sábado, 13 de novembro de 2010

MARCELO GLEISER - As marés

AS MARÉS
Marcelo Gleiser - físico e astrônomo


Quando pensamos em nossa conexão com o cosmo, ao menos com relação ao que nos afeta diretamente aqui na Terra, pensamos logo na luz e no calor vindos do Sol ou na luz da Lua e das estrelas.

Pensamos também na gravidade, que faz a Terra girar ao redor do Sol. 
A noção de gravidade como uma força que age entre dois ou mais corpos com massa só foi esclarecida por Newton em 1687, ano em que sua grande obra foi publicada, ‘Princípios Matemáticos da Filosofia Natural’.
Nela, Newton aplicou suas idéias a fenômenos até então inexplicáveis, como a existência das marés, as órbitas dos cometas ou o fato de a Terra ser ligeiramente achatada nos pólos. (Havia um debate entre ingleses e franceses sobre a forma da Terra; os franceses alegavam que a Terra era achatada no equador e os ingleses nos pólos.)

O fenômeno das marés é a conexão mais tangível que temos com o efeito da gravidade da Lua e do Sol aqui na Terra. Ele é, também, fonte de muita confusão.

Galileu, que viveu antes de Newton e desconhecia o conceito de força gravitacional, tentou usar as marés para provar que a Terra não só girava ao redor do Sol como em torno de si própria.
Imagine uma criança correndo numa pista circular e ao mesmo tempo girando em torno de si mesma.
Galileu argumentou que a maré é alta ou baixa dependendo de como esses movimentos se completam: na região em que ambos têm a mesma direção, a terra avança mais rapidamente do que as águas e a maré é baixa; quando os movimentos se opõem, a maré é alta. 
Mas a teoria de Galileu tinha problemas.

Na maioria das regiões costeiras, há diariamente duas marés altas e duas baixas. 
O nível das águas pode variar de centímetros a metros. 
Por exemplo, na região entre a costa leste americana e canadense existe uma baía onde as marés altas alcançam 20 metros.
Mesmo que as marés sejam uma combinação das ações do Sol e da Lua sobre a Terra, vamos nos concentrar primeiro na ação da Lua. 
A força da gravidade cai com o quadrado da distância.
Portanto, imaginando uma linha ligando a Terra à Lua, a atração da Lua sobre a Terra será maior na parte da Terra à sua frente, pois é a mais próxima.

Tanto os oceanos quanto a superfície da Terra são atraídos pela Lua, causando uma deformação em sua direção.
As águas, mais maleáveis do que o material rochoso da Terra, são mais mobilizadas, resultando em maré alta. 
As regiões perpendiculares à linha ligando Terra e Lua sofrem uma maré baixa.
E as outras duas marés? 
Voltando à linha imaginária, a parte da Terra oposta à Lua também sofre uma maré alta: embora a atração da Lua sobre a Terra ali seja mais fraca do que na parte de frente para a Lua, é ainda maior do que a atração sobre o oceano, que está mais longe.
Com isso, a superfície da Terra é ‘puxada’ debaixo do oceano, aumentando sua profundidade, ou seja, causando a maré alta.
Como a Terra completa um giro por dia, as duas marés altas ocorrem com um intervalo aproximado de doze horas.

A influência do Sol causa deformação semelhante, mas não tão drástica. 
A combinação das duas influências explica a variação da altura das marés no decorrer do ano.
Durante Lua nova ou cheia, quando Lua e Sol estão alinhados, as marés são mais pronunciadas. 

Ver a maré subindo e descendo é ver a coreografia entre Terra, Lua e Sol, regida pelas mãos da gravidade.
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