domingo, 30 de novembro de 2014

LUCIANA SADDI - Lembranças

Arte: Loui Jover

Lembranças
Luciana Saddi (*) - 09/04/2014 

O Poeta e humanista romano, Sêneca, que viveu no primeiro século, dizia que o recurso que temos para diminuir os efeitos das perdas é guardar a lembrança das coisas perdidas e, por esse meio, não deixar desvanecer o proveito que tivemos. 
Vai-se a posse, fica para sempre a vantagem de ter possuído. 
Segundo ele o destino nos retira a coisa, mas deixa seu fruto. 
As reclamações e queixas sempre nos fazem perder a boa lembrança, ou seja, a vantagem de ter vivido algo bom.

Segundo Sêneca, a lembrança fixa a experiência, diminui o efeito da perda sobre nós. Mas a lembrança aumenta a dor da perda quando se torna lamento pelo objeto perdido, adverte ele.

O que são as lembranças? Truques para superar a finitude. 
O que se foi se faz presente e perdido ao mesmo tempo. 
Lembrança é uma estranha mistura do que perdemos com o que ganhamos ao viver.  Marca da passagem do tempo, do passado irreversível, da falta e testemunho da nossa existência.

Transformar a dor da perda em lembrança é uma arte. 
A escrita, a literatura e as artes podem ser entendidas como produto e expressão da luta contra o esquecimento e a morte,  transformam lembranças em experiência compartilhada para que não se percam no tempo como lágrimas na chuva. 

A recordação estende a corda da vida além dela mesma.

*            *            *

(*) Luciana Saddi atua como psicanalista em São Paulo e é mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP. 
Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na Revista da Folha. 
Integra a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e é autora de artigos científicos em revistas especializadas de Psicanálise. 
Tem dois livros publicados como autora de textos de ficção: “O Amor Leva a um Liquidificador”, editora Casa do Psicólogo, e o romance “Perpétuo-Socorro”, editora Jaboticaba.

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