segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DE UMA CANÇÃO

Tenho ouvido muita música - clássica e contemporânea - e quando digo Clássica, refiro-me não apenas à música erudita, mas também aos clássicos populares, àquelas canções que mesmo depois de 50, 60 anos de sua criação ainda emocionam quando executadas em sua forma original ou mesmo em "releituras" feitas pelos intérpretes modernos.
É o caso de "Ne me quitte pas", que mereceu inúmeras gravações pelo mundo afora e sobre a qual tenho algumas considerações a fazer.
--------------------------------------------------------------------
Ne Me Quitte Pas
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

"Ne me quitte pas é uma canção francesa composta, escrita e cantada por Jacques Brel, publicada em 1959 pela Warner-Chappell.
A primeira versão de Brel data de 11 de setembro de 1959, como parte do álbum La Valse à mille temps.
Em 1961, é produzida a primeira versão (em flamengo/holandês), intitulada Laat me niet alleen.
Treze anos após a versão original, em 20 de junho de 1972, Jacques Brel lança uma nova versão para o álbum que leva o mesmo nome, Ne Me Quitte Pas.
Ne me quitte pas foi interpretada na versão orginal em francês por Simone Langlois, seguida de Nina Simone, Sylvie Vartan, Serge Lama, Nana Mouskouri (no álbum Hommages de 1997), Yuri Buenaventura (versão salsa, em 1999), Maysa, Estrella Morente, Maria Gadú de 2009 e por Brian Molko, vocalista do Placebo (banda), em 2010. A interpretação de Simone Langlois (1959) foi possivelmente a primeira gravação: Brel teria dado a ela prioridade em gravar a primeira versão.  Dentre os artistas brasileiros que gravaram a música, além de Maysa, podem-se destacar: Ângela Ro Ro, Roberta Miranda, Alcione e Sônia Andrade.
Há outras versões de Ne Me Quitte Pas nos mais diversos idiomas, algumas memoráveis são os títulos: "If you go away", "Don´t leave me", "Bitte, geh nicht fort", "Non andare via", "Não me Deixes Mais", "Se Você Partir", "Laat me niet alleen", "Al tilchi mikan", "Ne ovstavljaj me", "No me dejes", "No em deixis mai", dentre outras.
------------------------------------------------------------------------

Busquei essas informações para prosseguir em meu comentário. Devo dizer que gosto muito da melodia e da letra em francês. Nunca ouvi as versões em outros idiomas.
Quando ouvi a versão de Maria Gadú, achei interessantíssima, pois estava acostumada às interpretações de Maysa e Nina Simone que sempre me comoviam pela dramaticidade e o tom lamentoso do fim de um relacionamento.
Não é, absolutamente, o que acontece na versão de Maria Gadú, que imprimiu sensualidade e até um certo desprendimento ao refrão "ne me quitte pas, ne me quitte pas..." Ficou, assim, algo que não machuca, não causa sofrimento, tratando-se apenas de constatação e  tentativa diante de uma situação corriqueira e que acabará sendo esquecida. Isso não significa que seja inferior, de modo nenhum. É bonita e o ritmo (também modificado) chega a ser dançante.
Fiquei então pensando que na esteira das mudanças de tudo no mundo, principalmente na questão de comportamento, essas regravações vão nos orientando e mostrando as modificações externas e internas do ser humano. 
Se antes as dores de amor, os temores, as desilusões eram extravasados de forma poética, musical, hoje, esses sentimentos são escamoteados, ficam imersos no tumultuado mundo de emoções contidas. Não devemos nos expor emocionalmente pois as pessoas não têm nem tempo nem paciência para ouvir-se umas às outras. Isso me fez lembrar um texto do Rubem Alves, em que ele comenta que há cursos de oratória e nenhum de "escutatória". A ordem é a alegria permanente, ainda que mentirosa. Não se pode mais sentir ou sofrer baixinho. Menos ainda, confessar isso a alguém. A ordem é alardear a felicidade ruidosa, ainda que falsa. Atrelada a esse tipo de comportamento vem também a exposição física: o corpo é o bem supremo. Quanto mais é despido, mais a alma é encoberta. Assim, tanto faz ter ou não alguém para amar, ter ou não amigos de verdade. O que interessa é exibir beleza física - esse conceito que muda de tempos em tempos -, ostentar poder econômico, e fingir... fingir o tempo todo que não somos a mais maravilhosa mistura de erros e acertos, de derrotas e vitórias por meio dos quais podemos crescer espiritualmente aceitando o que todos temos de humano e divino.

Sueli
Resende 27/12/10




Nenhum comentário:

Postar um comentário