quinta-feira, 31 de julho de 2014

CARLOS QUEIRÓS - Canção Grata

Canção Grata
 José Carlos Queirós Nunes Ribeiro 
 Lisboa, 5 de abril de 1907 -  Paris, 27 de outubro de 1949



Por tudo o que me deste: 
— Inquietação, cuidado, 
(Um pouco de ternura? É certo, mas tão pouco!) 
Noites de insônia, pelas ruas, como um louco... 
— Obrigado, obrigado! 

Por aquela tão doce e tão breve ilusão. 
(Embora nunca mais, depois que a vi desfeita, 
Eu volte a ser quem fui), sem ironia: aceita 
A minha gratidão! 

Que bem me faz, agora, o mal que me fizeste! 
— Mais forte, mais sereno, e livre, e descuidado... 
Sem ironia, amor: — Obrigado, obrigado 
Por tudo o que me deste! 

*        *        *
In 'Obra Poética'

sexta-feira, 25 de julho de 2014

BEATRICE e o Baile da vida


“Use seu melhor sorriso, aquele que é maior e mais bonito (fingido). 
Tome bastante cuidado, não vá soar amargurado! 
Mantenha o segredo escondido, velado, 
selado, por trás de seus lábios
vermelhos 
pintados.

Esconda tudo o que é feio debaixo da sola dos seus 
sapatos.
Entre na dança, escolha um par, 
mas veja bem onde vai pisar. 
Vista as aparências e espere pelos aplausos.
Afinal
Nós somos o baile de máscaras.”

(Beatrice)

*           *            *

quinta-feira, 24 de julho de 2014

ANDRÉ J. GOMES - Para Ariano Suassuna

Ariano Suassuna
Para Ariano Suassuna, um homem 
de ideias e sonhos
André J. Gomes - 'Revista Bula', 24 de julho 2014

Nesta terra da saúde que o cabra põe doente, onde morre tanta gente e a vileza nunca para, mulher apanha na cara e homem faz o que quer, um rei meio quixote, meio doutor, desceu da realeza pra ver de perto a pobreza, sentir toda a sua dor. E pra ajudar seu povo de um a um, tirou a coroa e saiu à toa, vestido de pessoa comum.

Andando pra todo lado, de jeito santo e letrado, o rei feito andarilho viu o mundo, desceu ao fundo, cada pai e cada filho e cada mãe, ouviu o velho, ouviu o novo com paciência, gente de toda idade, pra entender de verdade a querência de seu povo.

E de tudo o que ele via, dedicado em seu trajeto, o rei fez poesia de encantar o mais abjeto. Nessa vida da gente modesta, com o povo fez sua festa. Aprendeu de tudo que não imaginava, e no trono já nem pensava.

Os anos foram passando, e o rei foi aqui ficando. Trabalhava feito louco, fez de tudo um pouco. Fez livros, fez peças, fez gravuras, fez amigos e inimigos, fez afetos gentis e desafetos imbecis. Foi advogado de profissão, professor, acadêmico, usou fardão! Fez filhos? Não. Fez uma prole! Só não fez foi corpo mole, que a vida anda dureza e não assente mera esperteza.
Pra oferecer conhecimento, ele não tinha lugar e não tinha hora. E até Nossa Senhora, precisada de opinião, o rei daqui mandou chamar. Lá foi ele dessa feita, as mãos juntas em oração, perguntar à Mãe Perfeita, se lhe cabia colaboração.

Tenho cá umas pendências, coisa de todo dia, respondeu a Virgem Maria. E você, cheio de experiências, pode muito me ajudar.

Então o rei voltou à terra, dar adeus, até logo aos seus. Mas seguro, de olhar firme, garantiu: ninguém se avexe, viu? Isso não é partida. Vou ali com a Compadecida olhar de perto para os meus.

Juntou suas coisas, seus livros e lembranças num gibão, montou seu cavalo de olhar esverdeado e cavalgou enluarado, até depois da imensidão.

E você, boa gente, leve essa história à frente. Mas se alguém quiser saber, curioso, gritando “como foi? Conta pra mim!”, você responda simplesmente:

“Não sei. Só sei que foi assim”.

Para Ariano Vilar Suassuna, com a gratidão de sua gente.

