Ilustração do polonês Pawel Kuczynski Adicionar legenda |
Às vezes almejo
um raro privilégio:
poder ter vivido
na mente de um poeta querido,
como visitando um vilarejo...
Em Drummond, sob seu prisma,
poderia saber completo o que ele sabia
quando disse o que disse em seus enigmas,
imerso em sua alma férrea,
mesmo achando que não sobreviveria
na aridez de sua atmosfera;
Em Pessoa me perderia,
disfarçado na balbúrdia que fôssemos,
atropelado, confundido, então,
alheado em suas vias,
a tal ponto de me tornar mais um heterônimo,
correndo o risco de perder-me em sua multidão;
Já Quintana é tão transparente
que já o habito sempre,
de tanto que sua poesia aceita.
É nela onde posso
aquecer meus ossos
da ternura feita de sua sabedoria meiga,
descansando em encantamento de letra;
Queria de Manuel borboletar-me fora da asa,
reaprender-me criança em sua roça-palavra,
seus musgos, vestígios;
Queria ainda acender minha chama
na fúria efêmera do como ama Vinícius;
Buscar em Oswald de Andrade
os fragmentos de brasilidade
com que se me construa, por inteiro,
uma verdadeira identidade,
o que sou brasileiro;
E abastecido dessa rica matéria-prima,
pilhada em reinos de tamanha poesia,
deliciosamente me readrianava,
a brincar de me fazer maior do que sozinho eu jamais seria...
*
Adriano Dias - página 'Semema'
Nenhum comentário:
Postar um comentário