segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

JORGE LUÍS BORGES

Jorge Luís Borges

Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Argentina,Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Suíça, Genebra, 14 de junho de 1986)
escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.
O grande escritor ficou cego, mas enxergava o mundo pelas palavras. Uma doença genética e progressiva foi tirando-lhe a visão e isso o incentivava a ler e a ver tudo em menos tempo.
Foi diretor da Biblioteca Nacional de Buenos Aires.

Dominava a língua inglesa e também o francês, por ter sido educado em Genebra, Suíça. Sua obra expressa universalismo, variedade e excentricidade.
Aprendeu alemão sozinho e gostava de ler o filósofo Shopenhauer.
Segundo escritores e críticos contemporâneos era capaz de colocar um universo dentro da caixa de fósforo pela simplicidade e objetividade como escrevia em seus textos.

“Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção”(Jorge Luís Borges)

O menino Borges decidiu a certa altura ser escritor. Aos oito anos de idade, escreveu seu primeiro conto: La visera fatal.
(...)
Traduziu aos nove anos O Príncipe Feliz, de Oscar Wilde, que foi publicado no jornal “El País”, de Buenos Aires.
(...)
Quase oitenta anos mais tarde, mesmo cego, velho, encurvado sob o peso da idade e sob o signo da descrença, ainda prosseguia ditando palavras.

Falava da solidão como de uma aliada às avessas de sua criação, espécie de segunda companheira, sombra sempre em volta dos livros acumulados sobre a mesa, empilhados nas estantes: “Passo boa parte do meu tempo só, conheço poucas pessoas. Então fico planejando poemas, narrações..."

A consagração de Borges só veio em 1935, depois da publicação de seu primeiro livro de contos História Universal da Infância.
O universo fantástico de suas narrativas viria a ser inaugurado mais tarde, a partir do volume Ficções, alcançando o ápice em O Aleph. Para Borges, esses dois livros eram sua bibliografia.

"Na infância pratiquei com fervor a adoração ao tigre; não o tigre cor de pêssego dos camalotes do Paraná e da confusão amazônica, mas o tigre rajado, asiático, real, que só pode ser enfrentado pelos homens de guerra, encastelados sobre um elefante. Costumava demorar-me infindavelmente diante de uma das jaulas no Zoológico; apreciava as vastas enciclopédias e os livros de história natural pelo esplendor dos seus tigres. (Lembro-me ainda dessas figuras: eu que não posso recordar sem horror o rosto ou sorriso de uma mulher). A infância passou, caducaram os tigres, e a paixão por eles, mas eles ainda permanecem em meus sonhos. Nessa lembrança submersa ou caótica, continuam a prevalecer, e assim: adormecido, um sonho qualquer distrai-me e eu sei de imediato que é um sonho. Costumo então pensar: Este é um sonho, uma pura diversão de minha vontade e, já que tenho um poder ilimitado, vou produzir um tigre."
"Oh incompetência! Meus sonhos nunca sabem engendrar a apetecida fera. Aparece o tigre, isso sim, mas dissecado e débil, ou com impuras variações de forma, ou bastante fugaz, ou tirante a cão e a pássaro." (Jorge Luís Borges)


HINO

Esta manhã
há no ar a incrível fragrância
das rosas do Paraíso.
Nas margens do Eufrates
Adão descobre a frescura da água.
Uma chuva de ouro cai do céu;
é o amor de Zeus.
Salta do mar um peixe
e um homem de Arigento recordará
ter sido esse peixe.

Na caverna cujo nome será Altamira
uma mão sem cara traça a curva
de um lombo de bisonte.
A lenta mão de Virgílio acaricia
a seda que trouxeram
do reino do Imperador Amarelo
as caravanas e as naves.

O primeiro rouxinol canta na Hungria.
Jesus vê na moeda o perfil de César.
Pitágoras revela a seus gregos
que a forma do tempo é a do círculo.
Numa ilha do Oceano
os cães de prata perseguem os cervos
de outro.

Numa bigorna forjam a espada
que será fiel a Sigurd.
Whitman canta em Manhattan.
Homero nasce em sete cidades.
Uma donzela acaba de aprisionar
o unicórnio branco.
Todo o passado volta como uma onda
e essas antigas coisas recorrem
porque a mulher te beijou.
     
(Jorge Luís Borges)

O escritor argentino morreu como um dos monstros sagrados da literatura universal.
Deixou uma obra incomparável em língua espanhola, sobretudo pela capacidade inventiva e pelo poder de suas metáforas de transcendência filosófica.

Nos seus últimos anos de vida, viajou incansavelmente pelo mundo com a esposa, Maria Kodama, ex-aluna e secretária particular. Passava no máximo dois ou três dias em cada lugar, não dando muita importância nem para a cegueira nem para a velhice.


Mas houve um tempo de tamanha angústia em que ansiara pela morte, e com tal sofreguidão que a certa altura afirmou que morrer para ele era a última esperança.

“Aqui sob os epitáfios e as cruzes não há quase nada. Aqui não estarei eu. Estarão meu cabelo e minhas unhas, que não saberão que o resto morreu, e seguirão crescendo e serão pó” (Jorge Luís Borges)

Sempre que a ele se referiam como um dos últimos sábios sobre a terra, dizia: “Não, não tenho nenhuma sabedoria. Na verdade li muito pouco, e escrevi alguns livros, somente”.

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