Pequenos atos de amor são fundamentais para tornar o mundo um lugar melhor para se viver
Eberth Vêncio - em 'Revista Bula'
Qualquer pequeno ato impagável, de alguém por outro alguém, como pagar um almoço para quem tem fome, já servirá.
Qualquer mínima atitude que releve a tradicional má fama do ser humano terá valia.
Recaídas de ternura; como eu, por exemplo, aqui e agora.
Apagar um foco de incêndio.
Acender o brilho no olhar de um ser desencantado.
Fazer palhaçada numa enfermaria.
Demover um suicida.
Ouvir. Ouvir. Ouvir e mais ouvir.
Transmutar-se em árvore, ser todo ouvidos, ter a devida paciência para florescer e escutar a dramática história de vida de quem fazia planos para se matar em breve.
Abreviar o sofrimento de um ser vivo em estado terminal. Concorrer com Deus mesmo querendo não ser Deus. Aliviar o sofrimento de alguém com o simples toque das mãos.
Reduzir a velocidade nos atos cotidianos.
Ir e vir. Sim. A garantia constitucional de ir e vir, porém, com mais calma, em ritmo baiano, se é que me entendem.
Doar xícaras de sangue.
Gastar o próprio tempo em prol do crescimento interior de terceiros.
Tratar bem um desconhecido, como se vocês já se conhecessem de vidas pregressas.
Rezar com a avó, no seu leito de morte, mesmo sendo um ateu.
Ajudar um animal a parir.
Ajudar uma mulher a parir.
Trocar as roupas de um defunto, deixá-lo com a aparência impecável para o último adeus.
Consolar um desafeto que perdeu a mãe.
Adotar uma criança.
Adotar um cachorro.
Adotar um padrão de vida mais simples.
Questionar as premissas existenciais desse mundo-cão.
Servir na Cruz Vermelha. Atuar pelo Green Peace.
Vestir azul e declamar poemas de Paulo Leminski na ala dos loucos varridos.
Visitar os velhos de um asilo.
Resgatar refugiados no mar do exílio. Pescar homens.
Derribar muros. Cancelar cancelas.
Abarcar, abarcar, abarcar. Arreganhar os braços e mais abarcar, abarcar, abarcar.
Oferecer um emprego.
Ceder um dos quartos.
Vender um dos carros.
Ir a pé ao trabalho.
Barbear mendigos. Drenar furúnculos.
Ensinar uma orquídea a brotar.
Botar o bloco na rua. Organizar passeata.
Desarrumar o quarto, partir.
Ensandecer com flores o paladar dos colibris.
Ler para crianças. Alfabetizar homens crescidos, de graça.
Engrossar o coro dos descontentes que defendem a todo custo a preservação do meio ambiente.
Ser meio diferente, circular por aí, completamente na sua, livre e fora do quadrado.
Gastar todo amor que ainda resta em prol de quem está do seu lado.
* * *