quarta-feira, 17 de novembro de 2010

COISAS GUARDADAS





Maio/2008
O ADEUS À "SENHORA DONA DO BAILE"

Até mais ver, Zélia


É isso mesmo. Até mais ver. Porque você – e vai me perdoar o tratamento, pois que o meu tempo-convivência com seus livros talvez me confira esse direito – me levou a conhecer com “Anarquistas, Graças a Deus” a saga de muitos imigrantes, a vinda deles para o Brasil no início do século XX. A fuga da Itália, o caminho percorrido, as dificuldades em chegar a um país estranho e ser um estrangeiro em outro país saído recentemente da escravidão.

É uma história familiar, um álbum de memórias, de lembranças, de recordações de uma família italiana como qualquer outra, mas que, também como toda família, tem uma história especial, cercada de alegrias e preocupações, com questões ideológicas e valores particulares.

Uma história simples mas comovente, e que me levou a pensar nas tantas situações que fazem muitas famílias saírem de sua terra e tentarem sobreviver em outro país, e mais que sobreviver, viver com dignidade.

Quando o li – eu também filha de imigrante – senti mais fortemente como as histórias de família estrangeira nos acompanham para sempre e dão maior ênfase à nossa cidadania brasileira. A identificação com a personagem – no caso você mesma – foi tanta que várias vezes voltava às páginas desse livro, e a sensação era de proximidade, de familiaridade mesmo, nos vários episódios que você relatava.

A partir desse livro, confesso que ficava ansiosa pelos outros que viriam. E eles vieram. “Um chapéu para viagem”, seu segundo livro, me fez rir, me fez chorar, me encantou e me ensinou outras tantas coisas necessárias à boa convivência em família. Depois, com “Jardim de Inverno” e “Senhora Dona do Baile”, “viajei” com vocês pela Europa, entendi como as viagens nos fazem crescer e nos enriquecem espiritualmente, e como, apesar de diferentes, todas as culturas se tocam ao tratar da essência do ser humano, que é, afinal o que todos somos: iguais em nossas diferenças culturais.

E – maravilha das maravilhas – muito cedo, minhas filhas puderam conhecer o seu talento de escritora e seu amor de mãe e avó. Elas tiveram o privilégio de ler “Pipistrelo das mil cores” , o “dragãozão”, diziam, e com ele iniciar a fascinante aventura da ficção. Hoje, meus netos também seguem essa viagem e se emocionam, se divertem, aprendem. Por isso, Zélia, sou-lhe muito grata.

Lembro-me agora de ter lido um trecho de seu discurso por ocasião de sua entrada na Academia Brasileira de Letras, dirigindo-se ao seu Jorge Amado, em que você disse: ... "não sabia que eu tinha uma estrela que me guiaria para nosso encontro" . Penso que todos nós temos, em algum momento de nossa vida, uma estrela que nos leva ao encontro, ainda que por meio dos livros, de pessoas que nos tornam melhores porque nos deixam o melhor de si mesmas.
Até mais ver, ZÉLIA GATTAI.

Sueli Madeira.
Itatiaia, 17 de maio de 2008

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O ano se inicia em 2007, e nada melhor do que os versos de Thiago de Mello em uma linda peça publicitária.  Depois, fragmentos, recortes, textos que resolvi guardar.


Janeiro/2007
Fragmentos de "O Estatuto do homem"
"Artigo II
Fica decretado que,
a partir deste instante,
as janelas devem
permanecer o dia inteiro
abertas para o verde."
(...)
"Artigo III
A palavra liberdade
será suprimida
dos dicionários.
A partir deste instante
será algo vivo,
como o fogo e o mar."
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Resumo de artigo sobre Chico Buarque
Depois de 8 anos sem lançar um disco com músicas inéditas, Chico Buarque saudou o público com o CD "Carioca" e um novo DVD, "Desconstrução" - gravação do mesmo show "Carioca."
É bom tê-lo de volta. Ele fala pouco, mas é sempre polêmico. Desglamourizou o rótulo de "símbolo sexual" a ele atribuído e mostrou a uma sociedade movida pela busca dos 15 minutos de fama que há coisas mais importantes na vida.  Sem vaidade, disse que era ridículo chamar de sexy um sexagenário como ele.
O retorno desse ícone da MPB é um bom augúrio para 2007.
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 Recortes de publicidade:
1."Bem estar é olhar para dentro em busca de respostas."

