SEGUINDO CLARICE, A LISPECTOR
"Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então."
Deixo-te estilhaçar o encanto com um sorriso amoroso para a taça de vinho; e tu, deixa-me vadiar pelo teu ser, noturna e fugidia mas em ebulição.
Deixo-te cobiçar outras peles e perfumes, anonimamente; e tu, deixa-me seguir pelas horas, consciente do perigo mas enfeitiçada, não só pela lua cobrindo o jardim de um prateado suavemente azulado.
Deixo-te despir-se, mostrar-se, alma tântrica e insuspeita leviandade; e tu, deixa-me apenas saber-te figura clássica sob uma árvore, saboreando felicidades clandestinas, cantata em latim sob a chuva, enquanto eu, desajeitado miosótis, indecifrável sentimento aquecendo-me, alimentando-me e morrendo-me viscontinianamente numa praia italiana, ao pôr-do-sol.
Eu te deixo ser realidade pura e imperfeita e imprevista e desejada.
Deixa-me apenas com a flor pagã do meu segredo.
"O silêncio perfeito de uma flor. Macio como quando se fecha a luz para dormir. E faz o botão da luz um barulhinho que quer dizer: boa noite, meu amor."
Perdoe-me pelo caos no meu planeta.
(TEL MONT)
* * *
Puxa... Grata! Fiquei emocionada.
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