Sobre a publicação, em livro, de seus contos no Jornal do Brasil
Esses contos (serão contos?) não são plausíveis na acepção latina de merecerem aplausos. São plausíveis no sentido de que tudo neste mundo, e talvez em outros, é crível, provável, verossímil.
Todos os dias a imaginação humana confere seus limites, e conclui que a realidade ainda é maior do que ela.
Não posso dizer, verdadeiramente, que os escrevi. Escreveram-se no dia a dia do Jornal do Brasil , sem a intermediação de forças misteriosas. Queriam existir como estórias, ocuparam papel e hoje formam livro.
Carlos Drummond de Andrade
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A incapacidade de ser verdadeiro
Carlos Drummond de Andrade
Paulo tinha fama de mentiroso.
Um dia chegou em casa dizendo que vira no campo dois dragões da independência cuspindo fogo e lendo fotonovelas.
A mãe botou-o de castigo, mas na semana seguinte ele veio contando que caíra no pátio da escola um pedaço de lua. Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa, como foi proibido de jogar futebol durante quinze dias.
Quando o menino voltou falando que todas as borboletas da Terra passaram pela chácara de Siá Elpídia e queriam formar um tapete voador para transportá-lo ao sétimo céu, a mãe decidiu levá-lo ao médico.
Após o exame, o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Colô. Este menino é mesmo um caso de poesia.
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