*            *            *

quarta-feira, 23 de julho de 2014

ARIANO SUASSUNA - Conhecendo um pouquinho mais...

Um autor sem medo do adjetivo

Aos 80 anos, o escritor e dramaturgo experimenta o brilho de mais uma obra adaptada para a TV e diz que continua escrevendo diariamente com o mesmo cuidado, sem desprezar os adjetivos necessários

Gustavo Acioli entrevista Ariano Suassuna - REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA


O relógio aponta 16 horas, nem parece. A quentura é como a do meio-dia, úmida e sufocante. 
É quinta-feira, 
Rua da Aurora, 423, Recife. 
À beira do Capibaribe, num casarão secular, funciona a Secretaria de Cultura de Pernambuco.

Meu encontro é com o secretário, e não há espera. 
Sou levado ao gabinete de Ariano Suassuna, que me recebe com um sorriso. 
A sala é pequena, sem luxos, sem computador, sem nada demais. 
Sobre a mesa, dessas de repartição pública, um telefone e um guerreiro de lança, simbolo do maracatu.

Assumiu o posto de secretário pela segunda vez. Diz que não teve como negar convite do governador Eduardo Campos, neto do amigo Miguel Arraes. Garante que não tem o vigor do passado. Mas a capacidade de contar histórias sorrindo engana a idade.

Suassuna nasceu em 16 de junho de 1927. 
É o mais pernambucano dos paraibanos. 
Vive com Zélia, primeira namorada e mãe de seus seis filhos, e mora no mesmo casarão desde 1959, no bairro do Poço da Panela. 
A casa foi comprada com os direitos de Auto da Compadecida (1955).

Com vasta obra, Suassuna é um genuíno "parabolicamará", neologismo de Gilberto Gil que funde a imagem de um cesto à de uma antena, para ilustrar a capacidade de adaptação de um mesmo registro em caldos culturais distintos, o local e o global, a oralidade popular e a eletrônica. 
Ele é a um só tempo medieval e pós-moderno, armorial no televisivo, dinossauro em banda larga. 
A adaptação para TV de A Pedra do Reino, no mês passado, foi mostra disso. 
Nesta entrevista, ele mostra como o cuidado com o idioma ajudou sua obra a transitar por ambientes e meios tão distintos.

Língua - Como foi seu encontro com o universo da língua portuguesa?

Ariano Suassuna - Foi o contato com os livros o que começou a me despertar para a importância e a beleza da língua. 
Tanto em casa quanto na escola. Fui à escola com 7 anos, já alfabetizado. 
Lembro que tive a sorte de pegar como livro, que hoje chamaríamos de paradidático, "Através do Brasil"
Era muito bem-escrito, de autoria de Olavo Bilac e do sociólogo Manoel Bonfim. 
Ele exerceu em mim grande influência. 
Hoje, vejo que me tocou por duas coisas. Em primeiro lugar, porque na época eu lia só livros policiais cuja ação se situava em Londres. E via naquele livro, pela primeira vez, a paisagem e a cidade brasileira.

- Do que tratava o livro?

- "Através do Brasil" começava no Recife e acabava no sul do país. 
Contava a história de dois meninos à procura do pai, dado como morto. 
Meu pai tinha morrido (João Suassuna, ex-governador da Paraíba, assassinado em 1930). 
Aquilo me tocava. 
Vejo que uma das formas de interesse era essa coincidência, mas não lembro se na época isso já me tocava... Os dois passavam mil aventuras e encontravam um sertanejo, Juvêncio, nome tutelar para eles, pois era mais velho, com experiência na zona rural e disposto a ajudar. No meio da jornada, se separam. No fim, reencontram o pai, que chama Juvêncio para ficar com eles. O livro foi o meu primeiro encanto literário com a língua.

- Os livros, então, chegaram cedo à sua vida...

- Veja, meu pai era um grande leitor, bem como meus irmãos mais velhos. Enquanto eu, minha mãe e minhas duas irmãs ficávamos no sertão (fazenda Achaun, em Sousa, Paraíba), meus irmãos moravam no Recife. 
Quando passavam férias no sertão sempre me levavam livros. 
Nessa época, ganhei de presente de minha mãe as obras de Monteiro Lobato. 
Foi um deslumbramento. Aí li "Urupês", que também me encantou. 
Depois, um tio me emprestou o primeiro José Lins do Rego, "Doidinho", que logo comecei a ler. 

