terça-feira, 31 de maio de 2011

CHARLES AZNAVOUR - Hier Encore



Composição : Paroles et Musique: Charles Aznavour


Hier encore, j'avais vingt ans
Je carresais le temps et jouais de la vie
Comme on joue de l'amour
Et je vivais la nuit
Sans compter sur mes jours qui fuyaient dans le temps
J'ai fait tant de projet qui sont restés en l'air
J'ai fondé tant d'espoirs qui se sont envolés
Que je reste perdu ne sachant ou aller
Les yeux cherchant le ciel mais le coeur mis en terre


Hier encore j'avais vingt ans
Je gaspillais le temps en croyant l'arreter
et pour le retenir, même le devancer
Je n'ai fait que courrir et me suis essoufler
Ignorant le passé, conjuguant au futur
Je precedais de moi toute conversation
et donnais mon avis que je pensais le bon
Pour critiquer le monde avec désinvolture


Hier encore j'avais vingt ans
Mais j'ai perdu mon temps a faire des folies
Qui ne me laissent au fond rien de vraiment precis
Que quelques rides au front et la peur de l'ennui
Car mes amours sont mortes avant que d'exister
Mes amis sont parti et ne reviendront pas
Par ma faute j'ai fait le vide autour de moi
Et j'ai gaché ma vie et mes jeunes années
Du meilleur et du pire en jettant le meilleur
J'ai figé mes sourirs et j'ai glacé mes peurs
Ou sont-ils a present, a present mes vingts ans?
------------------------------------------------------------

A música seguinte - Non, je n'oublié rien - é também muito bonita, mas não tenho a letra.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

CONSIDERAÇÕES


“Há perdas que nos movem,
Há ganhos que nos paralisam.

Mas nem todo movimento é bom,
e nem tudo o que paralisa é ruim.

Há andança que dá em abismo,
Há olho parado que dá em beijo.

Ah, também existe abismo
que abre paisagem,

Há beijo que fecha vontade,
Há aperreio que salva,

Há acerto que desvia,
E há desvio que dá rumo.”

(Adaptado de uma crônica de Márcio Vassallo, no caderno "Prosa & Verso" de O Globo)

Márcio Vassallo nasceu no Rio de Janeiro, no dia 18 de dezembro de 1967. Jornalista e escritor, é autor de A Princesa Tiana e o Sapo Gazé, O Príncipe sem Sonhos (editora Brinque-Book), O Menino da Chuva no Cabelo, Valentina e A Fada Afilhada (Global) e de Mario Quintana, primeira biografia do poeta gaúcho, publicada pela editora Moderna, dentro da coleção Mestres da Literatura.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

LA MER - Charles Trénet



Dizem que existem mais de 400 versões desta canção.
Neste vídeo, quem canta é seu compositor, Charles Trénet, falecido em 18 de fevereiro de 2001.

La mer
Qu'on voit danser
le long des golfes clairs
A des reflets d'argent
La mer
Des reflets changeants
Sous la pluie

La mer
Au ciel d'été
confond
Ses blancs moutons
Avec les anges si purs
La mer
bergère d'azur
Infinie

Voyez
Près des étangs
Ces grands roseaux mouillés

Voyez
Ces oiseaux blancs
Et ces maisons rouillées

La mer
Les a bercés
Le long des golfes clairs
Et d'une chanson d'amour
La mer
A bercé mon coeur
pour la vie
----------------------------------

segunda-feira, 23 de maio de 2011

CECÍLIA MEIRELES - Canção do amor perfeito


Canção do Amor Perfeito
Cecília Meireles

O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.

O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.

O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.

Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.

*    *    *

domingo, 22 de maio de 2011

DESCOBERTAS...

Agradavelmente surpresa, assim fiquei ao me deparar com "Gazeta de Holanda", parte da obra de Machado de Assis que eu desconhecia. São Crônicas em Versos, retratando, evidentemente, os acontecimentos interessantes ou engraçados de seu tempo.
É de conhecimento público - e põe conhecimento nisso - que adoro um "xiste", como diria Machado. Aliás, esse temperamento me tem causado algum desconforto. Muitos pensam que sou "debochada" - 'que que é isso, companheiro?' - ou "irreverente", para ser mais suave. Que nada! Tento é levar menos a sério algumas coisas que a vida nos apresenta; frequentemente essas coisas tem o seu quê de ridículo, ou risível -  aliás, como quase todas as coisas (que construção péssima! O "como" aí não é verbo, não, faz favor!).
Mas, voltando ao 'achado de Machado', não resisti e transcrevo uma de suas crônicas.

N.° 32 -  18 DE OUTUBRO DE 1887
                     Voilà ce que l'on dit de moi
                     Dans la “Gazette de Hollande”.


Tudo foge; fogem autos,
Fogem onças, foge tudo.
Ó guardas moles e incautos!
Ó corações de veludo!

Uma onça, que vivia
Em casa de uma senhora,
Viu aberta a porta um dia
Da gaiola, e foi-se embora.

Na roça? Não; na cidade.
Que cidade? É boa! a tua.
Dou mais esta claridade:
Era na rua... na rua...

Rua da América... Pronto!
Mas, se não leste a notícia,
Cuidarás que é isto um conto,
É talvez conto e malícia.

Não, amigo. Era uma onça,
Tinha aos três anos chegado;
Vivia discreta e sonsa
Em casa, num gradeado.

Vai senão quando, — um descuido —
Deixaram-lhe aberta a porta,
E a onça sentiu um fluido
Que não sente onça já morta.

