quarta-feira, 9 de maio de 2012

UM EDITORIAL

Eternamente crianças
(Editorial Revista 'Viver bem '– outubro 2007)

Invista na qualidade do tempo que você dedica aos pequenos.

Os antigos eram sábios: faziam da cozinha o coração da casa. Era pela porta da cozinha que os amigos entravam (a da sala era reservada às “visitas”).
Em torno do fogão era que acontecia a vida.

As alegrias tinham um sabor especial, um perfume de temperos, uma consciência preciosa, e eram servidas em pratos fundos, generosos, sobre a ampla mesa sempre coberta por uma toalha branquíssima, imaculada. As tristezas viravam uma sopa suculenta, quente, que envolvia, acolhia, consolava.

Para as mães recentes se preparava uma canja “pedaçuda”, uma canjica fortalecedora. Para os pequenos, ah, para os pequenos, sempre havia a mãe ou uma avó ou uma tia, com um avental comprido, pronta, disposta, com a mão na panela, para preparar alguma delícia. Que variava entre pipoca (sentíamos o cheiro lá de fora), um pudim cremoso, gelatinas coloridas em copinhos, sorvetes no calor, chocolate quente no frio e sempre, sempre, uma fruteira coloridíssima, repleta de frutas, que pegávamos ao passar e saíamos comendo, um bolo fofíssimo que deixava a cozinha perfumada. Elas nos deixavam bater a massa e lamber a tigela. E conversavam, contavam histórias, nos davam atenção.

Difícil medir esse tempo em horas.

Minhas lembranças priorizam a qualidade. Da proximidade, do carinho expresso em tantas e tantas pequenas ações, do ficar junto para montar um quebra-cabeça, do acompanhar a lição de casa, do preparar uma cesta de piquenique para passar o dia no parque, na praia; dos perfumes que vinham da cozinha em época de festas.
Essa qualidade ficou. Marcou. Estruturou.

Criança é um livro em branco e nós ajudamos a preencher as páginas.
Que estas sejam da melhor qualidade.
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