segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Lima Barreto e o Rio de Janeiro

De 'O Tempo - Magazine'

“O Rio de Janeiro das crônicas de Lima Barreto é a cidade dos contrastes, das revoltas, das ruínas sob o vento do progresso”, escreve a crítica literária Beatriz Resende, “mas é também a expressão de uma paixão tão forte que a outras, mais humanas, não deixa espaço”.
AUTÊNTICA EDITORA

Olhar de Lima Barreto sobre o Rio de Janeiro ganha análise 
Crítica Beatriz Resende reflete sobre relação do escritor com a cidade a partir de crônicas e diários


Essa relação ambígua do escritor carioca com sua cidade natal é o pano de fundo do livro “Lima Barreto e o Rio de Janeiro em Fragmentos” (ed. Autêntica), no qual Beatriz analisa as crônicas e os diários íntimos do autor .

Por muito tempo, as crônicas e os diários ficaram em segundo plano em relação a seus romances, como “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (1909) e “Triste Fim de Policarpo Quaresma” (1911). Mas foi neles que Beatriz buscou os registros fragmentados do amor de Lima pelo Rio, como nos comentários sobre alguns de seus lugares preferidos, do subúrbio do bairro Todos os Santos à rua do Ouvidor e à praia do Leme.
Nelas encontrou também a denúncia vigorosa dos preconceitos e segregações da Belle Époque carioca.
Em uma crônica sobre o governo de Carlos Sampaio, que entre 1920 e 1922 promoveu intervenções como a demolição do Morro do Castelo e a construção da Avenida Beira-Mar, Lima escreve: “Vê-se bem que a principal preocupação do atual governador do Rio de Janeiro é dividi-lo em duas cidades: uma será a europeia e a outra, indígena”.

“O olhar de Lima Barreto sobre o Rio é sempre político. Ele já falava da ‘cidade partida’, registrando as diferenças entre subúrbio, Centro e Botafogo.
Foi o primeiro cronista da linha férrea, gostava de perambular e atravessava a cidade, gastando sapato. Por isso, as grandes reformas da época aparecem em seus romances e crônicas não só pelo lado urbanístico, mas pelo impacto no cotidiano da cidade”, diz Beatriz, professora da UFRJ.

Versão ampliada da tese de doutorado da autora, esgotada há anos, o livro se beneficia da atenção despertada pelos lados cronista e memorialista de Lima Barreto nos últimos tempos.
Em 2004, foram lançados os dois volumes de “Toda Crônica” (2004), compilação dos artigos de imprensa do escritor organizada pela própria Beatriz e por Rachel Valença.
Em 2010, foi publicada uma edição conjunta de “Diário do Hospício”, com as anotações de Lima sobre seu período de internação no hospício da praia Vermelha entre 1919 e 1920, e “Cemitério dos Vivos”, romance inacabado do autor sobre essa experiência.

Para Beatriz, Lima Barreto retoma a tradição da crônica em tom coloquial, fundada por Machado de Assis.
Preterido pela elite literária de seu tempo, ele se sente injustiçado, por um lado, mas também “completamente livre e feliz, podendo falar sem rebuços sobre tudo que julgar contra os interesses do país”, escreve.
Assim, usa as crônicas para expressar seu olhar sobre os excluídos da sociedade brasileira da época, como os negros, as mulheres e os anarquistas: “O governo só protege aos que não precisam: aos pequenos, aos fracos, aos oprimidos, ele oprime mais”.
Esse olhar sobre os excluídos ganha contornos radicais quando Lima é internado no Hospício Nacional de Alienados, no Natal de 1919, depois de uma crise de alcoolismo.
Nos três meses que passa na instituição, encontra bêbados, doentes, maltrapilhos e outros marginalizados pela cidade que se quer moderna e renovada.
Reage por meio da escrita: ainda internado, chega a anunciar em entrevista que está coletando histórias “interessantíssimas” para um livro que narraria “as cenas mais jocosas e as mais dolorosas que se passam dentro dessas paredes inexpugnáveis”.
O romance planejado, “Cemitério dos Vivos”, jamais foi concluído, mas a experiência ficou registrada em “Diário do Hospício”.