Sentiu passar-lhe no lombo
O fluido da liberdade,
E, ligeira como um pombo,
Deixou a casa da grade.

Nenhum liberal, que o seja
Como deve, achará livro
De tantos da sua igreja
Que condene este carniv’ro.

Pois se foge o papagaio,
O macaco, a patativa,
Seja outubro, seja maio,
Tenha ou não tenha mãe viva,

Que muito é lá que uma nobre
Onça das brasílias matas,
Logo que possa, recobre
O uso das sua patas?

Lá por viver entre gente
E canapés delicados,
Não acho suficiente
Para condená-la a brados.

Certo é que fugiu. Bem perto,
Duas casas logo abaixo,
Achou como que um deserto,
E resolveu:”Lá me encaixo”.

Era casa em obras. Passa
Todo o sábado e domingo,
Sem comer sombra de caça,
Sem beber de sangue um pingo.

Na segunda-feira, cedo
Sobe ali um operário,
Despido de qualquer medo:
Vai ganhar o seu salário.

Casualmente (bendito
Seja Deus!) o desgraçado
Vê o olhar da onça fito
De dentro de um tabuado.

Foge; muita gente acode
Armada, e com laço e rede,
A ver se apanhá-la pode;
Ela, com fome e com sede,

Fere o pé a um bom valente,
Mas é já laçada, e morre
Á faca da demais gente,
Que ali bravamente corre.

E porque não era grave
A ferida recebida,
Fechou-se com dura chave
A história, e mais a ferida.

E disse alguém, que não erra
Ocasião de uma vasa:
— “Que há mais natural na terra
Que criar onças em casa?

“Quando muito, demos graças
Aos deuses, que esta podia
Matar duas ou três praças,
E toda uma inspetoria.

“Não há onças espanholas?
Não há onças desgraçadas
Estas não rugem nas solas
Das botas acalcanhadas?

“Virá tempo em que não ande
Pessoa que se respeite
Sem uma onça já grande,
Ou, pelo menos, de leite.

“Que toda a senhora fina,
De passeio ou de passagem,
Tenha uma onça menina
Ao lado, na carruagem.

“Que algumas fujam, que trinquem
O pé a qualquer pessoa,
Ou por mal, ou porque brinquem
Pode acontecer, é boa!

“Mas quem já viu neste mundo
Progresso sem sacrifício?
Sangue que corre é fecundo,
E há virtude que foi vício.

“Cavalo que anda direito
Já foi bravio e inquieto,
Onça que morde um sujeito,
Talvez não lhe morda o neto.

“Vamos, pois, encomendemos
Onças, muitas onçazinhas,
E nos quintais as criemos,
Como se criam galinhas”.

In: Obra Completa de Machado de Assis, Edições Jackson, Rio de Janeiro, 1937.
Publicado originalmente na Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, de 01/11/1886 a 24/02/1888.
------------------------------------
Não é maravilhoso? Pois é... mas do jeito que as coisas caminham em termos de Educação, acredito que todo esse legado de boa escrita e humor fino deixará de ser compreendido pelas gerações futuras, o que é uma pena.

Atualmente, o humor tem que ser explícito - daí o sucesso dos cartoons; precisa ter desenho - pois ainda assim a maioria não entende e até faz cara de desprezo quando quem entende se diverte. Total inversão.
Bom, os tempos mudam, não é? Tá certo, "o novo sempre vem" mas que seja um novo melhor.
* * *

 Agora, vejam a notícia de um caso recente, ocorrido em Mato Grosso do Sul:
 

PROCURA-SE UMA ONÇA - Passados mais de 15 dias, nem mesmo os sofisticados equipamentos usados em operações noturnas foram capazes de localizar o FILHOTE DE ONÇA PINTADA que fugiu do Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres). O comandante da PMA (Polícia Militar Ambiental), major Carlos Sebastião Matoso Braga, revela que os trabalhos não foram paralisados e a busca pela fugitiva, continua. A  PMA conta com a ajuda de 2 binóculos e uma câmera filmadora com sensor de calor, para ajudar na ação noturna. Os técnicos acreditavam que, como o animal tem hábitos noturnos, talvez pudesse ser mais fácil a localização durante a noite, caso ele esteja ainda dentro da mata na área de conservação do Parque do Prosa, no Parque dos Poderes, em Campo Grande. Só para recordar, a oncinha pintada filhote escapou do Cras na manhã do dia 29 de outubro. O espaço é cercado e o fracasso nas buscas não tem explicação. É uma zona habitada e local de práticas desportivas pela população. A polícia afirma que está tudo sob controle mas se esquece que no CRAS estão vivendo mais de 12 onças (pardas e pintadas) adultas. Pergunta-se: E se uma adulta escapar? Resposta: É quase certo que alguém vai virar picadinho para matar a fome do felino. Como diz a propaganda: Rema capitão, rema…

Fonte: buchara.zip.net
----------------------------------------------------------

PROTESTO... MAIS UM

blog Ancelmo.com de Ancelmo Góis, Jornal O Globo 22-05-2011


O sambista e os mano



Funk do Haddad


Nada contra a turma do funk, que canta versos como "os mano" ou "nóis, com os alemão, vamo se diverti". Mas nessa polêmica do livro distribuído pelo MEC que defende o uso da linguagem popular, mesmo com erro, um bamba do samba carioca se lembrou de Cartola, que só estudou até o primário e caprichava no português em suas letras.

Cartola, em português correto, escreveu: "As rosas não falam./Simplesmente as rosas exalam/o perfume que roubam de ti." Um recado do grande sambista fundador da Mangueira para o ministro Fernando Haddad, da Educação, talvez fosse: "Devias vir/para ver os meus olhos tristonhos/E, quem sabe, sonhavas meus sonhos/Por fim."

