HHT0nm3viBzmPwyk00Ch9xv3RMN5Y5eTxWG2FO0yWw4fY0MKbWmyuyZbFRqCKZdKp33o0NxFlpSJPq1TITkV/obv6QibRkTUqPGMhu2c+ddOlFSjmJIewoDBkSgAwDDz48TxhRO0Ukk5Tc7nguF2klSwnKocS27n7aIWDAdJ0kdL6xqWm5avpBNH4Fy4odwF4CubVspJ5jwrAFYlQmBOUsXowew1e1Y6+l1yLjCsCK9Kr+ZJmx+ewbh1TVJy6kqSCz0BNTTcG7oDi5qyrKAcpBqAb6V74rYXBuHVB14JNqdwiDP8AFnZjt4EpTQcWxnC4mXbM4Yh+ENSZCllkivvwint7ZRKTlvpxb6ftANjzfhlL6sC+hG/u8YDxdybl6xBwbMgVuh7zTD7LmJcFnJeh9IZk4CYLpenqfuIt4mdlAU2l/TxiPMx6phINALizxOmXJk6CU5cOHEPNcQ2rhcpSvvbhbrp1EKS0qmMlTJTdQD13JeHcSsFAIFFBwNwf7iA4IfMeUVbiE5kaKr5BXSMJQ1AAwFBugeInhF+sMRJxS8ym6n7QpBuMvyNsW5UlKBDioNjHihpBJctkgcBC+Lm5QffOM7w7pbMyVOBJT7PHvhPasmmYVLN796Q7hsMycx+Y+A0EbgO2hBBB3EVg/wBDXFj+4pEbxuDBl5SgHKkMAACCGfLuN4W/DgSy8goKKUblycrbmFxxioFg1j3CSkgLyipU6hxIFeFAPGJRkO0qZ1GwqXXIIMntq3Mn/wBn9I9aN1CsT9rz8kssWKqDfW/g8AoLEAR7MMaFj25kTHTHmLKTRzbXrA5cwGiu96dYLhJIIJNrAe+nfGk7DNao93jqBQBU+ZZ2JLesYzEBnYbhAcStahlBfgQC/g7wJMwimkP4JFM2p8v3jzNtE8ilzU0wpKkDOCCKEEEO2vHnGYkdhVdIaIgakg3AMIvmV7eKiuFXTLqPL9o2xGHC0soUe+o3ERumUEqJGum6NlVvG3zYmBTVGTZcj4amFQQ9d49iKWFXQjUetfvC+JTR9RWGMPLIc7wIJmteYrGhXJx0gFiqv6vtEnGy1KXSxISDy9mK+Oo5dnFDxEKBT5DxHkfWDxGhcVqOtTbEJyoyjRh3RviFlwAWD3jzFEMOcBK9YIC4i64m+HxL5ybJJHSI82Y6nNH03RipvZI3qJPpAlQ1VqYzWBG0qpaMgaJlByjI9UG5alzKkcT5xSkSeyDC+zdm/ETMUFMpBcJa43xQkKAAFb7v3iRmFkCUbSADGpazl7Sczax7JmpulH3pTdpDGFS5A1O+NUyhmL6ODzce+sTbUJIlHjZAA1fWYdqNcke+UHwuMzlk15Me+N50oFBG6J0jCKrkXlcV9gh4w4FriEuta/NK09hRRd78OMJqwaUqCmB3Hw79IizcTOBqp2uCabvZinhdqJysruJqORDws4XQccyhdRif9X3lDGgZPL33Rz8n/UmDgD5w3i8cFMAf29+EKTHzJUGdSWPaLmpApDtOhQcyPWZFcgCKLQcqOElPiSr1g+GlMG1Ne+A4teRIIIUyJY1qAkAmoEMYGcCQDufNowH2ijJZEVp2CAnvUPiJKQhT7r8YUkYJLAkVNTUwWeTM/pag38Y8weJchJFQL8oWbC8RmnIZjujSjQ8IWXKSsNQgHQ+cGxBFAOvp6+EJq7CwrQgg+Y8Y1UJW45s48TZ2jIRAJ89KflqfAQCfjMxCRRyA3VnMEx0lKUU0PU+2jNtHmN3WDt7TfA4hIFVMpybtwv0MN4bszTNCicwAWmhCgLWsR998ebRkEYXKAxZDafUkn1iJIl5S65mUcHc+DRiKHBI+U3M5wMqnnoZ1hnoP1NwVQ+ML4uQmYkpJBHA2OhHGIqtpIFpj8O19oCceH+cj/cIEadhyIf8A9JaplsQ+HwykAoVfMa6EFmI96QQDSBpxCyRVShyPmzwZamYsz76RWCa805zFC3k6e8SlYR1H8o8X0huctKQ53RsuYEpr7/eJuKRMWbADcTC+XPtHcY195r/1FQNg260MS9ooLOG52+0Kpw5HzB92ohqVsxa05gOjH7MIMqsSuVhGPipNQR6R4paWuO+FV7DmioR3KrCU7DqS+ZKn4wIxg9DD/qPaO42akJoXJ0e3GAyVTFBgSwDXbkHgGFlgngIdwqqKT+U+Bg9oHES+UnpJk/E3fM4uDcQzhQooqkpIVRwQ+uvWCCQDiQSHGTMOYpDmKUyX4xpYcARRJPWKYiEMVPZgGc+WvSHwrNyZxEWYHJe7t9hDEEEwsiX9UKzfmI92iikMG3RPxZZQ4iDB5mGESmkZGyFUEZHp6dT+Hgv+IOVjQ5gSzh9OIvHUfwwf/ST/ALm8hHDfEIUSCxBoReK8nbU/8w6pB9I5eowszblnRwZlRaadAqWUdoS2I3FxXfS3EVjRUsntkmuoYC2gNTQRNTtqb+n/AGwRO2phcMjuP3icYcg/3HnUYT1lAoIFFPwLMeoFPdI8QhTOVMdwAYc3v7tElEujuf8AcfvHhXaqh/cfvDvDyVW6TePgu9k9xdVkjWrePrCikQaaoPeALVW8UiRmMYNDV5QWdJBX8wBA3HSsCkKYRsq5L6NHjM7yfiEOlnqUt4N6QtgCtCjLVYoW3+0mh9IdnIFIPIAzDVwf/EiDBoT1zTAYgKTQhwwPpBtlSwZkws+Wg3Am45tE/Z5AYhtH41hjYWIyqyGylEf3OQ/X7RlVdTGPBqNbQGWa+iw/UUPg0K4kOnS4Z/fGNduYsFYQn6Ln9R0gSCFJGYAuk+B/eGA0Jig8RlFwBaCYiVmarAF9/toUw6EpqAl9+o5G4EEM7ieivuDCHBJsToYsqBaaazkKzAPmJoHJ860go2dM1WhPJJV5lPlGgxISrM2Y2BLU5AAVg0rag+q3BJ8d8CWyAcRg8FjyYtj8LkSDnUoksKJCRvJoT4xrh5khFSp178ppyp4w9iimanKFpdwfYvEmbsJR+ZaQl63qOsFjcV5zFZsRJ8g4lBW0UN9XVJHnGiNpS1gjKtW9kE16QvthebKxBASRTQ8uTQvsOYULWTRGUON6n7LPwzQd+S4rwhv23DhCiaS5hrQlDcNbQ5h8IodpZcH6WHZ45gSDbxgiNoy2L9lvzMzb3jUbTkf9xLf1D1he9yeBHnDjVT5vz5T2ThmBzMrtFlBLUNAk7zGpkFJeWVA8D4H7GN/+oS1BKUqRQuA9D0D1g5n1bMkHelVfEBoZZkZFGo5snGZkrExsyE5na6dS28eogG0UhaSFZQDYfV374TlKXnKiomhTa4VcaOKeMbzZoSHUphxJA/5KI8IRwrcRq4XIuc9hJCgVAgjcSCHvUPcQdJZQVoaH0g2P2tLLAOW1ALAG96nuhTFThlO5v8RUpJ5IqLyKFNA3GVUnI/UlSfJXpA9oTwOz1PDcOcI4vFEKlPQpAJ608vOA7W/1D70EEE8wi+0Zwcx0pO4tCCk9o/1GNpZ7HWF1TG5vDQOZkdIhHGKc8vXSN04txxbpCSlwQEwmUZYLCmm8x7AZU8sOQjIzmel6egAq5mGJSb9PKPYyIzHRiT9vODhFjGRkLM8Yykdk8vSBM4J3RkZGiKECqNV3EeRkFDMMu3dGSzHsZA9oMALisMJnKDMd+6MjIKDUSCyQ5LmF5NJtP+9/7CMjIOaO802kf5i+Z84LhflT/d5iMjI3tDhI9lByX3x5GQEIzTEBiRpC4VaMjI8J6Ys25RkoVjIyNhTycprQumeYyMglAqZuI7zZM0nuiXjJQTMUBQBiOoeMjILHw0PJygJniFk6wdBLmpjIyGGJEOrHTU0Exbc37nt0hLFzC7uSd5JJ7zGRkYoE1iSOZ7O+URi1H4Ka6nwrGRkFAMEpZOV9EgCGdqC5fd5RkZGdxM7RSSez1gU1NTU6eUZGQwTxi8g16HyjRvKMjIZAjKFFhyjIyMgJs//Z" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;">Em 1969, Macunaíma virou filme - dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) e com Grande Otelo (1915-1993) no papel principal. A obra é considerada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema como uma das cem melhores da filmografia nacional.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img alt="Filme MacunaÃma" height="179" src="https://ichef.bbci.co.uk/news/624/cpsprodpb/10D68/production/_103386986_02.jpg" width="320" /></span></div>
<span style="color: #073763;">Para especialistas em literatura e sociólogos, Macunaíma é uma obra que convida a refletir sobre a identidade nacional.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<b><span style="color: #073763;">Gestação longa, nascimento rápido</span></b><br />
<span style="color: #073763;">Mário de Andrade costumava dizer que escreveu Macunaíma em apenas seis dias - "<i>deitado na rede em Araraquara</i>", frisa o poeta e crítico literário Frederico Barbosa. "<i>No entanto, a obra revela uma enorme pesquisa e profunda reflexão do escritor sobre a identidade nacional. Ou seja, demorou muito tempo para ser gestada, embora tenha saído de forma bastante natural ao ser escrita.</i>"</span><br />
<span style="color: #073763;">Barbosa acredita que é isso que faz de Macunaíma um livro "<i>sempre interessante e vivo</i>".</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">"<i>É erudição com naturalidade e humor. É muito sério em sua essência, mas muito engraçado e divertido na leitura. Em outras palavras, Macunaíma é, antes de tudo, uma obra gostosa de se ler que abre um vasto leque de reflexões sobre nossa identidade nacional</i>", explica.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">"<i>Segue sendo importante porque diz muito do Brasil do início deste século e também do século passado</i>", afirma Santilli.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">"<i>A maestria de Mário de Andrade ao mesclar a língua coloquial e a escrita demonstra a distância entre esses falares e confere um efeito estético. Essa trama ilustra a distância tanto no léxico quanto na política entre as elites e a população. Significa muito mais do que as listas de vestibulares. É um livro necessário para compreender o Brasil, a riqueza e a diversidade linguística e cultural do Brasil, e ao mesmo tempo a mediocridade e a avidez mesquinha da elite que marca a história do Brasil</i>."</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">"<i>Noventa anos depois, continuamos buscando uma identidade cultural nacional, algo que nos una enquanto nação. Mas continuamos divididos e sem conhecer nossa história - o que pode ajudar a entender todas as tensões atuais</i>", comenta o editor e poeta Eduardo Lacerda.</span><br />
<span style="color: #073763;">*</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Poeta, escritor, crítico literário, musicólogo, historiador da arte, folclorista e ensaísta, ele gostava de ir a campo em busca das experiências dos brasileiros reais. Foi uma das mentes por trás da Semana de Arte Moderna de 1922, que deu início ao movimento Modernista e mudou a arte no país.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Em 1935, tornou-se diretor-fundador do Departamento de Cultura de São Paulo, um órgão que seria o embrião da atual Secretaria de Cultura. Em 1937, quando o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi criado, Mário de Andrade foi incumbido de peregrinar pelo interior paulista a fim de identificar e mapear tudo aquilo que merecia ser protegido como bem cultural no Estado.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Nessas viagens, ele acabou se tornando o primeiro a olhar com interesse histórico para as hoje reconhecidas "casas bandeiristas", construções coloniais paulistas pobres e rudimentares, de estruturas simples e feitas de taipa de pilão. "<i>Casas velhas</i>", era como o poeta as chamava - sem que isso fosse algum demérito, muito pelo contrário.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-41254262697598285452018-11-09T13:57:00.003-02:002018-11-09T13:57:43.125-02:00Sem título - Adriano Dias<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Venho falando demais,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Estúpido</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Ao que deveria ouvir,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Sufocado em meus ouvidos</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Por minha própria voz,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Verbanalizando sempre o mesmo:</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">.</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">- o eu! ; o mundo!; as coisas!</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">[tudo em terceira pessoa]</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">.</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Deveria calar um pouco</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">E saber da brisa e seu frio substantivo,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Do mundo e seus ruídos,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Do tudo aí, sensível,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">E do vazio</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Aqui</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Comigo.</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">.</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Daí entenderia:</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Talvez a fração que me falta</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">[esse vácuo que tanto cavo],</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Talvez nada demais,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Só o vento, o som, os olhos</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Com seu não significar nada,</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">Só menos alheio a mim mesmo.</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">**</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Adriano Dias - Página 'Semema'</span></b></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<img height="271" src="https://scontent.fsdu2-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/43176050_1938569339555748_8845067645226057728_n.jpg?_nc_cat=111&oh=e3236bc28c5baa556d7f2820f9c067fd&oe=5C1B6B0F" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: blue; font-size: x-small;">Mural do árabe <b>Shahul Kollengode</b> @shahulart</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-41864936875962358762018-11-09T13:54:00.002-02:002018-11-09T13:54:52.456-02:00A João Guimarães Rosa - Maureen Bisilliat<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: blue;">Da página "Prosa, Verso e Arte"</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: large;">Fotógrafa inglesa MAUREEN BISILLIAT homenageia Guimarães Rosa</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="264" src="https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2017/08/Maureen-Bisilliat-Cruzando-rio-ao-p%C3%A9-da-Serra-das-Araras-c.-1966.-Pr%C3%B3ximo-a-Montes-Claros-MG.-696x460.jpg" width="400" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: x-large;"><b>A JOÃO GUIMARÃES ROSA</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><b>– Maureen Bisilliat </b>(IMS – Séries | 24.9.2013)</span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;"><b>Voltas no tempo ‘A João Guimarães Rosa’</b></span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Tudo começou em 1963, quando ganhei de um amigo um exemplar de 'Grande sertão: Veredas', de Guimarães Rosa – não sem a observação de que talvez não conseguisse compreender a linguagem especialíssima do autor. </span><br />
<span style="color: #073763;">Não só compreendi como mergulhei nas águas daquele mar de palavras – o sertão não viraria mar? -, inspirada e instigada a investigar a relação direta de Rosa com os gerais de Minas Gerais. </span><br />
<span style="color: #073763;">Assim, durante os anos 60 viajei por essas terras seguindo um roteiro sugerido pelo autor, iniciando pelas raízes – Curvelo, Cordisburgo, Andrequicé -, subindo pelo tronco da árvore, expandindo pelos galhos, até chegar em Januária, no norte de Minas. Desloquei-me para lá e, ao voltar de cada viagem, ia visitar o escritor, então chefe do Serviço de Demarcação de Fronteiras do Itamaraty. Levava, a cada encontro, um calhamaço de fotografias captadas nas terras do autor de Sagarana e, atrás de cada uma, ele anotava detalhes – nome, idade, solteiro, casado ou viúvo, lugar de encontro, como e quando etc. -, recebendo através das imagens mensagens dos gerais. </span><br />
<span style="color: #073763;">No final de nossas reuniões, ele sempre me acompanhava até o elevador e me desejava uma boa próxima viagem, dizendo estar certo de que eu, como irlandesa, iria compreender os eflúvios poéticos dos gerais, devido à semelhança entre aquela região e a Irlanda (<i>“Irlandesa Cigana”</i> foi, aliás, como ele me apelidou, teria ele entrevisto alguma ancestralidade cigana nos meus cabelos longos, roupas amplas, sandálias no pé?).</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Anos depois desses nossos encontros, fui visitar sua viúva, Dona Aracy, no prédio onde eles tinham morado em Copacabana, Posto 6. </span><br />
<span style="color: #073763;">Lá, ela me levou até uma pequena sala, entre os rochedos e o mar, e contou que fora ali que Rosa escrevera seu Grande sertão. <i>“Noite após noite”</i>, confidenciou-me, <i>“eu levava para ele duas ou três trocas de pijama, pois enquanto escrevia transpirava muito, banhando-se em suor. Ele me dizia que recebia a obra assoprada, sendo ele apenas receptor”.</i></span><br />
<span style="color: #073763;">**</span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<img height="213" src="https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2017/08/Extraindo-o-polvilho-da-mandioca-perto-de-Janur%C3%A1ria-MG.1962-1966-foto-%C2%A9-Maureen-Bisilliat-Acervo-IMS-1024x682.jpg" style="color: #073763;" width="320" /></div>
