''Desejamos apaixonadamente que algo nos salve dos destinos biológicos para que toda poesia e toda grandeza não sejam excluídas deste mundo.'' MURIEL BARBERY in "A elegância do ouriço"
sexta-feira, 29 de abril de 2011
NARA LEÃO - Cuitelinho
CUITELINHO
Cheguei na bera do porto
onde as onda se espaia.
As garças dá meia volta
e senta na bera da praia.
E o cuitelinho não gosta
que o botão de rosa caia, ai, ai...
Quando eu vim de minha terra,
despedi da parentaia.
Eu entrei no Mato Grosso,
dei em terras paraguaia.
Lá tinha revolução,
enfrentei fortes bataia, ai, ai...
A tua saudade corta
como aço de navaia.
O coração fica aflito,
bate uma, a outra faia.
E os óio se enche d'água
que até a vista se atrapaia, ai, ai...
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Os arcaísmos de nossa língua mátria
"Cuitelinho": designação dada a certa espécie de beija-flor; é também o título de uma modinha do folclore do Centro-oeste do Brasil, adaptada por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó, e que tornou-se um clássico da genuína música sertaneja. Entre as muitas gravações - Milton Nascimento, Renato Teixeira e outros - é na voz de Nara Leão a de que gosto mais.
Nota informativa:
Os castelhanos chamam de “yeísmo” ao fenômeno em que o “LL” deles, nosso “LH”, é pronunciado como “i”, como em caballo (cavalo), que se diz “cabaio”, pelo povão espanhol, no Caribe e na América Central. Curiosamente, na França, o mesmo “LL” , como em bataille (batalha), abeille (abelha), se pronuncia “batáie” e “abéi”, respectivamente.
Da mesma forma, o nosso falante do interior do Brasil, segue, por uma origem comum e remota, as mutações de pronúncia das línguas do mesmo tronco neolatino; como se vê nos exemplos de Cuitelinho: batáia (batalha), espáia (espalha), naváia (navalha).
(BAGNO, Marcos, A Língua de Eulália, Ed. Contexto, 1997)
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