- E depois, mais velho?

- Ainda na biblioteca de meu pai, que era admirador de Eça de Queirós. 
Repare, me deixe fazer uma referência a um livro especial, "A Cidade e as Serras", de Eça. 
É admiravelmente bem escrito. Lia com sensação de sensualidade até. É atual, uma sátira às primeiras distorções da tecnologia sobre a personalidade do homem da cidade. 
As frases ainda hoje me lembro. (Recita
"Para os vales, poderosamente cavados, desciam bandos de arvoredos, tão copados e redondos, dum verde tão moço, que eram como um musgo macio onde apetecia cair e rolar. [...] Em socalcos verdejavam laranjais rescendentes". 
Li isso e a própria língua me soava como música, tá entendendo?


- Como deu valor à força da língua portuguesa?

- Quando era jovem, muita gente me dizia que o português não era língua forte, ao contrário do inglês. 
Eu precisava muito da musicalidade da língua, até porque queria escrever teatro. 
Precisava de uma língua com ritmo e plástica musical porque o teatro precisa disso. 
Acontece que comecei a ler escritores estrangeiros. 
O meu inglês é fraco: dá para a revista Time, mas Shakespeare, não. Então, li em inglês Otelo com a ajuda de cópia traduzida. Em dado momento, Otelo, cheio de cólera, diz: "Blood, blood, blood". Quando olhei a tradução, "Sangue, sangue, sangue...", eu disse: é, o português é mais fraco. 
Mas, veja, era um erro meu de interpretação. O original tinha sido escrito por um grande poeta. Se fosse brasileiro, não poria "sangue", mas uma palavra que tivesse a mesma força que senti com o inglês dele. 
Fiquei na dúvida até ler Vieira: Sermão da Quarta-feira de Cinzas (1670). 
Ali percebi o português como grande língua. Eu até poderia ser mau dramaturgo, porque era ruim mesmo, mas não por causa da língua. (Recita)
"Lembra-te homem de que és pó, e ao pó havereis de retornar / Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas certas, ambas temerosas, ambas de difícil entendimento...   Uma é presente, a outra é futura, mas a futura os nossos olhos já podem vê-la, e a presente não a alcança o nosso entendimento... E que duas coisas misteriosas são essas? Sois pó e em pó vos haveis de converter-vos. O pó futuro, o pó em que nos havemos de converter não precisa fé nem entendimento para o alcançar, basta assisti-lo em qualquer sepultura, aberta ou fechada, podereis pela prova de que vos digo. Que dizem aquelas letras que cobrem aquelas pedras? As letras dizem pó, as pedras cobrem pó, e tudo o que ali há é o nada que havemos de ser."
Pode-se traduzir Padre Vieira para o inglês, mas o que vai sair é muito mais fraco. 
Aí, vi que a língua portuguesa era fortíssima. De musicalidade e teatralidade que estão à disposição, mas é preciso ser tão bom quanto Vieira.


- O que um escritor pensa quando lembra que o Brasil é país de analfabetos?

- É muito triste. Outro dia, me acusaram de elitismo. 
Repare bem, falavam que eu era elitista porque diziam que, com o Romance d´A Pedra do Reino, é preciso fazer um esforço grande para ler. É acusação demagógica. 
Vou dizer uma coisa: o simples fato de a pessoa ser escritora deixa-a sujeita a ser chamada de elitista. 
Se você pega os números do escritor mais vendido, um Paulo Coelho, por exemplo, mesmo que venda 1 milhão de exemplares, não sei nem se ele vende, mas se vende, o país tem 180 milhões de pessoas. Se só 1 milhão lê o autor mais lido é muito triste. 
Mas é um fato com o qual a gente tem de lidar. Acredito que na Itália todos saibam ler, mas não que tenham lido a Divina Comédia.

- Depois de tantos livros, escrever é mais fácil?

