quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

DRUMMOND - Passagem do Ano

Da página poesia.net




PASSAGEM DO ANO
Carlos Drummond de Andrade


O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
 doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
 clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.
O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...
Recebe com simplicidade este presente do
 acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
 séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
 espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão 
esperas amanhecer.
O recurso de se embriagar. 
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.
Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.
***

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

MIA COUTO - (Escre) ver-me

Arte: Will Barnet

(ESCRE) VER-ME
Mia Couto



nunca escrevi
sou
apenas um tradutor de silêncios

a vida
tatuou-me os olhos
janelas
em que me transcrevo e apago

sou
um soldado
que se apaixona
pelo inimigo que vai matar

*            *            *

In: 'Raiz de orvalho e outros poemas', 1999

domingo, 28 de dezembro de 2014

La musica celeste

La luminosa musica barocca di Domenico Zipoli , compositore italiano ,(Prato- 1688 - Cordoba - 1726)
Sacris solemnis -Ensemble Elyma - Coro de Ninos Cantores de Cordoba

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O Imperativo da Felicidade


O Imperativo da Felicidade
Jean Alessandro Bertollo - publicado em "Obvious - Literatura"

"Seja feliz, que sua felicidade seja uma rotina diária, não demonstre tristeza, não publique coisas tristes nas redes, só mostre seu melhor lado, sua melhor imagem" 

Essas são coisas que estão sub-ditas, e que imperceptivelmente obedecemos, ou tentamos perseguir diariamente.
  

Massificação. É muito mais fácil manipular indivíduos no meio de uma grande massa, há muito menos espaço para o racional, para o lógico,e como diria Freud, muito mais afloração das pulsões primitivas.
Em Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, aparece uma sociedade onde não há espaço para o singular, onde o lema é "cada um é de todos", qualquer desvio de conduta, ou inquietação é sanado com o "soma" uma droga sem efeitos colaterais distribuída para a população. 
Promiscuidade sexual é regra! Satisfazer imediatamente qualquer apetite sexual, pois uma pulsão inibida, faz com que apareça inquietação, busca, questão, arte, cultura, sentimentos. E isso desestabiliza a perfeição engenhosa da sociedade futurística.

Qualquer sinal de apego ou amor é sanado com tratamentos onde são injetadas altas doses de adrenalina e outros químicos que imitam o estado "apaixonado". 
As doenças foram mapeadas, assim como todos os genes humanos e possíveis erros, de modo que a doença não existe mais. 
Os seres humanos são condicionados até os 17 anos a aceitar sua condição numa determinada casta, se vem como privilegiado em estar nela, além de vários outros condicionamentos como não sentir medo da morte, se sentir altamente realizado e feliz diante de uma rotina diária e repetitiva. 

O próprio autor diz, alguns anos mais tarde que se espanta com o modo que suas previsões parecem cada vez estarem mais perto. 
Basta uma criança causar um pouco de agitação, já recebe sua dose somática de Ritalina. Basta que alguém se sinta triste por mais de um dia, logo é tachado depressivo. 
Dificilmente há alguém que não se enquadre em algum distúrbio ou doença mental descrita nos manuais de diagnóstico psiquiátricos CID e DSM.
É quase impossível escapar do seu enquadramento minucioso. Isso sem entrar na discussão sobre um padrão americano que determina o que é normal e o que não é, sendo as sociedades e culturas diferentes. 
Onde está espaço para cada um ser único?

A indústria da cultura e do entretenimento martela nossas cabeças com coisas que se dizem arte, e que muita gente aceita, e ainda por cima briga para defender. 
O consumo é regra, e o sujeito que não consome, sequer pode ser chamado de indivíduo. 

