As 10 melhores canções de Belchior
Eberth Vêncio - na página 'Revista Bula
Foi noticiado que o cantor Belchior morreu dormindo. Fiquei vívido e insone após a notícia.
Uma artéria de grosso calibre, a maior do corpo humano, teria estourado nas entranhas feito uma bomba-relógio, ceifando a vida de um “antigo compositor cearense”, um “reles cidadão latino-americano” que, pelo que constava, pelo que se propagava na mídia, era atormentado por questões existencialistas primárias, como dinheiro e desilusão, por exemplo.
Não creio que Belchior estivesse quebrado. Eu suponho que o seu coração, sim, estivesse partido, espatifado, falido de amor e de fé.
Tudo são conjecturas. Não tive o prazer e a honra de conhecer Belchior, pessoalmente.
No início dos anos 1990, vi um show dele em Goiânia, futuro criatório dos sertanejos-universitários (cruz-credo!).
É incrível quando se sente dor, tristeza, uma melancolia danada pela morte de alguém que, sequer, nos conhecia. Foi bem assim que me senti quando soube do fim silencioso de Belchior.
Ele morava de favor, incógnito, na casa de um amigo em Santa Cruz do Sul.
Acho que compreendo o que Belchior sentia no seu exílio voluntário. No fundo, eu penso que ele tenha entregado os pontos. Isso é um palpite, um sentimento muito pessoal, pois, eu quase sempre sofro do mesmo ímpeto de jogar a toalha: eu acredito que ele tenha optado em se postar fora do jogo, que ele tenha se recusado, peremptoriamente, a viver a vida tal e qual a vivemos no planeta, em especial, no Brasil, um país de povo inculto, sofrido, desonesto, matreiro, religioso, hipócrita e feliz. Que mistura é essa?
O que será mesmo essa tal felicidade?
Sim. Nossos ídolos ainda são os mesmos e eles estão morrendo. Isso é sintoma de que também estamos definhando sob o cajado cruel e impiedoso do tempo.
Há quem afirme, esbanjando autoconfiança e empáfia, que toda espécie de idolatria é descartável, que não precisamos de ídolos para sobreviver às agruras da vida, que este subterfúgio seria um mister para os fracos. Eles devem estar certos. A razão quase sempre está certa.
E é por essa e outras certezas que a poesia, a música e a arte de maneira geral vicejam como uma espécie de antídoto para tanta racionalidade. Há que se sublimar para suportar a pressão de estar jogando o jogo da vida. Para não afundar, cada qual se agarra nos destroços que consegue. Eu, por exemplo, prefiro a música.
Foi assim, entristecido, tomado de abismal melancolia, que propus ao editor da Revista Bula fazermos uma enquete entre os nossos leitores, a fim de prestar um tributo ao cantor, compositor e poeta Belchior, elegendo, dentre tantas pérolas da sua vasta obra, as mais belas canções.
Internet é um território pantanoso onde os néscios abundam.
Antes mesmo dessa publicação acontecer, houve quem nos acusasse de hipocrisia e de oportunismo ao homenagearmos Belchior, que andava sumido, há mais de dez anos fora do calor dos holofotes e do mercado fonográfico brasileiro. O que não falta é gente para atazanar, vocês sabem. Não lhes dou a mínima.
A maioria retumbante das pessoas entendeu a proposta e, generosamente, escolheu a sua preferida, dentre tantas composições emblemáticas. De acordo com os leitores da Revista Bula, “As 10 Melhores Canções de Belchior” seguem abaixo, para o deleite e consolo de quem curte música de qualidade.
Declaro toda minha gratidão e respeito. Salve, Belchior! Um dos mais incompreendidos e subestimados artistas brasileiros.
Fotografia 2x4 (1976)
Tudo Outra Vez (1979) Paralelas (1977)
Galos, Noites e Quintais (1977)
A Palo Seco (1973)
Alucinação (1976)
Divina Comédia Humana (1978)
Coração Selvagem (1977)
Comentários a Respeito de John (1979)
Como Nossos Pais (1976)
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