2."O NOVO
O novo incomoda.
Por quê?
porque desafia.
Mas, queiram ou não, o novo sempre vem.
E, para nossa felicidade,
o novo geralmente vence.
E, quando o novo vence,
a máquina do mundo gira melhor.
Novos projetos deixam as tristezas
numa agenda que não se abre mais.
Novas crianças surgem para nos dar as mãos.
Novos passos exigem de nós coragem.
O novo é belo porque nos muda,
nos leva a novas estações.
O novo nos torna melhores.
O novo é lindo."
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Fevereiro/2007 
Poesia para regar o dia - Elisa Lucinda (in: A fúria da beleza)
A ESTRADA
A porta parece com a dona:
só abre por dentro,
não é preciso bater,
só batucar com sentimento.

Uma mulher, meu amigo...
o que é uma mulher, meu amigo?
Senão uma casa, um lar,
senão uma estrada a raiar?
Então a mulher é mais que uma porta de entrar,
e é você quem a abrirá.
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Julho/2007

Penso que sou como as árvores:
às vezes, floresço,
às vezes, me desfolho -
tudo a seu tempo.
E assim,
vou me submetendo às minhas
estações interiores.
No céu navego,
olhar aberto
de sol e nuvens.
Me banho à luz do poente.
Às vezes não sei
se sou ar, terra ou mar.
Enfim, sou todo o universo:
um verso no ar,
na terra e no mar.
Então, quem sou eu?
                               Itatiaia, 05/7/2007


Outubro/2003

Ao 1º ano de Letras
Resende, 03 de outubro de 2003

Caros Alunos :
Vocês não imaginam com que prazer assisti à apresentação do trabalho “Cartas para Maria”, que tão bem souberam divulgar e valorizar.

A leitura das mensagens, o belo texto da colega poetisa, o poema de Fernando Pessoa, maravilhosamente dito, sem os exageros declamatórios tão comuns e que costumam destruir o conteúdo poético, tudo, tudo mesmo, foi uma demonstração de bom-gosto .

Posso lhes garantir que me emocionei várias vezes durante a apresentação, tanto pela revelação de um extraordinário ser humano como Dona Maria, mas também e principalmente pelo respeito e admiração que vocês têm por ela.

É raro, raríssimo, em dias tão turbulentos e imediatistas, realizar-se uma reunião como a da quinta-feira passada, em que estudantes envolvidos e compromissados com a carreira que escolheram, demonstram a mais alta sensibilidade ao trazer-nos a poesia e a delicadeza das cartas, forma de comunicação quase abolida em nossa sociedade atual, pela ansiedade da sobrevivência e pressa em obter resultados.

Nosso enorme poeta – Manuel Bandeira – que insistia em se intitular “poeta menor”, em um discurso proferido quando foi paraninfo de uma turma dizia sentir-se mais próximo dos alunos porque se tornara um “estudante vitalício”.

Faço esta alusão para que sintam que os caminhos da vida são muitos e às vezes imprevisíveis : não se trata apenas de ir em busca do diploma, mas no esforço de se aprimorar sempre dividindo a experiência e o conhecimento adquiridos.

Vocês caminham no sentido da responsabilidade com a profissão: os resultados, para nós, não aparecem de imediato – antes, pedem paciência, labor e crença numa geração que poderá acrescentar muito à cultura e ao ensino em nosso país.

Só tenho a agradecer pelos lindos momentos que me proporcionaram e, acredito, a todos os que estiveram presentes, esperando que tenhamos muitos outros eventos como esse.

Contem com a minha inteira dedicação no que lhes puder ser de alguma valia.

Sua professora
Sueli Madeira.
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Outubro/2001

“PRIMAVERA ENTRE OS DENTES” - Sueli Madeira

A noite de quinta-feira, 26 de outubro, aqui na AEDB, nos trouxe não apenas o espetáculo teatral, mas a demonstração concreta do espírito de equipe, da força de um grupo coeso, com o mesmo objetivo – a divulgação do conhecimento e da cultura.

 Numa colagem de textos de autores consagrados em língua portuguesa, alunos do 1º ano do Curso de Letras deixaram extravasar toda a perplexidade do jovem diante do mundo. Essa perplexidade não é patrimônio do nosso tempo, comprovaram-na os textos dos escritores de várias gerações e de estilos diversos; são vozes que se misturam ao nosso cotidiano e nos fazem atentar para a nossa condição humana.