<span style="color: #073763;">Andrequicé, 1966</span><br />
<span style="color: #073763;">Porta de entrada para os gerais de Guimarães, companheiro de viagem de Manuelzão – Manuel Nardi, vaqueiro-mor, personagem central de uma das novelas de 'Corpo de Baile': </span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Comecei a conhecer os sertões por suas veredas. Iniciei minha busca seguindo de ônibus para Minas, parando primeiro em Cordisburgo, lugar de nascimento do autor, prosseguindo rumo ao norte e chegando em Andrequicé, povoado pequeno, pouso na rota das boiadas pelos sertões. </span><br />
<span style="color: #073763;">Ao chegar, o sol se escondendo no horizonte, acerquei-me de um pequeno boteco e, após me apresentar como alguém em busca dos rastros de Guimarães, fui acolhida com uma boa notícia:<i> “A moça está com sorte, pois não é que chegou agorinha mesmo o Manuelzão do Rosa, vindo direto da fazenda para uma celebração de crisma em Andrequicé!”</i> Sim, o próprio Manuel Nardi, inspirador do conto “Manuelzão e Miguilim”, publicado em 1956, como parte do livro 'Corpo de baile': um bom augúrio para a busca planejada!</span><br />
<br />
<span style="color: #073763;">Indaguei acerca de um lugar para pernoitar e o moço do boteco me levou à casa de uma velha senhora que me recebeu com a acolhida espontânea e ampla dos que pouco têm, mas muito oferecem: ovo frito, saborosa farofa e um café mineiro, doce, perfumado e ralo, daqueles que descem como água benta apaziguando a sede!</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Dormi com a candeia acesa, a esteira no chão. Acordei cedo, o sol despontando no horizonte, no friozinho da madrugada. E lá estava ele, Manuelzão, sombra esguia na parede caiada, chapéu de abas firmes, capa de feltro azul, rosto de couro curtido, olhar de águia me aguardando sem prosa, pronto para o retrato que viria a ser – para mim e para muitos – emblemático da estirpe rija dos gerais de Guimarães. </span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="320" src="https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2017/08/Maureen-Bisilliat-Retrato-de-Manuel-Nardi-inspirador-do-conto-Manuelz%C3%A3o-e-Miguilim-de-Guimar%C3%A3es-Rosa-Andrequic%C3%A9-MG.-1966-667x1024.jpg" width="208" /></span></div>
<span style="color: #073763;">De repente, me olhando a esmo, deparei com a figura de um homem – um vaqueiro, talvez? Pedi licença para tirar o seu retrato. Sisudo e cismado, ele não quis me atender. Satisfeita com a sorte, feliz da vida, com Manuelzão na máquina, passei o dia fotografando boiadas na poeira do campo. No fim do dia, de volta para Andrequicé, avistei a figura do homem, lá me esperando, calmo e quieto, no aguardo de seu retrato: era isso que ele queria ter. </span><br />
<span style="color: #073763;">Acontece que de manhã, quando me viu pela primeira vez, ficou com medo. Por ser cigano achou que eu era da polícia e estava lá para prendê-lo. Era isso, então. Como os romas da França de Sarkozy, os ciganos dos gerais também são malvistos, estigmatizados como gatunos e ladrões de cavalos, vítimas de velhos preconceitos encravados na contramão da história, levando a guerras e desentendimentos entre nações.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-5663126394280559272018-11-09T12:42:00.003-02:002018-11-09T12:42:43.382-02:00Saudade - Rachel de Queiroz<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763; font-size: x-large;">Saudade </span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Rachel de Queiroz - Revista 'O Cruzeiro' em 04 de julho 1953</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://3.bp.blogspot.com/-3BDU1hvHQzE/W-WcuhWGZvI/AAAAAAAAJ0Q/48b2uKgJyf4D4pxiuq8nn_hS46Ht7LURwCLcBGAs/s1600/janela%2Bda%2Bsaudade.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="410" height="400" src="https://3.bp.blogspot.com/-3BDU1hvHQzE/W-WcuhWGZvI/AAAAAAAAJ0Q/48b2uKgJyf4D4pxiuq8nn_hS46Ht7LURwCLcBGAs/s400/janela%2Bda%2Bsaudade.jpg" width="327" /></a></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<i><b><span style="color: #073763;">Conversávamos sobre saudade. E de repente me apercebi de que não tenho saudade de nada. Isso independente de qualquer recordação de felicidade ou de tristeza, de tempo mais feliz, menos feliz. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Saudades de nada. Nem da infância querida, nem sequer das borboletas azuis, Casimiro. Nem mesmo de quem morreu. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">De quem morreu sinto é a falta, o prejuízo da perda, a ausência. A vontade da presença, mas não no passado, e sim a presença atual. Saudade será isso? Queria tê-los aqui, agora. Voltar atrás? Acho que não, nem com eles. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763;">A vida é uma coisa que tem que passar, uma obrigação de que é preciso dar conta. Uma dívida que se vai pagando todos os meses, todos os dias. Parece loucura lamentar o tempo em que se devia muito mais.</span></b></i><br />
<br />
<i><b><span style="color: #073763;">Queria ter palavras boas, eficientes, para explicar como é isso de não ter saudades; fazer sentir que estou exprimindo um sentimento real, a humilde, a nua verdade. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Você insinua a suspeita de que talvez seja isso uma atitude. Meu Deus, acha- me capaz de atitudes, pensa que eu me rebaixaria a isso? Pois então eu lhe digo que essa capacidade de morrer de saudades, creio que ela só afeta a quem não cresceu direito; feito uma cobra que se sentisse melhor na pele antiga, não se acomodasse nunca à pele nova. Mas nós, como é que vamos ter saudades de um trapo velho que não nos cabe mais? </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Fala que saudade é sensação de perda. Pois é. E eu lhe digo que, pessoalmente, não sinto que perdi nada. Gastei, gastei tempo, emoções, corpo e alma. E gastar não é perder, é usar até consumir. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">E não pense que estou a lhe sugerir tragédias. Tirando a média, não tive quinhão por demais pior que o dos outros. Houve muito pedaço duro, mas a vida é assim mesmo, a uns traz os seus golpes mais cedo e a outros mais tarde; no fim, iguala a todos.</span></b></i><br />
<br />
<i><b><span style="color: #073763;">Infância sem lágrimas, amada, protegida. Mocidade, mas a mocidade já é de si uma etapa infeliz. Coração inquieto que não sabe o que quer, ou quer demais. Qual será, nesta vida, o jovem satisfeito? </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Um jovem pode nos fazer confidências de exaltação, de embriaguez; de felicidade, nunca. Mocidade é a quadra dramática por excelência, o período dos conflitos, dos ajustamentos penosos, dos desajustamentos trágicos. A idade dos suicídios, dos desenganos e por isso mesmo dos grandes heroísmos. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">É o tempo em que a gente quer ser dono do mundo, e ao mesmo tempo sente que sobra nesse mesmo mundo. A idade em que se descobre a solidão irremediável de todos os viventes. Em que se pesam os valores do mundo por uma balança emocional, com medidas baralhadas; um quilo às vezes vale menos do que uma grama; e por essas medidas pode-se descobrir a diferença metafísica que há entre uma arroba de chumbo e uma arroba de plumas. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Nem sei mesmo como, entre as inúmeras mentiras do mundo, se consegue manter essa mentira maior de todas: a suposta felicidade dos moços. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Por mim, sempre tive pena deles, da sua angústia e do seu desamparo. Enquanto esta idade madura a que chegamos você e eu, é o tempo da estabilidade e das batalhas ganhas. Já pouco se exige, já pouco se espera. E mesmo quando se exige muito, só se espera o possível. Se as surpresas são poucas, poucos também os desenganos. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">A gente vai se aferrando a hábitos, a pessoas e objetos. Aí, um dos piores tormentos dos jovens é justamente o desapego das coisas, essa instabilidade do querer, a sede do que é novo, o tédio do possuído. E depois há o capítulo da morte, sempre presente em todas as idades. Com a diferença de que a morte é a amante dos moços e a companheira dos velhos. Para os jovens ela é abismo e paixão. Para nós, foi se tornando pouco a pouco uma velha amiga, a se anunciar devagarinho: o cabelo branco, a preguiça, a ruga no rosto, a vista fraca, os achaques. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Velha amiga que vem de viagem e de cada porto nos manda um postal, para indicar que já embarcou. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763;"> Não, meu bem, não tenho saudades. Nem sequer do primeiro dia em que nos vimos, daqueles primeiros e atormentados dias de insegurança e deslumbramento. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Considero uma benção e um privilégio esse passado que ficou para atrás de nós, vencido. Afinal, já andamos bastante caminho, temos direito ao sossego, a esta desambição, esta paz. Vivemos, não foi? Fizemos muito. E nem por isso deixamos de ainda ter muito o que fazer. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">A velhice que vai chegar com as suas doenças e trabalhos. E ainda virá a grande crise da morte em que um de nós, necessariamente, terá que ajudar o outro. Espero que aquele que ficar só, embora triste, se sinta tranquilo, na segurança de que a sua vez não tarda. Que aí, só lhe resta a pagar a última prestação.</span></b></i><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>* * </b></i> *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-83249554100275086772018-09-08T08:24:00.004-03:002018-09-08T08:24:46.537-03:00'DIES IRAE' - Clarice Lispector<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://4.bp.blogspot.com/-1_JzLsJU0yw/W5OuOfDatiI/AAAAAAAAJz0/C3SlWJ8gfy4jzQTzl8o5p8iiaAJkfIRDQCLcBGAs/s1600/perfil%2B16.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="296" data-original-width="197" height="400" src="https://4.bp.blogspot.com/-1_JzLsJU0yw/W5OuOfDatiI/AAAAAAAAJz0/C3SlWJ8gfy4jzQTzl8o5p8iiaAJkfIRDQCLcBGAs/s400/perfil%2B16.jpg" width="265" /></a></div>
<b><br /></b>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;"><i>'DIES IRAE'</i></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><b>Clarice Lispector - </b>no livro "A Descoberta do Mundo'</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;"><i><b>"</b></i><b><i>Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece. </i></b></span><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E nem ao menos posso fazer o que uma menina semiparalítica fez em vingança: quebrar um jarro. Não sou semiparalítica. Embora alguma coisa em mim diga que somos semiparalíticos. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E morre-se, sem ao menos uma explicação. E o pior – vive-se, sem ao menos uma explicação. E ter empregadas, chamemo-las de uma vez de criadas, é uma ofensa à humanidade. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E ter a obrigação de ser o que se chama de apresentável me irrita. Por que não posso andar em trapos, como homens que às vezes vejo na rua com barba até o peito e uma bíblia na mão, esses deuses que fizeram da loucura um meio de entender? </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E por que, só porque eu escrevi, pensam que tenho que continuar a escrever? </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">Avisei a meus filhos que amanheci em cólera, e que eles não ligassem. Mas eu quero ligar. Quereria fazer alguma coisa definitiva que rebentasse com o tendão tenso que sustenta meu coração.</span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b>
<b><i><span style="color: #073763;">E os que desistem? Conheço uma mulher que desistiu. E vive razoavelmente bem: o sistema que arranjou para viver é ocupar-se. Nenhuma ocupação lhe agrada. Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E criaram o Dia dos Analfabetos. Só li a manchete, recusei-me a ler o texto. Recuso-me a ler o texto do mundo, as manchetes já me deixam em cólera. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E comemora-se muito. E guerreia-se o tempo todo. Todo um mundo de semiparalíticos. E espera-se inutilmente o milagre. E quem não espera o milagre está ainda pior, ainda mais jarros precisaria quebrar. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E as igrejas estão cheias dos que temem a cólera de Deus. E dos que pedem a graça, que seria o contrário da cólera.</span></i></b><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<b><i><span style="color: #073763;">Não, não tenho pena dos que morrem de fome. A ira é o que me toma. E acho certo roubar para comer. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">– Acabo de ser interrompida pelo telefonema de uma moça chamada Teresa que ficou muito contente de eu me lembrar dela. Lembro-me: era uma desconhecida, que um dia apareceu no hospital, durante os quase três meses onde passei para me salvar do incêndio. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">Ela se sentara, ficara um pouco calada, falara um pouco. Depois fora embora. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E agora me telefonou para ser franca: que eu não escreva no jornal nada de crônicas ou coisa parecida. Que ela e muitos querem que eu seja eu própria, mesmo que remunerada para isso. Que muitos têm acesso a meus livros e que me querem como sou no jornal mesmo. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">Eu disse que sim, em parte porque também gostaria que fosse sim, em parte para mostrar a Teresa, que não me parece semiparalítica, que ainda se pode dizer sim.</span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b>
