"Carpe diem-se"
Joseane Maytê - em 'Obvious - recortes'
Certa feita, enquanto planejava uma aula sobre VIDA (sem trocadilho!) para crianças, me veio à cabeça o tempo.
Idealizei por um momento uma dinâmica em que eu pudesse demonstrar para elas que o valor da vida está associado ao valor que damos ao nosso tempo, uma analogia, talvez, ao filme “O preço do Amanhã”, aquele em que o Justin Timberlake aparece na pele do rebelde e lindo Will, película na qual valem as máximas “não perca de tempo" ou "tempo é dinheiro".
Na proposta, as crianças teriam um tempo para pintar, com esmero, diversos desenhos, atentas às cores e aos contornos sugeridos para cada figura.
Esse tempo, porém, seria muito pequeno para tão perfeito traçado e preenchimento, assim como ocorre na vida.
Não há tempo suficiente para aprendermos tudo, até mesmo porque não sabemos quanto tempo temos.
Frequentemente nos damos conta do quanto falíveis e mortais somos (me acontece quando perco pessoas queridas), mas esse aprendizado é tão fugaz quanto o próprio senhor das horas... voa!
E aí, voltamos para as nossas atividades e atribuições cotidianas, esquecendo-nos do principal: viver (você não leu sobreviver!).
Atropelamos o tempo e somos atropelados pela vida (ou seria o contrário?). Entramos “verdes” na faculdade, na profissão, nas nossas relações pessoais.
Tombamos, “grises”, levantamos e partimos para o próximo desenho, com mais esmero, com melhores traços, é bem verdade! E, então, nos perdemos novamente em afazeres, em escritórios, em demandas acadêmicas, em reclamações outras, negligenciando boas risadas, manhãs de sol, noites de pizza, tardes de brigadeiro com as amigas, a companhia mais afável da família e os arroubos das paixões.
Esquecemo-nos de ser como as crianças, leves, verdadeiras, coloridas... Por isso, queria dizer às crianças o quão generosa é a energia lá de cima – seja lá qual for o nome que queiram dar a ela - com as oportunidades concedidas, ainda que estejamos despreparados para aproveitá-las.
Queria que elas percebessem que haverá possibilidades inúmeras de um bom acabamento dos seus muitos desenhos, mas que isso também passará, não será para sempre.
Queria que entendessem o quanto é importante valorizar cada pintura, cada detalhe, cada textura, assim como os momentos dessa vida, porque quando o TIC TAC ecoa já não é possível voltar e fazer melhor.
Queria, na verdade, dizer: não percam tempo, não se deixem descolorir, não deixem a vida passar, porque diferente do filme, não temos chances para ganhar tempo, não há acréscimos; há, sim, histórias bem vividas, narrativas bem contadas, pessoas bem amadas e TEMPO, sem dúvida, decorrido.
Queria dizer às crianças, sobretudo àquelas que ainda existem em nós: Aproveitem os dias! Apreciem o presente! “Carpe diem-se”!
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