segunda-feira, 12 de maio de 2014

Mães na Literatura - "Homo Literatus"

Da página "Homo Literatus"
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E o que dizer das grandes mães 
da literatura?
Vilto Reis - 11 de maio 2014

Como reflexo que é das relações humanas, a arte literária se alimenta de grandes personagens femininas, mulheres que através de palavras se tornam reais – ao menos para os leitores, que rapidamente as identificam com a mãe que tiveram.

Ainda sobre maternidade, é bacana ler o que Clarice Lispector falou ao Jornal do Brasil em 1967:

"Aliás uma pergunta que me fez: o que mais me importava – se a maternidade ou a literatura. O modo imediato de saber a resposta foi eu me perguntar: se tivesse de escolher uma delas, que escolheria? A resposta era simples: eu desistiria da literatura. Nem tem dúvida que como mãe sou mais importante do que como escritora."

Bom, como não temos que escolher entre uma e outra, montamos uma lista que une mães e literatura.
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Catelyn Stark – As crônicas de gelo e fogo, de George R.R. Martin
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Certamente a mãe que mais sofre na série de livros criada por George R.R. Martin – a Cersei também sofre, mas quem tem pena dela? 
Sem oferecer spoilers gratuitos, ser um Stark na série As crônicas de gelo e fogo é ser um sofredor. 
Catelyn precisa lidar com um filho bastardo do marido, com a separação de seus próprios filhos, com a perda do homem de sua vida e, ainda, com disputas políticas. É muito mais do que o coração de uma mãe pode aguentar, nem parece possível que ela sobreviva à trama sanguinária escrita por Martin. Mas é uma mãe por quem vale a torcida.
(por Vilto Reis)
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Molly Bloom – Ulysses, de James Joyce
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Molly no filme de 1967
Molly é a esposa infiel do famigerado Poldy Bloom em Ulysses. No entanto, quando peguei o calhamaço de Joyce e mergulhei nas 24 horas de Bloom, mais do que a infidelidade, me chamou a atenção o quanto Molly é mãe – em partes, até do próprio Bloom. 
A dor da perda de Rudy retumba entre o casal, que não consegue superar a ausência do filho. 
Na minha leitura, é até daí que sai toda a loucura da Molly e sua infidelidade: como substituir o filho morto? Como viver e ser feliz depois de perdê-lo? 
Por isso, é uma mãe pela qual tenho um carinho enorme, apesar (e talvez exatamente por causa) da verborragia.

(por Cecilia Garcia)
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Eva Katchadourian – Precisamos Falar sobre Kevin, de Lionel Shriver
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Tilda Swinton deu vida à Eva na adaptação da obra para o cinema.
Se ser mãe é padecer no paraíso, a vida de Eva após a maternidade está mais para inferno. 
A americana bem sucedida, dona de uma empresa de viagens, é casada com Frank, por quem é apaixonada, e quer levar uma vida de aventuras. 
Sua vontade de ter filhos é inversamente proporcional ao seu medo da criança que possa por no mundo. Medo justificado quando o psicopata Kevin se torna um desafio constante aos poucos instintos maternais de Eva. 
Frank não ajuda muito, preferindo bancar o papai bonzinho e bobalhão, e nem mesmo a vinda da segunda filha, a doce e acanhada Celia, consegue amenizar a situação. 
Kevin, com 16 anos, executa, então, seu ato final, realizando um massacre em sua escola, e é preso. 
Eva fica sozinha, relembrando o passado, remoendo a culpa, entrando em contato com seu mundo íntimo, tentando entender o que aconteceu e estabelecer, ainda que tardiamente, seu grau de conexão com o filho assassino. 
Um ótimo exemplo de relacionamento doentio entre mãe e filho, com graves consequências.

(por Nicole Ayres)
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Dona Sebatiana – Terra Vermelha, de Domingos Pellegrini
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Ela acha o nome feio, então fica só Tiana. É a mulher central de Terra Vermelha, romance de Domingos Pellegrini. 
No início da história já sabemos como ela segura a família: o marido se quebra de emprego a outro e ela nada exige, reponde por seus poeminhas “está escrito no rosto quem trabalha porque precisa e quem trabalha por gosto”
Quando a família começa a crescer, não há queixa da dupla jornada. Depois tripla, quando ela e o marido abrem a pensão. 
Ela é quem convive mais de perto com os moradores da Londrina em construção na metade do século XX, período da história do livro, de nativos e estrangeiros aprendendo a andar com os pés na terra. 
O marido apronta das feias e a trai, e ela o expulsa no grito e leva meses para o perdoar – apenas por um risco de morte dele noutra cidade. 
Além de força, Dona Tiana é amor. Em um capítulo o marido diz ter se apaixonado de novo por ela, e ouve dela “eu nunca desapaixonei”.

