''Desejamos apaixonadamente que algo nos salve dos destinos biológicos para que toda poesia e toda grandeza não sejam excluídas deste mundo.'' MURIEL BARBERY in "A elegância do ouriço"
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
LEITURAS E RELEITURAS MINHAS...
Em fase de melhoramentos na casa (incluindo reformas com obra de alvenaria, pedreiros, ai, ai...) tenho aproveitado para vasculhar o que está guardado há tempos e fazer uma "limpeza geral": jogar fora o que não tem mais utilidade ou sentido em continuar guardado - livros, escritos, papéis, essas coisas.
Com isso, encontrei livros que desejo reler. Um deles é "A montanha da alma" (que título!) de Gao Xingjian (que nome difícil!), escritor chinês Prêmio Nobel de Literatura em 2000.
Segundo a resenha do jornalista Flávio Carneiro, esse autor se recusou a usar seus livros como forma de propaganda da Revolução Cultural de seu país. Sofreu, por isso, forte censura e acabou refugiando-se na França.
Esse romance - A montanha da alma - é um engenhoso cruzamento de dois relatos de viagem por várias regiões da China: o do próprio narrador e o de um outro personagem, ao qual o narrador se refere como "você", o que já propõe uma aproximação mágica com o leitor.
Há um sentimento de desconforto existencial no narrador ao tratar da diluição de valores; uma dilaceração interior e mesmo perda da identidade. O diálogo com o leitor é permanente. Aliás, penso que esse personagem poderia ter saído de um romance de Jean-Paul Sartre, tal o ceticismo em alguns momentos, embora haja também descrições primorosas como a do céu visto por uma janela, do musgo às margens de um lago, da neve na montanha e tudo sinalizando a presença de Deus, o que não acontece na escritura de Sartre.
O universo das personagens é bem variado: são traçados perfis de artesãos, camponeses, prostitutas, monges, soldados e pequenos comerciantes. É do que me lembro.
Pois bem, folheando o tal livro ao acaso, uma página me mostra um trecho que diz o seguinte:
(...) "Pela janela, vejo sobre a faixa de sol coberta de neve uma minúscula rã. Ela pisca um olho e arregala o outro. Sem se mexer ela me observa. Compreendo que se trata de Deus."
Separei o livro para posterior releitura, pois acredito que valha a pena. No momento, prossigo com "Grande Sertão: Veredas" que tem me aberto uma outra dimensão no entendimento.
Li em algum lugar que 'livros são como cartas dirigidas a amigos, apenas mais longas', e concordo. Há momentos em que parece que o autor está falando diretamente com a gente.
Que coisa...
* * *
Sueli, agosto 2011
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