Da página "Homo Literatus"
A um gato
Jorge Luís Borges
Não são mais silenciosos os espelhos
nem mais furtiva a aurora aventureira;
tu és, sob a lua, essa pantera
que divisam ao longe nossos olhos.
Por obra indecifrável de um decreto
divino, buscamos-te inutilmente;
mais remoto que o Ganges e o poente,
é tua a solidão, teu o segredo.
O teu dorso condescende à morosa
carícia da minha mão. Sem um ruído
da eternidade que ora é olvido.
Aceitaste o amor desta mão receosa.
Em outro tempo estás. Tu és o dono
de um espaço cerrado como um sonho.
* * *
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