<b><i><span style="color: #073763;">Sim, meu Deus. Que se possa dizer sim. No entanto neste mesmo momento alguma coisa estranha aconteceu. Estou escrevendo de manhã e o tempo de repente escureceu de tal forma que foi preciso acender as luzes. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E outro telefonema veio: de uma amiga perguntando-me espantada se aqui também tinha escurecido. Sim, aqui é noite escura às dez horas da manhã. É a ira de Deus. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">E se essa escuridão se transformar em chuva, que volte o dilúvio, mas sem a arca, nós que não soubemos fazer um mundo onde viver e não sabemos na nossa paralisia como viver. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">Porque se não voltar o dilúvio, voltarão Sodoma e Gomorra, que era a solução. </span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;">Por que deixar entrar na arca um par de cada espécie? Pelo menos o par humano não tem dado senão filhos, mas não a outra vida, aquela que, não existindo, me fez amanhecer em cólera.</span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b>
<b><i><span style="color: #073763;">Teresa, quando você me visitou no hospital, viu-me toda enfaixada e imobilizada. Hoje você me veria mais imobilizada ainda. Hoje sou a paralítica e a muda. E se tento falar, sai um rugido de tristeza. Então não é cólera apenas? Não, é tristeza também.</span></i></b><br />
<b><i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></b>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">* * * </span></i></b></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-48350863159254308072018-08-08T20:58:00.001-03:002018-08-08T20:58:28.974-03:00"“Ora (direis) ouvir estrelas!” <br />
<i><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px;">"E eu vos direi: “Amai para entendê-las!</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px;" /><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px;">Pois só quem ama pode ter ouvido</span><br style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px;" /><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px;">Capaz de ouvir e de entender estrelas”.</span></i><br />
<span style="color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif;"><span style="font-size: 15px;">(Olavo Bilac)</span></span><br />
<span style="color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif;"><span style="font-size: 15px;"><br /></span></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://1.bp.blogspot.com/-SvzeB32qLnY/W2uAvdNZiOI/AAAAAAAAJzc/8nfAvzGBlGgclEByCfXdemuHkXP2DLamwCLcBGAs/s1600/Starry%2BNight.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="537" data-original-width="696" height="307" src="https://1.bp.blogspot.com/-SvzeB32qLnY/W2uAvdNZiOI/AAAAAAAAJzc/8nfAvzGBlGgclEByCfXdemuHkXP2DLamwCLcBGAs/s400/Starry%2BNight.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: blue; font-size: x-small;">"Starry, starry night"</span></b></div>
<br />
<span style="color: #073763;"><span style="font-family: Verdana, Geneva, sans-serif;"><span style="font-size: 15px;">*</span></span>
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px;">Postagem no facebook: </span></span><br />
<b><span style="color: #073763; font-size: large;">Cañadas Fernando</span></b><br />
<b><span style="color: #073763;">2 h · </span></b><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Há mais ou menos uma semana, fui fazer Helena dormir e ela, com os olhos quase fechados, me disse assim, com a voz já lenta pelo sono:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">- Papai, você me acorda no meio da noite e me mostra as estrelas? É que eu nunca vi as estrelas...</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">O pedido foi tão surpreendente e ao mesmo tempo tão simples e direto, que fiquei sem reação. Na hora eu disse sim, claro que acordaria, mas caí no sono e desde então estou devendo as estrelas a ela.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">De lá para cá fiquei pensando no melhor local e forma de fazer isso.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">E só consegui pensar em dificuldades.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">São Paulo no inverno é um péssimo local para se ver estrelas. Além da poluição, o céu está sempre coberto por nuvens e muito dificilmente se vê algo.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">O horário também é complicado. Helena dorme cedo, antes das nove horas. Chega da escola depois das seis. Aí vem o banho, o jantar e tal. Teria que dar certo de termos um céu minimamente limpo pouco antes das nove.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Mas também está um frio pesado e teria que agasalhá-la muito bem só para sair até a porta e voltar.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Além disso, acordá-la no meio da madrugada não é uma opção, pois ela demoraria para despertar e mais ainda para voltar a dormir.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">E assim passei os dias, criando justificativas bestas para minha desídia e meu verdadeiro boicote às estrelas de Helena, e não tocamos mais no assunto. Achei até que ela nem se lembrasse mais do pedido.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Que nada. Hoje cedo, antes de sair de casa, ela me deu um beijo e falou assim, naturalmente:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">- Papai, você até hoje ainda não me mostrou as estrelas, hein? Hoje à noite você tem que me mostrar.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Na hora me bateu uma sensação estranha. Pensei comigo, eu não sou essa porcaria de pai incapaz de atender a um pedido tão essencial desse vindo da minha filha.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Vejam, eu poderia ter negado a ela um presente qualquer, um brigadeiro antes do almoço ou uma terceira bisnaguinha antes de dormir. Mas caramba, não poderia ter-lhe negado as estrelas.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Essa culpa me consumiu o dia todo e agora eu não quero nem saber.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Faça o frio que fizer, faça ou não chuva, seja o horário que for.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">É hoje à noite que pela primeira vez mostrarei as estrelas à Helena.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-70910812564722980352018-07-23T07:59:00.004-03:002018-07-23T07:59:45.096-03:00O Ato Gratuito - Clarice Lispector<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;">O Ato Gratuito</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Clarice Lispector</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para Jardim Botânico, Rio Hoje" height="239" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ3HL241Vjd-xLQV_xQSiFbP-wz0IBVd5QbuB4cpSwco5L5fXWn" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<span style="color: #073763;">Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina – quando alguma coisa em mim aconteceu. Era o profundo cansaço da luta.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordara. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar ideias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava – precisava com urgência – de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Então minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi meu trabalho, mudei rapidamente de roupa, desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. “Que rua?”, perguntou ele. “O senhor não está entendendo”, expliquei-lhe, “não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro.” Não sei por que olhou-me um instante com atenção.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só para olhar. Só para ver. Só para sentir. Só para viver. Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.</span><br />
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para Jardim Botânico, Rio Hoje" height="239" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTtvZ6sS6n-RKYkzEDojzt6VexbD9nYVEi-AOXrlboPXPOfnFgmiA" width="320" /></div>
<span style="color: #073763;">O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvores de tronco nodoso e escuro, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras – como é que corria a seiva, essa coisa quase intangível que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombras oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pássaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom – como um estremecimento apenas perceptível de alma – um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">O chão estava às vezes coberto de bolinhas de aroeira, daquelas que caem em abundância nas calçadas da nossa infância e que pisamos, não sei por que, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom. Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Voltarei num dia de chuva – só para ver o gotejante jardim submerso.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><b>Nota da autora:</b> <i>peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este. Não quero ferir os olhos que não vêem.</i></span><br />
<span style="color: #073763;"><i><br /></i></span>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para Jardim Botânico, Rio Hoje" height="168" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTNGQSdialJ6uXDkHSldGcxKF_TV5Yb-QX_-C7-ybaZBQfFeZH2WA" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">* * *</span></i></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-9593707268030527472018-07-15T16:47:00.000-03:002018-07-15T16:52:15.495-03:00Cinema - INGMAR BERGMAN<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;">Ingmar Bergman e um mergulho </span></b><br />
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;">no rio escuro do cinema </span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Juliano Mignacca</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;"><br /></span></b>
<span style="color: #073763;"><img height="238" src="https://3.bp.blogspot.com/-tEohVu6Hu6g/V8tptxU4XjI/AAAAAAAAF3A/K6JbzLh2zM4lPLC_azRkVnLeoywQyWybACEw/s320/ingmar-bergman.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">"O filme é um sonho, como a música. </span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Nenhuma arte passa à nossa consciência da maneira que o filme faz. </span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Ele vai diretamente aos nossos sentimentos e toca o fundo de nossas almas."</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><b>Ingmar Bergman, 14 de julho 1918 - 30 de julho 2007 </b></span><br />
<span style="color: #073763;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="240" src="https://2.bp.blogspot.com/-cEyu7G75vHE/V8tqo7Ps5zI/AAAAAAAAF20/4R0aQIz4j9s2RwIubngnIgA6FuNPLyMqACLcB/s320/Bergman_setimo%2Bselo%2Bxadrez.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: x-small;"><b>O Sétimo Selo, 1956</b></span><br />
<span style="color: #073763; font-size: x-small;"><b><br /></b></span>
<span style="color: #073763; font-size: x-small;"><b><br /></b></span></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Na cena final do filme <i>Luz de Inverno</i>, de Ingmar Bergman, há um diálogo entre o pastor e o ajudante da igreja no qual este especula que a dor física de Cristo teria sido insignificante se comparada à dor de quando ele gritou: “<i>Deus, meu Deus! Porque me abandonastes</i>?” </span><br />
<span style="color: #073763;">Prossegue a personagem de Allan Edwall: <i>“Jesus acreditou que tudo aquilo que ele havia pregado fora em vão. No momento antes de morrer, Cristo foi tomado pela dúvida. Certamente este deve ter sido seu maior sofrimento. O silêncio de Deus”. </i></span><br />
<span style="color: #073763;">O trecho desse magnífico filme de 1962 ilustra um dos temas mais recorrentes na obra do sueco Ingmar Bergman : o silêncio, a afasia de Deus.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="210" src="https://3.bp.blogspot.com/-VinGQUbWfe8/V8tp3uTIX1I/AAAAAAAAF2s/FWIlcNL8h3I7MROXmYwD1NmOktCKvy_KACLcB/s320/Bergman_luz%2Bde%2Binverno%2Bcristo.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: x-small;"><b>Luz de Inverno, 1962</b></span></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">As personagens são impotentes para resolver suas angústias. As convicções religiosas podem amenizá-las. Mas, se a fé é invenção do homem, como dizer que Deus também não é? Se ele existe, por que não se manifesta? Dúvidas. </span><br />
<span style="color: #073763;">Qual certeza se tem do que vem após a morte? Como todo mundo, Bergman não pode responder a essas perguntas. Ainda assim, é interessante como seus filmes lidam de forma direta sobre essas questões. Sem metáforas. Não há rodeios. </span><br />
<span style="color: #073763;">Da mesma maneira aborda outras tantas inquietações do homem. As existenciais em <i>Morangos Silvestres</i> (1957). A sensualidade, o desejo como motor da vida em <i>Monika e o Desejo</i> (1952). </span><br />
<span style="color: #073763;">O filme <i>Persona </i>(1966), uma obra-prima, cuja densidade psicanalítica se soma a uma experimentação estética de grande refinamento. </span><br />
<span style="color: #073763;">A busca pela identidade espiritual em <i>Sétimo Selo </i>(1956). </span><br />
<span style="color: #073763;"><i>Cenas de um Casamento</i> (1973), produzido para a TV sueca, que retrata como a idealização da felicidade a dois pode ser repentinamente arruinada. É como um soco no estômago a frieza e a agressividade dos diálogos no processo de separação do casal. </span><br />
<span style="color: #073763;">Sua obra é aberta às investigações da vida. Por isso tem ressonância em qualquer lugar e qualquer período. É atemporal. </span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="230" src="https://1.bp.blogspot.com/-jqd1w0XHbk8/V8trYchFrVI/AAAAAAAAF28/0aJKAJukm8Uo_T9_cgN8-tVIA9zPx3VbQCLcB/s320/Bergman_Persona_liv%2BUllmman.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: x-small;"><b>Persona, 1966</b></span></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">É improvável refletir sobre Bergman algo que ainda não tenha sido dito pela crítica ou observado pelos amantes da sétima arte. Há milhares de textos sobre o autor e sua obra. Até mesmo porque são mais de 50 filmes numa carreira de 60 anos. </span><br />
