Pablo Neruda (Chile, 1904-1973)
Tomou as lentidões do Outono
Trabalhou nas guaridas invisíveis
Dormiu nos lençóis de nevasca
Igualou a conduta das flechas
Bebeu o sangue agreste dos caminhos
Arrebatou o tesouro das ondas
Fez-se ameaça como um deus sombrio
Comeu em cada cozinha do seu povo
Aprendeu o alfabeto do relâmpago
Farejou as cinzas esparzidas
Embrulhou o coração com peles negras
Decifrou o espiral fio da fumaça
Construiu-se de fibras taciturnas
Azeitou-se com a alma da azeitona
Fez-se cristal de transparência dura
Estudou pára-vento de furacão
Combateu até apagar o sangue
Só então foi digno do seu povo.
* * *
* * *
(in: 'Canto Geral', parte IV, item XI)
Nenhum comentário:
Postar um comentário