Faz sentido.
--------------------------------

sábado, 21 de maio de 2011

NADA SEI - KID ABELHA

MANIFESTO

Para parar com o para -  Folha UOL 06/05/2011

Marcelo Coelho


O fotógrafo Mario Rui Feliciani busca adeptos para uma causa que apoio totalmente. Ele acha que não se pode abolir o acento diferencial na palavra "pára", do verbo parar.

  O acordo ortográfico decretou que temos de escrever "para" quando notamos ou pedimos a interrupção de qualquer coisa. Toda hora a falta de acento atrapalha a leitura da gente quando topamos com uma manchete de jornal.

  "Acidente no túnel para o Rio de Janeiro", é o exemplo que ele dá.

Segue o texto completo de seu manifesto.

" Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) eliminou o acento agudo do verbo “parar” na terceira pessoa do singular, do presente do indicativo; e na segunda pessoa do singular, do imperativo afirmativo.

Pedimos a revisão da reforma e a manutenção desse acento diferencial, pois sua eliminação já está trazendo graves consequências para a língua.

As duas formas verbais “pára” e a preposição “para” são palavras de uso muito corrente e, se de idênticas as grafias, serão freqüentes as interpretações dúbias, tais como no exemplo abaixo, extraído de noticiário:

“Acidente em túnel para o Rio de Janeiro”

Nesse exemplo, ausente a diferenciação do acento, é impossível para o leitor saber se houve um acidente grave que prejudicou todo o trânsito da cidade ou se apenas ocorreu um acidente normal em um túnel que serve de acesso à cidade.

A se manter dubiedade tão flagrante, serão duas as implicações, igualmente desastrosas: as más interpretações, como descrito acima; e a escravização dos escritores mais cuidadosos, que sacrificarão o estilo de suas frases, alterando-as para evitar o mal-entendido.

Além disso, é notório que a forma verbal acentuada condiz com a ênfase que o povo brasileiro empresta à ordem de parar, seja ela ríspida ou carinhosa.

O brasileiro diz “pára!”. Usa, coloquialmente e com força, a segunda pessoa do singular do imperativo do verbo “parar”, mesmo nas frases construídas com o pronome de tratamento “você”. Esse uso, inexato do ponto de vista gramatical mais rigoroso, já se consolidou como forma afetuosa de nossa comunicação.

Os pais ralham com carinho diante das travessuras de seus filhos com um “pára” enfático. As namoradas se opõem aos avanços afoitos dos namorados com a mesma palavra ameaçadora, acentuada, acompanhada de sorriso.

Entendemos, em resumo, que as regras gramaticais generalizadoras não devem ser usadas com rigor, quando isso implica prejuízos de clareza e exatidão; ou quando desrespeita traços culturais acumulados durante muitos anos de uso da língua por todo o povo, seu verdadeiro dono.

Por tudo o que se disse, pleiteamos a revisão da reforma gramatical e a manutenção do acento diferencial nas formas citadas do verbo parar."

----------------------------------------

AULA DE PIANO


A PEÇA EXECUTADA É A RAPSÓDIA HÚNGARA N. 12, DE FRANZ LISZT

sexta-feira, 20 de maio de 2011

MESMO DISCORDANDO...AÍ ESTÁ.