Em meio a tudo isso é nos ordenado que sejamos felizes, ou que pelo menos fiquemos fingindo e nos vangloriando que somos realmente. Pois não há tempo para tristeza, para luto. É preciso trabalhar, correr, trabalhar pra ter um carro melhor, depois um melhor, depois outro. E se algo esta errado, tome um antidepressivo, um relaxante, um estimulante... Estamos indo a algum lugar com tudo isso... que lugar é esse?

Interessante a ideia de Contardo Calligaris sobre a felicidade: não quero ser feliz, por que ser feliz é um estado monótono onde tudo vai bem, onde tudo fica estagnado. Quero ter uma vida interessante, pois os momentos de sofrimento são necessários também.

A que ponto chegamos que não temos nem o direito de sofrer em paz? (com o perdão da ironia). 



No livro de Huxley há um personagem que se sente deslocado, ele resolve ir até o ultimo lugar onde ainda ha pessoas nascendo, vivendo em famílias, onde é permitido adoecer, amar, sofrer...lá conhece um selvagem, que trás para a civilização, e se torna uma espécie de ícone que desperta curiosidade em todos.

O selvagem se espanta com esse mundo bizarro, pois pra ele é normal sofrer, chorar, adoecer, ser livre, poder sentir se único, poder pensar, amar, viver com intensidade... sejamos um pouco mais "selvagens" então!


*            *            *

sábado, 20 de dezembro de 2014

HISTÓRIAS DE UM NATAL DE SEMPRE

Da página "Diálogos na Caverna"



Histórias de um Natal de sempre
Lucia Helena Galvão Maya 

Algumas experiências, aparentemente simples e banais, nos marcam profundamente.
Um dia desses, por exemplo, o cachorrinho da minha casa, aquele mesmo que é quase sempre inconveniente e transportador de pulgas, inventou de adoecer, e inventou sério: quase que morre.
Isso gerou uma comoção total na casa: ninguém tinha reparado que seria tão difícil viver sem aquela criaturinha que alegrava nossa chegada, com sua euforia, e perturbava nossas refeições, na esperança de participar delas.

A partir daí, comecei a viver um ciclo de observações bem interessante: parei para prestar atenção em pequenas coisas belas que nunca reparo, mas que estão lá, adornando a minha vida de uma forma que percebi como indispensável.
Já houve filósofos (estes que reparam em tudo) que disseram que a consciência nasce do contraste, ou seja, que notamos o valor das coisas quando as perdemos, ou corremos o risco de perder.

Há um sabiá que sempre canta pelas redondezas da minha janela; chega a dobrar o trinado, exibicionista, num fôlego de fazer inveja... como nunca havia percebido a diferença que esse passarinho faz, nas minhas manhãs?

Ao chegar ao trabalho, nessa época do ano (como sempre, em todos os anos), tem aquela senhora que traz todas as guirlandas natalinas da casa dela e pendura em todas as portas... e fica por ali, na esperança de alguém que passe e elogie... vai que esse alguém também veja a foto da netinha, em cima da mesa, e comente algo! Dá-lhe histórias sobre as últimas gracinhas da menina...sempre a mesma rotina!

Mas o cãozinho que quase morre me deu a preciosa lição de que o “sempre” pode acabar a qualquer momento, assim, sem mandar aviso... e deixar um vazio dolorido no coração da gente.

Passando pela panificadora no caminho de casa (sempre tem que passar!),o balconista sorri e dispara a pergunta: “Pão branquinho ou torradinho, moça?”.
Olho para a gôndola de pão e vejo que só tem pão branquinho lá dentro...e então respondo, com a satisfação de pedir algo que ele pode me dar: “Vê para mim seis bem branquinhos, moço!” Sorrisos.
As nuvens lá fora estão pesadas, talvez a condução atrase e faça chuva de vento, que molhe todo o abrigo de ônibus... “O futuro a Deus pertence”, dizia minha vó...mas o presente, a alegria singela do presente pertence agora ao moço da padaria, cheio de satisfação ao me estender o pacotinho de papel pardo...

