Batizado em Bonn (Alemanha), em 17 de dezembro de 1770 — Viena (Áustria), 26 de março de 1827
Um dos maiores compositores da história, foi atormentado em toda sua vida por uma surdez progressiva sem diagnóstico definitivo.
Ele escreveu ao amigo e médico Franz Gerhard Wegeler em 21 de junho de 1801, quando tinha 31 anos de idade:
"Você tem tido notícia da minha situação? Os meus ouvidos nos últimos 3 anos estão cada vez mais fracos, Frank o diretor do Hospital de Viena procurou retonificar o meu organismo com tônicos e meus ouvidos com óleo de Mandorle. Não houve nenhum efeito, a surdez ficou ainda pior. Depois um asno de um médico me aconselhou banhos frios o que me levou a ter dores fortes. Outro médico me aconselhou banhos rápidos no Danúbio, todavia a surdez persiste, as orelhas continuam a rosnar e estalar dia e noite. Te confesso que estou vivendo uma vida bem miserável. Há quase 2 anos me afastei de todas as atividades sociais, principalmente porque me é impossível dizer para as pessoas : Sou surdo !... Se minha profissão fosse outra, talvez poderia me adaptar à minha doença, mas no meu caso a surdez representa um terrível obstáculo. E se os meus inimigos vierem a saber ? O que falarão por aí? Para te dar uma ideia desta estranha surdez, no teatro eu tenho que me colocar pertíssimo da orquestra para entender as palavras dos atores e a uma certa distância não consigo ouvir os sons agudos dos instrumentos e do canto. Surpreendentemente, nas conversas com as pessoas muitos não notaram minha surdez, acreditam que eu sou distraído. Muitas vezes posso ouvir o som da voz mas não entendo as palavras, mas se alguém grita eu não suporto ! O doutor Vering me disse que certamente meu ouvido melhorará, se isso não for possível tenho momentos em que penso que sou a mais infeliz criatura de Deus.”
Não há dados que possam estabelecer exatamente o início de sua surdez. Por alguns manuscritos de Beethoven parece que os sintomas se manifestaram quando tinha 26 anos (em 1796), ano no qual fez sua primeira turnê em Berlin, Dresda, Praga, Lipsia, Nuremberg e Budapest.
Esta imprecisão se deve ao fato de que ele provavelmente não a percebeu ou não dava valor pois não foi súbita e por ser jovem e consciente de suas amplas capacidades artísticas e musicais, não esperava ficar surdo.
Apesar de racional em suas escritas sobre a ineficácia dos tratamentos médicos sempre procurou esperança em novos tratamentos.
Em 16 de novembro de 1801 o compositor escreveu novamente ao seu amigo Wegeler:
..."quer saber como estou? E do que preciso? O doutor Vering me coloca torniquetes nos braços. Este tratamento é muito desagradável, à parte da dor, fico privado de usar o braço por 2 ou 3 dias. Devo confessar que o ruído nos ouvidos fica menor, principalmente no esquerdo onde começou a doença, mas a audição fica na mesma. Não gosto de trocar muito de médico, mas me parece que Vering seja um pouco empírico... O que você pensa do doutor Schmidt**? Parece ser um outro homem. Me contam maravilhas dele, O que você acha? Um médico me disse que viu em Berlin um menino surdo-mudo começar a ouvir e um homem surdo a sete anos se curar totalmente.”
Mas mesmo o Dr. Schmidt, não fez nada mais do que aconselhar-lhe a vida no campo para proteger-se do nervosismo da cidade.
Beethoven seguiu seus conselhos e no fim de abril de 1802 se transferiu a Heiligenstadt, pequeno e tranquilo subúrbio aos pés dos bosques de Viena.
Isso o fez se concentrar por seis meses e atingir a plenitude de seus pensamentos musicais. E foi neste local que se encontrou, anos após sua morte, um manuscrito dentro de uma velha escrivaninha - seu testamento, que entre tantas dizia:
“Para meus amigos e para aqueles que pensavam que eu era anti-social, distraído e ermitão, me julgaram mal. Vocês não conheceram a causa secreta disso tudo. Eu era atormentado de um mal sem esperança, piorado devido a médicos insensatos. Por anos fui enganado com esperanças de melhora e no final fui constrangido a aceitar a realidade de uma doença incurável. Nascido com um temperamento ardente e ativo e sensível às atrações da sociedade, tive que bem cedo me isolar e transcorrer a vida em solidão. Se às vezes tentava me esquecer, meu ouvido me trazia de volta à realidade. Não podia nem pedir para as pessoas : Falem mais alto, gritem, porque sou surdo ! Como poderia admitir uma doença na qual o sentido que para mim mais do que para ninguém deveria ser perfeito? Tive que viver sozinho e se estou com alguém fico com uma enorme ansiedade do medo de correr o risco de se notar a minha condição. Provei desta humilhação quando um aluno que estava ao meu lado ouvia o som de uma flauta e eu não, ouvia o canto de um pastor e eu nada. Quase coloquei fim à minha vida algumas vezes. Foi a música que me entreteve. Me parecia impossível abandonar este mundo antes de criar todas as óperas que sentia imperiosa necessidade de compor. Esta foi minha vida, angustiosa. Quando lerem estas linhas saberão que aqueles que de mim falaram, cometeram grande injustiça. Peçam ao Dr. Schmidt para descrever minha doença para que o mundo possa se reconciliar comigo, ao menos após minha morte.”