(por Walter Alfredo Voigt Bach)
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Ana – conto Amor, de Clarice Lispector, em Laços de Família
Clarice Lispector - Laço de Família

Ana é uma dona de casa que sente orgulho pela escolha que fez e pelo papel que se sucumbira dentro do mundo sistematizado. Aliás, o mundo sistematizado de Ana restringe-se ao papel de mãe, esposa e dona de casa. 
A rotina diária que a torna responsável de um lar, onde ela limpa, passa, cozinha e cuida dos filhos e do marido – esta é a sua essência de mulher. Ana nascera para isso. 
E também porque no fundo ela sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas, como é suscitado no texto de Clarice. 
Porém, durante uma tarde, enquanto voltava de bonde para casa, após fazer compras, seu mundo domesticado dilacera-se ao encontrar um cego mascando chiclete na calçada da rua. 
“E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível… O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas na rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão – e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.” 
Em seguida, a personagem clariceana acaba seguindo desorientada até o jardim botânico, onde obtém uma nova epifania – sendo este um dos momentos mais promissores desta curta narrativa. 

Resumindo, esta é a estória de uma dona de casa que (re) descobre uma nova realidade fora de sua zona de conforto, volvida pela alienação.

(por Márwio Câmara)
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Sra. Bennet – Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
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Sra. Bennet em uma das adaptações para o cinema do clássico de Jane Austen.

Afinal seria muito romântico falar apenas de mães “boazinhas” da literatura. 
A Sra. Bennet é o tipo de mãe que nenhuma filha, principalmente se você vivesse na era vitoriana, gostaria de ter. 
Além de orgulhosa, fofoqueira e dramática, a Sra. Bennet acaba prejudicando a imagem angelical de sua filha Jane, e da astuta Elizabeth, ao dar mostras de sua personalidade. Pois qual rapaz gostaria de entrar numa família com tal sogra?
Mesmo assim, a Sra. Bennet, na forma como é descrita por Jane Austen, é uma personagem que chama a atenção. 
Com certeza, ao ler Orgulho e Preconceito, você notará as características desta mulher e se lembrará de alguém que conhece.

(por Vilto Reis)
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Sinhá Vitória – Vidas Secas, de Graciliano Ramos
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Adaptação para o cinema -  Nelson Pereira dos Santos

É a principal personagem a representar a saga da mulher sertaneja e retirante na literatura brasileira. Através de seu olhar, de suas falas e de sua indignação existe a denúncia contra a degradação humana, que permeia todo o romance. 
Ela é apresentada como uma mulher forte, carrega mais peso e é quem toma as iniciativas. 
É a personagem que mais fala, inclusive reclama da situação de sua família; a retirante fala, descrente, que nunca chegarão a lugar algum, mas indica o melhor caminho a seguir. 
Também é quem distribui a pouca comida à família e, infelizmente, é ela que mata o papagaio de estimação para que não morram de fome. 
Sinha Vitória é uma grande mãe, até mesmo para o marido, pois suas atividades estão relacionadas a ajudar na sobrevivência de todos, é ela quem cuida de quase tudo: cuida dos meninos e do marido, arruma suas roupas, toma conta do dinheiro, faz as contas para o ajuste com o patrão e diz o que fazer com o dinheiro. 
Além de tudo isso, dá proteção psicológica à família nas situações mais difíceis. 
Uma grande mãe e uma mulher simples, seus sonhos são, basicamente, uma vida melhor para sua família, um par de sapatos de verniz e uma cama de couro.

(por Estela Santos)
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Molly Weasley – Harry Potter, de J. K. Rowling
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Molly  - adaptação para o cinema.

Seria imperdoável falar das mães e não citar a valorosa Molly Weasley, da série Harry Potter. 
Mãe de sete filhos: Gui, Carlinhos, Percy, os gêmeos Fred e Jorge, Rony e Gina, além do grande amor que nutre pela sua prole, Molly ainda abre o seu coração a todos que necessitam de um lar. Um exemplo mais do que óbvio: Harry Potter. 
É Molly quem o ajuda a comprar materiais escolares e uniformes, é ela quem manda presentes de Natal ou prepara um delicioso jantar. Certamente, Lilian Potter estava com o coração tranquilo ao ver a dedicação para com seu pequeno Harry. 
Sempre protegendo e mimando os filhos (no bom sentido), a sra.Weasley, além de mãezona, é uma grande mulher: membro da Ordem da Fênix, lutou bravamente contra o Lord das Trevas e revelou um lado até então desconhecido quando tentaram matar sua filha. 
Decididamente, Molly é uma Mãe com M maiúsculo.

(por Sté Spengler)
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