Vez por outra, no banco da pracinha, perto do portão, tem casal de namorado abraçadinho e meio bobo (como sempre são, os namorados!), olhando a lua, ainda que minguante. Mas eles nem vêem o muito de sombra que a lua tem, nesse dia, e aceitam de bom grado o fiapo de luz que ela tem para oferecer, como um presente...

Na caixa de correspondência, a propaganda comercial diz: “O Natal está chegando!” Isso me causa um impacto de estranheza: como assim? para onde havia ido o Natal? Com certeza, para lugar nenhum: esteve aí o tempo todo.
Isso me faz recordar a história da mãe, que sabe que seu garoto esteve a manhã inteira na rua, brincando e jogando futebol, mas que marca hora para sentir falta dele. E aí, chega na janela e grita a pleno pulmão para o menino vir para dentro, que a comida está no prato. E ele entra, com o corpo sujo de doer, mas a alma limpa e pura, transbordando pelos olhos em alegria.

Parecido com isso é o que acontece conosco e com o Natal, com o seu Menino tão especial: marcamos data (dezembro, 25), para chamá-lo para dentro de casa; e lá vem Ele, luminoso, sentar à mesa ao nosso lado, sorrir, lambuzar o rosto de confeitos e mostrar suas figurinhas para trocar as repetidas conosco. E dizemos: “Eu tenho a do sabiá, a dos namorados e a lua e a do cachorrinho...você tem qual?”
Menino sabido: sempre tem figurinha nova para trocar com a gente.


Então, combinamos assim: o Natal está chegando; vamos arrumar a casa e chamar o Menino para dentro. Esse que sempre corre pelas ruas, alegre e vivo, vendo beleza e colocando beleza em todas as coisas.
Mas não se esqueça de desconfiar da palavra “sempre”.
Se for verdade a lição que aprendi com o meu cachorrinho, de tanto estarmos desatentos, ausentes, superficiais, confiados no “sempre”, um dia (pesadelo!), corremos o risco de abrir a janela... e o sempre virou nunca mais. Fique atento ao sempre... alimente o sempre!

Já houve desses filósofos faladores do passado (e do presente!) que disseram que o sempre, bem alimentado, corre o risco de virar...eternidade.

Feliz Natal para você... sempre!


*            *            *

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

MIA COUTO - em 'Estórias abensonhadas'

Tela de Leonid Afremov

O Cego do Estrelinho
Mia Couto


O cego Estrelinho era pessoa de nenhuma vez: sua história poderia ser contada e descontada não fosse seu guia, Gigito Efraim. A mão de Gigito conduziu o desvistado por tempos e idades. Aquela mão era repartidamente comum, extensão de um no outro, siamensal.

E assim era quase de nascença. Memória de Estrelinho tinha cinco dedos e eram os de Gigito postos, em aperto, na sua própria mão.

O cego, curioso, queria saber de tudo. Ele não fazia cerimónia no viver. O sempre lhe era pouco e o tudo insuficiente. Dizia, deste modo:

- Tenho que viver já, senão esqueço-me.

Gigitinho, porém, o que descrevia era o que não havia. O mundo que ele minuciava eram fantasias e rendilhados. A imaginação do guia era mais profícua que papaeira. O cego enchia a boca de águas:

- Que maravilhação esse mundo. Me conte tudo, Gigito!

A mão do guia era, afinal, o manuscrito da mentira. Gigito Efraim estava como nunca esteve S. Tomé: via para não crer. O condutor falava pela ponta dos dedos. Desfolhava o universo, aberto em folhas. A ideação dele era tal que mesmo o cego, por vezes, acreditava ver. O outro lhe encorajava esses breves enganos:

- Desbengale-se, você está escolhendo a boa procedência!

Mentira: Estrelinho continuava sem ver uma palmeira à frente do nariz. Contudo, o cego não se conformava em suas escurezas. Ele cumpria o ditado: não tinha perna e queria dar o pontapé. Só à noite, ele desalentava, sofrendo medos mais antigos que a humanidade. Entendia aquilo que, na raça humana, é menos primitivo: o animal.

