terça-feira, 14 de agosto de 2012

"RAZÃO E SENSIBILIDADE"


By Carl Vilhelm Holsøe, from Denmark (1863 - 1935)
- Oil on canvas -

[Danish School of Interior Painting. Beginning, founded in 1888]

 Às vezes, precisamos parar um pouco, pensar no que já dissemos sobre os nossos gostos e preferências e talvez reformular alguns conceitos.  É mais ou menos o que está acontecendo sobre o que sinto quanto às redes sociais.
Não se trata de esnobismo, mas mantenho perfil em uma rede social pela facilidade de comunicação com minha família e alguns amigos. Recentemente, entretanto, tenho recebido inúmeras manifestações de carinho e atenção de muita gente e fico muito comovida.

Este quadro, por exemplo, foi postado em meu mural por alguém que conheço apenas virtualmente, de longe - Belém do Pará - e que, no entanto, prestou atenção no meu modo de ser e de apreciar a vida. Não é pouco, nesse mundo de tanto individualismo.
Evidentemente, trata-se de pessoa de extrema sensibilidade e a quem eu havia contado uma historinha curta da minha longínqua infância. Aqui, pretendo me estender um pouquinho. Afinal, tenho esse direito.
 
Vejam só: episódio que ficou numa época raramente lembrada porque a vida transcorre em meio a turbulências e calmarias, eliminando ou 'arquivando'  o já vivido.

Quando meus pais foram alertados sobre a possível tendência que eu teria para a música, resolveram me matricular no Conservatório de Música da cidade onde morávamos. E lá fomos nós - eu, bem preocupadinha com a novidade (devia ter uns sete ou oito anos de idade).  As várias salas e saletas do casarão antigo abrigavam instrumentos diversos, estrategicamente ali colocados para despertar o interesse de pais e alunos.  Durante a visita de reconhecimento passamos por várias destas salas - algumas estavam em plena atividade de aula, e os sons eram realmente diferentes e maravilhosos.

Pois bem, enquanto os adultos conversavam acertando detalhes práticos, eu fui bisbilhotando sala por sala. Uma em particular me chamou a atenção pelo som do instrumento diferente que eu ouvia pela primeira vez assim, sem acompanhamento, num solo que, hoje, costumo dizer que foi o 'canto de sereia', arrebatador aos meus ouvidos infantis porém espertos.

Fiquei realmente fascinada e olhava fixamente para as mãos de dois dos alunos que ali estavam - dois meninos. Ouvi o professor interrompendo algumas vezes a execução para corrigir alguma coisa. Suas palavras eram enérgicas mas ao mesmo tempo incentivadoras.

Meu pai, então, chamou-me para comunicar que me matriculara no curso de Piano, o instrumento mais apropriado para as meninas, segundo explicou a diretora da escola. (Estou entregando um pouquinho a época e a minha idade, rsrsrsrs).  Naquele tempo, raros eram os casos de enfrentamento ou desobediência às decisões paternas. E, afinal, eu gostava de Música, não me importando de que modo e em qual instrumento seria executada. Fiquei feliz e disciplinadamente iniciei meu curso de Piano.

Para mim, o som mais atraente era a da sala de aula de Violoncelo, instrumento pouco 'adequado' - na época - aos 'modos' femininos de se sentar.  Coisa mais doida, não?

Pensando bem: não conheço violoncelistas mulheres mais maduras. São sempre jovens. Bom que os tempos tenham mudado!

Resumo: não cheguei a ser uma pianista, mas gosto de tocar até para mim mesma. Minhas filhas também gostam e tocam um pouco. Em nossa casa os  'saraus' particulares eram frequentes e divertidos. Elas criavam historinhas musicadas, enfim, bem diferente da fixação na TV. Isso passou, mas ficou na memória afetiva.

Simples, agora, entender a gratidão e emoção de receber um agrado assim numa rede social.

Obrigada, Telma, de Belém do Pará. Você me trouxe uma linda recordação da minha infância.

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