“Lendo o diário, fica evidente a habilidade de cronista de Lima Barreto. Depois de uns dias no hospício, quando passa a bebedeira, ele começa a narrar a situação, a fazer um trabalho de campo sobre a estrutura do hospício, seus dirigentes, médicos e pacientes. É a salvação pela escrita”, diz Beatriz.
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sábado, 19 de novembro de 2016

Rosa e Graciliano

Um gênio reprovado
Dois contos escritos por um jovem Guimarães Rosa – e criticados em concurso por Graciliano Ramos – serão finalmente oferecidos ao público
MARCELO BORTOLOTI - Revista 'Época'

ALVO DE CRÍTICA Guimarães Rosa  (à esq.) e Graciliano Ramos (acima). O primeiro modificou seu livro devido aos comentários do segundo (Foto: Eugênio Silva/O Cruzeiro/EM/D.A e arq. O Cruzeiro/EM/D.A Press. Brasil)
 Guimarães Rosa  (à esq.) e Graciliano Ramos (detalhe). 
O primeiro modificou seu livro devido aos comentários do segundo 
(Foto: Eugênio Silva - revista O Cruzeiro/

ALVO DE CRÍTICA

As obras do escritor alagoano Graciliano Ramos e do mineiro João Guimarães Rosa têm pouco em comum. Seus estilos são antagônicos. O primeiro é árido, contido, realista. O segundo, prolixo, místico, quase barroco. 
Os escritores também tiveram pouco contato. Isso não impediu que Graciliano, autor do clássico Vidas secas, alterasse os rumos da carreira de Guimarães Rosa.

Homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) , Graciliano (1892-1953) foi jurado de um concurso literário da editora José Olympio, em 1938. 
Um dos candidatos era o livro Contos, assinado por Viator
Por trás do pseudônimo, estava Guimarães Rosa (1908-1967), até ali um desconhecido médico mineiro. 
Graciliano achou seu conteúdo desigual, com alguns contos excelentes e outros “ordinários”. Convenceu o júri a não agraciar a obra com o prêmio. 
A vitória ficou nas mãos de Luís Jardim e seu livro Maria Perigosa, obra desconhecida e absolutamente apagada na história da literatura brasileira. 
Quando o livro de Rosa finalmente chegou ao público, oito anos depois, com o nome de Sagarana, estava mais enxuto, sem três contos da versão inicial. 
Eram justamente os contos que Graciliano criticara. 
Rosa chegou a reescrever um deles, publicado posteriormente. Os outros dois, até hoje inéditos, estão preservados no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP). 
ÉPOCA submeteu os dois contos a três críticos literários para avaliar a opinião de Graciliano. 
Os textos serão publicados neste ano, num portal que a editora Nova Fronteira prepara sobre Guimarães Rosa.

O júri de 1938 reunia cinco escritores. Na ocasião, Graciliano explicou sua posição: “Votei contra esse livro de Viator. Votei porque dois dos seus contos me pareceram bastante ordinários. (...) Esses dois contos e algumas páginas campanudas, entre elas uma que cheira a propaganda de soro antiofídico, me deram arrepio”. 
Rosa não era exatamente um novato. Anos antes, publicara na revista O Cruzeiro contos de suspense, se aventurara pela poesia e escrevera o livro Magma, que não publicou enquanto vivo. 
Somente com Sagarana, iniciado aos 29 anos, encontrou seu estilo. 
Eram contos passados no interior de Minas Gerais, que dialogavam com a literatura e a filosofia clássicas. 
Após o concurso, Viator desapareceu sem revelar sua identidade. 
Aos pais, falava do carinho que tinha por esse primeiro livro. “Era o favorito do meu pai, porque era o primeiro e porque foi um sobrevivente”, diz a filha de Rosa, Vilma Guimarães Rosa.

Como funcionário do Itamaraty, Rosa foi trabalhar no consulado brasileiro em Hamburgo, na Alemanha. 
Os originais de Sagarana ficaram no Brasil com sua primeira mulher, Lygia. 
Ela tentou levá-los à Alemanha, mas, com a Segunda Guerra Mundial, o governo brasileiro proibiu que mulheres e filhos de diplomatas viajassem. 
Numa noite de 1941, Rosa estava em Hamburgo e acordou com vontade de fumar. Não tinha cigarros em casa. Foi até a loja da esquina, quando soou o alarme alertando para um ataque aéreo iminente. Rosa conseguiu correr para um abrigo, onde passou a madrugada. 
Ao amanhecer, viu que seu prédio fora bombardeado. Ele fora salvo por causa do cigarro, e Sagarana, caso estivesse no apartamento, teria sido destruído. “Meu pai adquiriu, a partir desse incidente, um sentimento místico que influenciou sua obra”, diz Vilma. 

No final de 1944, Rosa conheceu Graciliano Ramos. 
Revelou ser o autor derrotado no concurso e não demonstrou ressentimentos. 
Em 1946, lançou Sagarana. Acatou as sugestões de Graciliano e suprimiu os contos Bicho mau, Questões de família e Uma história de amor
O primeiro, que narra o caso de um fazendeiro picado por uma cobra venenosa, foi praticamente reescrito e entrou no livro póstumo Estas estórias. Os outros dois permaneceram inéditos.

