quarta-feira, 6 de agosto de 2014

MIGUEL TORGA - Nascer todas as manhãs

Tela de Leonid Afremov
Nascer Todas as Manhãs
Miguel Torga

Apesar da idade, não me acostumar à vida. 
Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. 
Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição.

Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento.

Esquecer em cada poente o do dia anterior. 
Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória.

Nascer todas as manhãs.

*        *        *
In "Diário (1982)"

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