Arte: Rahaf Dk Albab |
Alguns dias atrás
abri o baú das eternas relíquias do que vivi,
agora como pai,
e encontrei recordações maternas que antes não estavam ali:
Carinhos que não senti
quando dormindo,
Broncas que não ouvi
quando saí de fininho, escondido,
Conselhos que perdi,
tapando meus ouvidos
e lágrimas que não vi,
quando seguia "meu caminho",
seguro dos bons modos que achava terem nascido comigo.
Ainda os milagres acumulados ao longo dos anos,
os pequenos, cotidianos:
de repente a roupa limpa,
a comida quente,
eu na cama, de repente,
coberto contra o frio
e nem desconfio ela ali, presente,
sabendo-me de cor,
o tempo todo, toda hora.
Aí flagrei seu cheiro ao meu redor,
ainda hoje, ainda agora
e soube, enfim, que não basta gratidão,
não há suficiente no mundo
que dê conta desse mar de amor tão fundo,
tão quente, tão sempre, tão tudo.
Ainda assim, embargado,
o termo escapa de meu choro mudo:
...obrigado...
* * *
Adriano Dias - página 'Semema'