André J. Gomes - "Revista Bula", 18 de julho 2014
Tem gente que abre o riso e o tempo. No meio de tanta bobagem, tanto desgosto, tanto ranço, tanta empáfia, tem gente que faz a vida mais simples em toda a sua complexidade.
Tempos difíceis, os nossos. Já faz tempo que é assim.
É que a gente aprendeu a levar o carro adiante no tranco. Aprendeu o ritmo louco das coisas, descobriu como faz pra seguir em frente quando sobe e quando desce.
É que tem gente que ajuda muito. Gente que ilumina, farol na praia selvagem, luz na picada estreita, fogo estalado no silêncio frio que vez ou outra toma a alma da gente.
Tem gente que inventa que a vida vai ser mais simples e mais bonita e interessante e ai dela se não for.
Gente que transforma seu tempo em graça e inteligência só porque existe.
Gente que é força da natureza, que troveja quando fala, venta quando caminha e transforma quem o vê, quem o ouve e quem o sente.
Ah… mestre. Agora me dou conta de que dei seu nome ao meu filho.
Não foi por sua causa, não. Mas é uma coincidência boa, dessas que você me ensinou a ver por aí.
Agora percebo quantas vezes a sua risada me empurrou à frente, quanto do seu pensamento ora esclareceu o meu, ora bagunçou tudo, quantas brigas imaginárias contigo me fizeram mais safo.
Quantas vezes eu senti vontade de ser você.
Obrigado, homem da ilha, baiano da gota.
Viver é mais doce e mais bonito porque vira e mexe Deus manda gente como você fazer das suas aqui embaixo.
E, olha, tem tanta lembrança sua por aqui que a saudade que já existe quase não vai aporrinhar tanto.
É que tem gente que nasce, vive e não morre nunca mais.
Viva o povo brasileiro. Viva João Ubaldo Ribeiro!
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