Os críticos que leram os contos a pedido de ÉPOCA se dividem. 
Gostei muito. Graciliano foi severo demais em sua avaliação”, diz Eduardo Coutinho, professor da UFRJ. “Você já encontra uma reflexão filosófica sobre o amor. E a maneira de trabalhar a linguagem é extraordinária.” 
João Adolfo Hansen, da USP, especialista na obra de Rosa, concorda parcialmente com Graciliano: “O conto do médico (Uma história de amor), acho ruim. Mas talvez Graciliano tenha exagerado em relação ao outro”. 
Neste, o namoro, que nunca progride, de um rapaz da capital com uma jovem do interior retrata o conservadorismo do Brasil rural do princípio do século XX. “Graciliano era sintético e direto, talvez achasse aquilo uma frescura. Mas é uma tradução de costumes típicos do interior.” Hansen reconhece em ambos os textos um excesso de termos técnicos de mineralogia e medicina. 
Outra especialista na obra de Rosa, Maria Célia Leonel, da Unesp, diz que os dois textos não têm a mesma elaboração da narrativa e profundidade das outras histórias de Sagarana. “Ele sempre diz alguma outra coisa por trás das histórias que conta. Aqui, parece que ficou tudo na superfície.

Graciliano morreu em 1953 e não pôde ler outro livro de Rosa. Deixou uma profecia sobre o colega: “Certamente ele fará um romance, romance que não lerei, pois, se for começado agora, estará pronto em 1956, quando meus ossos começarem a esfarelar-se”. 
Exatamente em 1956, Rosa lançou seu único romance, Grande Sertão: veredas
Com ele, foi alçado ao primeiro escalão da literatura mundial, de onde nunca mais saiu.

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domingo, 13 de novembro de 2016

Um conto de fadas - análise Junguiana

Rumpelstiltskin 
Hellen Reis Mourão -  agosto de 2016



Rumpelstiltskin ou Rumpelstilsequim é o personagem homônimo e principal antagonista de um conto de fadas original na Alemanha. 
Este conto foi coletado pelos Irmãos Grimm, em 1812, sendo revisado em edições posteriores.

Um pobre moleiro, para impressionar o rei, com o objetivo fazê-lo casar com a sua filha, mente e diz a ele que ela é capaz de fiar palha e transformá-la em ouro.

O Rei chama a moça, fecha-a em uma torre com palha e uma roda de fiar, e exige-lhe que transforme a palha em ouro até a manhã, durante três noites, ou será executada.

A moça já tinha perdido toda a esperança, quando aparece um anão (em algumas versões um duende) no quarto e transforma toda a palha em ouro em troca do seu colar; na noite seguinte, pede-lhe o seu anel. Na terceira noite, quando ela não tinha nada para lhe dar, o duende cumpre a sua função em troca do primeiro filho que a moça tivesse.

O Rei fica tão impressionado que decide se casar com ela, mas quando nasce o primeiro filho do casal, o anão regressa para reclamar o seu pagamento.

A Rainha, que havia esquecido-se dele, ficou assustada e ofereceu-lhe toda a sua riqueza, se este a deixasse ficar com a criança. O anão recusa, mas por fim aceita desistir da sua exigência, mas cria outra: se a Rainha conseguisse adivinhar o seu nome em três dias.

No primeiro dia, ela falhou, mas antes da segunda noite, o seu mensageiro ouve o duende a saltar à volta de uma fogueira e a cantar. E na musica ele diz seu nome Rumpelstilsequim
Quando o anão foi ter com a Rainha no terceiro dia, ela revela o nome dele, e ele perde o seu negócio, e cego de raiva, se divide em dois.

A heroína do conto é uma jovem bonita, mas pobre. E, como heroína, sabemos que ela irá resgatar e salvar algo.
No conto sua mãe é ausente, o que nos faz supor que ela pode ter morrido. 
Além disso, não havia uma rainha. Com isso podemos supor que a sua missão é resgatar o feminino que está desvalorizado. 
Seu pai, ao mentir e dizer que ela transforma palha em ouro lhe dá um valor que mesmo não reconhecido existe nela.

O ato de fiar, tecer é essencialmente feminino. Um trabalho que exercita a paciência e que auxilia a natureza feminina a se desvencilhar do seu lado masculino.

O ouro é algo de grande valor e incorruptível;  nos mitos africanos está ligado à deusa do amor.