- É muito prazeroso, para mim, mas fácil não diria que é. Escrevo e volto ao texto várias vezes. Escrevo todo dia, menos quando dou entrevista. (Risos)


- Graciliano Ramos dizia que escrever era sofrido, e é preciso torcer, retorcer e enxugar palavras como as lavadeiras dos rios... 

Para ele deveria ser mesmo, porque era muito conciso; eu não sou. 
Sou prolixo, falastrão, mas volto muito ao texto. 
Eu não diria retorcer, mas gosto de esculpir. Procuro sempre a expressão, não a sobriedade. Procuro usar palavras que sejam necessárias para expressar uma paixão. 
Sou um escritor apaixonado, não sou frio, não. Preciso, inclusive, de adjetivos. 
Já vi muita gente elogiando Graciliano porque não usava adjetivos, e reclamando de mim. Uso sim. 
Um dos mestres que mais admiro no Brasil, Euclides da Cunha, usava muito. 
A linhagem de Machado de Assis tem certo preconceito com o adjetivo, e Graciliano era dessa linhagem. Sou da outra, da de Euclides da Cunha.

- A academia debate o idioma, uns mais radicais em relação ao uso; outros, mais flexíveis. O que pensa disso?

- É preciso distinguir as coisas. A linguagem escrita é uma coisa, a falada é outra. 
Na escrita, você faz escolhas, às vezes se aproxima mais da fala, às vezes se afasta. 
A linguagem literária é diferente, inclusive, tenho antipatia pelos escritores que forçam uma linguagem errada para aproximar-se do linguajar do povo. Procuram imitar a letra da linguagem popular, não o espírito. É preconceito, uma discriminação. 
Quando você apresenta um personagem que pertence à classe média, não vai inventar e colocar prosódias de acordo com o que você diz. 
Eu, por exemplo, quando falo, não digo "cadeira", digo "cadêra". Mas, se a pessoa me põe como personagem, escreve "cadeira", porque a escrita é uma convenção. 
Agora, se é personagem do povo, escrevem "cadêra". Digo "nóis", não "nós". Mas se é um homem do povo põem "nóis". 
Tenho horror a isso. Acho uma falta de respeito ao povo, uma tentativa de encontrar, na caricatura, uma naturalidade diferente. 
É a mesma coisa quando me chamam de "contador de causos". 
Não é nem daqui (Nordeste), é coisa de Minas e São Paulo. Não tem nada a ver comigo.

- Como seria, então, a busca desse espírito da fala popular?

- Sem querer puxar a brasa para a minha sardinha, mas no "Auto da Compadecida" não tem um erro de português lá, mas duvido que você, ouvindo a leitura do livro, não sinta a sonoridade popular.

- O senhor é defensor da preservação e do registro das manifestações populares. Sem isso, qual o risco para o país?

O risco é enorme de o povo ir para um canto e o país, para outro. 
Toda a minha tentativa é de evitar ou resolver essa dilaceração que há no Brasil, entre uma expressão popular artística, literária e a literatura e arte que a gente faz. Procuro muito as duas coisas.

- Para a diversidade continental, qual a importância de sermos o único país que fala português na América?
(Suassuna fala sobre a obra em oficina para grupo de atores do especial da Rede Globo) 

- Primeiro, não acho que haja risco de influências negativas porque olho sempre a própria Península Ibérica como uma unidade. Espanhol, galego, português e catalão são primos legítimos e muito parecidos. 
A mesma coisa acho daqui. 
Fiquei orgulhoso quando o "Auto da Compadecida" foi encenado no México. 
Um escritor de lá se identificou tanto que publicou uma carta a João Grilo, no jornal. 
Dizia que via em João Grilo o povo mexicano. 
Quando leio Carlos Fuentes [escritor panamenho de grande projeção no México], sinto as mesmas preocupações com o México que tenho em relação ao Brasil. 
Olho Pancho Vila e Emiliano Zapata e olho os caudilhos daqui, Antonio Silvino e Lampião, e acho parentesco. Se bem que os daqui têm menos programa político. Mas há semelhança. 
Somos uma grande unidade. 
Isso não me preocupa muito, porque o próprio Brasil não é só uma unidade. É unidade de contrastes. 
Dentro do país há diferenças tão grandes quanto entre nós e a Bolívia. Da Amazônia para Minas, as diferenças são gigantes.