<span style="color: #073763;">Por incrível que pareça, teve uma vida profissional ainda mais fecunda com o teatro. Produziu três vezes mais para essa outra arte. Foi um artista completo. Diretor e roteirista, tinha enorme capacidade de extrair atuações impressionantes de seus atores. Trabalhava quase sempre com os mesmos, todos excepcionais, diga-se de passagem.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Descobriu mulheres lindas para papéis marcantes. Como não se apaixonar por elas? Ele próprio não pôde escapar. </span><br />
<span style="color: #073763;">Relacionou-se com a belíssima Bibi Andersson e com Liv Ullman, com quem fez 10 filmes e uma filha. Uma das atrizes mais emblemáticas da historia do cinema. </span><br />
<span style="color: #073763;">Conquistou também a estonteante Harriet Andersson, que trabalhava como ascensorista quando a conheceu. Para que ela atuasse, realizou <i>Monika e o Desejo</i>. O filme causou enorme escândalo em festivais de cinema, sobretudo na América do Sul, primeiro lugar do mundo onde seus filmes teriam ganhado reconhecimento, antes mesmo que na Suécia.</span><br />
<span style="color: #073763;">Dirigiu a espetacular Ingrid Thulin e Kari Sylwan, que trabalhou em <i>Gritos e Sussurros</i> e <i>Face a Face</i>. </span><br />
<span style="color: #073763;">Todas elas alternando entre papéis frágeis e densos. Ora protagonistas, ora como coadjuvantes. </span><br />
<span style="color: #073763;">E como não mencionar os atores, cujas atuações certamente permanecem latentes na memória dos cinéfilos. Erland Josephson, Gunnar Björnstrand, Max Von Sydow…</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="255" src="https://3.bp.blogspot.com/-ErI9pEMH54U/V8tsv25XWXI/AAAAAAAAF3I/lV0axH8Ti9sefeBzWdHfkrZpCyvlu2-lQCLcB/s320/harriet-andersson-monika-e-o-desejo.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-small;">Harriet Andersson, <i>Monika e o Desejo</i>, 1952</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="234" src="https://4.bp.blogspot.com/-03IA1FZ3laE/V8tuwz6iUOI/AAAAAAAAF3Q/YnK2Dusgq009FsQ-zKDwCXnTrzBsGhmpQCLcB/s320/Ingrid%2BThulin_bergman_hora%2Bdo%2Blobo.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-small;">Ingrid Thulin e Max Von Sydow, <i>A Hora do Lobo</i>, 1968</span></b></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="167" src="https://4.bp.blogspot.com/-0Qw9f8dWOoQ/V8tygt4sAQI/AAAAAAAAF3c/jqgsOqIGVwkZW2lQ8BtwbvJG1s7XSazRwCLcB/s320/Gritos%2Be%2Bsussurros_bergman.jpg" width="320" /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-small;">Liv Ullman e Kari Sylwan, <i>Gritos e Sussurros</i>, 1972</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Em julho o cineasta completou aniversário de vida e morte. </span><br />
<span style="color: #073763;">Será sempre oportuno reverenciá-lo. Afinal, é um dos maiores artistas da história do cinema. </span><br />
<span style="color: #073763;">Penetrar na obra de Bergman é como um mergulho num rio à noite, na escuridão das incertezas. A diferença é que no rio, quando necessário, é possível emergir em busca de luz e segurança. Com o cinema de Bergman, dificilmente se sairá ileso.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
<br />
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-3296129772090896742018-07-12T08:37:00.000-03:002018-07-12T08:38:43.205-03:00CARPE DIEM - Antônio Cícero<div style="text-align: center;">
<div style="text-align: left;">
<span style="color: blue; font-size: large;"><b>Da página Revista PROSA VERSO & ARTE</b></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: blue; font-size: large;"><b><br /></b></span></div>
<span style="color: #073763; font-size: x-large;"><b>“Carpe diem”</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">– por Antônio Cícero (*)</span></b><br />
<b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<img height="254" src="https://www.revistaprosaversoearte.com/content/uploads/2018/06/Virgil-Horace-and-Varius-in-Mecenes-home.-Painting-by-Charles-Francois-Jalabert-1819-696x554.jpg" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<span style="color: #073763;">Um dos poemas mais famosos do poeta romano Horácio é a ode 1.11. Nela, dirigindo-se a uma personagem feminina, Leucônoe, o poeta lhe diz que não procure adivinhar o futuro:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Não interrogues, não é lícito saber a mim ou a ti</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>que fim os deuses darão, Leucônoe. Nem tentes</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>os cálculos babilônicos. Antes aceitar o que for,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>quer muitos invernos nos conceda Júpiter, quer este último</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>apenas, que ora despedaça o mar Tirreno contra as pedras</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>vulcânicas. Sábia, decanta os vinhos, e para um breve espaço de tempo</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>poda a esperança longa. Enquanto conversamos terá fugido despeitada</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>a hora: colhe o dia, minimamente crédula no porvir.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;">[Tu ne quaesieris, scire nefas, quem mihi, quem tibi</span><br />
<span style="color: #073763;">finem di dederint, Leuconoe, nec Babylonios</span><br />
<span style="color: #073763;">temptaris numeros. ut melius, quidquid erit, pati.</span><br />
<span style="color: #073763;">seu pluris hiemes seu tribuit Iuppiter ultimam,</span><br />
<span style="color: #073763;">quae nunc oppositis debilitat pumicibus mare</span><br />
<span style="color: #073763;">Tyrrhenum: sapias, vina liques, et spatio brevi</span><br />
<span style="color: #073763;">spem longam reseces. dum loquimur, fugerit invida</span><br />
<span style="color: #073763;">aetas: carpe diem quam minimum credula postero.]</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">A frase “carpe diem” tornou-se um aforismo epicurista e um tema poético a que inúmeros poetas recorrem.</span><br />
<span style="color: #073763;">No Brasil, por exemplo, <b>Gregório de Matos</b>, imitando um famoso poema de Góngora, diz, em soneto dedicado a uma “<i>discreta e formosíssima Maria</i>“:</span><br />
<span style="color: #073763;"><b><br /></b></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Discreta e formosíssima Maria,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Enquanto estamos vendo a qualquer hora</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Em tuas faces a rosada Aurora,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Em teus olhos e boca o Sol, e o Dia:</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Enquanto com gentil descortesia</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>O ar, que fresco Adônis te namora,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Te espalha a rica trança voadora,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Quando vem passear-te pela fria:</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Goza, goza da flor da mocidade,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Que o tempo trata a toda ligeireza</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>E imprime em toda flor sua pisada.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Ó não aguardes que a madura idade</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Te converta essa flor, essa beleza,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.</b></span></i></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">O soneto mencionado de Góngora, uma obra-prima, é o seguinte:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Mientras por competir con tu cabello,</span><br />
<span style="color: #073763;">oro bruñido al sol relumbra en vano;</span><br />
<span style="color: #073763;">mientras con menosprecio en medio el llano</span><br />
<span style="color: #073763;">mira tu blanca frente el lilio bello;</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">mientras a cada labio, por cogello,</span><br />
<span style="color: #073763;">siguen más ojos que al clavel temprano;</span><br />
<span style="color: #073763;">y mientras triunfa con desdén lozano</span><br />
<span style="color: #073763;">del luciente cristal tu gentil cuello;</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">goza cuello, cabello, labio y frente,</span><br />
<span style="color: #073763;">antes que lo que fue en tu edad dorada</span><br />
<span style="color: #073763;">oro, lilio, clavel, cristal luciente,</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">no sólo en plata o viola troncada</span><br />
<span style="color: #073763;">se vuelva, mas tú y ello juntamente</span><br />
<span style="color: #073763;">en tierra, en humo, en polvo, en sombra, en nada.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">O poeta <b>Mário Faustino</b> escreveu o seguinte belíssimo soneto chamado <b>“<i>Carpe Diem</i>“</b>:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Que faço deste dia, que me adora? </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Pegá-lo pela cauda, antes da hora </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Vermelha de furtar-se ao meu festim? </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Ou colocá-lo em música, em palavra, </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Ou gravá-lo na pedra, que o sol lavra? </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Força é guardá-lo em mim, que um dia assim </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Tremenda noite deixa se ela ao leito </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Da noite precedente o leva, feito </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Escravo dessa fêmea a quem fugira </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Por mim, por minha voz e minha lira.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>(Mas já de sombras vejo que se cobre </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Tão surdo ao sonho de ficar — tão nobre. </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Já nele a luz da lua — a morte — mora, </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>De traição foi feito: vai-se embora.)</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;">Mas Horácio, em outra ode igualmente famosa, a 3.30, afirma que suas <b>Odes</b> sobreviverão às milenàrias pirâmides:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Erigi um monumento mais duradouro que o bronze, </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>mais alto do que a régia construção das pirâmides </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>que nem a voraz chuva, nem o impetuoso Áquilo </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>nem a inumerável série dos anos,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>nem a fuga do tempo poderão destruir.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Nem tudo de mim morrerá, de mim grande parte </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>escapará a Libitina: jovem para sempre crescerei </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>no louvor dos vindouros, enquanto o pontífice</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>com a tácita virgem subir ao Capitólio.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Dir-se-á de mim, onde o violento Áufido brama,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>onde Dauno pobre em água sobre rústicos povos reinou, </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>que de origem humilde me tornei poderoso,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>o primeiro a trazer o canto eólio aos metros itálicos. </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Assume o orgulho que o mérito conquistou</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>e benévola cinge meus cabelos,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Melpómene, com o délfico louro.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;">[Exegi monumentum aere perennius</span><br />
<span style="color: #073763;">regalique situ pyramidum altius,</span><br />
<span style="color: #073763;">quod non imber edax, non aquilo impotens</span><br />
<span style="color: #073763;">possit diruere aut innumerabilis</span><br />
<span style="color: #073763;">annorum series et fuga temporum.</span><br />
<span style="color: #073763;">non omnis moriar multaque pars mei</span><br />
<span style="color: #073763;">vitabit Libitinam: usque ego postera</span><br />
<span style="color: #073763;">crescam laude recens, dum Capitolium</span><br />
<span style="color: #073763;">scandet cum tacita virgine pontifex:</span><br />
<span style="color: #073763;">dicar, qua violens obstrepit Aufidus</span><br />
<span style="color: #073763;">et qua pauper aquae Daunus agrestium</span><br />
<span style="color: #073763;">regnavit populorum, ex humili potens</span><br />
<span style="color: #073763;">princeps Aeolium carmen ad Italos</span><br />
<span style="color: #073763;">deduxisse modos. sume superbiam</span><br />
<span style="color: #073763;">quaesitam meritis et mihi Delphica</span><br />
<span style="color: #073763;">lauro cinge volens, Melpomene, comam.]</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">A própria admiração que a ode continua a suscitar, parecendo confirmar o vaticínio de Horácio, aumenta essa admiração.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Ou seja, enquanto na ode 1.11 o poeta recomenda ignorar o futuro, na ode 3.30 ele exalta o futuro dos seus poemas.</span><br />
<span style="color: #073763;">Que haja uma contradição aqui não é nenhum problema. Diferentemente dos textos teóricos, os poéticos podem contradizer-se, ainda que sejam do mesmo autor, sem que, com isso, sofram o menor arranhão.</span><br />
<span style="color: #073763;">Se ambos forem bons, então, ao ler o primeiro, concordamos inteiramente com ele; ao ler o segundo, é com este que concordamos inteiramente, sem deixar de continuar a concordar com o primeiro. Ambos podem ser profundamente verdadeiros ou reveladores.</span><br />
