quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

WILLIAM SHAKESPEARE - Monólogo de Hamlet

Monólogo de Hamlet
William Shakespeare, 1564-1616, poeta e dramaturgo inglês

Ser ou não ser, eis a questão.
O que é mais nobre? Sofrer na alma
as flechas da fortuna ultrajante
ou pegar em armas contra um mar de dores
pondo-lhes um fim?

Morrer, dormir, nada mais;
e por via do sono por ponto final
aos males do coração e aos mil acidentes naturais
de que a carne é herdeira, num desenlace
devotadamente desejado.
Morrer! Dormir; dormir,
dormir, sonhar talvez:
mas aqui está o ponto de interrogação;
porque no sono da morte, que sonhos podem assaltar-nos
uma vez fora da confusão da vida?

É isso que nos obriga a refletir: é esse respeito
que nos faz suportar por tanto tempo uma vida de agruras.
Pois quem suportaria as chicotadas e o escárnio do tempo,
as injustiças do opressor, as afrontas dos orgulhosos,
a tortura do amor desprezado, as demoras da lei,
a insolência do oficial e os pontapés
que o paciente mérito recebe do incompetente
quando o próprio poderia gozar da quietude
dada pela ponta de um punhal?

Quem tais fardos suportaria
preferindo gemer e suar sob o peso de uma vida fatigante
a não ser pelo medo de algo depois da morte,
esse país desconhecido de cujos campos
nenhum viajante retornou, e que nos baralha a vontade
e nos faz suportar os males que temos
em vez de voar para o que não conhecemos?

Assim a consciência nos faz a todos covardes
e assim as cores nascentes da resolução
empalidecem perante o frouxo clarão do pensamento
e os planos de grande alcance e atualidade
por via desta perspectiva mudam de sentido
e saem do reino da ação.

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