Adeus
Miguel Torga
Miguel Torga
É um adeus...
Não vale a pena sofismar a hora!
É tarde nos meus olhos e nos teus...
Agora,
o remédio é partir discretamente,
sem palavras,
sem lágrimas,
sem gestos.
De que servem lamentos e protestos
contra o destino?
Cego assassino
a que nenhum poder
limita a crueldade,
só o pode vencer a humanidade
da nossa lucidez desencantada.
Antes da iniquidade
consumada,
um poema de líquido pudor,
um sorriso de amor,
e mais nada.
**
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
e que nele posso navegar sem rumo,
não respondas
às urgentes perguntas
que te fiz.
Deixa-me ser feliz
assim,
já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
o nosso amor
durou.
Mas o tempo passou,
há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
matar a sede com água salgada.
* * *
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