Carta a Ofélia (trechos)
“ Se a vida, que é tudo, passa por fim,
como não hão-de passar o amor e a dor,
e todas as mais coisas,
que não são mais que partes da vida?
(...)
Quanto a mim o amor passou
mas conservo-lhe uma afeição inalterável,
e não esquecerei nunca (...)
Peço que não faça como gente vulgar,
que é sempre reles,
e não me volte a cara quando passe por si
nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor.
Fiquemos um perante o outro
como dois conhecidos desde a infância
que se amaram um pouco quando meninos
embora na vida adulta sigam outras afeições.
Conserva nos escaninhos da alma,
a memória desse amor antigo e inútil.”
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Trechos de carta de FERNANDO PESSOA à sua amada Ofélia, em 29 de novembro de 1920.
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