Quando chorar
Clarice Lispector
Há um tipo de choro bom e há outro ruim.
O ruim é aquele em que as lágrimas correm sem parar e, no entanto, não dão alívio. Só esgotam e exaurem.
Uma amiga perguntou-me, então, se não seria esse choro como o de uma criança com a angústia da fome. Era. Quando se está perto desse tipo de choro, é melhor procurar conter-se: não vai adiantar.
É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar.
É difícil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza.
Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito.
Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta às vezes inútil.
Respeito muito o homem que chora. Eu já vi homem chorar.
* * *
No livro “A descoberta do mundo”. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
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