<span style="color: #073763;">Um poema é capaz de contradizer a si próprio e ser uma obra-prima: ele pode até ter que se contradizer, como o “Odeio e Amo” (“Odi et amo”), de Catulo, para vir a ser uma obra-prima.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">De todo modo, o poeta <b>Haroldo de Campos</b> escreveu um magnífico poema, intitulado <b>“<i>Horácio Contra Horácio</i>”</b>, que diz:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>ergui mais do que o bronze ou que a pirâmide </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>ao tempo resistente um monumento</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>mas gloria-se em vão quem sobre o tempo </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>elusivo pensou cantar vitória:</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>não só a estátua de metal corrói-se</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>também a letra os versos a memória</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>— quem nunca soube os cantos dos hititas </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>ou dos etruscos devassou o arcano?</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>o tempo não se move ou se comove</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>ao sabor dos humanos vanilóquios —</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>rosas e vinho — vamos! — celebremos </b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>o instante a ruína a desmemória</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<span style="color: #073763;">Não só, portanto, aos poetas é lícito contradizerem-se uns aos outros ou a si próprios, tanto em diferentes poemas quanto no mesmo poema, como tais contradições podem constituir o motivo de um poema.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Observo, porém, que a ode 1.11 pode também ser lida de modo que não necessariamente contradiga a ode 3.30.</span><br />
<span style="color: #073763;">Digamos que a concepção de poesia subjacente à ode 3.30 seja que, dado que o grande poema vale por si, ele é, em princípio, indiferente às contingências do tempo. Sendo assim, não se concebe um tempo em que tal poema venha a caducar.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Logo, mesmo reconhecendo a possibilidade de que os textos se percam, talvez a verdadeira razão do orgulho de Horácio seja o fato de que suas odes intrinsecamente merecem existir. Isso quer dizer que elas merecem existir AGORA.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">E merecem existir agora, seja quando for agora: seja quando for que alguém diga ou pense: “agora”. É desse modo que, precisamente ao celebrar “<i>o instante a ruína a desmemória</i>”, o poema se faz eterno agora. Nesse sentido, apreciá-lo é colher o dia: “carpere diem”.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
(*)Artigo do poeta Antônio Cicero foi originalmente publicado 6 de fevereiro de 2010, na coluna do autor na “Ilustrada”, da Folha de São Paulo.<br />
<br />
Poeta romano Horácio<br />
Quinto Horácio Flaco (latim: Quintus Horatius Flaccus – 65 a.C.-8 a.C.). Poeta lírico, satírico e filósofo latino. Horácio nasceu em Venúsia, Itália, no ano 65 a. C. Filho de um escravo liberto que exercia a função de cobrador de impostos, fez seus estudos em Roma onde foi aluno de Lucio Orbílio Pupilo. Aperfeiçoou seus estudos literários em Atenas.<br />
<br />
Estabeleceu-se em Roma como escriba de questores. Foi amigo do poeta Virgílio, que o apresentou a Caio Mecenas que o levou para integrar os círculos literários, tornando-se o primeiro literato profissional romano. Cultivou diversos gêneros literários principalmente a ode, em que utilizou os moldes gregos. Procurou sempre imprimir um cunho nacional às suas produções.<br />
<br />
Seu primeiro livro conhecido foi “Sátiras” (35 a.C.). Sua obra prima, são os três livros de poemas líricos, “Odes” (23 a.C.), complementados por um quarto volume escrito em 13 a.C. Gozou de grande prestígio junto ao imperador Augusto e para ele compôs “Carmem Saeculare” (20 a.C.), um hino epistolar de caráter litúrgico dedicado a Apolo e Diana. Sua poesia escrita em forma de sentença teve muitas delas transformadas em provérbios. Faleceu em Roma, Itália, no ano 8 a.C.<br />
<div style="text-align: center;">
***</div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-2051595545518913262018-06-30T12:10:00.003-03:002018-07-12T08:51:04.870-03:00Zélia Duncan - Todos os verbos<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="344" src="https://www.youtube.com/embed/_AENFNPirDc" width="459"></iframe><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: large;"><i>Todos os verbos</i></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><i><span style="color: #073763;">Zélia Duncan </span></i></b></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Errar é útil</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Sofrer é chato</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Chorar é triste</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Sorrir é rápido</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Não ver é fácil</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Trair é tátil</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Olhar é móvel</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Falar é mágico</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Calar é tático</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Desfazer é árduo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Esperar é sábio</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Refazer é ótimo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Amar é profundo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">E nele sempre cabem de vez</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Todos os verbos do mundo .(bis)</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Abraçar é quente</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Beijar é chama</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Pensar é ser humano</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Fantasiar também</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Nascer é dar partida</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Viver é ser alguém</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Saudade é despedida</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Morrer um dia vem</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Mas amar é profundo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">E nele sempre cabem de vez</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">Todos os verbos do mundo</span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;">* * *</span></i></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-61798765637615936372018-06-28T20:27:00.005-03:002018-06-28T20:27:54.900-03:00<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: blue;">Da página 'Obvious'</span></b></div>
<div style="text-align: left;">
<b><span style="color: blue;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #38761d; font-size: large;">MONTAIGNE E O TEMPO DESPERDIÇADO</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #38761d;">Fellipe Torres</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;"><br /></span></div>
<i><span style="color: #38761d;">Escritor e filósofo do século 16 foi um mestre dos assuntos realmente pequenos (e, por isso mesmo, muito grandes). Analisou a ociosidade, as cócegas, a bebedeira, o sono, o sexo, a flatulência.</span></i><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;"><img alt="Resultado de imagem para porque era ele porque era eu" height="183" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSw6XqpUfADX_IgB7RKfcMBepNmlMJAitHPj8z5StjJ2wyaiQR0" width="320" /></span></div>
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Há quem considere perda de tempo acompanhar os comezinhos alheios nas redes sociais. Estão certos. Mas tempo foi feito para se perder, mesmo, oh gente! </span><br />
<span style="color: #38761d;">Com moderação, até bula de remédio vale a pena ser lida (há reações adversas para quase tudo na vida). </span><br />
<span style="color: #38761d;">Bem antes da internet, lembrem-se, já éramos seres sociais, comentaristas do cotidiano, prosadores. Já “curtíamos" e “compartilhávamos" belos pratos de comida, nascimento de filho, papo com taxista, coração partido, tombo na calçada, missa de sétimo dia, o ponto de vista e a experiência de vida alheia.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Um mestre dos assuntos realmente pequenos (e, por isso mesmo, muito grandes) foi Michel de Montaigne, escritor e filósofo do século 16, considerado o inventor do gênero ensaio. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Nada era desimportante para a pena do francês. A sua vasta obra analisou a ociosidade, as cócegas, a bebedeira, o sono, o sexo, a flatulência. A beleza das prostitutas de Florença. O cheiro do gibão, a coceira na orelha, o gosto do vinho. Tudo era digno de investigação. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Assuntos tratados com tanta seriedade quanto a guerra, a tristeza, a morte. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Fez perguntas como: será que os elefantes têm religião?</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O mais famoso de seus ensaios trata do forte laço de amizade com Etienne de La Boétie, relacionamento que durou apenas cinco anos, antes de ser interrompido pela morte do colega conselheiro, autor de um tratado contra a tirania. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Montaigne escreveu pela primeira vez sobre o amigo na mesma época em que começou a produzir seus ensaios, em 1572. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Como possuía o hábito de revisar e alterar seus escritos, acrescentou novas ideias ao texto pelos próximos 20 anos. Na primeira versão, lia-se: <i>“Se pressionado a dizer por que eu o amava, sinto que isso não pode ser expresso”.</i> Depois, e aos poucos, incluiu a frase: <i>“Exceto dizendo: porque era ele; porque era eu”.</i></span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Fantástica introdução aos ensaios e à biografia de Montaigne é a obra <i>Quando brinco com minha gata, como sei que ela não está brincando comigo? </i>(Difel, 2013), de Saul Frampton. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Por meio dela, acompanhamos o pensador em sua investigação sobre a experiência de si próprio. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O trabalho de valorização do comum e ordinário, a importância do aqui e agora. </span><br />
<span style="color: #38761d;">No livro, Frampton classifica os escritos de Montaigne como a "primeira representação sustentada da consciência humana na literatura ocidental”. Ou seja, ele foi pioneiro em dar atenção à experiência real de viver. Buscar lições morais nas pequenas coisas.</span><br />
<span style="color: #38761d;">O questionamento que dá nome à publicação de fato foi considerado por Michel de Montaigne. </span><br />
<span style="color: #38761d;">A frase sobre brincar com a gata ficou famosa como uma expressão do ceticismo do autor (será que ela é mesmo o animal de estimação dele, ou seria o contrário?). </span><br />
<span style="color: #38761d;">A escrita de Montaigne, aliás, é repleta de animais, baseada no extenso conhecimento do escritor sobre pecuária, agricultura e caçadas. Ele pondera sobre o canto dos galos, a imponência dos cavalos, o hábito de “conversarmos” com cachorros, a alimentação das andorinhas, a organização das abelhas e das aranhas, a automedicação das tartarugas e das cegonhas. Nessas observações, misturam-se fatos, histórias absurdas e fábulas.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Entre as características mais importantes dos ensaios de Montaigne, está o fato de serem extremamente humanos, preocupados com o autoconhecimento, com as semelhanças e diferenças entre as pessoas. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Ao lado de 'Dom Quixote' e das peças de Shakespeare, compõem aquela que é considerada uma das mais importantes obras literárias da Renascença. São mais de cem textos, ora específicos, ora genéricos.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Embora alguns sejam datados, outros soam extremamente atuais, e inspiram a sociedade até hoje. </span><br />
<span style="color: #38761d;">É o caso de seus pensamentos sobre educação, em que critica o apego demasiado aos livros e à “decoreba”. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Para o filósofo, esse modelo exige muito tempo e esforço, o que <i>“afastaria os jovens dos assuntos mais urgentes da vida”</i>. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Afinal, a educação deveria formar indivíduos aptos ao julgamento, ao discernimento moral e à vida prática. Essa perspectiva humanista, defensora de uma educação voltada para a ação e para a experiência, é resumida em uma frase: <i>“Entre os estudos, comecemos por aqueles que nos façam livres”.</i></span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">No seu volumoso trabalho, Montaigne desvia de razões definitivas, de questões centrais levantadas pela filosofia moderna (surgida 30 anos depois dele, com Descartes). </span><br />
<span style="color: #38761d;">Está mais interessado no conhecimento empírico, nas pequeníssimas coisas da vida. Fica a meio caminho entre o individualismo e a descoberta do outro. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Não busca verdades indubitáveis, mas se faz perguntas simples e eficazes, como: <i>“Terei desperdiçado o meu tempo?”</i>. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Uma possível resposta está nas primeiras páginas dos Ensaios: <i>“Portanto, leitor; sou eu o próprio assunto do meu livro. Não há razão para você gastar seu tempo livre com um assunto tão frívolo e fútil. Então, adeus. Montaigne, nesse primeiro dia de março de mil quinhentos e oitenta”.</i></span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;">* * *</span></div>
