quinta-feira, 10 de novembro de 2011

PARA PENSAR...

Tela de Salvador Dali
A arte como meio de conhecimento (excertos)
Cunha de Leiradella
Portugal, 1934 (radicado no Brasil)

(...) Andamos mais rápido, comemos mais rápido, dormimos mais rápido e calculamos tudo com maior velocidade. Conseguimos até bilionezimar o tempo de cada dia. Mas, na euforia velocista, tudo destruímos na razão direta da velocidade dos nossos cálculos.

(...)  Fissuramos o átomo e geramos seres humanos em provetas, e os clones já estão sendo produzidos. Mas, ao socrático primeiro, conhece-te a ti mesmo, nada acrescentamos.

(...) No estágio em que se encontra a Humanidade, os ônibus espaciais, cada vez, mais avançando pelo Cosmo, e o ser humano, cada vez, mais se ilhando dentro de si mesmo, um só fator nos iguala: a nossa angústia. Não importa que os ricos fiquem, cada vez, mais ricos e os pobres fiquem, cada vez, mais pobres. As vidas de todos nós dependem só de um botão. Que alguém, algum dia, apertará. E em nome da paz.

(...) Apesar das nossas descobertas, apesar de tudo que fazemos, e, principalmente, apesar de tudo que afirmamos, continuamos como éramos. Os que sobrarem da próxima explosão nuclear morrerão do mesmo modo que morria o nosso bisavô das cavernas. Só que muito mais angustiados e mais sós. Apavorados por terem carregado dentro de si, a vida inteira, o seu medo, a sua angústia e a sua solidão. Na era do bilionésimo de segundo o meu próximo não existe. Não há tempo de encontrá-lo.

(...) É impossível unificar o mundo se o homem não for unificado. Mas, para unificar o homem, há que fazer dele um ser-sem-medo. E a única forma de fazer do homem um ser-sem-medo é dar-lhe consciência. A consciência do homem é o seu conhecimento. O que ele conhece ele não teme.
Os meios de comunicação tornaram o mundo tão pequeno que os homens estão na porta de todas as casas e conhecem todos os moradores. Daí, o medo da exposição, a necessidade fóbica do ilhamento. Mas se o homem, cada vez, mais medo tem de se expor e mais se ilha, como fazer dele um ser-sem-medo?

(...) Com os engenhos nucleares já em contagem regressiva e os clones humanóides já em fase de produção, não importa mais que o ato de fazer ARTE seja um ato individual ou um ato social. Ele terá que ser um ato de conhecimento ou será um ato inócuo. Ou o homem dá as suas próprias respostas, ou chegará o dia em que não saberá nem mais fazer perguntas.
Mas, para que isso aconteça, para que a ARTE seja um meio de conhecimento, o homem tem que assumir a sua individualidade. A sua integridade. Posicionar-se concretamente perante a realidade que o cerca e questionar o seu estado. Entretanto, para que o homem possa posicionar-se concretamente perante a realidade que o cerca e questionar o seu estado, tem, antes de tudo, de posicionar-se concretamente perante si mesmo e questionar o seu estar-no-mundo. Assumir a sua essência.
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Pois é, eu estava lendo esse ensaio e fiquei pensando no poema de Drummond - 'Mãos dadas' - e me lembrando dos versos 'o tempo é a minha matéria / o tempo presente / os homens presentes / a vida presente.' 
Nesta perspectiva, Arte não é devaneio, alienação ou entretenimento apenas. Precisa provocar a busca do conhecimento. E os grandes artistas sabem disso.

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