(Ludwig van Beethoven, in Testamento de Heilingenstadt, a 6 de Outubro de 1802)
Este documento testemunha perfeitamente o drama psicológico do grande compositor e justifica plenamente sua involução de caráter. Todavia a surdez não interferiu de modo algum na sua veia criativa que terminou por expressar de modo sublime todo seu mundo interior, todos os sentimentos, todas as paixões, todas as emoções e cada percepção de sua alma e da natureza.
O caráter do maestro, fechado, foi em parte reflexo de sua doença, mas é evidente que sua formação teve também influência de sua infância e adolescência.
Representação em bronze |
Com 11 anos fazia parte da orquestra de Bonn e aos 13 era organista. O pai sem dúvida atrapalhou seu início de carreira obrigando-o a ganhar a vida.
Com 22 anos deixou Bonn e foi para Viena, na Áustria, considerada capital da música. Foi em Viena que conquistou rapidamente a notoriedade e sucesso como concertista e compositor.
Em 1814 veio o apogeu da vida musical de Beethoven quando no Congresso de Viena foi aclamado como o maior músico vivo.
O Imperador Francisco I da Áustria (irmão da Princesa Leopoldina do Brasil) colocou a sua disposição dois salões em seu palácio em Viena e lhe deu a cidadania honorária de Viena.
Mas foi neste momento também que a o agravamento de sua surdez o fez abandonar a carreira de concertista.
Consultou vários médicos, inclusive o médico da corte de Viena. Fez curativos, usou cornetas acústicas, realizou balneoterapia, mudou de ares; mas os seus ouvidos permaneciam arrolhados. Desesperado, entrou em profunda crise depressiva e pensou em suicidar-se.
"Devo viver como um exilado. Se me acerco de um grupo, sinto-me preso de uma pungente angústia, pelo receio que descubram meu triste estado. E assim vivi este meio ano em que passei no campo. Mas que humilhação quando ao meu lado alguém percebia o som longínquo de uma flauta e eu nada ouvia! Ou escutava o canto de um pastor e eu nada escutava! Esses incidentes levaram-me quase ao desespero e pouco faltou para que, por minhas próprias mãos, eu pusesse fim à minha existência. Só a arte me amparou!"
Derradeiros anos
A culminância destes anos foi a Sinfonia nº 9 em Ré Menor, Op.125 (1822-1824), para muitos a sua maior obra-prima. Pela primeira vez é inserido um coral num movimento de uma sinfonia. O texto é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller, "Ode à Alegria".
Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até à morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!
(Parte do verso da Ode à Alegria, de Friedrich Schiller, utilizado por Ludwig van Beethoven)
Beethoven recebeu a extrema unção na manhã do dia 24 de março, junto a ele estavam a mulher de seu irmão Johann e um jovem músico de Graz de nome Anselm Huettenbrenner vindo a ser dado como morto no dia 26 às 17:45. O jovem escultor Danhauser moldou sua máscara mortuária na manhã seguinte.
Os funerais de Ludwig van Beethoven foram realizados no final do dia 29 de março de 1827 na igreja da rua Alserstrasse em Viena, Áustria.
Viena lhe ofereceu todas as honras que lhe havia negado em vida. As escolas foram fechadas e naquele dia os vienenses tiveram a certeza de terem perdido algo de verdadeiramente grande; todavia a imensa e emocionada participação não resgatou aos olhos daqueles que o amaram profundamente, a longa indiferença ao músico nos últimos anos de sua triste existência.
Seu devoto companheiro, Nikolaus Zmeskal, poucos dias depois escreveu a Therese von Brunsvik, mais que amiga do maestro: "A sua morte suscitou uma emoção da qual não se tem lembrança...”
De vinte a trinta mil pessoas acompanharam o funeral. Os compositores mais ilustres entre os quais Franz Schubert (que morreu aos 31 anos 1 ano depois de Beethoven e foi enterrado ao lado dele) estavam ao lado de sua urna funerária.
Terminou assim a vida do Maestro, uma vida triste e solitária, não obstante os sucessos artísticos, atormentada nos últimos 30 anos por uma saúde precária e sobre tudo por uma surdez progressiva, angustiante, iniciada precocemente com zumbido e intrusões auditivas persecutórias que o foram excluindo gradualmente e inevitavelmente da vida em sociedade.
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