<br />
Publicado originalmente no suplemento literário 'A Palavra', da Academia Pernambucana de Letras.<br />
<br />Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-69079007105726188012018-06-27T18:41:00.000-03:002018-06-27T18:43:58.119-03:00Confidência do Itabirano<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="270" src="https://www.youtube.com/embed/MubgZLVUy0E" width="480"></iframe><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763; font-size: x-large;"><b>Confidência do Itabirano</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><br /></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Alguns anos vivi em Itabira.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Principalmente nasci em Itabira.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Noventa por cento de ferro nas calçadas.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Oitenta por cento de ferro nas almas.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>é doce herança itabirana.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>[esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil;]*</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>este orgulho, esta cabeça baixa…</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Tive ouro, tive gado, tive fazendas.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Hoje sou funcionário público.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Itabira é apenas uma fotografia na parede.</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>Mas como dói!</b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b><br /></b></span></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="color: #073763;"><b>* * *</b></span></i></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-77329184020860700352018-06-11T14:03:00.003-03:002018-06-11T14:06:31.492-03:00Maneira deAmar - Drummond<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763; font-size: x-large;"><i>Maneira de Amar</i></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Carlos Drummond de Andrade</span></b></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
</div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para regando um girassol" height="212" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSS_KsmApsYVLWIMCtmjfDUE4V8cdL0vvdpE-2xJpi-Z7DVYcj1lQ" width="320" /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<i><b><span style="color: #073763;">O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763;">Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763;">O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a carteira de trabalho.</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem. </span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763;">- 'Você o tratava mal, agora está arrependido?'</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763;">- 'Não,' respondeu, 'estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava'. "</span></b></i><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;">* * *</span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></i></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Em ' Contos plausíveis'. Rio de Janeiro: J. Olympio Editora, 1985.</span></b></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-87985881138199171522018-06-08T12:22:00.000-03:002018-06-08T12:22:07.236-03:00Falando em Belchior<span style="color: blue;">Da página 'Pensar Contemporâneo' - </span><span style="background-color: white; color: #222222; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px; text-align: justify;">Via </span><a href="https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ricardoflaitt/293280/As-veias-rompidas-da-vida-e-da-Am%C3%A9rica-de-Belchior.htm" style="background-color: white; box-sizing: border-box; color: #56c9e4; font-family: Verdana, Geneva, sans-serif; font-size: 15px; outline: 0px; text-align: justify;">brasil247</a><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: x-large;"><b>As veias rompidas da vida e da América de Belchior</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;">Ricardo Flaitt</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #073763;"><br /></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><img height="227" src="https://www.pensarcontemporaneo.com/content/uploads/2018/02/34338158056_b56f0b2a9d_o.jpg" width="400" /></span></div>
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Não foi uma veia aberta que decretou a morte de Belchior. Em realidade, foram as veias abertas da América Latina e as veias do nosso povo, que se romperam diante de nossa indiferença com seus grandes artistas. </span><br />
<span style="color: #073763;">Belchior, poeta cearense, muito além da questão do seu auto-exílio, fato é que só o redescobrimos na ausência, quando já não dava mais, quando tudo era uma frase no Facebook ou uma citação no twitter.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Belchior, que transitou do particular ao universal, em suas letras cíclicas, atemporais, porque falam do homem, da vida, do mundo, das coisas e dos seres, sintetizou o nosso passar pela Terra que, exceto os penduricalhos, é sempre sonhar e lutar por um mundo melhor, em busca da realização dos desejos individuais, mas em sintonia fina com uma evolução coletiva, em uma simbiose dialética entre o ser humano e a sociedade em que ele convive.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Sendo a poesia a arte de condensar milhões de sentimentos em poucos versos, em suas letras, Belchior sintetizou os anseios de uma geração, a dos anos 70, que lutava contra a ditadura e empinava o nariz para o alto em busca de oxigênio de liberdade, que tomava porrada, que era torturada, que reagia frente à opressão e à censura.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Vítima da transformação do mundo, à medida que o país foi se democratizando, a partir da década de 80, Belchior, gradativamente foi relegado a uma situação de um produto obsoleto, um artista que todo mundo reconhecia, que todos o colocavam na estante dos maiores, mas que já não encontrava sintonia nas rádios. </span><br />
<span style="color: #073763;">Ele mesmo disse, em “Velha Roupa Colorida”: <i>“O que algum tempo era jovem e novo, hoje, é antigo…”</i> Assim ficou Belchior.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">As transformações do mundo oitentista, que por um lado revelaram bandas extraordinárias como Barão Vermelho, Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor, Titãs, dentre tantas outras, no campo da sociedade, em contrapartida, dava início a um processo de potencialização da idiotização musical, que se consolidou na década de 90, com axés e sertanejos com duplos sentidos em suas conotações sexuais.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><i>“Eles venceram, e o sinal ficou fechado para Belchior”.</i> </span><br />
<span style="color: #073763;">Falar da vida, em ritmo de poesia e profundidade de filosofia era demais para uma juventude que não mais enxergava o inimigo da ditadura e começou a sofrer a pior forma de dominação: a do pensamento, da pasteurização, da massificação.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">E nós não resistimos. Não fomos capazes de compreender o momento, nem de interceder. </span><br />
<span style="color: #073763;">O povo o esqueceu, os antigos companheiros parecem também terem se unido. Como consequência, gênios como Belchior foram fenecendo diante de nossos olhos.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Diante da morte de Belchior, coloquemo-nos a pensar, então, quando morrerem outros grandes como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, só para citar os mais notáveis.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">É inevitável o questionamento: <b>o que será da música brasileira quando acabar essa geração? Qual música ouviremos, ou melhor, nesses tempos, a frase mais adequada é, qual música CON(sumiremos)?</b></span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Se a música, literatura, cinema e artes em geral são representações de um povo, nós seremos explicados por grupos como “É o Tchan”; sertanejos com letras sexuais ou de uma construção rasteira, oca, superficial, que ainda são misturados com funk, pop, arrocha e eletrônica; por funks/pancadões com letras que beiram a imbecialidade? Qual seria a música do nosso povo?</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Evidente que não dá para amarrar o tempo no poste e seria idiotice negar e respeitar as novas formas de manifestação cultural, no entanto, o que se verticaliza e nos assusta com a morte de Belchior é que ficou explícita a forma devastadora de como nós tratamos nossos grandes artistas.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Em troca de suas grandes letras e músicas, que compartilharam visões de mundo, que transformaram as pessoas por dentro, que criaram ângulos nos olhos para ver, encantar-se e questionar o mundo e seus sistemas, em troca de sua sensibilidade nós lhe presenteamos com o esquecimento, a rejeição, como um produto descartável.</span><br />
<span style="color: #073763;">Gênio que era, sempre via antes:</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;"><i>“Tudo poderia ter mudado, sim,</i></span><br />
<span style="color: #073763;"><i>pelo trabalho que fizemos – tu e eu.</i></span><br />
<span style="color: #073763;"><i>Mas o dinheiro é cruel</i></span><br />
<span style="color: #073763;"><i>e um vento forte levou os amigos</i></span><br />
<span style="color: #073763;"><i>para longe das conversas, dos cafés e dos abrigos,</i></span><br />
<span style="color: #073763;"><i>e nossa esperança de jovens não aconteceu, não, não.”</i></span><br />
<span style="color: #073763;">(Não Leve Flores, Alucinação / 1976).</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<span style="color: #073763;">Belchior foi morto por mim, por você, por nós. Perdoe-nos Belchior, e justo com você, que no álbum “Alucinação” disse que só queria amar e mudar as coisas.</span><br />
<span style="color: #073763;"><br /></span>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-22363948021697057982018-05-07T09:23:00.002-03:002018-05-07T09:23:33.625-03:00Carta a Ofélia- Fernando Pessoa<div style="text-align: center;">
<span style="color: #0c343d;"><span style="font-size: x-large; font-style: italic; font-weight: bold;">Carta a Ofélia </span> <span style="font-size: large;">(trechos)</span></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b><img alt="A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, criança, noite, atividades ao ar livre e água" height="400" src="https://scontent.fsdu2-1.fna.fbcdn.net/v/t1.0-9/18341745_282069808870152_2482873134336614500_n.jpg?_nc_cat=0&oh=96142a5d7e1e9530add5f7c6b3b1684e&oe=5B505FFB" width="400" /></b></i></span></div>
<span style="color: #0c343d;"><i><b><br /></b></i></span>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>“ Se a vida, que é tudo, passa por fim, </b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>como não hão-de passar o amor e a dor, </b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>e todas as mais coisas, </b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>que não são mais que partes da vida?</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>(...)</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>Quanto a mim o amor passou</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>mas conservo-lhe uma afeição inalterável, </b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>e não esquecerei nunca (...)</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b><br /></b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>Peço que não faça como gente vulgar,</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>que é sempre reles,</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>e não me volte a cara quando passe por si</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor.</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>Fiquemos um perante o outro</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>como dois conhecidos desde a infância</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>que se amaram um pouco quando meninos</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>embora na vida adulta sigam outras afeições.</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>Conserva nos escaninhos da alma, </b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;"><i><b>a memória desse amor antigo e inútil.”</b></i></span></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="color: #0c343d;">**</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #0c343d;">Trechos de carta de FERNANDO PESSOA à sua amada Ofélia, em 29 de novembro de 1920.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #0c343d;">* * *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-4398357128447125782018-05-06T11:55:00.003-03:002018-05-06T11:55:25.729-03:00Sugestão Leitura - "O apanhador no campo de centeio"<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #38761d;"><span style="font-size: x-large;">O Apanhador no Campo de Centeio</span><span style="font-size: large;">: </span></span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<b><span style="color: #38761d; font-size: large;">por que ler a obra prima de J.D. Salinger?