16/05/2011 - 19h19 - Folha de S.Paulo

Uma defesa do "erro" de português
Helio Schwartsman

 
O pessoal pegaram pesado. Da esquerda à direita, passando por vários amigos meus, a imprensa foi unânime em atacar o livro didático "Por uma Vida Melhor", de Heloísa Ramos. O suposto pecado da obra, que é distribuída pelo Programa do Livro Didático, do Ministério da Educação, é afirmar que construções do tipo "nós pega o peixe" ou "os livro ilustrado mais interessante estão emprestado" não constituem exatamente erros, sendo mais bem descritas como "inadequadas" em determinados "contextos".
Os mais espevitados já viram aí um plano maligno do governo do PT para pespegar a anarquia linguística e destruir a educação, pondo todas as crianças do Brasil para falar igualzinho ao Lula. Outros, mais comedidos, apontaram a temeridade pedagógica de dizer a um aluno que ignorar a concordância não constitui erro.
Eu mesmo faria coro aos moderados, não fosse o fato de que, do ponto de vista da linguística --e não o da pedagogia ou da gramática normativa--, a posição da professora Heloísa Ramos é corretíssima, ainda que a autora possa ter sido inábil ao expô-la.
Acredito mesmo que, excluídos os ataques politicamente motivados, tudo não passa de um grande mal-entendido. Para tentar compreender melhor o que está por trás dessa confusão, é importante ressaltar a diferença entre a perspectiva da linguística, ciência que tem por objeto a linguagem humana em seus múltiplos aspectos, e a da gramática normativa, que arrola as regras estilísticas abonadas por um determinado grupo de usuários do idioma numa determinada época (as elites brancas de olhos azuis, se é lícito utilizar a imagem consagrada pelo ex-governador de São Paulo Claúdio Lembo). Podemos dizer que a segunda está para a primeira assim como a pesquisa da etiqueta da corte bizantina está para o estudo da História. Daí não decorre, é claro, que devamos deixar de examinar a etiqueta ou ignorar suas prescrições, em especial se frequentarmos a corte do "basileus", mas é importante ter em mente que a diferença de escopo impõe duas lógicas muito diferentes.
Se, na visão da gramática normativa, deixar de fazer uma flexão plural ou apor uma vírgula entre o sujeito e o predicado constituem crimes inafiançáveis, na perspectiva da linguística nada disso faz muito sentido. Mas prossigamos com um pouco mais de vagar. Se os linguistas não lidam com concordâncias e ortografia o que eles fazem? Seria temerário responder por todo um ramo do saber que ainda por cima se divide em várias escolas rivais. Mas, assumindo o ônus de favorecer uma dessas correntes, eu diria que a linguística está preocupada em apontar os princípios gramaticais comuns a todos os idiomas. Essa ideia não é exatamente nova. Ela existe pelo menos desde Roger Bacon (c. 1214 - 1294), o "pai" do empirismo e "avô" do método científico, mas foi modernamente desenvolvida e popularizada pelo linguista norte-americano Noam Chomsky (1928 -).
Há de fato boas evidências em favor da tese. A mais forte delas é o fato de que a linguagem é um universal humano. Não há povo sobre a terra que não tenha desenvolvido uma, diferentemente da escrita, que foi "criada" de forma independente não mais do que meia dúzia de vezes em toda a história da humanidade. Também diferentemente da escrita, que precisa ser ensinada, basta colocar uma criança em contato com um idioma para que ela o adquira quase sozinha. Mais até, o fenômeno das línguas crioulas mostra que pessoas expostas a pídgins (jargões comerciais normalmente falados em portos e que misturam vários idiomas) acabam desenvolvendo, no espaço de uma geração, uma gramática completa para essa nova linguagem. Outra prova curiosa é a constatação de que bebês surdos-mudos "balbuciam" com as mãos exatamente como o fazem com a voz as crianças falantes.
O principal argumento lógico usado por Chomsky em favor do inatismo linguístico é o chamado Pots, sigla inglesa para "pobreza do estímulo" ("poverty of the stimulus"). Em grandes linhas, ele reza que as línguas naturais apresentam padrões que não poderiam ser aprendidos apenas por exemplos positivos, isto é, pelas sentenças "corretas" às quais as crianças são expostas. Para adquirir o domínio sobre o idioma elas teriam também de ser apresentadas a contraexemplos, ou seja, a frases sem sentido gramatical, o que raramente ocorre. Como é fato que os pequeninos desenvolvem a fala praticamente sozinhos, Chomsky conclui que já nascem com uma capacidade inata para o aprendizado linguístico. É a tal da Gramática Universal.
O cientista cognitivo Steven Pinker, ele próprio um ferrenho defensor do inatismo, extrai algumas consequências interessantes da teoria. Para começar, ele afirma que o instinto da linguagem é uma capacidade única dos seres humanos. Todas as tentativas de colocar outros animais, em especial os grandes primatas, para "falar" seja através de sinais ou de teclados de computador fracassaram. Os bichos não desenvolveram competência para, a partir de um número limitado de regras, gerar uma quantidade em princípio infinita de sentenças. Para Pinker, a linguagem (definida nos termos acima) é uma resposta única da evolução para o problema específico da comunicação entre caçadores-coletores humanos.
Outro ponto importante e que é o que nos interessa aqui diz respeito ao domínio da gramática. Se ela é inata e todos a possuímos como um item de fábrica, não faz muito sentido classificar como "pobre" a sintaxe alheia. Na verdade, aquilo que nos habituamos a chamar de gramática, isto é, as prescrições estilísticas que aprendemos na escola são o que há de menos essencial, para não dizer aborrecido, no complexo fenômeno da linguagem. Não me parece exagero afirmar que sua função é precipuamente social, isto é, distinguir dentre aqueles que dominam ou não um conjunto de normas mais ou menos arbitrárias que se convencionou chamar de culta. Nada contra o registro formal, do qual, aliás, tiro meu ganha-pão. Mas, sob esse prisma, não faz mesmo tanta diferença dizer "nós vai" ou "nós vamos". Se a linguagem é a resposta evolucionária à necessidade de comunicação entre humanos, o único critério possível para julgar entre o linguisticamente certo e o errado é a compreensão ou não da mensagem transmitida. Uma frase ambígua seria mais "errada" do que uma que ferisse as caprichosas regras de colocação pronominal, por exemplo.
Podemos ir ainda mais longe e, como o linguista Derek Bickerton (1925 -), postular que existem situações em que é a gramática normativa que está "errada". Isso ocorre quando as regras estilísticas contrariam as normas inatas que nos são acessíveis através das gramáticas das línguas crioulas. No final acabamos nos acostumando e seguimos os prescricionistas, mas penamos um pouco na hora de aprender. Estruturas em que as crianças "erram" com maior frequência (verbos irregulares, dupla negação etc.) são muito provavelmente pontos em que estilo e conexões neuronais estão em desacordo.
Mais ainda, elidir flexões, substituindo-as por outros marcadores, como artigos, posição na frase etc., é um fenômeno arquiconhecido da evolução linguística. Foi, aliás, através dele que os cidadãos romanos das províncias foram deixando de dizer as declinações do latim clássico, num processo que acabou resultando no português e em todas as demais línguas românicas.
A depender do zelo idiomático de meus colegas da imprensa, ainda estaríamos todos falando o mais castiço protoindo-europeu.
Não sei se algum professor da rede pública aproveita o livro de Heloísa Ramos para levar os alunos a refletir sobre a linguagem, mas me parece uma covardia privá-los dessa possibilidade apenas para preservar nossas arbitrárias categorias de certo e errado.

Hélio Schwartsman, 44 anos, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha.com.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

NÃO CONSIGO ENGOLIR!!!

