Clarice, por Alfredo Ceschiatii - Paris, 1947 |
Um retrato para fazer jus ao tema do post, o volume “Clarice Lispector: Pinturas”, do angolano Carlos Mendes Sousa, que acaba de sair pela Rocco.
Mendes Sousa, professor de literatura brasileira na Universidade do Minho e um dos maiores especialistas do mundo em Clarice, fez um estudo de sua relação com as artes plásticas, seja como colecionadora, seja como jornalista, seja como, hm, bem, artista.
Clarice: ‘Eu pinto tão mal que dá gosto’
Clarice não pintava bem como escrevia, é verdade. Mas o que escrevia, diz Mendes Sousa, transparecia muito do que pensava sobre as artes plásticas.“Pergunto-me também como é que vou cair de quatro em fatos e fatos. É que de repente o figurativo me fascinou: crio a ação humana e estremeço. Também quero o figurativo assim como um pintor que só pintasse cores abstratas quisesse mostrar que o que fazia por gosto, e não por não saber desenhar” (trecho de “A Hora da Estrela”)
Tela de Clarice:'Escuridão e luz - Centro da vida', 1975 |
Óleo sobre madeira: 'Pássaro da Liberdade', - 1975 Clarice Lispector |
Tela de Clarice Lispector - 'Volumes', 1975 |
Mais do que isso, argumenta o autor, “a atmosfera pictórica contamina a escrita de Clarice Lispector em aspectos mais ou menos visíveis, como os jogos de luz e sombra, os recortes formais, as descrições, a presença da cor etc., elementos observáveis especialmente nos planos narrativo ou estilístico-retórico”. Como nesse trecho de “Água Viva”:
“Vou te dizer uma coisa: não sei pintar nem melhor nem pior do que faço. Eu pinto um ‘isto’. E escrevo com ‘isto’ –é tudo o que posso. Inquieta. Os litros de sangue que circulam nas veias. Os músculos se contraindo e retraindo. A aura do corpo em plenúrio. Parambólica –o que quer que queira dizer essa palavra. Parambólica que sou. Não posso me resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. Eu sou uma cadeira e duas maçãs. E não me somo.”
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