- Na noite aflige não haver luz?

- Aflição é ter um pássaro branco esvoando dentro do sono.

Pássaro branco? No sono? Lugar de ave é nas alturas. Dizem até que Deus fez o céu para justificar os pássaros. Estrelinho disfarçava o medo dos vaticínios, subterfugindo:

- E agora, Gigitinho? Agora, olhando assim para cima, estou face ao céu?

Que podia o outro responder? O céu do cego fica em toda a parte. Estrelinho perdia o pé era quando a noite chegava e seu mestre adormecia. Era como se um novo escuro nele se estreasse em nó cego. Devagaroso e sorrateiro ele aninhava sua mão na mão do guia. Só assim adormecia. A razão da concha é a timidez da amêijoa? Na manhã seguinte, o cego lhe confessava: se você morrer, tenho que morrer logo no imediato. Senão-me: como acerto o caminho para o céu?

Foi no mês de Dezembro que levaram Gigitinho. Lhe tiraram do mundo para pôr na guerra: obrigavam os serviços militares. O cego reclamou: que o moço inatingia a idade: E que o serviço que ele a si prestava era vital e vitalício. O guia chamou Estrelinho à parte e lhe tranquilizou:

- Não vai ficar sozinhando por aí. Minha mana já mandei para ficar no meu lugar.

O cego estendeu o braço a querer tocar uma despedida. Mas o outro já não estava lá. Ou estava e se desviara, propositado? E sem água ida nem vinda, Estrelinho escutou o amigo se afastar, engolido, espongínquo, inevisível. Pela primeira vez, Estrelinho se sentiu invalidado.

- Agora, só agora, sou cego que não vê.

No tempo que seguiu, o cego falou alto, sozinho como se inventasse a presença de seu amigo: escuta, meu irmão, escuta este silêncio. O erro da pessoa é pensar que os silêncios são todos iguais. Enquanto não: há distintas qualidades de silêncio. É assim o escuro, este nada apagado que estes meus olhos tocam: cada um é um, desbotado à sua maneira. Entende mano Gigito?

Mas a resposta de Gigito não veio, num silêncio que foi seguindo, esse sim, repetido e igual. Desamimado, Estrelinho ficou presenciando inimagens, seus olhos no centro de manchas e ínvias lácteas. Aquela era uma desluada noite, tinturosa de enorme. Pitosgando, o cego captava o escuro em vagas, despedaços. O mundo lhe magoava a desemparelhada mão. A solidão lhe doía como torcicolo em pescoço de girafa. E lembrou palavras do seu guia:

- Sozinha e triste é a remela em olho de cego.

Com medo da noite foi andando, aos tropeços. Os dedos teatrais interpretavam ser olhos. Teimoso como um pêndulo foi escolhendo caminho. Tropeçando, empecilhando, acabou caído numa berma. Ali adormeceu, seus sonhos ziguezagueram à procura da mão de Gigitinho.

Então ele, pela primeira vez, viu a garça. Tal igual como descrevera Gigitinho: a ave tresvoada, branca de amanhecer. Latejando as asas, como se o corpo não ocupasse lugar nenhum.

De aflição, ele desviou o vazado olhar. Aquilo era visão de chamar desgraças. Quando a si regressou lhe parecia conhecer o lugar onde tombara. Como diria Gigito: era ali que as cobras vinham recarregar os venenos. Mas nem força ele colectou para se afastar.

Ficou naquela berma, como um lenço de enrodilhada tristeza, desses que tombam nas despedidas. Até que o toque tímido de uma mão lhe despertou os ombros.

- Sou irmã de Gigito. Me chamo Infelizmina.