</span></b></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;"><b>Amanda Leonardi </b>- </span><span style="color: blue;">em 'Matérias Literárias', página 'Prosa, Verso e Arte'</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;"><img alt="Resultado de imagem para O apanhador no campo de centeio edição recente" height="160" src="data:image/jpeg;base64,/9j/4AAQSkZJRgABAQAAAQABAAD/2wCEAAkGBxITEhUTEhMWFhUWGBkYFxgYFxcYFxcbGhoaGBgXHRcYHSggGB4lHRcYJTEhJSkrLi4uGB8zODMtNygtLisBCgoKDg0OGhAQGi0mHyUtLS0rLi0tLS0rLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0vLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLS0tLf/AABEIAJ8BPgMBIgACEQEDEQH/xAAcAAAABwEBAAAAAAAAAAAAAAAAAQMEBQYHAgj/xABHEAACAQIEAwYDBwIDBAgHAAABAgMAEQQFEiEGMUEHE1FhcYEikaEUIzJCUrHBYoIzkvBDctHhFRYkU6KjsvElRGNzk8LS/8QAGgEAAwEBAQEAAAAAAAAAAAAAAAECAwQFBv/EADIRAAIBAgQCBwgDAQEAAAAAAAABAgMRBBIhQTFREzJhkaGxwRQiQlJxgdHwBTNi8ST/2gAMAwEAAhEDEQA/ANLjNLWpugpxavOR3s6o6L/lXVqsgMUZorUYNAg681cQZKgzTFYYkreRzGfDV94oI6ixtXpQisP7csGYsdDiVNjJHtbo0bc/kw+VXG+qQ4tKSbV0V3DS5lhDZdTKOR3I28GB1L71K4TtUx8Y+JdQG297fMg/vUjlWNE0SyDqNx4HqPnSs2ERvxKD59fmN64faEnacdezQ914JzinCem10n5j3Cds67d5F67EW+RNSMPbLhNtUbj0v/8AzVPl4aw5/Jb/AF5WpCfhOBvwjSfLV+xY1osRS5s5pYCr8sfEvo7YsD+mT5f8qc4DtWwUjabMt+Vyv82rNE4Mg/W/zHv0oHguH9b/AE/4VXT0vmfcR7BV3gu9/k2zC8XYOTYTAHwO315Vnna7kM2IX7XFiFnjiAHdLa6qT8TfCfi338QL1Tf+pdjdJtPsb8/Ijpan3/Vi4scRLytsx+Vr/wCr01XhF3zeAvYJvhG33T/Ax4KzRAhidgpDXW5AvfmN+v8Axq3WqmZhwYwF4X1eIfY+xG1RTYTF4Vg5VrL/AHJ726VE6VOtJyhLV7HTTxFbDxUKkNFujRq6FVnKeLY3IWYaD+rmh/laskbAi4IIIG43v71xzpSg7SR6NKtTqq8Hc6oUZopnCqWPIAk+g3qEuRq3YrmZH7RjY4PyQ/eP5naw/b5mrIaqnBMbu02IYfj2B8TfU1vLkKttb4j3ZKC2/WcmEeaLqP4n4cEFQIoE0DWB1goGioiKADoUVGKQBEVya7rm9JlIqfEjA4zDL1BH1cW/arMRVXzlL5jCPJT8ix/irTW9fSEF2epyYXWpVf8Ar0K5w5KVzi3VpAPqrD9q9BMf9fvXn3hcas9iH/1f2Qn+K9BGu63B9iPCrSvJrlKXmC1BqBNFagwCP+v5pCQmlmpJjvQxnUYpxSEdLg00JhgUYNGBTPM82gw4VsRKkaswRS5sCx3Av7VSJY9tXVVTGdomWxTdy+I+K4BIVmRSfFwLe4q1gg2IsQd7jcW9etOzJBVH7YMlfE4AmNQzQt3hFrtpAIbSR13Bt1A9KvNGKadmI8xcHZusRMUhsrm6k8geXyO3yq80rxt2Ss8rTYEoFfcxNcBT10tuLHnY8j5cqO8+YYA91PE1lPJwSB6OvT3IrCvhukeaHE9XBfyCpxyT4bMulFUFg+KoXALXQ9Qbbf8AEelS2Fxkcm6Oreh39x0rhlSnDrI9mnXp1OrK4vRg0Qo71magFGDRUYoECiFHQNAEdjclgl/HGt/1DZvmOfvUKcBiMEdcJMsN7snUDyHj5j5VawOVGK2hWklZ6rkznqYaEnmWj5r91G2X42OZA8ZuPqPIiovijEs2jDR/jm2P9KDmf9edKY/LO7LTwMsT2JcH/DcczqHT1FRPDuYLPi3lkIVyoWNb9OtiefK/vWtOmtakeC8zGrVk7UZaN6X2tv8A8LTg8KsUaxpsFFh5+J96XoXoq5W7u7O1JJWQCKKjNEaBgoqOgaACo6KjFIAVya6aioGVXMXAzKHzQD56wKspqq50P/iMHon7satL1viF7sPocuEfv1F/r0RC8IJbP4/95z84WNb0y7ViHAmH159foiOx/wDxBP3etytXf8Mfoj56v/bP6vzOCKAoauhrkmkQctST0s1N5qTAVipe1IRcqcDlTQMMVT+J+JsoZlw2JaOZnISyoJdBey31AEKb25b7DaoXtpz9osOmGjkKNMfiC8yg/ECeYBJA89+gN8ayvHPBLHNHbXGwZbgFbjxHWtowurmbLt2idnX2BBPA5eAtpYPbWhP4dxbUDy5Xqw9mXGww+Cf7dIFhiZUgNiZG2JaNVG7Bfh36awOVUrjvjR8yaIlTGkafgvcd4fxvfwtYC/Leq/jse8oQNYLGpWNFAVUBNzYDmSdySST41drrUR6kyXNocVCs8D642vY2INwbEEHcG/Sn9ebez7jCTATjUzHDufvUG43Fu8A/ULD1At4V6MwWLjmjSWNgyOoZSORB5VnKNgFaQxmDjlQxyorowsVYAgj0pctRmpAomM7KcC5Nta38NO3obXqHn7F4L3ixUqW8gfrcEVqYoGhacC3Uk+PoZgezPFotosx1eUsVx89RI+tR83Audb6ZsIR4/ECfbRWvmiFLJHdLuLWJrLRSfeYFmXD+cxzRYZzE0k+pkCsn+yAdrmw0jYc+fKnr8O5+oB7iM32sGS49Rq/1epWHjnDrnUsmJV0VU+zRk6SIrNqkZgpOzN+YXsOfle5eOMsBt9tg9nBHzFU6cflXcCxVb533mWHKM+G32JTsTsU6eknPyof9AZ842w6R+6X39WNbZl+PimGqGRJF8UZWHzBp2TUdHD5UX7ZW3kzy7nGLzHCzGGd3WQAEiykWIuCNrGpXASYtjh0+3YbXiNIRCGZlLnSofRFZN9tzVx7dslj0xYsXEhZYTYEgrZ2BJ5Ag8vGsiWQgqybMtiD/AFA3B8uQ+Va5INdVdyI9pqrhJ97LnxDisVhdSSTYSYodDpEXJUm9tVwN/hPLxqFwPDbSYdJomIk3NibA2J02P5TtS/aBiFmxIxKbDEwxTEbfC2nQ4NvNCfep/hKXVhI+WwK/Imsaz6GF4aanbhP/AEzcarvpp4ELl3E8sd1xSE2NtVrMPUbC1WXBZtDKLpIp5bXsRfxBpTFYOOQWkQN03G9vC/SobEcJQ3uhKnwPxL8jv9a5HKjPisr7OB6ShiKWiaku3R95YaI1Tjw9jIz93NdbG1mYW8tNIy4/MYfifUR5opHuRuOVCw6l1ZJg8Y49em14l4rmq/k/FUUoCy2jf/wn0PT0NWAHwrGdOUHaSOmlWhVV4O4KMCgtGKg0Coq6pHEzBEZzyUEn2F6Er6A3ZXZXISJMzc9Ikt72A/8A2PyqxEVXeC4CVknbnI37XJPzP0qZzfEd3DI/6UJHy2+tbV1eooLayOXCytSdR7ty/fsOex6EPmONn6Kugf3OD+0X1rYSKzTsKyxlwss7f7aSy+iAgn/MT8q0wmvRlppyPnJu7vz17wqTYUpXLCoEJsKQel5KQc2oGKRUvekUqpdqmExcmCIwoLfEpdVB7wqDe6adyb2uPCiKuDMm7Ts7GKxzlRZY7xjxOkm/Txvt0uaqqmrrwp2aYvFMTOrYeLSTqcfETvpAQ78+ZNtqunCfZIkMqzYyRZdJuIlB7u/TUzWLgeFh/FdOZLQzMXoAdK9CcZdnWFxMEjYeCOLE21Iy/AC3Mqyr8Pxcr22vesKwcIjnAnGnunBkQ3DnQ41Ri35zYgbj1oTTEO04TzAnSMHPf/7bdOe/KtY7Ep8UIZoJo2WOFh3ZdSrAuWLpY8xff+41o8TAqDuARffny6+dd1m5XAAFGBtRUKkA6KjoqABTHOMpixMfdS69J3+CR4zyI5owuNzsdqfE0dqYGMcV9m2Egkw0ME03e4mYRqrlGVUAvI9goJsLdetRWb9keYRkmLu516aWCN/lewH+atGycjHZtNigbw4Jfs8R2IaVrmZx6A6fehx/n2OVJIMHgppLoVacD4V1Aj4FG7kX58vWru+AjFcpyPMABiMLDPa5AkhvzU2IuhudwavfDfHua4ZguNw080XVjC4lXpcMFAb0O/nTHhztKmy+KPCS4KyxLbcvHIbknUQ463NTkHbbGbA4N7/0yqd+thp3pu/IC/ZjhYMzwTLuY5lutwVZWG4JBF1KsK80YvL5Y5JInQh4i2sdV08z6dfTevUHDudpjIFnRJEDXGmRdLAg2O2/saqvaLwg8rrjsKoOIiFnjIBE6citjsWsSLHY8qS5AYAzG1r7DkPCrfwBNeORL/hYEf3D/lXee8JFoWxuEXTDYtNAxPeYZhfUliLldtiahuCcXoxBQnaQED1G4+l6zrxzUmdmAnkrx7i/3phlONZ9av8A4kblW8x+VvQi31qQtvUDmp+z4hMT+R/u5fL9LfS3tXmU0pXjvsfQ1pOFpbb/AEe/28rk9Qojyo6zNiHzPhyCbcjS2+69eZ3HXc1EQZBi4b9zMLE8uh8yDy+tW411W0a80rcV2nNPCU5PNaz7NConNcdEV72MMBe5AO4/t3FvSn+B4qge+q6EeO4NvTf6VP1F5jkkUp1hVV/EqGDeTKefTwPnVqpTn1o27UQ6Van1JX7H+R3hcdFJ+CRW9CL/ACqF40xlohCu7ykAAeAO/wAzYfOoLiSQROqiBI5NJuykkEclZLEW5HmNqecI4OSWT7RKSwQaULXJJ35el/r5VqqEaaVW+n7Y55YmVVuglq9G+S3LPluF7qJI/wBKgHzPU/O9Q/Gk5EKxqLtKwUD0IP72HvViqH4bwRxedRqwvHh/jPh8AuPm5X5VjhlnqZntqb42apUMq30/fsbHw1lgw2FggH+zjUHza12PuSTUgwrsUTCu1nzu5yDQY0VqBFAxFmpu7U6cU1kNqljF4qXI/am8Rpa9CBnYFdAVytd1aJYd6ZtkuGMvfNBEZf8AvDGpf/Na96e0YpkgoE0DQoEFR0VqP/X70AGBR2oUKACqq9onEv2LC/d74ib7qBRuSx21W/puPcgdasWY46OCJ5pWCoilmJ8B+56VmHCWHlzfMDmUwKYfDtbDxnqV5fInUxH5rDpVRW7EX7gzJPseDig/MBqkPjI27m/qbe1TbLsR+3OgKOgZlWO4CxUGMOLjWPMUN7x4pvvQPBXa6ki5sdh5da0LI5dcYZsK2GYbaG7q/qDGxFvl6VJWoCi9wAKOgKAFADR8tiLmTSA5FmYbFh4N+oeteZ8+yubB4uWTuHjjjxBC6gdIGosihhs10HSvUdqqfaplwnyycW3jAkX1Tc/S9NPmVC+ZWKOrAgEciAR5g7ik8VhlkVkcXVhvUfwtihJho97lQFPkRt+1qlq8eSyStyPrYSVSCfNEBkuKMTnCzHcf4TH8ynkPUAVPWpjnGWrOluTD8LeB9ulNMqzRge5xBAlFgDyD7D/xeP0rSSzrMuO69TGEnSeSXDZ+hMiiFHajFYnSCiNGab5jie7ieT9Kk+/T600ruwm7K7M/4pn7zEyHopCD+3n9b044OzLRJ3bSlVPJSLoSfM/hPnUK5PO+/O/n40uMD3q6ogSw/wAROo/qXxX9q9lwi6eRnzFOtLpXUjxvexo2a45YY2kY8uQ8T0FWHsYycpDLi5P8TEMPZR8Vvct9PKsdwUz4iWCKVmdQwUAbmxP/ALC9enMlwAggji6qN/U3Jrnp0ui93d8fQ6MXienjm24Jeb9B4OdddaKjFaHAcMNq4Y0qaSkpDEpDTabnTiQU3c71DKQvGaWtTeIGnNCBnQrtTSYrsGrIZ3QoXqPzDPMLBYT4iKO99ndVO3PYm9USySohVd4V4xw2PaZYNX3JAu22tT+cDmBcEb/zVgjmVhdSGsbbEG3lt1otYQYo6FCgA1qJ4l4jw+Bi73ENYHZFAu7m3JR/J2FS1QvF/DkePwzQSbHnG9rmNwNm8x0I6gmmgKSmDxmehJJiMNl4OpY0YPLKQbAsRsPflvsTvVxzPh/ThFiwNoZIPiw5HLUOaP8AqV9w17878wKyXKc6x+QymCeIPCz6rG+luheKTlcgD4T4bgc6v83a1lgGzysfARN8rtYVbT2EDiHEz43KcSXgmwuIhXXY3F2js5MbqfiUgML+dTnAWf8A23BRTH8dtEg/rXYn32PvVVftWhnAhwmGmlnlbu1R9KixB+IlS1x4jwBvapTss4anwMOIjn5Gc6Be4KqAusf738UnwAu9qImgK5PKpGdV1XI50njMWkSNJI6oiC7MxsAB1vTAUdwASxAAG5OwAHM36Vj/ABjxjPmUj4DKwWSzd7ICB3ijZrE/hj3tfm1/Dnxn+f4rO5jg8ACuFW3eyMCAw56n8F8E5seflo3CPC0GXwGOMlibtJI1gzH+AANh5VWiEYj2fOO6k2/ON/G6i1Wo1WOA4NKTWvbvNIvz+EbfvVnNeXif7ZH1OCv0EbgFR+a5UkwN9mAsGt+/j/FSFMs1llRNcY1ad2Tqy9bHxHP2rKDeZW4m1VRyPMrog8LnMmGYQ4q9vyyc/meo5b86ssUoYBlIYHcEG4PvTSJ4cVEDYOjdDzB6+hpPLMoSBmMbOFb8hN1B8R1rSo4y4q0vAypKcbJPNHZ7r8kleoXi+VRhmBO7EAeZvf8AYGpmqpx9LtEvmzfIAfzRh43qIMZPLQk+zzKneuPMeHSu5oypKsLEcxXFesfKmwdhfDiaJMa63Yt3cV+QC7uwHjc2v5VrNeZcBneY4CwjlmhU/Eqt/htfe4VrqQbjceNegOEc+TGYVJkbUbaXOgx/GANXwkmw36EjzqJrcq7JkUKKjNQMJqTelCaTakykN5aaSU7mFM5jWbLQ9WlRSMfSlr1SRIYru1cA0oKpCZQe2XPZMPhEjhZkeZ7FlNiEAJIuN99h6XrBi1ySTck3JO5J6knqb1tna3wtjsY8LYZBIiKyldSqQxN9XxEA3G3lv41DZX2OSthy00wjna1lUalQDmGN/iJ25EW862i0kZsy1JCDsSDy2JB+lTnB/E8uAnWSMsY7/eRX+FxyO3LVbkfKm/EHDeKwbhcTEUuAQ34kPo42v5U74JyGHG4gQS4juS34fg1GQ9UDXAVrbi4PWqA9I5VmEeIiSaI6kkUMpsRsfI8iKctypLA4VIo0iQWRFCKPBVFh+1LmsQBQohR0AN8fgYp0Mc0ayIeauoYfI1UM37KsumW0aNA97ho2JHoUclSPS1XeoziXPIsFh3xEt9K8gObMdlUepqlcDJOA8lWHPTh1Yyrhlk+Mi1jpG9hy+J7e5rcKyzsRkif7VO8inFTSElNXxhPxXt4F2b5CtTpy4gAUCKO1A1IBVBcRcI4bGshxPeMF5IJXWM73uVUi586na6FMBtl2XwwII4Y1jQDZVAA+nP3phxXjTFhnI5tZB/dsfpf5VLiqP2nY7SMPGP1SSkdSI0KgfOQVFTqs1w8c1WK7UZ9wxBpjc8tcsje2oqP2qXNN8DB3cSIeaqAfXr9acGvMqSzSbPqaUcsEgGiozRXqDQh/+j3hlMkAujn7yO9rH9a32HmKl66rmqlJy4kQgoXsCqFxliw+I0D/AGa6T6nc/wAVfbVnsuCbE49ooh8Us2hfDnYsfLYk+9dODV5t9h5/8rO1JLmyJZr70RPLy/1/NT2bZXicsxJSVELFWCkgPG6OChZb+/gQfrA2r0TwC3cLT5msQ7jD/asPqI7t4lnjVjzAH4oyR4EXrceFnxBwy/asPHhmGwjja6qgAtcckPPa59eg8zwYyVLd3I6WOoaXZbHlq2PO3Wp/H9oGYywdw850W0swGmRhe/xONz4eY50mrgeh8NjopGYIwJUlTY9RuQP1W628D4U5NeTxmMwCATSWjJKASMNBa+orv8JNze3jWzdk3HEmKLYXEnVIi6ke3NBpUq3Utc3v1qXC2o7mk3pI0o1Jms2WhOUUxmNP5KYTJUMpDyOlqRjpSmgZ0tKA0mK7BqkSzsGmWdRzNh5Vw7BZihEbHkGI2J8KeUZpok8x8T4XMYmtju/3NgZHZka3gblT6e9ROCxckTrJExR13VhzB3Fx52Jr1FnuTxYuF4JhdGHMbMD0YHxFee+OeEZMvnKm7QtvFKR+IW3VrbBgdvPnWylck3Ps4x002XQSzvrkYNdjzIDsFv52A3qyViHZx2jQYLDjDYhJSBIxDrpZVVrbabg7G52vzrZcqzGLERJNC2qNxdWsRcehFxv08qiSsA7BoDzoCuJZVVSzEKo5k7AVIHdZn2l8W4diuBhgXFzlgVUgtGjbgXAP3jbn4eQ60nxJxTicwmbAZWAQP8WcMwVQP6xawv635C+9R2M+z5UhwmDBxWZ4gFGkG7IWHTnp5khee12O1aRQiAzngYYHDpPPjkhxW7CEAlvIK0Z1Ajq1tI+tWXg/M+IXw64iMRTxb6VmKiSQA2JVhbwIux9jVRSKfKsdG+ZYcYjUoPxnvLja7I7XGtTtY/yDW78O53h8XCsuGa8d7WtpKkc1K/lI/mm2A7yyeR41aWLupD+KPUH0n/eXY06rm9GDWYwCjvRXoCgA6yHjbijCy4/SslxDG8Zax069d3F+RsFG/LY1rt6y7iXshikcyYSQx3JLRtcqb3PwMbld+hv7USipJxZpSqulNTWxGq4O4Nx8/ejqJxnAmaYZSIZdaGwCatLk25Kr3S/O2hyaRgzoRssWJLRNqsxlRo3A8SpUq/LmGWuOWDl8LuezT/lab66a8ScvRGmZmkF7hHQk6ZEeNg3WxSN2YG3rXEuZBXZGU3AB2INhz3S+ofKsHRmtjthiqU1eMiQvXIJpDDYyOQXVlPvuPI+G9OL1k1bidCaa0OJpQqsx5KCT7Vz2FZdrxGIxTDdFCL4apCWf3so/zVB8W4xrJhowWkmIFhztewH9zWHzrVuC8nXK8vtOyhhqlnYclJ6X66VAHnY16OFhlhm5ng/ylVSqKC29Sv8AbssJw0RZCZQ/3bDkoNtYb+k7e+nxrEiRtt/z8/LpVp7QuMGx8403EEdxGp2JvzdgOp6DoPU1W1jXuyS9muAqaTcj8zFuQAtbqST0teutHliNcmlI0B2JC+vqB/P0p/xDIne6EVPuxoZ0vaZgd5LHl4AACwHWmgIqpHh7N3wmJjxEYu0bXseTKdmXyupIqPoCmB6oyfNosVCk8LXRxfzB5FSOhB2Ip2RWA9mHFzYOcRyH/s0rAOTe0bkWWQHpyF/IX6VvxPUcjWEo2ZaZw9M5qdsaayc6hoocJXdcItK0hgApQVyK6UVSJZ0KOgBR0yQULA7dKOgBQJkBnvBeAxbiSeAFxtqUshPk2gjV71NYPCpEixxqERBZVXYADoBS4ogKq4hLF4pY0eRzZVUsfQbnbrWQ4vPMTnkrYfDuMNhUUNIzEawu92O49LXt51dO0TIsVjhh8PCdEJctiJNQ2UCyrpvdr3PlcLWc5j2TZhE+nDukqSfAzhu7IUn86k7rsCQt+XKqikBK/wDTEjkZXkK6Vj/xcTsL72ZtVthf83M9B1q98G8GQYFS1+9xD7yzt+JiTdrX/CL+56084S4bhwGHWGIXPN3t8Tt1J8ugHQVNUm9kBm/brADgYntus62PgGVgfqB8qU7DEAwDnxne/sqAfSpDtgh1ZVMbbo0RHW33qAn5E1x2MxacrjNra5JWPn8ZW/yX6U/hEXe9GK5oxUjDoGuMRMqAs7BVHMsQAPO52qi532s4CE6YdeJa9vuxZP8AO1r/ANoNOzAvgptmOZwwLrmkSNRuSzAVjubcf5jMAUZMKtxphitLipbm2wIOnruQvLrTLh/gnG5k5kmaSKHW13ku0rG/xgarEnpc7Ajl0p5eYjScN2gwzzjD4OKTEN+Z1GmJBYm5c+Ytyt51a8RhkkXTLGjC26sA4+opnw7kGHwUXdYdAq/mPNnP6mbmxqStQwK7iOBssfngoP7UC/8AptVYz/siw0x1QSvBYWCkGVAfEamBX0BttWk2oWpXYHnfHdnWNhxkeHjkjaWRHkR1Zk+FNm1G2xO3jzpxmnA+bYWJpmlUqD8WmYs2+w2ZRck2AAuSSNq1jGR3zjDHqMHiD/5kQ/mrBiYEYAuAQjBwCL2YcjbqR0pt80VGco8GZzwnwicKI8ZjQJMS5ub7jDoiMwHhquFuelz5k07tJ44fFuYIXth0INxcd4eYJHQKTa3iL1YO2DiUG0EbsOj2sCeTW1Wvpva4HMr4DfIqaQm23dhLQoULVQDrLJVSQOyq4S7aW/CxH4QRcXF7beVNpnLMzG12Ymw5bm+3hzp9kmWPiJ44I9mkNr7mw5k2G526VbuIMlwseMMaH7jCqiTSKhJaRmswYgbkJv66t7nYAo2HhLPp2vvzYKNgTux26Uhap/hHBiXFXYfAqPI4O3w20kXHI/Ft52qIzBgZZCpupdiCeZFzYn2pgN9ZAKgnSbXFzY25Ejra5+dbl2ScWjEwDCyn76Bdv64xYA+q7A+x61hhHhUvL32W437t7vC4KsOTqQD8mU2IoazKw72PTL01lNFlmPE8EU6ggSorgHmNQG31oSjeuZmiHcdKiko6Xtt7VKANRXYrkmuhVokOugKKhQIOjoWoUCAKFAUdMQKFChQAKKjFCgCl9r+G1ZXMQzDQY2sDYMO8VSGHUWJNvEA9Ko/Zx2hpgo/seNRlRLmNwhJXWS1nXmQdVwQOvvW04iFXUo6hlYWZWAKkeBB2NRWfcLYTGIEnhVrAAMBpdQOQVxuBtyq01uIhsV2nZUlv+0aieiRyN8/hsPeqZxD2yMw04KHQf+8msT7Ipt7k+1WF+xzL7mz4geWtTby3SpTLuzLLIf8A5fvCOsrM/wBPw/Sj3RmC5lnGKxkg76R5nJ2Xmd+iov7AVYsk7MsxxFmMYgT9UpsefRFu1/IgVvWX5Vh4P8CGOPp8CKp+YG9PaebkBi/FvBs2W4ASYea7BwJmRAjWYjSwfdxZwL/Fvq9qvvZzxUuOwo1Ed/EAkq8t+jgeDD6girLjsEk0bwyDUkilGHiCLH9687RzT5LmTBTq7s2YX2libcA+BIt6EULUR6SIoCm2W45J4Y5oySkihlJFjYi4uDypzUjCFA0KM0AQQhvmRe34MIF8rvKTb/y6jOPeJvsseiM/esAdr30k20ixuGazWPSxPTd5xFm6YNcRinubRxqAL3JBcgeAuXG//CsK4sxkwkdZZNc8oDzEXsmpQVjW/IaAlyOdrbimkIg8fjHlYs5uT8h1sL02o6FUACKCDcA+V6Fr1JYnAPh5ikgAeNQ7C9xewYDbbqB4beFAyz8C4pMOcdmBXaBO7hB3tJKSsYuTvYIAfJqYDHSnLGazWbEsZZdiXmdCCGJOy9245A73O1V58wlMZiLHQz94y9C9rarcuVT+W57EMGmHdF0xyNIwsSZWIAQk8gB8X+VdqYiEw83dRSjbVKqoN91XUshb30ge58K4zTK5IO7EilTJGsigix0sSB/6b+9SXB+UHG42KM2YFwzhiRdBdmFwPBSPcVc+3fABZsLKosGRozv+ggqLdNmNF9bDMrv+9bBw3wVhsfHhcXLIWCRqjxaLamTmHc/E3O9+oPO1Y+a3/shwRjy1HN9Urs53vtfSnp8KilN2Q0i3lAAFAsALADYC3ICmslO3pnIK52aI/9k=" width="320" /></span></div>
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Publicado em 1951, o romance <i>O Apanhador no Campo de Centeio</i>, de J.D. Salinger, tornou-se um clássico da literatura americana. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O livro conta sobre a vida de um jovem de dezessete anos chamado Holden Caulfield, que vive em Nova York, já foi expulso de várias escolas, não consegue ter interesse em nenhuma das matérias da escola e é de certa forma bem rebelde e um pouco inocente ao mesmo tempo. Alguns podem julgá-lo imaturo por suas atitudes inocentes, ou talvez pela aparente ausência de praticidade em seus ideais, mas Holden Caulfield é, na verdade, apenas um jovem que não consegue encontrar seu lugar no mundo principalmente por discordar da forma superficial como todos lhe parecem.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O livro é narrado em primeira pessoa, portanto, pode-se praticamente ouvir os pensamentos de Holden Caulfield ao passo em que se avança a leitura do romance. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O jovem conta não sua vida toda, mas um período desde que foi expulso de sua última escola e passou por uma série de acontecimentos que o fizeram crescer e compreender melhor o mundo e a si mesmo. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O romance começa com Holden já dizendo que tudo que será narrado foram fatos que ocorreram há um ano – ele tinha dezesseis quando os vivenciou e nos conta já com dezessete, depois de ter sido internado em uma instituição de reabilitação.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Resumindo, é um romance que trata de crescimento, sim, mas não é para adolescentes, como alguns poderiam julgar pelo fato de o protagonista ser um adolescente. É um livro que trata de questões existenciais como encontrar sua identidade no mundo, de autoconhecimento, de uma busca por algum significado na vida. Ou seja, é um livro para todos.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O estilo do romance de Salinger é altamente inovador: nele não temos um narrador em terceira pessoa ou um simples narrador em primeira pessoa nos contando as coisas como elas ocorreram de forma cronológica e objetiva – temos um narrador em primeira pessoa realmente de dezessete anos, que realmente representa o protagonista, nos contando sobre sua vida de forma pessoal e muitas vezes subjetiva, com uma linguagem que um adolescente usaria de fato. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O texto é marcado pela constante presença de gírias típicas da época em que o livro foi escrito – entre as décadas de 40 e 50. Porém, não é somente a presença das gírias que torna o vocabulário jovial e vívido: o texto flui de uma forma natural, soa como os pensamentos de um jovem, sem nenhuma construção forçada, nenhuma frase de efeito mais rebuscada. O que não significa que o romance não tenha frases marcantes e um estilo literário único – praticamente lírico em algumas partes, pois Holden é sensível, inocente (apesar de rebelde e desregrado), vê o mundo de uma forma muito única, o que o torna extremamente carismático.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Salinger conseguiu construir o personagem de forma tão detalhada que quase parece que Holden é real: o jovem tem um estilo próprio de pensar e falar, tem manias próprias, tem uma história de vida que, apesar de não contada de forma cronológica, nos é mostrada com um recorte sabiamente construído, nos revelando importantes partes do passado do personagem através de suas memórias. E principalmente: o psicológico de Holden Caulfield é muito bem desenvolvido.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Ele não é um personagem plano, somente bom ou somente mau, certo ou errado, não é um estereótipo; ele é um adolescente ao mesmo tempo inocente, sensível e rebelde, sem rumo, sem um lugar na sociedade. Holden não é apenas um retrato fixo, pintado com palavras imóveis, ele é um ser humano construído com as palavras de Salinger, com uma grande profundidade psicológica que vai além da superfície limitada de muitos personagens. Ele é praticamente uma pessoa que nasceu na literatura, um personagem altamente vívido, cujos pensamentos e ações são justificados por sua personalidade.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Portanto, utilizando uma linguagem leve, praticamente coloquial, para construir a mente de um jovem, Salinger inovou, escrevendo uma obra única que definitivamente marcou época e influenciou gerações. </span><br />