"Todas as feições sociais do nosso idioma constituem objeto de disciplinas científicas, mas bem diferente é a tarefa do professor de língua portuguesa, que espera encontrar no livro didático o respaldo dos usos da língua padrão que ministra a seus discípulos"
(Trecho de Comunicado da ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS)



SERÁ ESSE O PADRÃO?





 
AFINAL...

E AQUI VAMOS NÓS... DE NOVO!


'Adevérbio não vareia'
Publicada em 18/05/2011 às 16h37m, na seção Opinião do Jornal O Globo.
SERGIO BERMUDES (*)

A epígrafe é atribuída a Pinheiro Machado, respondendo a um "bate com menas força", de Hermes da Fonseca, de dentro do gabinete presidencial, cuja porta o caudilho esmurrava. Talvez essa frase a aprovasse (aplauda-se o anacoluto, mas condene-se o eco) a autora do livro cuja distribuição foi noticiada pelo GLOBO (14/5). 
Segundo a reportagem, o tal livreco - "Por uma vida melhor", da coleção "Viver e aprender" - aceita que se fale "os livro" (no plural o artigo e no singular o substantivo), embora com o risco de "preconceito linguístico", que seria a reprovação da sintaxe inusitada. 
Vai além a autora. Considera corretas orações como "nós pega o peixe" e "os menino pega o peixe". 
Deus a perdoe e os demônios lhe levem os erros escancarados. 
Só se explicam atitudes desse tipo por parte de pessoas que, não conseguindo se projetar por alguma apreciável criação original, se empenham em se destacar pelo anômalo, coonestando, por exemplo, o aleijão vernacular, endossando o solecismo que, "realmente feio, é quase bestial", para repetir Camilo Castelo Branco, na sua esquecida polêmica com Carlos de Laet.

Conforme a matéria do GLOBO, a autora do livro afirmou que não se aprende a língua portuguesa "decorando regras ou procurando palavras corretas em dicionários". 
Parece que ela pretende queimar os léxicos, ainda que conformes com os alcorões da língua.

O Ministério da Educação saiu do habitual torpor, para defender a sua afilhada. 
A nota do MEC diz que o livro estimula a formação de cidadãos que usem a língua com flexibilidade. Trata o alfarrábio como uma espécie de vacina que previne ou cura a moléstia, injetando no paciente o vírus que a provoca.
Urge responder a baboseira, reproduzida na reportagem, de que o ensino deve ser plural, com diferentes gêneros textuais e práticas de comunicação para que a desenvoltura linguística aconteça. 
É demasia pretender, nos dias correntes, que se escreva com a finura auditiva de Rui, crítico da frase "só pode", do projeto do Código Civil de 1916, porque "só pó estruge como o popocar de um foguete em meio à frase" ("Réplica", 43). 
Entretanto, não se deixe quem fala e sobretudo quem escreve sucumbir a um hediondo e chocante "houveram coisas terríveis", que Laet, na polêmica aludida, censurou em Camilo, o qual, depois de inconvincente justificativa, pretendeu esconder sua cinca em construções surpreendentes de clássicos como os portugueses Francisco Dias Gomes, Filinto Elísio e Ferreira Gordo. 
Evite-se o medonho "faziam" tantos anos, encontradiço em Machado de Assis que, como assinalou Rui Barbosa, nunca foi modelo de perfeita linguagem, apesar do estilo primoroso. 
A gramática normativa profliga a sintaxe que endossa o erro crasso de linguagem. 
É certo que Manuel Bandeira ("Evocação do Recife") chama a "língua errada do povo" de "língua correta do povo" porque "ele é que fala gostoso o português do Brasil", ao passo que "nós o que fazemos é macaquear a sintaxe lusíada". 
Mas será que o poeta concordaria com o professor que achasse correto escrever "no cais da Rua da Aurora os menino escondido ia pescar muitos peixe", ou barbarismos semelhantes?

Por conveniência ou apedeutismo, a autora do livro nunca suficientemente combatido foge da lição de que é preciso falar correto. 
Como ensina o linguista Otto Jespersen, citado por Celso Cunha e Lindley Cintra, na sua admirável "Nova Gramática do Português Contemporâneo", "falar correto significa o falar que a comunidade espera, e erro em linguagem equivale a desvios desta norma, sem relação alguma com o valor interno das palavras ou formas". 
A língua é um fenômeno social. Por isso, aceitam-se construções anômalas, que a comunidade concebeu pela necessidade de expressar-se com adequação e comodamente. 
Daí, as chamadas "elegâncias de linguagem", ou mesmo as figuras de construção, errôneas só na aparência, porém corretas no conteúdo, como os idiotismos (v. g., "nós é que somos patriotas"). 
Repugna, no entanto, à comunidade e, nela, até às pessoas de linguajar pobre, mais do que os preciosismos, a maneira estropiada de dizer, só usada na chula algaravia, tal como "os livro", "nós pega o peixe", "os menino pega o peixe". 
Perguntei à minha cozinheira, de primário incompleto mas arguto entendimento, o que achava da frase "menos é adevérbio e adevérbio não vareia". 
Ela reagiu com a exclamação que também me ocorreu, diante da notícia do livro temerário: "Santo Deus!"
---------------------------------------------
(*) SERGIO BERMUDES é advogado e professor de Direito na PUC-RJ .

terça-feira, 17 de maio de 2011

" UM PAÍS DE TODOS " ?


O MEC  E A EXCLUSÃO SOCIAL
Enviado ao Jornal "O Globo", blog Inclusão Digital,  por Sonia Rodrigues - 16.5.2011, 11h27m.


