CASEMIRO, CASEMIRO
Ai que não tenho saudades
da infância bem lá pra trás!
Que raivas choros temores
junto a adulto senhores.
E as tarefas rotineiras
que não acabavam mais?
à sombra de rijas regras
e urubus nos beirais!
Ai vontade de crescer
ouvir conversas inteiras
tossir e espirrar na igreja
e sem melindres dizer
indesejáveis verdades!
Enfrentar a lei dos grandes
e encarar o fogo do inferno
como conversa de espertos.
CONSTANTE REBELDIA
Minha mãe? A idealista
domadora do caos.
Serva da beleza visível
paladina da perfeição
na insana luta cotidiana
contra lençóis amassados
sapatos desengraxados
laços desengonçados
e a obscena deselegância
de minhas pernas abertas
de minha gula sem regra
de meus hábitos malucos
de meus estudos noturnos.
Eu, a desatenta filha
pobre cabeça virada
para o mundo do invisível.
Ah! Indomável menina
desobediente mesmo
sem malévolo intento.
A constante rebeldia
diante de normas e leis.
Eu, cega a hierarquias
e à censura alheia.
Eu sempre de costas a
bom tom e boas maneiras.
Eu amante da liberdade
irmã de todos os pássaros.
NA CHUVA
Nunca entendi
os guarda-chuvas.
Sombrinhas, sim
abrigavam do sol.
Se o chuveiro do céu
se abria, queria banho.
Corria atrás de maiô
sabonete e pente.
Ávida penetrava
as frias cortinas d'água
rio em pé peneirando.
Fechava as pálpebras:
estrelas aterrissassem
faiscando em minha face.
Até que a voz antipática
me gritasse a ordem:
Já já pra dentro de casa.
* * *
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