Ri muito com esta crônica; isto é senso de humor, aquele humor que desnuda, mostra a face (sem trocadilhos, por favor) mas não humilha, não ofende, não pretende ser voz de consciência nenhuma.
E ainda 'curti' o seguinte comentário de um dos leitores:
"o Facebook se tornou (também) um lugar para protestos e pseudos-ativismos. No Facebook muitos palpitam, se manifestam e se engajam. Mas onde estão a carne, a presença, a voz e não mais somente a imagem, a face, o perfil virtual?"
A culpa é do Facebook!
Viviane C. Moreira (03/02/2012) no blog Amálgama
Embora a culpa esteja em baixa, se é que ela sobrevive ainda ao jogo do empurra-empurra, melhor réu não há pra ser julgado culpado do que o Facebook. Ele é o culpado por nos distrair nas migalhas de tempo livre que nos sobra. Nos minutos em que não temos nada pra fazer, ou nos intervalos do corre-corre pra lá, pra cá, entre responsabilidades, prazos e afazeres domésticos, ou no estresse dos engarrafamentos, do liga-e-liga-de-novo-e-mais-uma-vez para celulares fora de área, ou desligados, ah! entre sessões de fisioterapia, acupuntura, massagem, pilates… e na tortura da fila de espera para marcação de consultas médicas – “Horário com o doutor, só pra daqui a três meses e olhe lá! Nem encaixe mais dá pra fazer!” E, no meio de tudo isso, ou antes disso tudo, ou no final, o que há?
Teclas sob o comando de nossas mãos. Cliques ou toques aqui, ali, e janelas são abertas. Abra-te Sésamo e… aparece o Facebook, com imagens e mais imagens e frases e mais frases. Algumas mirabolantes, atribuídas a autores que não disseram o que dizem que eles disseram. Risos de nervoso, diante da impossibilidade de tal autor ter expressado aquele pensamento, com aquela linguagem, porque aquele autor viveu em outra época, bem diferente desta da internet. Sorte a dele? Nem sei. Mas, no Facebook, grandes escritores estão bem vivos e vivendo uma vida extra – muito além da que eles viveram. Drummond, Clarice, Fernando Pessoa – imaginem! – dão conselhos no Facebook. Logo eles que jamais deram dicas sobre como viver bem. Eles apenas fizeram literatura. E da boa.
O velho hábito de procurar o culpado… E vamos tocando o barco. Ou melhor, ajustando a cadeira à tecnologia, o corpo à tecnologia, a visão à tecnologia, o tato à tecnologia, a concentração à tecnologia, a curiosidade à tecnologia e, assim, nos encontramos no Facebook.
Como é gostoso ver os amigos, sobretudo os mais durões, se renderem ao Facebook. A cada dia, um se rende, e o mais divertido é ler depois no status: “Atendendo a pedidos, tou no Facebook!” Ou: “Tive que entrar no Facebook. Paciência!” E: “Já que todos os meus amigos estão no Facebook, eu não serei o único a ficar de fora!” Como se fosse uma fuga em comboio, da noite pro dia, para um lugar diferente. Sem falar nos rendidos contrariadíssimos: “Olá! Add o mais novo babaca, por favor!” E há muitos como eu que decidem entrar no Facebook por causa de um amigo que, afetuosamente, nos convence sobre as suas vantagens como mídia social – seria esta a minha justificativa, a propósito?
Entre frases e frases, uma eu curti muito: “A inveja tem Facebook!” Achei esta genial – como está na moda dizer. Depois, pensei: como você é marinheira de primeira viagem. Ora, claro que a inveja tem Facebook! Imagina se a inveja não teria Facebook. Como não? Ela não só teria como não seria a última a ter, sua boba. Talvez ela tenha sido a primeira a tê-lo. E muito empolgada, acabou se tornando sua parceira.
Seria a tal “inveja boa”? Confesso que eu não faço a mínima ideia do que seja, ou possa ser, inveja boa, mas também me pego dizendo, vez por outra: é inveja boa! Pois é ela, a inveja boa, que faz a gente olhar, sem querer, o que fulano, beltrano, sicrano fizeram ou andam fazendo no Facebook. Vemos o que todo mundo faz porque se está lá é pra gente ver quem curtiu o quê, quem comentou o quê – é pra ver, entendeu? Sim, Sra. inveja boa, eu entendi, perfeitamente.
E a famosa curiosidade feminina, a vilã dos conflitos entre mulheres e homens? A eterna culpa de Eva? É muito interessante ver que os homens são, no Facebook, tão curiosos como as mulheres. E igualmente curiosos. Curtem coisas que, antes, só as mulheres curtiam, ou diziam que curtiam. No Facebook, homens e mulheres se parecem bastante e curtem muito as mesmas coisas. Os mesmos lugares. Os mesmos livros. Os mesmos times. Os mesmos músicos. As mesmas divas. Os mesmos poetas. Os mesmos estilistas. As mesmas grifes. As mesmas baladas. As mesmas cenas de cinema. As mesmas pizzarias. E o melhor, nem sei, os mesmos sabores de pizza! Quem sabe? Coisas do mundo mágico do Facebook. Dá pra entender por que o Facebook tem sido apontado como o pivô de separações e divórcios?
Lembrou-me a personagem Anna, do filme A culpa é do Fidel, uma francesinha bem adaptada ao seu mundo burguês, que não queria saber dos ideais dos pais. E quando sua babá cubana lhe diz que todas as mudanças que estavam acontecendo eram por causa do Fidel, a garotinha de nove anos de idade conclui que o culpado pelo seu mal-estar era o Fidel. Ela, que temia conhecer a causa pela qual os pais lutavam, interpreta a fala da empregada como verdade, e vendo, a certa distância, o que se passava ao seu redor, sem, no entanto, se envolver, defende-se do engajamento dos pais. Assim, ela não compreende a luta deles, sobretudo os princípios e os direitos por que lutavam.
Momentos. Revelações. Surpresas. Fotos de velhos amigos que não vimos mais, nunca mais, mas nunca mais mesmo e, de repente, nos achamos no facebook! É. O facebook também tem disso. E, curiosamente, há o #prontofaleifaleifaleimesmoedaí? Quando alguém manda um recadinho para outro alguém, que não conhecemos, mas supomos que, para aquela frase, há um destinatário de carne e osso, embora anônimo – assim, a carapuça pode servir para uma montanha de gente? Nunca se sabe.
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