Ai maluco ta sabendo 1 ministro dice q os professor tem q achar legal o q nois iscreve q o q nois iscreve ta certo porq é o geito q agente fala os professor num pode dize q agente iscreve erradu a mulher q trabalha com o ministro dice q a iscrita é o ispelho do q nois fala e q isso pode ta sabendo? So num intendi q eles dis q as prova não vão ser como agente fala. Cumé q pode?


O mercado de trabalho emprega quem escreve assim? Quem corrige redação no vestibular ou no Enem considera apto quem escreve assim?

É isso o que o MEC quer? Manter uma geração inteira à margem das oportunidades profissionais e sociais? Transformar a palavra “erro” em maldição? Jogar mais ainda “às cordas” os professores que insistem em ensinar o que sabem?

O papel da escola não é só ensinar a norma culta, alega o MEC.

Se a escola ensinasse, pelo menos, a norma culta nós não estaríamos na posição em que estamos em testes nacionais e internacionais.

A autora do livro Por uma vida melhor defende o respeito ao registro lingüístico de cada aluno. Para combater o preconceito.

Alguém precisa alertar às pessoas que mandam na educação no nosso país que existe um caminho mais produtivo contra o preconceito: ensinar a escrever dentro da norma culta. Ensinar o conteúdo que permite entrar na universidade, se manter na universidade. Ensinar o conteúdo que permite arranjar emprego.

Quem sabe escrever dentro da norma culta pode variar a linguagem. Quem não sabe corre o risco de não conseguir se comunicar com quem escreve ou fala dentro das normas. Corre o risco de não conseguir transitar entre grupos diferentes. Não conseguir apreciar ou conviver com a diferença.

No Brasil, a vaidade de quem se acha elite intelectual só se compara à falta de senso crítico em relação ao que transforma uma pessoa em elite. Há anos, especialistas têm sido alçados ao poder pedagógico no país defendendo o sacrifício do conteúdo, menosprezando o ensino da norma culta, defendendo que escola deve ser, principalmente, um espaço de prazer, não de ensino.

Para o patrimonialismo que impera em nosso país, não tem nada demais que um intelectual ou um grupo de trabalho defenda modismo em cima de modismo. Não tem nenhum problema que se suprima da escola pública o ditado, a tabuada, a aula expositiva e, agora, o ensino da concordância entre os termos da oração.

Sabem por que não existe problema em fazer isso? Porque são os pobres que estão na escola pública, não são os filhos de quem tem o comando da educação.

Talvez os que mandam na educação no país acreditem sinceramente que a função da escola é proteger o aluno que fala errado do preconceito de quem fala certo.

Talvez acreditem que as pessoas que falam e escrevem errado querem ser protegidas do preconceito e não façam questão de aprender a falar e escrever certo.

Talvez acreditem que não existe erro na fala e que, portanto, não se pode atribuir erro à escrita fora da norma culta.

Talvez acreditem que fala e escrita são iguais, têm as mesmas regras e o mesmo peso.

O problema é que educação pública não é uma questão de crença.

Eu pago impostos para que a máquina do estado funcione, para que os jovens da rede pública tenham chances reais de emprego quando saem da escola.

Pago impostos para que a imensa rede pública que existe no país ofereça aos cidadãos brasileiros acesso à cultura e à ciência de forma eficaz.

Os alunos da escola pública têm toda a Internet para escrever errado. Todas as esquinas para falar errado.

Eu não pago impostos para que autoridades educacionais defendam que as pessoas não podem ter preconceitos contra um jovem que sai do ensino médio escrevendo os livro mais interessante que li na vida.

Não interessam as intenções ou crenças da elite intelectual da vez. As pessoas têm preconceitos contra quem fala e escreve errado e a escola existe para ensinar a norma.

Para ensinar outras coisas, existe o mundo.

Ah, uma última observação: o MEC garante que, apesar de tudo, as provas e concursos continuarão a cobrar dos alunos a norma culta. Muito generosa essa política: exclui cultivando a ignorância, exclui cobrando o que não ensina.
------------------------------------------------------------------

segunda-feira, 16 de maio de 2011

ANTERO DE QUENTAL


DIVINA COMÉDIA

Erguendo os braços para o céu distante
E apostrofando os deuses invisíveis,
Os homens clamam: — «Deuses impassíveis,
A quem serve o destino triunfante,

Porque é que nos criastes?! Incessante
Corre o tempo e só gera, inestinguíveis,
Dor, pecado, ilusão, lutas horríveis,
N'um turbilhão cruel e delirante...

Pois não era melhor na paz clemente
Do nada e do que ainda não existe,
Ter ficado a dormir eternamente?

Porque é que para a dor nos evocastes?»
Mas os deuses, com voz inda mais triste,
Dizem: — «Homens! por que é que nos criastes?»

Antero de Quental

OLINDA RIBEIRO (Poeta portuguesa)

É URGENTE DIZER O QUE TENHO A DIZER


Um beijo é doce, ou insignificante,
Um gesto sincero, é mais importante.
E tudo se resume a reconhecer,
Que entre nascer e morrer,
Existe um aqui e um agora,
Enquanto vai a noite vem a aurora.

Aproveitemos então o acontecimento,
Façamos da vida um belo momento!
Brindo aos amigos, poetas, e cores,
Brindo a mim e aos meus amores!
*       *        *

LETRAS, NÚMEROS, E O MEU PAI


… E levavas-me ligeira pela mão,
… Estrofeando um cântico contado,
Como se a tabuada fosse uma canção,
E o dois+dois um acto consumado.

