segunda-feira, 6 de junho de 2016

Adriano Dias e os Mestres

Ilustração do polonês Pawel Kuczynski Adicionar legenda


Às vezes almejo 
um raro privilégio: 
poder ter vivido 
na mente de um poeta querido, 
como visitando um vilarejo...

Em Drummond, sob seu prisma, 
poderia saber completo o que ele sabia 
quando disse o que disse em seus enigmas,
imerso em sua alma férrea,
mesmo achando que não sobreviveria
na aridez de sua atmosfera;

Em Pessoa me perderia,
disfarçado na balbúrdia que fôssemos,
atropelado, confundido, então,
alheado em suas vias,
a tal ponto de me tornar mais um heterônimo,
correndo o risco de perder-me em sua multidão;

Já Quintana é tão transparente
que já o habito sempre,
de tanto que sua poesia aceita.
É nela onde posso
aquecer meus ossos 
da ternura feita de sua sabedoria meiga,
descansando em encantamento de letra;

Queria de Manuel borboletar-me fora da asa, 
reaprender-me criança em sua roça-palavra, 
seus musgos, vestígios;

Queria ainda acender minha chama 
na fúria efêmera do como ama Vinícius;

Buscar em Oswald de Andrade
os fragmentos de brasilidade 
com que se me construa, por inteiro,
uma verdadeira identidade,
o que sou brasileiro;

E abastecido dessa rica matéria-prima, 
pilhada em reinos de tamanha poesia,
deliciosamente me readrianava,
a brincar de me fazer maior do que sozinho eu jamais seria...
*

Adriano Dias - página 'Semema'


Nenhum comentário:

Postar um comentário