Podemos concluir, então, que ela está fiando e tecendo seu valor enquanto mulher e resgatando o feminino na consciência coletiva. 
Mas com isso ela terá de lidar com uma figura zombeteira, um anão ou duende. 
O anão simboliza pequenos impulsos de caráter engraçado ou vulgar.
Muitas histórias dizem que eles fazem o trabalho por nós, o que é o caso aqui. 
Entretanto, ele pede por três vezes algo de valor em troca, mostrando que ela também deve dar algo dela mesma nesse esforço de resgate do feminino e que deve aprender a negociar, ao invés de competir como é típico do masculino.

A questão das três provas é comum nos contos de fadas. 

Ao terminar pela terceira vez de fiar, o rei resolve se casar com ela. Mas ela se esquece do anão, ou seja, ela se esquece desse impulso brincalhão, mas que pode ser muito criativo. E esquecer um impulso faz com que ele retorne com mais força.

E ele retorna querendo o seu bebê.  Ela precisa resgatar seus impulsos maternos.
Para o feminino o amor é mais valioso que ouro.  
Como prova ela precisa conhecer o nome do anão. Isso significa que ela precisa nomear seu conflito.

Em psicoterapia, quando damos um nome ao conflito alcançamos mais consciência.
É um insight que nos diz: “agora sei o que eu tenho!”, o que facilita a assimilação. 

Ao nomear Rumpelstilsequim ela o traz à consciência e ele deixa de ser uma força destrutiva e passa a ser uma força criativa que a ajudará a negociar com as demandas do mundo externo e interno sem perder sua feminilidade.


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Hellen Reis Mourão é analista Junguiana e especialista em Mitologia e Contos de Fadas.
Atua como psicoterapeuta, professora e palestrante de Psicologia Analítica em SP e RJ.
É colunista do site Fãs da Psicanálise.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Texto de ALBERT EINSTEIN

Albert Einstein

“As leis básicas do universo são simples, mas porque nossos sentidos são limitados, não podemos compreendê-las. Há um padrão na criação.


Se olharmos para uma árvore lá fora com raízes buscando pela água por debaixo do pavimento, ou uma flor que exala o seu cheiro doce às abelhas polinizadoras, ou até mesmo nós mesmos e as forças interiores que nos impulsionam a agir, podemos ver que todos nós dançamos uma música misteriosa, e o flautista que toca a melodia de uma distância, com qualquer nome que queiramos dar-lhe: Força Criativa ou Deus, escapa a todo o conhecimento dos livros.

A ciência nunca está terminada porque a mente humana utiliza apenas uma pequena parte de sua capacidade, e a exploração do mundo pelo homem também é limitada.

Se eu não tivesse uma fé absoluta na harmonia da criação, eu não teria tentado por trinta anos expressá-la em uma fórmula matemática. 
É só a consciência do homem sobre o que ele faz com sua mente que o eleva acima dos animais, e permite-lhe tornar-se consciente de si mesmo e sua relação com o universo.

Eu acredito haver sentimentos religiosos cósmicos. Não entendo como alguém poderia satisfazer estes sentimentos ao orar a objetos limitados. 
A árvore do lado de fora é a vida, uma estátua está morta. Toda a natureza é vida, e vida, como eu a observo, dura e complexa,  rejeita um homem semelhante a Deus.

O homem tem infinitas dimensões e encontra Deus em sua consciência. A religião cósmica não possui outro dogma senão ensinar ao homem que o universo é racional e que o seu destino mais elevado é ponderá-lo e co-criar com suas leis.

Gosto de experimentar o universo como um todo harmonioso. Cada célula possui vida. A matéria, também, possui vida; É energia solidificada. Nossos corpos são como prisões, e estou ansioso para ser livre, mas eu não especulo sobre o que vai acontecer comigo.

Eu vivo aqui e agora, e minha responsabilidade é neste mundo agora. Eu lido com as leis naturais. Este é o meu trabalho aqui na Terra. 
O mundo precisa de novos impulsos morais que, temo, não virão das igrejas, fortemente comprometidas como têm sido ao longo dos séculos.

Talvez esses impulsos devam vir de cientistas na tradição de Galileu, Kepler e Newton. 
Apesar de falhas e de perseguições, esses homens dedicaram suas vidas a provar que o universo é uma entidade única, em que, creio eu, um Deus humanizado não tem lugar.

O cientista genuíno não é movido pelo louvor ou culpa, nem prega. Ele desvenda o universo e as pessoas vêm ansiosamente, sem ser levadas por nada, somente para contemplar uma nova revelação: a ordem, a harmonia, a magnificência da criação!