A idéia surgiu da vontade de ver o ensino da língua ativado, valorizado nos textos que muitas vezes depois de lidos e apreciados ficam somente na lembrança e no currículo dos que tiveram oportunidade de conhecê-los mais aprofundadamente – no caso, os estudantes do Curso de Letras.

 A compilação dos textos partiu como sugestão aos alunos; depois, cada aluno que se identificava com esse ou aquele autor, escolheu, dentro de uma linha para o roteiro da apresentação, o texto que mais o tocara. Começaram, então, a surgir mais e mais idéias – uma avalanche – desencadeadas pela possibilidade de se levar às pessoas a alegria da descoberta, do conhecimento de um mundo até então considerado apenas de sonho, fantasia que não cabe em nossa realidade tão pragmaticamente assustadora.

 Passou-se, então, ao estudo, à pesquisa, à leitura de obras variadas – mesmo que dentro do conteúdo do 1º ano ainda não tivessem sido abordadas – mas que certamente representam o melhor do pensamento de poetas e escritores em nossa língua. Foi, como já disse, um trabalho de participação efetiva, de coesão, de grupo.

 O empenho da turma se revelou nas formas mais variadas: pesquisas sobre a época em que viveram os autores, contexto social, político, econômico, sua visão de mundo, seu estilo pessoal, enfim, a busca de uma informação do passado que nos orienta e influencia mesmo nos dias atuais.
 Confiamos que esse trabalho não se esgote com essa apresentação, mas que se desenvolva como parte da preparação dos futuros profissionais do ensino da Língua Portuguesa, pela compreensão de que toda teoria precisa do reforço da prática contínua, da aplicação das habilidades adquiridas em um Curso tão enriquecedor.

 Agradecemos a todos os que nos ajudaram a concretizar nossa idéia e particularmente à disponibilidade e boa vontade dos alunos – pessoas que, como todos nós, precisam, muitas vezes, de abrir mão de seus compromissos, seu lazer, seus cuidados com a família, para se dedicar a um projeto como esse.

 Mais do que entretenimento, foi uma oportunidade de reflexão, uma pausa na correria, uma “parada estratégica”.
Obrigada a todos e até mais.
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DA VOVÓ, COM MUITO CARINHO


Presenteei meu primeiro neto, no seu 11º aniversário, com este livro em 3 de setembro de 2001.
O texto me emociona até hoje, e gosto de fazer esta leitura para cada um dos outros netos lindos.


Com a chegada de cada neto, nós, as vovós, sentimo-nos como se tivéssemos recebido uma medalha.
A maior, a mais dourada. Não existe honra maior do que ver que nosso bebê teve seu próprio bebê.

No dia em que nasceste, todos nós da família te contemplávamos extasiados. Nos emocionava perceber quanto eras frágil. Frágil? Bastou tua mãozinha agarrar meu dedo para que meu mundo desse uma volta completa.
Desde então, nada mais foi o mesmo em meu mundo: és o melhor presente que a vida me deu.

Quando te ninava em meus braços para te fazer dormir, perguntava-me quem desfrutava mais esses doces momentos.
Respondendo às tuas perguntas inquietas e consolando-te quando estavas triste, encontrei respostas que busquei a vida toda e alegrias com que jamais sonhei.
Desejo que tenhas tempo para sonhar, tempo para recordar e tempo para alcançar as estrelas. Tempo para que sejas o melhor que houver em ti.

Eu te prometo
Que quando vieres me ver, minha casa será sempre redonda: não terá arestas, perigos ou discussões.
Comeremos chocolate na cama e não contaremos nada a ninguém...
Meu programa de televisão favorito será o teu, embora elejas um novo a cada dia.
Rirei de tuas piadas a cada vez que as contes, mesmo que as contes mil vezes...
E sempre,
Sempre terei tempo para te escutar ou para, simplesmente, ficar a teu lado.


Minha receita de Felicidade
Pega 200 gramas de amabilidade e despeja alguns pensamentos positivos. Junta uma pitada de tolerância e bastante alegria.
Não meças o amor, mas espalha-o generosamente. Mistura tudo com tuas próprias mãos e logo terás produzido um dia feliz.
Para ti e para todos.