- Não é incrível um país do tamanho do Brasil conseguir ter apenas um idioma oficial?

- Um milagre, na verdade. Já pensei muito nisso. 
Primeiro achei que era a Igreja Católica a responsável pela unidade brasileira. Mas a Igreja sempre esteve na América espanhola, e ela se fracionou. 
Na minha visão, foi uma jogada política brilhante de um cidadão chamado José Bonifácio de Andrada e Silva. Ele teve a ideia genial, muito criticada pelos radicais e impacientes da época, de realizar a independência do Brasil tendo à frente o herdeiro da coroa portuguesa. 
Então, repare, a independência em vez de ser feita por generais nas diversas regiões, foi feita pelo príncipe, que tinha todo o interesse em manter o país. 
Dom Pedro I chamou o Brasil de Império. 
Não poderia ser um reino como Portugal, teria de ser império por causa das dimensões continentais. Dom Pedro expressou isso. 
Então, José Bonifácio fez dele o centro da independência. 
Mesmo assim, o Rio Grande quase vai embora na Revolução Farroupilha, o Nordeste quase escapa em 1824, com a Confederação do Equador. Mas a coroa sustentou. 
Tenho a impressão de que foi graças a essa jogada de Bonifácio que surgiu a unidade do Brasil.

- O senhor tem fama de radical e purista, principalmente quanto à invasão de termos estrangeiros no português...

- Reconheço que radicalizei a vida toda, mas é que precisava. 
Veja bem, não tenho preconceito contra palavras estrangeiras no idioma. Mas as palavras devem ser conformadas ao estilo da nossa língua. 
Os jornalistas esportivos do Brasil prestaram um benefício enorme. Quando eu era menino, as palavras ligadas a futebol eram em inglês. Escrevia-se football. Gol era goal, goleiro era goal keepper e escanteio, corner. 
É preciso reconhecer que os jornalistas criaram essas palavras que hoje são ditas naturalmente. Às vezes há absurdos. O plural que criaram para "gol" é louco: "gols". Quando os locutores dizem "gous", não é o mesmo que "gols".

- Projeto como o do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que cogitou a proibição do uso de termos estrangeiros, conteriam a invasão estrangeira?

- Não sei, não. O caminho para combater isso não sei, eu me limito a ridicularizar.

- O que os pernambucanos podem esperar, então, de seu secretário de Cultura?

- (Risos) Acho que os pernambucanos não podem esperar muito, não, mas o que puder fazer pela nossa cultura, vou fazer. 
Digo sempre: não me considero otimista, acho os otimistas ingênuos. Nem pessimista, acho eles amargos. Eu me considero um realista-esperançoso. 
Tenho esperança. 
A esperança é uma das três virtudes chamadas teologais (fé, esperança e caridade). Sou fraco na fé, na caridade, mas sou bom na esperança. 
Luto, sou um homem animoso. 
É possível participar das coisas e a gente não deve ter medo, mesmo que a tarefa pareça invencível. 
*            *            *

OBRAS DE ARIANO SUASSUNA:

Uma Mulher Vestida de Sol (1948); 
Ode (1955); 
Fernando e Isaura (1956); 
Auto da Compadecida (1957); 
O Casamento Suspeitoso (1961); 
O Santo e a Porca (1964); 
A Pena e a Lei (1971); 
Romance d'A Pedra do Reino 
e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971); 
Farsa da Boa Preguiça (1974); 
História d'O Rei Degolado nas Caatingas 
do Sertão: ao Sol da Onça Caetana (1977); 
Sonetos com Mote Alheio (1980); 
Sonetos de Albano Cervonegro (1985); 
A História de Amor de Romeu e Julieta (1997).

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R.I.P., ARIANO SUASSUNA

Página da Revista "Cláudia" - facebook


Faleceu hoje o escritor, poeta e dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, aos 87 anos.
Várias de suas obras foram adaptadas para televisão e para o cinema, como “O Auto da Compadecida, "Romance d'a pedra do reino" e "O príncipe do sangue do vai-e-volta".