E conforme o homem se torna consciente das leis estupendas que governam o universo em perfeita harmonia, ele começa a perceber o quão pequeno ele é. 
Ele vê a pequenez da existência humana, com as suas ambições e intrigas, o seu crer em ‘eu sou melhor do que você’.

Este é o começo da religião cósmica dentro dele; a comunhão e o serviço humano tornam-se seu código moral. Sem tais fundamentos morais, estamos irremediavelmente condenados.

Se queremos melhorar o mundo não podemos fazê-lo com o conhecimento científico, mas com ideais. 
Confúcio, Buda, Jesus e Gandhi fizeram mais para a humanidade do qualquer ciência jamais fez.

Temos que começar com o coração do homem – com a sua consciência – e os valores da consciência só podem ser manifestados por um serviço altruísta para a humanidade.



Eu tenho fé no universo, porque ele é racional. Leis ditam cada acontecimento. E eu tenho fé no meu propósito aqui na Terra. Tenho fé em minha intuição, a língua da minha consciência, mas não tenho fé em especulações sobre o Céu e o Inferno. Estou preocupado com este tempo aqui e agora.

Muitas pessoas pensam que o progresso da raça humana está baseado em experiências de natureza empírica, crítica, mas eu digo que o verdadeiro conhecimento é obtido apenas através de uma filosofia da dedução. Pois é a intuição que melhora o mundo, não apenas seguir um caminho trilhado do pensamento.

A intuição nos faz olhar para os fatos não relacionados e depois pensar sobre eles, até que tudo possa ser traduzido em uma lei. Procurar por fatos relacionados significa manter o que se tem em vez de procurar novos fatos.

A intuição é o pai de novos conhecimentos, enquanto que o empirismo nada mais é que um acúmulo de conhecimento antigo. 
A intuição, não o intelecto, é o “abre-te sésamo” de si mesmo.

Na verdade, não é o intelecto, mas a intuição que leva a humanidade adiante. A intuição diz ao homem o seu propósito nesta vida.

Eu não preciso de qualquer promessa de eternidade para ser feliz. Minha eternidade é agora. Eu tenho um único interesse: cumprir o meu propósito aqui onde estou.

Este propósito não me é dado por meus pais ou meu ambiente. É induzido por certos fatores desconhecidos. Esses fatores tornam-me uma parte da eternidade”.
  
ALBERT EINSTEIN
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Fonte do texto: ‘Einstein e o poeta: Em Busca do Homem Cósmico’ (1983).
A partir de uma série de reuniões que William Hermanns teve com Einstein em 1930, 1943, 1948, e 1954.
Este e outros artigos de Einstein em “Einstein, o enigma do Universo”.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Do filme "Tempos de Paz"

Monólogo de Segismundo 
por Dan Stulbach – Filme “Tempos de Paz”


Ai de mim! Ai pobre de mim!
Que pergunto a Deus para entender.
Que crime cometi contra Vós?
Pois se nasci, entendo já o crime que cometi.
Aí está motivo suficiente para Vossa justiça, Vosso rigor.
Pois o crime maior do homem é ter nascido!

Para maiores cuidados, só queria saber que crimes cometi contra Vós, além do crime de nascer.
Não nasceram outros também?
Pois se outros nasceram, que privilégios tiveram que eu jamais gozei?

Nasce uma ave, e é embelezada por seus ricos enfeites.
Não passa de flor de plumas, ramalhete alado, quando veloz cortando os salões aéreos recusa piedade ao ninho que abandona em paz.
E eu, tendo mais instinto, tenho menos liberdade?

Nasce uma fera, com uma pele respingada de belas manchas, que lembram estrelas. 
Logo, atrevida, feroz, a necessidade humana lhe ensina a crueldade!
Monstro de seu labirinto!
E eu, tendo mais alma, tenho menos liberdade?

Nasce um peixe, aborto de ovas e lodo, enfeita um barco de escamas sobre as ondas.
Ele gira, gira, por toda a parte, exibindo a imensa liberdade que lhe dá um coração frio!
E eu, tendo mais escolha, tenho menos liberdade?

Nasce um riacho, serpente prateada, que dentre flores surge de repente, de repente. 
Entre flores ele se esconde, e como músico celebra a piedade das flores que lhe dão um campo aberto á sua fuga!
E eu, tendo mais vida, tenho menos liberdade?

Assim, assim, chegando a esta paixão um vulcão, qual Etna, quisera arrancar do peito pedaços do coração!
Que lei, justiça ou razão pode recusar aos homens privilégios tão suaves e sensação tão única!

Que Deus deu a um cristão, a um peixe, a uma fera, a uma ave?


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In: "La vida es sueño", ato I, cena I – 
Pedro Calderón de la Barca – 1600-1681)