segunda-feira, 7 de julho de 2014

CASTRO ALVES - Meu segredo (parte I)

Meu segredo
Antônio Frederico de Castro Alves
(Bahia, 14 de março de 1847 - 06 de julho de 1871)


                            À Senhora D* * *

I

Eu tenho dentro d'alma o meu segredo
Guardado como a pérola do mar;
Oculto ao mundo como a flor silvestre
Lá no vale escondida a vicejar.

Eu guardo-o no meu peito... É meu tesouro,
Meu único tesouro desta vida.
— Sonho da fantasia — flor efêmera
Uma nuvem, talvez, no céu perdida ...

Mas que importa? É uma crença de minha alma
— Gota de orvalho d'alva da existência 
Última flor, que vive aos raios mornos 
Do sol de amor na quadra da inocência.

Só, quando a terra dorme solitária
E ergue-se à meia-noite, branca, a lua,
E a brisa geme cantos de tristeza
Na rama — do pinheiro — que flutua;

E quando — o orvalho pende do arvoredo
Que se debruça p'ra beijar o rio,
E as estrelas no céu cintilam lânguidas
— Pérolas soltas de um colar sem fio;

Então eu vou sentar-me sobre a relva,
Eu vou sonhar meus sonhos ao relento,
E só conto o segredo de minh'alma
Das horas mortas ao tristonho vento.

*            *            *

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