12ª ed. Rio de Janeiro, J.Olympio, 1981
Guimarães Rosa
Livro publicado em 1962, traz vinte e uma narrativas preocupadas em tematizar, simbolicamente, os segredos da existência humana. Pertence ao terceiro movimento do Modernismo Brasileiro.
Neste post, selecionei trechos dos cinco primeiros contos.
Livro publicado em 1962, traz vinte e uma narrativas preocupadas em tematizar, simbolicamente, os segredos da existência humana. Pertence ao terceiro movimento do Modernismo Brasileiro.
Neste post, selecionei trechos dos cinco primeiros contos.
(...) "Mal podia com o que agora lhe mostravam, na circuntristeza: o um horizonte, homens no trabalho de terraplenagem, os caminhões de cascalho, as vagas árvores, um ribeirão de águas cinzentas, o velame-do-campo apenas uma planta desbotada, o encantamento morto e sem pássaros, o ar cheio de poeira.
Sua fadiga, de impedida emoção, formava um medo secreto: descobria o possível de outras adversidades, no mundo maquinal, no hostil espaço; e que entre o contentamento e a desilusão, na balança infidelíssima, quase nada medeia."
"As margens da alegria", p.6
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(...) "Só aí se chegou, beirando-me a janela, aceitava um copo d'água. Disse-me : - "Não há como que as grandezas machas duma pessoa instruída!"
Seja que de novo, por um mero se torvava? Disse: - "Sei lá, às vezes o melhor mesmo pra esse moço do Governo, era ir-se embora, sei não..." Mas mais sorriu, apagara-se-lhe a inquietação. Disse : - "A gente tem cada cisma de dúvida boba, dessas desconfianças... Só pra azedar a mandioca..."
Agradeceu, quis me apertar a mão. Outra vez, aceitaria de entrar em minha casa. Oh, pois.
Esporou, foi-se, o alazão, não pensava no que o trouxera, tese para alto rir, e mais, o famoso assunto."
"Famigerado", p. 12
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(...) " Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir-s'embora. Estava voltando para casa, com se estivesse indo para longe, fora de conta.
Mas, parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido.
E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo? Num rompido - ele começou a cantar, alteado, forte, mas sozinho para si - e era a cantiga mesma, de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando."
"Sorôco, sua mãe, sua filha" , p.16
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(...) "Conversávamos, agora. Ela apreciava o casacão da noite, - "Cheiinhas!" - olhava as estrelas, deléveis, sobre-humanas. Chamava-as de "estrelinhas pia-pia". Repetia: - "Tudo nascendo!" - essa sua exclamação dileta, em muitas ocasiões, com o deferir de um sorriso.
E o ar. Dizia que o ar estava com cheiro de lembrança. - "A gente não vê quando o vento acaba..." Estava no quintal, vestidinha de amarelo. O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia exagerado: - "Alturas de urubuir..." Não dissera só: - " ...altura de urubu não ir..."
O dedinho chegava quase no céu. Lembrou-se de: - "Jabuticaba de vem-me-ver..." Suspirava, depois: - "Eu quero ir para lá." - Aonde? - "Não sei."
Aí, observou: - "O passarinho desapareceu de cantar..." De fato, o passarinho tinha estado cantando, e, no escorregar do tempo, eu pensava que não estivesse ouvindo; agora, ele se interrompera. "
"A menina de lá", p. 18
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(...) "Demos, os Dagobés, gente que não prestava. Viviam em estreita desunião, sem mulher em lar, sem mais parentes, sob a chefia despótica do recém-finado. Este fora o grande pior, o cabeça , ferrabrás e mestre, que botara na obrigação da ruim fama os mais moços - 'os meninos', segundo seu rude dizer."
"Os irmãos dagobé", p. 22
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