Para parar com o para - Folha UOL 06/05/2011
Marcelo Coelho
O fotógrafo Mario Rui Feliciani busca adeptos para uma causa que apoio totalmente. Ele acha que não se pode abolir o acento diferencial na palavra "pára", do verbo parar.
O acordo ortográfico decretou que temos de escrever "para" quando notamos ou pedimos a interrupção de qualquer coisa. Toda hora a falta de acento atrapalha a leitura da gente quando topamos com uma manchete de jornal.
"Acidente no túnel para o Rio de Janeiro", é o exemplo que ele dá.
Segue o texto completo de seu manifesto.
" Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) eliminou o acento agudo do verbo “parar” na terceira pessoa do singular, do presente do indicativo; e na segunda pessoa do singular, do imperativo afirmativo.
Pedimos a revisão da reforma e a manutenção desse acento diferencial, pois sua eliminação já está trazendo graves consequências para a língua.
As duas formas verbais “pára” e a preposição “para” são palavras de uso muito corrente e, se de idênticas as grafias, serão freqüentes as interpretações dúbias, tais como no exemplo abaixo, extraído de noticiário:
“Acidente em túnel para o Rio de Janeiro”
Nesse exemplo, ausente a diferenciação do acento, é impossível para o leitor saber se houve um acidente grave que prejudicou todo o trânsito da cidade ou se apenas ocorreu um acidente normal em um túnel que serve de acesso à cidade.
A se manter dubiedade tão flagrante, serão duas as implicações, igualmente desastrosas: as más interpretações, como descrito acima; e a escravização dos escritores mais cuidadosos, que sacrificarão o estilo de suas frases, alterando-as para evitar o mal-entendido.
Além disso, é notório que a forma verbal acentuada condiz com a ênfase que o povo brasileiro empresta à ordem de parar, seja ela ríspida ou carinhosa.
O brasileiro diz “pára!”. Usa, coloquialmente e com força, a segunda pessoa do singular do imperativo do verbo “parar”, mesmo nas frases construídas com o pronome de tratamento “você”. Esse uso, inexato do ponto de vista gramatical mais rigoroso, já se consolidou como forma afetuosa de nossa comunicação.
Os pais ralham com carinho diante das travessuras de seus filhos com um “pára” enfático. As namoradas se opõem aos avanços afoitos dos namorados com a mesma palavra ameaçadora, acentuada, acompanhada de sorriso.
Entendemos, em resumo, que as regras gramaticais generalizadoras não devem ser usadas com rigor, quando isso implica prejuízos de clareza e exatidão; ou quando desrespeita traços culturais acumulados durante muitos anos de uso da língua por todo o povo, seu verdadeiro dono.
Por tudo o que se disse, pleiteamos a revisão da reforma gramatical e a manutenção do acento diferencial nas formas citadas do verbo parar."
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