Desde então, a menina passou a conduzir o cego. Fazia-o com discrição e silêncios. E era como se Estrelinho, por segunda vez, perdesse a visão. Porque a miúda não tinha nenhuma sabedoria de inventar. Ela descrevia os tintins da paisagem, com senso e realidade. Aquele mundo a que o cego se habituara agora se desiluminava. Estrelinho perdia os brilhos da fantasia. Deixou de comer, deixou de pedir, deixou de queixar. Fraco, ele careceu que ela o amparasse já não apenas de mão mas de corpo inteiro. De cada vez, ela puxava o cego de encontro a si. Ele foi sentindo a redondura dos seios dela, a mão dele já não procurava só outra mão. Até que Estrelinho aceitou, enfim, o convite do desejo.

Nessa noite, por primeira vez, ele fez amor, embevencido. Num instante, regressaram as lições de Gigito. O pouco se fazia tudo e o instante transbordava eternidades. Sua cabeça andorinhava e ele guiava o coração como voo de morcego: por eco da paixão. Pela primeira vez, o cego sentiu sem aflição o sono chegar. E adormeceu enroscado nela, seu corpo imitando dedos solvidos em outra mão.

A meio da noite, porém, Infelizmina acordou, sobreassaltada. Tinha visto a garça branca, em seu sonho. O cego sentiu o baque, tivessem asas embatido no seu peito. Mas, fingiu sossego e serenou a moça. Infelizmina voltou ao leito, sonoitada.

De manhã chega a notícia: Gigito morrera. O mensageiro foi breve como deve um militar. A mensagem ficou, em infinita ressonância, como devem as feridas da guerra. Estranhou-se o seguinte: o cego reagiu sem choque, parecia ele já sabendo daquela perca. A moça, essa, deixou de falar, órfã de seu irmão. A partir dessa morte ela só tristonhava, definhada. E assim ficou, sem competência para reviver. Até que a ela se chegou o cego e lhe conduziu para a varanda da casa. Então iniciou de descrever o mundo, indo além dos vários firmamentos. Aos poucos foi despontando um sorriso: a menina se sarava da alma. Estrelinho miraginava terras e territórios. Sim, a moça, se concordava. Tinha sido em tais paisagens que ela dormira antes de ter nascido. Olhava aquele homem e pensava: ele esteve em meus braços antes da minha actual vida.

E quando já havia desenvencilhado da tristeza ela lhe arriscou de perguntar:

- Isso tudo, Estrelinho? Isso tudo existe aonde?

E o cego, em decisão de passo e estrada, lhe respondeu:

- Venha, eu vou-lhe mostrar o caminho!


*            *            *



In  "Estórias Abensonhadas"


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

O Pai Nosso (traduzido do aramaico)

Recebido da amiga Tel Mont, em 10 de dezembro 2014



O PAI NOSSO 
(traduzido do aramaico - língua que, supostamente, teria sido falada por Jesus)

Pai-Mãe, Respiração da Vida, Fonte do Som, Ação sem Palavras, Criador do Cosmos. 
Faça Vossa luz brilhar entre nós, fora de nós e que possamos nos tornar úteis.
Ajude-nos a seguir nossos caminhos, respirando apenas o sentimento que emana de Vós.

Una nosso "eu posso" com o Vosso, para que nós possamos caminhar como reis e rainhas com todas as criaturas.
Que o Vosso e o nosso desejo sejam um só, em toda luz assim como em todas as formas, em toda existência individual assim como em todas as comunidades.
Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós, pois assim sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.
Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo possa iludir-nos e nos liberte de tudo aquilo que impede nosso conhecimento.
Não nos deixe sermos tomados pelo esquecimento de que Vós sois o poder e a força viva do mundo, a canção que se renova de tempos em tempos e a tudo embeleza.
Possa o Vosso amor ser o solo onde cresçam nossas ações.
Amém. 
*        *        *
Do livro "Prayers of the Cosmos", de Neil Douglas-Klotz)