Sinos em Isla Negra |
O Carteiro e o Poeta
Antonio Skármeta
"Quero que você vá com este gravador passeando pela Ilha Negra e grave todos os sons e ruídos que vá encontrando.
Preciso desesperadamente de algo, nem que seja o fantasma da minha casa. A minha saúde não anda nada bem.
Sinto falta do mar. Sinto falta dos pássaros. Mande para mim os sons da minha casa.
Entre no jardim e faça soar os sinos.
Primeiro grave esse repicar suave dos sininhos pequenos quando o vento bate neles, e depois puxe o cordão do sino maior, cinco, seis vezes. Sinos, meus sinos!
Não há nada que soe tão bem como a palavra sino se a penduramos num campanário junto ao mar.
E depois vá até as pedras e grave a arrebentação das ondas.
E se ouvir gaivotas, grave.
E se ouvir o silêncio das estrelas siderais, grave.
Paris é muito bonita, mas é uma roupa que fica muito grande para mim.
Além do mais, aqui é inverno e o vento revolve a neve como um moinho a farinha.
A neve sobe, sobe, trepa pela minha pele. Ela me faz um triste rei com sua túnica branca. Já está chegando à minha boca, já tapa meus lábios, já não me saem as palavras".
(p. 83-84)
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