quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

LER - Opiniões

Ler e aprender a Viver

"Ler não é mera decifração de letras e de palavras. Não é uma operação mecânica.
Por meio da leitura seres humanos podem se encontrar, podem assimilar algo das experiências dos outros. 
Minha experiência pessoal me ensinou que jamais aprenderei a ler tão bem quanto necessitaria.  O aprendizado da leitura não cessa jamais.  Quem lê poesia, crônicas, romances, peças de teatro, ensaios, de fato está lendo a vida.
Aprender a ler então, é como aprender a viver: não termina nunca."
(Leandro Konder, in: As artes da palavra", Boitempo, 2005)
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“Ler não é só adquirir conhecimento ou experiência de vida. É também a possibilidade de ter outra vida, de viver o imaginário. E não é só o escritor que tem isso. O leitor também tem. Ele é um cara que vive dupla ou triplamente”.
A literatura é um ato de prazer, que não deve ter segundas intenções. Ela dá aos leitores um espaço muito maior.
Se você está lendo um livro, se vê obrigado a criar junto com ele — algo que, na televisão, não existe. Na TV, você pega as coisas mais mastigadas, uma torrente de anúncios e de segundos interesses. É muito ruído.” 
(Sérgio Sant’Anna)

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“É inegável que a literatura tem uma função, assim como todas as artes têm. O primeiro cuidado a ser tomado, se a gente fala da função da literatura, é não fazer uma divisão entre produtor e consumidor. Ou seja, não fazer distinção entre escritor e leitor. Acho que a literatura tem a mesma função para ambos. Não existe um escritor que não seja leitor. Todo leitor é, por sua vez, um produtor de texto. Nós, escritores, escrevemos em uma folha de papel ou na máquina ou no computador, enquanto o leitor escreve naquilo a que os jesuítas chamavam de ‘folha de papel em branco da mente’ .
O processo de leitura é um exercício de alteridade. É você entrar em um determinado mundo que não é o seu, no qual se entra muitas vezes por um processo de surpresa. Você não esperava aquilo de maneira alguma e, de repente, entra e se encanta com aquele mundo. Quanto mais se entra naquele mundo, mais se apropria dele, mais torna aquele mundo você mesmo.
O leitor sensível, inteligente, sempre conseguirá ver as relações estreitas entre aquilo que está lendo e a possibilidade de transformação, seja da realidade imediata, a realidade do mundo, seja ainda e, sobretudo, de si próprio.”
(Silviano Santiago)
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"Acho que ler um livro é importante para você não estar aqui nem agora. Para você não ser você por um tempo. Para você ser os outros e habitar outros lugares durante o tempo em que estiver lendo. E, quando você voltar ao aqui e ao agora, a você mesmo, voltará com os olhos muito mais aguçados.
Eu saio de um livro sempre muito comovida, ou tocada, ou agressiva. Sempre me transformo de alguma maneira.
Fala-se muito que temos uma grande afeição ao caos, que o mundo é informe e que a arte daria forma às coisas. Na verdade, temos pânico do caos. Nós não conseguiríamos viver sem alguma ordem na nossa história. E o que a literatura faz é desordenar um pouco isso, mostrar outras maneiras de organizar nossa vida.
Por que é importante ler? No nono e último círculo do Inferno, de A Divina Comédia, estão os traidores de seus hóspedes. Dante conta que eles estão perpetuamente imersos no gelo apenas com a cabeça de fora e os rostos voltados para cima, impedidos de continuarem a chorar, pois as lágrimas do ‘primeiro pranto, qual viseira de cristal’, congelam-se depois de inundar ‘do olho a cava inteira’.
Fiquei pensando se a literatura também não é a possibilidade de abaixar o rosto e chorar de olhos fechados. Desprender-se de uma só dor e poder chorar, inclusive, a dor de muitos outros”.
(Beatriz Bracher)
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“Não ler, em muitos casos, é sintoma de preguiça e falta de condicionamento. Um mal prosaico. Muita gente não lê por levar uma espécie de vida mental sedentária. Aceitam que sua fome tão humana de fabulação seja alimentada pela TV ou pelos blockbusters e, com isso, apenas engordam sua passividade.
Digo, de cara, que quem não lê perde a chance de se mostrar ativo em relação ao seu mundo e ao seu tempo. Perde vitalidade. Perde uma ótima oportunidade de se treinar para uma vida mais rica e, quem sabe, feliz”.
(Luís Henrique Pellanda)
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"Eu continuo brincando de não ser cego, continuo comprando livros, continuo enchendo minha casa de livros.  Outro dia me deram de presente uma edição de 1966 da enciclopédia de Brokhause.  Eu senti a presença desse livro em minha casa, eu a senti como uma espécie de felicidade.  Ali estavam os vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com os mapas e gravuras que não posso ver; e, no entanto, o livro estava ali.  Eu sentia como uma gravitação amistosa do livro.  Penso que o livro é uma das formas possíveis de felicidade que os homens possuem" 
(Jorge Luís Borges)
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2 comentários:

  1. Maravilhoso! O que dizer mais? Ler é bom demais.

    Beijos :)

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  2. Obrigada por comentar, minha amiga.
    Acredito que os problemas técnicos do blog estejam se resolvendo.
    Tenho visitado sempre seus blogs e aprendido muito.
    Um ótimo 2012 para você.
    Bj

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