Arte: Loui Jover |
Lembranças
Luciana Saddi (*) - 09/04/2014
Vai-se a posse, fica para sempre a vantagem de ter possuído.
Segundo ele o destino nos retira a coisa, mas deixa seu fruto.
As reclamações e queixas sempre nos fazem perder a boa lembrança, ou seja, a vantagem de ter vivido algo bom.
Segundo Sêneca, a lembrança fixa a experiência, diminui o efeito da perda sobre nós. Mas a lembrança aumenta a dor da perda quando se torna lamento pelo objeto perdido, adverte ele.
O que são as lembranças? Truques para superar a finitude.
O que se foi se faz presente e perdido ao mesmo tempo.
Lembrança é uma estranha mistura do que perdemos com o que ganhamos ao viver. Marca da passagem do tempo, do passado irreversível, da falta e testemunho da nossa existência.
Transformar a dor da perda em lembrança é uma arte.
A escrita, a literatura e as artes podem ser entendidas como produto e expressão da luta contra o esquecimento e a morte, transformam lembranças em experiência compartilhada para que não se percam no tempo como lágrimas na chuva.
A recordação estende a corda da vida além dela mesma.
* * *
(*) Luciana Saddi atua como psicanalista em São Paulo e é mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.
Assinou por mais de dois anos a coluna Fale com Ela na Revista da Folha.
Integra a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e é autora de artigos científicos em revistas especializadas de Psicanálise.
Tem dois livros publicados como autora de textos de ficção: “O Amor Leva a um Liquidificador”, editora Casa do Psicólogo, e o romance “Perpétuo-Socorro”, editora Jaboticaba.
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