Depois a lengalenga do alfabeto,
Num rodopiar de vogais e consoantes,
E como das prosas um disparo dialecto,
Fazias-me dizer frases vagas e inconstantes.

Tudo tem um propósito! Há que papaguear,
Não questionar o verbo apreendido…
Que o tempo, outros verbos fará conjugar,

Descobrirei pela vida o dom desse cantarolar,
Que em termos me deixou o cérebro exaurido,
Mas me ensinou a língua mãe bem articular.

Olinda Ribeiro (Lili)

*        *        *

domingo, 15 de maio de 2011

FÁBULA FABULOSA


A formiga boladona


Era uma vez, uma formiguinha e uma cigarra muito amigas.
Durante todo o outono, a formiguinha trabalhou sem parar, armazenando comida para o período de inverno.
Não aproveitou nada do sol, da brisa suave do fim da tarde e nem o bate-papo com os amigos ao final do trabalho tomando uma cervejinha gelada.
Seu nome era 'Trabalho', e seu sobrenome era 'Sempre'.

Enquanto isso, a cigarra só queria saber de cantar nas rodas de amigos e nos bares da cidade; não desperdiçou nem um minuto sequer. Cantou durante todo o outono, dançou, aproveitou o sol, curtiu prá valer sem se preocupar com o inverno que estava por vir.

Então, passados alguns dias, começou a esfriar. Era o inverno que estava começando.
A formiguinha, exausta de tanto trabalhar, entrou para a sua singela e aconchegante toca, repleta de comida.
Mas alguém chamava por seu nome, do lado de fora da toca.
Quando abriu a porta para ver quem era, ficou surpresa com o que viu.
Sua amiga cigarra estava dentro de uma Ferrari amarela com um aconchegante casaco de vison.
E a cigarra disse para a formiguinha:
- Olá, amiga, vou passar o inverno em Paris.  Será que você poderia cuidar da minha toca?
E a formiguinha respondeu:
- Claro, sem problemas! Mas o que lhe aconteceu? Como você conseguiu dinheiro para ir a Paris e comprar esta Ferrari?
E a cigarra respondeu:
- Imagine você que eu estava cantando em um bar na semana passada e um produtor gostou da minha voz. Fechei um contrato de seis meses para fazer show em Paris... A propósito, a amiga deseja alguma coisa de lá?
- Desejo sim, respondeu a formiguinha.
- Se você encontrar o La Fontaine (Autor da Fábula Original) por lá, manda ele ir a "LA MERDE"!!!


Moral da História:
Aproveite sua vida, saiba dosar trabalho e lazer, pois trabalho em demasia só traz benefício em fábulas do La Fontaine e ao seu patrão.
Trabalhe, mas curta a sua vida. Ela é única!!!
Se você não encontrar a sua metade da laranja, não desanime, procure sua metade do limão, adicione açúcar, pinga e gelo, e... Seja feliz !
----------------------------------------------------------------

Recebi, por e-mail, de minha amiga Talma.

MY WAY - FRANK SINATRA e L.F.VERÍSSIMO!



MY WAY DO MEU JEITO
Luís Fernando Veríssimo

Agora que o fim está perto

E se aproxima a ultima cortina, Meus amigos,
sei que estou certo: Minha vida não foi rotina.
Vivi uma vida cheia,
Viajei pra não botar defeito.
E mais, mais do que isto,
Fiz do meu jeito.


Remorsos, tive alguns,
Mas, pensando bem, nem foram tantos.
Fiz o que tinha que fazer
Mesmo que aos trancos e barrancos.
Planejei cada passo tomado,
Em cada estrada ou caminho estreito,
Mas mais, mais do que isto,
Fiz do meu jeito.


Sim, sei que há quem diga
Que o olho foi maior que a barriga.
Mas em nenhum momento hesitei,
Engoli tudo e não regurgitei,
Enfrentei tudo
E não fiquei mudo.
E fiz do meu jeito.
Amei, ri e chorei.
Tive a minha cota de desengano,
Mas agora, que as lágrimas secaram
Tudo me parece tão mexicano...
Pensar que fiz tudo isso
E, posso dizer, não sem muito peito.
Não mesmo, não este aqui:
Fiz do meu jeito.


Pois afinal um homem o que é
Se não sabe ficar de pé
E dizer o que realmente acredita
Sem temer a desdita?
Os autos estão aí
Pra mostrar que não fugi.
E fiz do meu jeito.


(Mas com a última cortina pendendo
Eis o mote para um psiquiatra.
Trocaria o meu jeito correndo
Pelo jeito do Frank Sinatra).

*          *          *

sexta-feira, 13 de maio de 2011

GRACILIANO RAMOS

Sobre o processo de escrever
Graciliano Ramos

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso: a palavra foi feita para dizer.

*            *            *

BLOG INTERDITADO...

