domingo, 30 de junho de 2013

HAIKAI - Guilherme de Almeida

Haikai  é uma forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha

Segundo Goga (1988), o primeiro autor brasileiro de Haicai foi Afrânio Peixoto, em 1919, através de seu livro Trovas Populares Brasileiras, onde prefaciou suas impressões a respeito do poema japonês:
“Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico.
São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos... de encanto intraduzível”

Quem o popularizou, porém, foi Guilherme de Almeida, com sua própria interpretação da rígida estrutura de métrica, rimas e título.
No esquema proposto por Almeida, o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso possui uma rima interna (A 2ª sílaba rima com a 7ª sílaba). A forma de haikai de Guilherme de Almeida ainda tem muitos praticantes no Brasil.

Outra corrente do haikai brasileiro é a tradicionalista, promovida inicialmente por imigrantes ou descendentes de imigrantes japoneses, como H. Masuda Goga e Teruko Oda.
Esta corrente define haikai como um poema escrito em linguagem simples, sem rima, estruturado em três versos que somem dezessete sílabas poéticas; cinco sílabas no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. Além disso, o haikai tradicional deve conter sempre uma kigo. Estas são palavras ou frases, utilizadas na poesia japonesa, que têm uma associação com uma estação do ano. (Ex.: "sakura", "flor de cerejeira", é associada à Primavera).

Prefiro a forma de Guilherme de Almeida,  com rimas do 1º e 3º versos e rima interna no 2º, embora existam kaicais bem feitos que não seguem esse esquema rígido.


CARIDADE

Desfolha-se a rosa
parece até que floresce
o chão cor-de-rosa.


AQUELE DIA

Borboleta anil
que um louro alfinete de ouro
espeta em Abril



JANEIRO

Jasmineiro em flor.
Ciranda o luar na varanda.
Cheiro de calor.



 PASSADO

Esse olhar ferido,
tão contra a flor que ele encontra
no livro já lido!


 
TRISTEZA

Por que estás assim,
violeta? Que borboleta
morreu no jardim?

Guilherme Andrade de Almeida 
(Campinas, 24 de julho de 1890 — S.Paulo, 11 de julho de 1969) 
 advogado, jornalista, crítico de cinema, poeta, ensaísta e tradutor brasileiro 

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