<span style="color: #38761d;">A importância da obra é tanta que não se limita à literatura: chega à cultura popular em geral, sendo muito comentada em filmes, músicas, e até teorias conspiratórias, como foi o caso do assassino de John Lennon. O homem disse ter lido <i>O Apanhador no Campo de Centeio</i> e isso o influenciou a assassinar um ser humano. Obviamente, o homem não compreendeu bem a significado dessa profunda obra de Salinger.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O que nos leva a pensar o que pode haver de tão significativo nesse romance, para chegar ao ponto de que, se mal compreendido, pode chegar a causar um impacto tão forte no raciocínio de uma pessoa – não que possa transformar alguém em um assassino, mas pode causar diferentes impactos em diferentes pessoas. Entretanto, se bem compreendido, pode mudar a forma de pensar de quem o lê, libertando o leitor e não o levando à prisão.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;"><i>O Apanhador no Campo de Centeio </i>é um clássico da literatura americana, leitura exigida em muitos colégios americanos, estudado em cursos de literatura por todo o mundo. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Por que tantos estudos sobre um livro que narra os pensamentos de um adolescente perdido? Porque muitos se identificam com o protagonista, seja por também estarem perdidos, sem lugar na sociedade, sem nenhum rumo planejado, seja por serem contra a superficialidade que Holden tanto odeia ou porque em algum lugar dentro de cada um ainda haja algo da inocência que Holden tanto sonha em preservar, salvando as crianças de caírem do campo e centeio.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Dito isso, ainda há mil motivos por que um ser humano precisa ler <i>O Apanhador no Campo de Centeio</i>. E talvez ler não seja, ainda, a palavra certa: o correto seria dizer que todo bom leitor – ou ser humano com qualquer questionamento sobre si mesmo ou o mundo onde vive – precisa saborear a obra prima de Salinger, prender-se a cada palavra, compreendendo todo o significado deste clássico. Ou os significados, pois todo bom clássico há de ter diferentes possibilidades de interpretação e este não é uma exceção neste ponto.</span><br />
<span style="color: #38761d;">(...)</span><br />
<span style="color: #38761d;"><i>O Apanhador no Campo de Centeio</i> é um romance altamente subjetivo, cujo significado acaba sendo muito pessoal para cada leitor, talvez isso tenha ocasionado o fato de um assassino dizer que se identificou com Holden Caulfield e por isso cometeu um crime. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O fato é que as buscas de Holden por si mesmo pela cidade de Nova York representam a busca dele em si mesmo, o que todos conseguem identificar se não se sentem confortáveis no mundo onde vivem. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Esse é um livro capaz de fazer o leitor sentir que pertence a este mundo, que existem mais pessoas tão perdidas quanto ele, como Holden.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">O romance é capaz de despertar no leitor um pouco de apanhador no campo de centeio realmente, algo desse sentimento do protagonista que é inerente a todo ser humano, porém muitos ficam cegos com a superficialidade do mundo “adulto” – o mundo cheio de ordem e ambições imposto aos adultos – e acabam achando Holden inocente demais, alguns até chegam a julgá-lo imaturo. Porém, conceitos de maturidade ou imaturidade não são realmente o ponto mais importante do livro.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">É, sim, uma trajetória de crescimento, mas não em direção à idade adulta apenas mas em direção a si mesmo, em direção a se conhecer e aceitar-se como indivíduo, como ser humano, e não se contentar a ser só mais um adulto vazio em uma sociedade superficial. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Mas Holden Caulfield também não é perfeito, não é um jovem sonhador, inocente, uma espécie de Peter Pan adolescente, embora o seu desejo de salvar as crianças do mundo adulto de certa forma o assemelhe ao personagem da literatura infantil. Holden é um jovem que está crescendo, está se tornando adulto, portanto, apesar de odiar o mundo superficial destes, ele não é um menino inocente: Holden mente, adora mentir até sobre o próprio nome, ele mata aulas, briga com colegas, é expulso de escolas, mente para os pais.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Sintetizando tudo isso: Holden Caulfield é um adolescente de carne e osso, que tem princípios e defeitos. O mais interessante nesta obra é exatamente isso – como o protagonista consegue ter uma personalidade ao mesmo tempo tão puxada para dois extremos, o lado inocente e o lado rebelde, e isso ter uma verossimilhança tão grande. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Porém, vendo por outro ponto de vista, tal fusão de extremos faz muito sentido de fato: a sociedade que o cerca é fria, cega, presa a correntes que os mantém no nível aceitável socialmente, para aparentar que são felizes, apesar de, por trás das máscaras, serem todos insatisfeitos, presos a eles mesmos, acomodados em sua queda. Todos que seguem as regras da sociedade superficial têm um lugar nesta, mesmo que seja em uma queda, eles têm um mapa de suas mentes, por isso parecem – talvez realmente sejam – tão vazios como Holden os vê.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Já Holden é o contrário de tudo isso, o que não quer dizer que ele também não se sinta em queda, preso também de alguma forma. Tanto é que o jovem realmente reclama de tudo e de todos, e são poucas coisas, geralmente coisas simples, pouco notadas pela maioria, que o agradam. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Mas Holden deseja a liberdade, e a encontra em coisas bem simples como ser capaz de observar o lago congelado e divagar a respeito do destino dos patos, para onde eles vão quando o lago congela? – imagina Holden. Tal divagação do protagonista pode ser um símbolo para o seu temor de para onde vai a inocência, a essência do ser humano quando sua alma congela. </span><br />
<span style="color: #38761d;">O jovem Holden é um símbolo da quebra do adolescente com o mundo adulto, da tentativa de construir um mundo novo com a nova geração, de uma tentativa de salvar o futuro, de impedir que as crianças caiam do campo de centeio e se tornem também adultos frios, vazios, consumistas e superficiais.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Por isso todos precisam ler e reler <i>O Apanhador no Campo de Centeio,</i> para lembrar de Phoebe no carrossel, aos dez anos de idade, dizendo que está muito velha para isso mas se divertindo como se tivesse seis anos. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Para lembrar que não precisamos deixar de ser nós mesmos depois dos vinte, dos trinta, dos quarenta, ou até dos oitenta anos. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Para lembrar que não é preciso, na verdade, se preocupar tanto com a queda do campo de centeio, pois o próprio protagonista acaba por compreender como é possível sobreviver a tal queda. </span><br />
<span style="color: #38761d;">Esse é um livro que pode ajudar o leitor a se encontrar, caso esteja perdido, que pode fazer refletir sobre como se caiu do campo de centeio e por quê – e o mais importante: como sobreviveu a tal queda.</span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">E se nenhum dos motivos já citados neste artigo fizerem sentido para algum leitor, ainda assim a leitura do livro é tão acolhedora que os pensamentos do jovem Holden é praticamente uma forma de se sentir em casa. O personagem de Salinger é tão vívido e carismático que muitas vezes parece que suas palavras não estão somente escritas no papel, mas gravadas na alma de quem o lê. </span><br />
<span style="color: #38761d;"><br /></span>
<span style="color: #38761d;">Ler esse livro é como conversar com Holden, é como conversar com Salinger. Porque Salinger é um daqueles autores que dá vontade de, depois de terminar de ler um livro seu, tê-lo como um grande amigo para poder ligar e conversar a hora que quiser, como Holden diz que ocorre, raramente, com alguns autores.</span><br />
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para O apanhador no campo de centeio edição recente" height="200" src="http://statics.livrariacultura.net.br/products/capas_lg/206/301206.jpg" width="144" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #38761d;">* * *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-39568157441213658992018-03-25T11:11:00.003-03:002018-03-25T11:11:38.022-03:00O Outono -Flora Figueiredo<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: x-large;"><i><b>O Outono</b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><b>Flora Figueiredo</b></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para outono" height="224" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ60MAx6U8rCeB8NFdNX_NFN1SINKHGyvpM56Ck30E_ouHHy7wasA" width="400" /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Meio-tom. </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Bom termo entre os excessos, </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>equilibrado confesso, </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>pondero entre extremos. </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Outono, </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>coleciono trechos de poesia </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>tirados de cores e de brisas, </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>do peito da tarde que se descamisa </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>em seu desfecho. </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>Da maturidade deixo a fruta </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>que se queda pronta sobre a terra </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>quando minha temporada já se encerra </b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><i><b>e cede vez à estação substituta.</b></i></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"> **</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">- Em "Estações". Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763;">* * *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5857093693947734022.post-40597653012255079952018-03-19T11:48:00.001-03:002018-03-19T11:48:12.912-03:00'Meditações', JOHN DONNE<div style="text-align: center;">
<img alt="Resultado de imagem para por quem os sinos dobram john donne" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcThQUgtf9My0odBi9a-tDOsiC4Xp6ZfmENT2Q2rhnLuwziDn_d_" /></div>
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;">“Talvez aquele para quem estes sinos dobram esteja tão mal que ele sequer sabe que dobram por ele. E talvez eu possa me achar muito melhor do que sou, como fazem aqueles que me rodeiam, e ao ver o meu estado podem tê-lo feito dobrar por mim, e eu nem saiba disso. (...)”</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;">“...toda a humanidade provém de um autor, e forma um único livro; quando alguém morre, um capítulo não é arrancado do livro mas traduzido para uma linguagem melhor, e cada capítulo deve ser assim traduzido (...)”</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;"><br /></span></b></i>
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;">“Nenhum homem é uma ilha, completa em si mesma; todo homem é um pedaço do continente, uma parte da terra firme. Se um torrão de terra for levado pelo mar, a Europa fica menor, como se tivesse perdido um promontório, ou perdido o solar de um amigo teu, ou o teu próprio. A morte de qualquer homem diminui a mim, porque na humanidade me encontro envolvido; por isso, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.”</span></b></i><br />
<i><b><span style="color: #073763; font-size: large;">**</span></b></i><br />
<span style="color: #073763; font-size: large;"><b>JOHN DONNE – poeta inglês (1572-1631) in ‘Meditações’</b></span><br />
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: #073763; font-size: large;">* * *</span></div>
Suelihttp://www.blogger.com/profile/02251613366528171309noreply@blogger.com0