Uma vez por mês participo da competição mais difícil : uma reunião de velhas amigas.
Cada uma exibe as últimas fotos de seus netos e conta orgulhosa tudo o que fazem ou dizem de extraordinário.
Receio que não voltarão a me convidar porque lhes ganho a todas.

Nós dois compartilhamos grandes segredos:
que, às vezes, teus pais podem ser um pouco difíceis,
que conseguimos colar os pedaços daquele vaso que quebraste “sem querer”
e que tens que me dar cada vez mais vantagens quando apostamos corridas.
Precisamos um do outro...


Eu te contarei coisas que aconteceram há muito tempo...
Tu me ensinarás a usar o DVD...o computador...
Eu te darei conselhos... e logo zombaremos deles, porque o melhor é que aprendas a viver com tuas próprias experiências.

Graças a ti lembrei que a diversão é algo muito sério e que a curiosidade nos leva a grandes descobrimentos.
Que mesmo as coisas mais pequenas (uma balinha de brinde, uma história antes de dormir ou uma visita que me faças) podem ser os maiores dos prazeres.

Imaginei que me tornaria avó no entardecer de minha vida . Entretanto, chegaste e ainda me sinto a mais jovem das mulheres : que alegria voltar a percorrer este caminho com a responsabilidade única de te amar muito...
Talvez eu não possa te acompanhar em todas as etapas de tua jornada, mas meu amor abençoará cada um de teus passos.


Não há nada mais cálido que uma tarde de sol. Em uma praça, no campo ou junto ao mar.
Não há nada mais refrescante que a água cristalina, no leito de um riacho, à sombra de uma árvore.
Não há nada mais misterioso e belo que o fogo e a dança das chamas.
Não há nada mais estimulante que o ar : enche nossos pulmões e faz o coração bater ainda mais forte.
Sol, água, fogo, ar : desfruta a natureza , sê livre e ajuda a conservá-la .


Hoje te trago muitos presentes aqui em meu bolso. Quase, quase não couberam porque são muito grandes.
Vou deixá-los sobre tua cama.

Trago-te de presente uma biblioteca cheia de livros : se aprenderes a amá-los como amigos, serão tão fiéis que nem a solidão nem o tédio virão te aborrecer.

Trago-te de presente a paciência. Sei que não gostas muito disso (queres tudo agora mesmo), mas precisarás dela para realizar todos os teus sonhos.
Eu mesma tive que esperar muito por esta maravilha de ser tua vovó.


Trago-te de presente o futuro.
É todo teu e tudo o que fizeres hoje te servirá para transformar o amanhã num mundo melhor. O teu mundo.


Trago-te de presente a alegria de saber que Deus está sempre contigo. Lembra disso se estiveres triste ou muito feliz.


Trago-te de presente o amor e a confiança de toda a família.
Desfruta cada oportunidade de estarem juntos : não importa o que te aconteça ou o que faças, todos te apoiarão incondicionalmente.
Esta união será para ti, muitas vezes, o ninho em que buscarás abrigo e, outras, lugar onde encontrarás a força necessária para voar muito alto.


Jamais tenhas vergonha de expressar teus sentimentos. É verdade que eles brotam do coração, mas nunca os escondas.
As palavras formam um laço invisível e poderoso com aqueles que amamos.


Então, apesar de já tê-lo feito tantas vezes, abraço-te muito perto de meu coração e volto a dizer o quanto te amo.
E porque preenches com luz e alegria cada dia de minha vida...
desejo ser sempre a tua aliada, tua companheira, uma grande amiga.
Mas, acima de tudo, a mulher mais orgulhosa do mundo: tua vovó.

(Lidia María Riba. Da vovó, com muito carinho. Buenos Aires, Argentina. Vergara & Riba Editoras)







Anunciação


Você já sabe, Anjo, que é bem-vindo.
Você pode sentir, melhor que nós
esta ternura; no tom da nossa voz
não há promessas de um mundo lindo,
do modo a que você se acostumou.
Não, não é assim nosso lugar aqui.
Mas, sem temores, venha, sem receios.
À sua espera estão os nossos braços,
para, no melhor de todos os cansaços,
levá-lo ao colo e embalar seu sono.
Em seu caminho, todos os matizes
do Amor, que só os mais felizes
são capazes de dar e receber,
essa promessa, sim, você a tem.
Pois quando vem ao mundo uma criança,
renova-se na Terra a Esperança,
e essa Esperança é você, Nenen.
                              Sueli Madeira (maio de 1990)
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