segunda-feira, 21 de outubro de 2013

VINÍCIUS DE MORAES - Lapa de Bandeira


LAPA DE BANDEIRA
Vinícius de Moraes - Rio de Janeiro , 1952

(Quinta rima) 
A Manuel Bandeira 

Existia, e ainda existe 
Um certo beco na Lapa 
Onde assistia, não assiste 
Um poeta no fundo triste 
No alto de um apartamento 
Como no alto de uma escarpa. 

Em dias de minha vida 
Em que me levava o vento 
Como uma nave ferida 
No cimo da escarpa erguida 
Eu via uma luz discreta 
Acender serenamente. 

Era a ilha da amizade 
Era o espírito do poeta 
A buscar pela cidade 
Minha louca mocidade. 
Como uma nave ferida 
Perambulando patética. 

E eu ia e ascensionava 
A grande espiral erguida 
Onde o poeta me aguardava 
E onde tudo me guardava 
Contra a angústia do vazio 
Que embaixo me consumia. 

Um simples apartamento 
Num pobre beco sombrio 
Na Lapa, junto ao convento... 
Porém, no meu pensamento 
Era o farol da poesia 
Brilhando serenamente.

*        *        *

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