terça-feira, 19 de julho de 2011

HISTÓRIA PEQUENA


Uma voz longínqua ficava  repetindo, repetindo: "Na vida, é preciso sorte..."
Mas o que era "sorte"?
Saúde, família bonita, trabalho compensador, mediana inteligência, amor correspondido, patrimônio razoável, vida tranquila -  as dádivas...às vezes com, às vezes sem merecimento. Às vezes tudo junto, às vezes um pouco de cada.
A vida seguindo seu curso. A história particular sendo criada com a indiferença e a falta de atenção características de quem aceita e por isso tem sorte.
Ali estava o segredo: aceitação.
Questionamento? Invenção de intelectual mal resolvido às voltas com perguntas filosóficas irrespondíveis.
Análises, pesquisas?  Diagnósticos não trazem a cura. Cura de quê? Nada havia a ser sanado.
A vida com pressa.
Compressa.
Compressão, sabe como é... vai apertando, vai apertando. A voz alertando para a necessidade da sorte.
Assim, de tanto ouvir, resolveu sair e procurar saúde, família bonita, trabalho compensador, mediana inteligência, amor correspondido, patrimônio razoável, vida tranquila.
Teve sorte.
Doente, sem família, sem trabalho, alucinado por um amor corrosivo, sem posses e sem sossego, não aceitou. Questionou, analisou, pesquisou, filosofou, compreendeu.
A vida se inflamou.

Sueli
Itatiaia, julho 2011
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