Caramba! Fiquei dois dias sem acesso ao MEU blog. Queria postar umas coisas e acabei por esquecer, por causa do bloqueio, ou será "blogueio"? - desculpe o trocadilho infame.
Apareceu uma mensagem esquisita dizendo que o blog não estava disponível. Vai saber por quê...
Até procurei saber, mas não obtive resultado a não ser um tal de erro Bx.
Insisti na pesquisa e verifiquei que foram muitos blogs que ficaram fora. Só que eu não sabia como enviar a reclamação do modo com os outros blogueiros fizeram.
Quem manda ser uma anta em matéria de informática? Vai estudar, sô! Tá fazendo nada mesmo!...
---------
Enfim, a "coisa" se restabeleceu sozinha. Mistéééérios da computação...
Então, tô aqui de novo.
Mas fiquei tão decepcionada  que cadastrei um novo blog no spaceblog e.. me dei mal. Não consegui fazer um lay-out legal, mas o nome ficou registrado e não posso usá-lo no momento.
Sou mesmo uma besta... sniff... sniff...
Vou tentar continuar neste blog, se não conseguir, o jeito é ir para o space. (Xiii... esse foi sem querer. Certamente "ir para o space" não é nada bom).
Revolta, revolta.... kkkkkkkk!!!!!!!!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

MÁRIO QUINTANA


Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
colhidos no mais íntimo de mim...
Suas palavras
seriam as mais simples do mundo,
porém não sei que luz as iluminaria
que terias de fechar teus olhos para as ouvir...
Sim! Uma luz que viria de dentro delas,
como essa que acende inesperadas cores
nas lanternas chinesas de papel!

Trago-te palavras, apenas...
e que estão escritas do lado de fora do papel...
Não sei, eu nunca soube o que dizer-te
e este poema vai morrendo, ardente e puro,
ao vento da Poesia...
como uma pobre lanterna
que incendiou!

 
Mário Quintana - (do livro "Quintana de bolso", Editora LP&M Pocket - Porto Alegre (RS), 2006, pág. 59, seleção de Sergio Faraco.)


sábado, 7 de maio de 2011

LISPECTOR, PIAFF e CÁSSIA ELLER



QUE TRIO !...
CLARICE LISPECTOR ESCREVEU,
EDITH PIAFF COMPÔS,
CÁSSIA ELLER CANTOU

"E AGORA, JOSÉ?" - DRUMMOND

VINÍCIUS DE MORAES - Dia da Criação (Porque hoje é sábado)

CONVERSA DE SÁBADO


Um sábado muito esquisito.
Fiz muitas tarefas rotineiras - arrumação, limpeza, cuidado com as roupas,  essas coisas de dona de casa. Gosto desse trabalho, de cuidar da minha casa, de cozinhar para mim mesma, enfim, não está aí a esquisitice deste dia.
O que aconteceu é que hoje, particularmente, não sei por que - e não sei, mesmo - meus pensamentos pareciam se sacudir enquanto eu trabalhava com as mãos. Uma espécie de flashes absurdos, misturando o presente ao passado, trazendo a lembrança de momentos não muito agradáveis. Por ser uma canceriana típica, tenho muito cuidado com essas incursões ao passado para não me perder por lá (rsrsrsrs).
Miguel de Cervantes tem uma frase que acho perfeita: "Seja o passado, passado; tome-se outra vereda e pronto."
Bom, esse registro era necessário, mas não pretendo me estender. Em minha opinião, nossos fantasmas são "nossos" fantasmas e não têm por tarefa assombrar mais ninguém.
Fora esse incidente de hoje, tenho mantido um certo silêncio sobre tudo. Proposital. Estou um pouco cansada das máscaras sociais, inclusive das minhas.
Percepção ampliada, cuidados redobrados é o que hoje considero fundamental para a convivência.
A finalidade deste blog (se é que tem alguma) é me distrair. Por isso, quando encontro algo que considero interessante, faço o registro. Foi sempre assim com as minhas agendas. Já disse que a diferença agora é que mais pessoas poderão saber o que se passa. Sim, mas e daí? Se tenho algo a esconder - e quem não tem? - escondido está porque não interessa.
Há alguns dias, uma propaganda do canal GNT me chamou a atenção. Gosto do jogo de palavras.

'PARA EMAGRECER...      

                                   COMA  (na tela,  um lindo prato de salada)

PARA RELAXAR...            
                                  GRITE

PARA SER PERFEITA...     
                                  ERRE

PARA SER VOCÊ...
                                  MUDE'

--------------------------------------

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Arthur Rubinstein - Chopin Nocturne No 2, Op 27 in D flat


AS MÃOS DE CHOPIN

Elmo Gomes


A música tão triste que se evola,
no ar flutua, num langor de sono.
Suavíssima...em notas de abandono,
penetra na minh´alma e me consola.

A dor suprema perde o seu entono,
a mágoa imensa, aos poucos, se acrisola,
devagar, como a lágrima que rola,
como caindo vão folhas de outono.


É Chopin que das sombras aparece
na música sublime como prece
e as mãos rezam nas teclas branco-pretas.



E tudo é sonho num etéreo plano.
Sobre o espectral teclado do piano,
adeja um par de brancas borboletas...


---------------------------------------------------

segunda-feira, 2 de maio de 2011

MANUEL BANDEIRA - Canção do vento...

Canção do vento e da minha vida
Manuel Bandeira

O vento varria as folhas,
O vento varria os frutos,
O vento varria as flores...
E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
De frutos, de flores, de folhas.

O vento varria as luzes,
O vento varria as músicas,
O vento varria os aromas...
E a minha vida ficava
cada vez mais cheia
De aromas, de estrelas, de cânticos.

O vento varria os sonhos,
E varia as amizades...
O vento varria as mulheres...
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia de afetos e de mulheres.

O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.

Manuel Bandeira(de Estrela da Manhã, em Antologia Poética, org. Emmanuel de Moraes, José Olympio Editora, Rio, 1986)
----------------------------------------- 






RODA VIVA - Chico Buarque

LONDON, LONDON- Caetano Veloso



É... Londres esteve em pauta semana passada.
Além do "casamento real", teve também a visita da minha filhota Letícia (aliás, para mim, o acontecimento mais importante, rsrssrs) e ela voltou encantada com a cidade e o país.
Então, aí está um registro bem brasileiro.