Julho é um mês triste para a literatura nacional. Ao lado de João Ubaldo Ribeiro e Rubem Alves, Suassuna é o terceiro a partir.
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“Ariano Suassuna já andou totalmente nu, pelado mesmo, pelo Palácio da Redenção, sede do governo da Paraíba. 
Afinal, foi lá onde nasceu, pois era filho do governador (“presidente”, como se dizia na época), em 1927. 

Tinha três anos quando o pai morreu assassinado por conta das disputas políticas no estado. Ariano passou a infância em Sousa, no Alto Sertão paraibano, e, depois, em Taperoá, na região dos Cariris. 

Aos 15 anos, sua família mudou-se para o Recife. 

Para o teatro, escreveu várias tragédias e comédias, além de romances. 

Criou o Movimento Armorial, no qual a literatura de cordel mistura-se a rabecas e pífanos, sob forte influência ibérica e moura. 

Vive no Poço da Panela, em Recife. É secretário Especial de Cultura de Pernambuco.”

(Inácio França em seu blog “Caótico”)


Muitos aplausos para você, Ariano Suassuna.
16/06/1927
23/07/2014

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terça-feira, 22 de julho de 2014

ALBERT EINSTEIN - Carta à sua filha Lieserl

Publicado no facebook pela amiga Gabriella, em Portugal, a quem agradeço.



O AMOR
CARTA DE EINSTEIN À SUA FILHA LIESERL

Quando propus a teoria da relatividade, muito poucos me entenderam e o que vou agora revelar a você, para que transmita à humanidade, também chocará o mundo, com sua incompreensão e preconceitos.

Peço ainda que aguarde todo o tempo necessário -- anos, décadas, até que a sociedade tenha avançado o suficiente para aceitar o que explicarei em seguida para você.

Há uma força extremamente poderosa para a qual a ciência até agora não encontrou uma explicação formal. 
É uma força que inclui e governa todas as outras, existindo por trás de qualquer fenômeno que opere no universo e que ainda não foi identificada por nós.

Esta força universal é o AMOR.

Quando os cientistas estavam procurando uma teoria unificada do Universo esqueceram a mais invisível e poderosa de todas as forças.

O Amor é Luz, dado que ilumina aquele que dá e o que recebe.
O Amor é gravidade, porque faz com que as pessoas se sintam atraídas umas pelas outras.

O Amor é potência, pois multiplica (potencia) o melhor que temos, permitindo assim que a humanidade não se extinga em seu egoísmo cego.

O Amor revela e desvela.
Por amor, vivemos e morremos.

O Amor é Deus e Deus é Amor.

Esta força tudo explica e dá SENTIDO à vida. 
Esta é a variável que temos ignorado por muito tempo, talvez porque o amor provoca medo, sendo o único poder no universo que o homem ainda não aprendeu a dirigir a seu favor.

Para dar visibilidade ao amor, eu fiz uma substituição simples na minha equação mais famosa. Se em vez de E = mc², aceitarmos que a energia para curar o mundo pode ser obtida através do amor multiplicado pela velocidade da luz ao quadrado (energia de cura = amor x velocidade da luz ²), chegaremos à conclusão de que o amor é a força mais poderosa que existe, porque não tem limites.

Após o fracasso da humanidade no uso e controle das outras forças do universo, que se voltaram contra nós, é urgente que nos alimentemos de outro tipo de energia. 
Se queremos que a nossa espécie sobreviva, se quisermos encontrar sentido na vida, se queremos salvar o mundo e todos os seres sensíveis que nele habitam, o amor é a única e a resposta última.

Talvez ainda não estejamos preparados para fabricar uma bomba de amor, uma criação suficientemente poderosa para destruir todo o ódio, egoísmo e ganância que assolam o planeta.
No entanto, cada indivíduo carrega dentro de si um pequeno, mas poderoso gerador de amor, cuja energia aguarda para ser libertada.

Quando aprendemos a dar e receber esta energia universal, Lieserl querida, provaremos que o amor tudo vence, tudo transcende e tudo pode, porque o amor é a quintessência da vida.

Lamento profundamente não ter sido capaz de expressar mais cedo o que vai dentro do meu coração, que toda a minha vida tem batido silenciosamente por você. 
Talvez seja tarde demais para pedir desculpa, mas como o tempo é relativo, preciso dizer que te amo e que a graças a você, obtive a última resposta.

