Para Ariano Suassuna, um homem
de ideias e sonhos
André J. Gomes - 'Revista Bula', 24 de julho 2014
Andando pra todo lado, de jeito santo e letrado, o rei feito andarilho viu o mundo, desceu ao fundo, cada pai e cada filho e cada mãe, ouviu o velho, ouviu o novo com paciência, gente de toda idade, pra entender de verdade a querência de seu povo.
E de tudo o que ele via, dedicado em seu trajeto, o rei fez poesia de encantar o mais abjeto. Nessa vida da gente modesta, com o povo fez sua festa. Aprendeu de tudo que não imaginava, e no trono já nem pensava.
Os anos foram passando, e o rei foi aqui ficando. Trabalhava feito louco, fez de tudo um pouco. Fez livros, fez peças, fez gravuras, fez amigos e inimigos, fez afetos gentis e desafetos imbecis. Foi advogado de profissão, professor, acadêmico, usou fardão! Fez filhos? Não. Fez uma prole! Só não fez foi corpo mole, que a vida anda dureza e não assente mera esperteza.
Pra oferecer conhecimento, ele não tinha lugar e não tinha hora. E até Nossa Senhora, precisada de opinião, o rei daqui mandou chamar. Lá foi ele dessa feita, as mãos juntas em oração, perguntar à Mãe Perfeita, se lhe cabia colaboração.
Tenho cá umas pendências, coisa de todo dia, respondeu a Virgem Maria. E você, cheio de experiências, pode muito me ajudar.
Então o rei voltou à terra, dar adeus, até logo aos seus. Mas seguro, de olhar firme, garantiu: ninguém se avexe, viu? Isso não é partida. Vou ali com a Compadecida olhar de perto para os meus.
Juntou suas coisas, seus livros e lembranças num gibão, montou seu cavalo de olhar esverdeado e cavalgou enluarado, até depois da imensidão.
E você, boa gente, leve essa história à frente. Mas se alguém quiser saber, curioso, gritando “como foi? Conta pra mim!”, você responda simplesmente:
“Não sei. Só sei que foi assim”.
Para Ariano Vilar Suassuna, com a gratidão de sua gente.
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