segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

DRUMMOND - A flor e seu nome


A flor e seu nome
Carlos Drummond de Andrade

Mas o que impressiona mesmo no amor-perfeito é o nome. Que responsabilidade, meu filho!

Há por aí uma planta chamada de amor-de-um-dia, que não carece muito esforço para ser e acontecer, como doidivanas.

Outra atende por amor-das-onze-horas e presume-se como sua vida é folgada.

Há também amor-de-vaqueiro, amor-de-hortelão, amor-de-moça, amor-de-negro... muitos amores vegetais que desempenham função limitada.

Mas este aqui não tem área específica, não se dirige a grupo, ocasião, profissão. É absoluto, resume um ideal que vai além do poder das flores e dos seres humanos.

Que sentirá o amor-perfeito, sabendo-se assim nomeado?

Que tristeza lhe transfixará o veludo das pétalas , ao sentir que os homens que tal apelação lhe dera não são absolutamente perfeitos em seus amores?

Que aquele substantivo, casado a este adjetivo, sugere mais aspiração infrutífera da alma do que modelo identificável no cotidiano?

A tais perguntas o sóbrio amor-perfeito não responde.


O outono tampouco.

Talvez seja melhor não haver resposta.


*            *            *

Se eu gosto de poesia? Gosto de gente, bichos, plantas, lugares, chocolate, vinho, papos amenos, amizade, amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo. (Carlos Drummond de Andrade)


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