Seu pai,
Albert Einstein

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RUBEM ALVES - Sobre a morte e o morrer

Sobre a morte e o morrer
Rubem Alves

O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.” 
A vida é tão boa! Não quero ir embora…

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. 
Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: “Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?”. 
Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: “Não chore, que eu vou te abraçar…” 
Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: 
E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega… O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias… Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. 
Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. 
O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. “Minha filha, sei que minha hora está chegando… Mas, que pena! A vida é tão boa…

Mas tenho muito medo do morrer. 
O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. 
Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.
(...)

Aprendi com Albert Schweitzer que a “reverência pela vida” é o supremo princípio ético do amor. Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?
(...)
Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.
(...)
Dizem as escrituras sagradas: “Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer”. 
A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. 
A “reverência pela vida” exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir.

Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a “morienterapia”, o cuidado com os que estão morrendo. 
A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. 
Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs.



Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a “Pietà” de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.


*            *            *

sexta-feira, 18 de julho de 2014

ANDRÉ J.GOMES - Viva João Ubaldo Ribeiro!

Viva João Ubaldo Ribeiro !
André J. Gomes - "Revista Bula", 18 de julho 2014

É que tem gente que deixa o mundo melhor, né? 
Tem gente que abre o riso e o tempo. No meio de tanta bobagem, tanto desgosto, tanto ranço, tanta empáfia, tem gente que faz a vida mais simples em toda a sua complexidade.

Tempos difíceis, os nossos. Já faz tempo que é assim. 
É que a gente aprendeu a levar o carro adiante no tranco. Aprendeu o ritmo louco das coisas, descobriu como faz pra seguir em frente quando sobe e quando desce.

É que tem gente que ajuda muito. Gente que ilumina, farol na praia selvagem, luz na picada estreita, fogo estalado no silêncio frio que vez ou outra toma a alma da gente.

Tem gente que inventa que a vida vai ser mais simples e mais bonita e interessante e ai dela se não for. 
Gente que transforma seu tempo em graça e inteligência só porque existe.

Gente que é força da natureza, que troveja quando fala, venta quando caminha e transforma quem o vê, quem o ouve e quem o sente.

Ah… mestre. Agora me dou conta de que dei seu nome ao meu filho. 
Não foi por sua causa, não. Mas é uma coincidência boa, dessas que você me ensinou a ver por aí. 
Agora percebo quantas vezes a sua risada me empurrou à frente, quanto do seu pensamento ora esclareceu o meu, ora bagunçou tudo, quantas brigas imaginárias contigo me fizeram mais safo. 
Quantas vezes eu senti vontade de ser você.

Obrigado, homem da ilha, baiano da gota. 
Viver é mais doce e mais bonito porque vira e mexe Deus manda gente como você fazer das suas aqui embaixo.

E, olha, tem tanta lembrança sua por aqui que a saudade que já existe quase não vai aporrinhar tanto. 
É que tem gente que nasce, vive e não morre nunca mais.

Viva o povo brasileiro. Viva João Ubaldo Ribeiro!


*        *        *

terça-feira, 8 de julho de 2014

ADÉLIA PRADO - Ensinamento

Ensinamento 
Adélia Prado

Minha mãe achava estudo 
a coisa mais fina do mundo. 
Não é. 
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, 
ela falou comigo: 
"Coitado, até essa hora no serviço pesado". 
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente. 

Não me falou em amor. 
Essa palavra de luxo.

*        *        *


In "Bagagem", p.118

segunda-feira, 7 de julho de 2014

CASTRO ALVES - Meu segredo (parte I)

Meu segredo
Antônio Frederico de Castro Alves
(Bahia, 14 de março de 1847 - 06 de julho de 1871)


                            À Senhora D* * *

I

Eu tenho dentro d'alma o meu segredo
Guardado como a pérola do mar;
Oculto ao mundo como a flor silvestre
Lá no vale escondida a vicejar.

Eu guardo-o no meu peito... É meu tesouro,
Meu único tesouro desta vida.
— Sonho da fantasia — flor efêmera
Uma nuvem, talvez, no céu perdida ...

Mas que importa? É uma crença de minha alma
— Gota de orvalho d'alva da existência 
Última flor, que vive aos raios mornos 
Do sol de amor na quadra da inocência.

