terça-feira, 23 de agosto de 2011

MÁRIO QUINTANA - Poema transitório


Poema Transitório
Mário Quintana

Eu que nasci na Era da Fumaça - trenzinho
vagaroso com vagarosas
paradas
em cada estaçãozinha pobre
para comprar
         pastéis
         pés-de-moleque
         sonhos
- principalmente sonhos!
porque as moças da cidade vinham olhar o trem passar:
elas suspirando maravilhosas viagens
e a gente com um desejo súbito de ficar ali morando
sempre... Nisto,
o apito da locomotiva
e o trem se afastando
e o trem arquejando
é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida
é urgente!
... no entanto
eu gostava era mesmo de partir...
e - até hoje - quando acaso embarco
para alguma parte
acomodo-me no meu lugar
fecho os olhos e sonho:
viajar, viajar
mas para parte nenhuma...
viajar indefinidamente...
como uma nave espacial perdida entre as estrelas.
*           *           *

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