Só, quando a terra dorme solitária
E ergue-se à meia-noite, branca, a lua,
E a brisa geme cantos de tristeza
Na rama — do pinheiro — que flutua;

E quando — o orvalho pende do arvoredo
Que se debruça p'ra beijar o rio,
E as estrelas no céu cintilam lânguidas
— Pérolas soltas de um colar sem fio;

Então eu vou sentar-me sobre a relva,
Eu vou sonhar meus sonhos ao relento,
E só conto o segredo de minh'alma
Das horas mortas ao tristonho vento.

*            *            *

sexta-feira, 4 de julho de 2014

ALEXANDRE O'NEILL - Amigo

Amigo
Alexandre O'Neill

Mal nos conhecemos 
Inauguramos a palavra «amigo». 

«Amigo» é um sorriso 
De boca em boca, 
Um olhar bem limpo, 
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece, 
Um coração pronto a pulsar 
Na nossa mão! 

«Amigo» (recordam-se, vocês aí, 
Escrupulosos detritos?) 
«Amigo» é o contrário de inimigo! 

«Amigo» é o erro corrigido, 
Não o erro perseguido, explorado, 
É a verdade partilhada, praticada. 

«Amigo» é a solidão derrotada! 

«Amigo» é uma grande tarefa, 
Um trabalho sem fim, 
Um espaço útil, um tempo fértil, 
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa! 

*        *        *

In:  'No Reino da Dinamarca'

quinta-feira, 3 de julho de 2014

JOSÉ LUIZ PEIXOTO - Cada dia é sempre...

Cada Dia é Sempre Diferente dos Outros
José Luiz Peixoto - escritor português

Cada dia é sempre diferente dos outros, mesmo quando se faz aquilo que já se fez. Porque nós somos sempre diferentes todos os dias, estamos sempre a crescer e a saber cada vez mais, mesmo quando percebemos que aquilo em que acreditávamos não era certo e nos parece que voltamos atrás. 
Nunca voltamos atrás. Não se pode voltar atrás, não se pode deixar de crescer sempre, não se pode não aprender. Somos obrigados a isso todos os dias. 
Mesmo que, às vezes, esqueçamos muito daquilo que aprendemos antes. Mas, ainda assim, quando percebemos que esquecemos, lembramo-nos e, por isso, nunca é exatamente igual.

— Por que, pai?

— Porque a memória não deixa que seja igual, mesmo que seja uma memória muito vaga, mesmo que seja só assim uma espécie de sensação muito vaga. 
É que a memória não é sempre aquilo que gostaríamos que fosse. 
Grande parte dos nossos problemas estão na memória volúvel que possuímos. 
Aquilo que é hoje uma verdade absoluta, amanhã pode não ter nenhum valor. 
Porque nos esquecemos, filho. Esquecemos muito daquilo que aprendemos. E cansamo-nos. 
E quando estamos cansados, deixamos de aprender. 
Queremos não aprender por vontade. Essa é a nossa maneira de resistir, mais ou menos, àquilo que nos custa entender. 
E aquilo que nos custa entender pode ter muitas formas, pode chegar de muitos lugares.

— Por que, pai?

— Porque nos parece que é assim. Mas talvez não seja assim. 
Aquilo que nos custa entender é sempre uma surpresa que nos contradiz. 
Então, procuramos convencer-nos das mais diversas maneiras, encontramos as respostas mais elaboradas e incríveis para as perguntas mais simples. 
E acreditamos mesmo nelas, queremos mesmo acreditar nelas e somos capazes. Somos mesmo capazes. 
Não imaginas aquilo em que somos capazes de acreditar.

— Por que, pai?

— Porque temos de sobreviver. 
Porque, à noite, a esta hora, temos de encontrar força para conseguirmos dormir, descansar, e temos de acreditar que no dia seguinte poderemos acordar na vida que quisemos, que desejamos.
Temos de acreditar que poderemos acordar na vida que conseguimos construir e que essa vida tem valor, vale a pena. 
Muito mais difícil do que esse esforço é considerarmos que fomos incapazes, que não conseguimos melhor, que a culpa foi nossa, toda e exclusiva.

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In 'Abraço'