Desconheço a autoria do poema a seguir, uma homenagem à 'Tia' Olímpia.
'Tia' Olímpia - OURO PRETO-MG |
Nhá Olímpia era fidalga
na Vila Rica de outrora
Desencantou-se aos quarenta
Virou figura folclórica
Andarilha das sete saias
sabia muitas histórias
Sua foto descorada
em Ouro Preto pairava
Sua história foi cunhada
Emaranhada entre tantas
mulheres fortes das Minas
Gerais, de ouro e prata
No caldeirão do vale
Onde a névoa faz pousada
De manhã cedo e à tardinha
Nhá Olímpia reinava
De chapéu de abas largas
com fitas, plumas, barbante
Com sua cestinha nos braços
e um cajado, imponente
Irritava os poderosos
De seus segredos ciente
Inventava outros tantos
e os espalhava, contente
Foi mandada a Barbacena
Pro hospício foi mandada
Tomar choques e remédios
Suplício pra ser calada
Voltou doída e mendiga
mas não perdeu sua aura
de fidalga de outras eras
Princesa trancafiada
Aos estudantes, turistas
e passantes. reclamava
alimento e roupa quente
que com pobres compartilhava
Em troca suas histórias
correram mundo e fronteira
a figura colorida
a fantasia certeira
Até na escola de samba
Nhá Olímpia virou moda
Quando morreu, fez-se mito
As sete saias de roda
N.Sra. do Rosário
Vela por sua figura
que ainda ronda Ouro Preto
cajado na pedra dura
***
Instantâneo
Manhã cinzenta, nuvens sombrias prenunciando chuva. Interrompo a primeira tarefa do dia, limpo as mãos e dirijo-me à varanda lateral da casa. Gosto muito de olhar a paisagem desse ângulo.
Observo a estranha figura que passa do outro lado da rua. Criatura colorida do chapéu aos sapatos, destacada na paisagem quase rural – não fosse a recente avenida de asfalto que agora corta o bairro.
Interessante – digo para mim mesma – essa moça, ou senhora, que passa do outro lado, colorida, espontânea e independente. Anda a passos largos, transmite alegria, satisfação consigo mesma e com o mundo que a recebe entre olhares de espanto e gracejos muitas vezes grosseiros. Que importa? Ela se basta, se gosta, se faz notar. É tudo que quer. Toda a cidade a conhece, porque ela se mostra, se impõe e faz-se personagem. Cobrindo-se de cores, descobre-se para a felicidade ; entrega-se aos sonhos – e os realiza – sem se preocupar com a opinião alheia.
O chapéu é vermelho, arrematado por uma flor amarela ; vestido comprido, estampado com flores miúdas e alegres, grandes mangas bufantes – aquelas que lembram um abajur ; as pernas recheiam meias coloridas em listras horizontais; as botas curtas, recobertas com o mesmo estampado do vestido. Flores da cabeça aos pés.
Comenta-se que sua casa confirma, na fachada e no interior, essa alegria de cores; é até ponto de visitação turística, principalmente para as crianças das escolas públicas da região. As paredes são pintadas e desenhadas com os tons mais inesperados e vibrantes. Diz-se também – o povo aumenta, e às vezes, inventa – que mesmo os bichos de estimação receberam tintura nos pêlos: cachorro verde, gato azul; o casco da tartaruga pintado como o de uma joaninha.
Embora se tenha feito personagem, ela é real. Seu apelido, “Xuxa”, um paralelo com o nome da apresentadora infantil, talvez se deva ao colorido atraente do qual emanam lembranças de um tempo de alegre inocência . Não sei seu nome de batismo. Desconfio que pouca gente sabe.
A moça faz um aceno jovial, como se quisesse me dizer que o sol pode estar dentro de nós e em breve acenderá o dia. Acredito na mensagem, devolvo-lhe o gesto amigável e volto aos meus afazeres.
Interessante – digo para mim mesma – essa moça, ou senhora, que passa do outro lado, colorida, espontânea e independente. Anda a passos largos, transmite alegria, satisfação consigo mesma e com o mundo que a recebe entre olhares de espanto e gracejos muitas vezes grosseiros. Que importa? Ela se basta, se gosta, se faz notar. É tudo que quer. Toda a cidade a conhece, porque ela se mostra, se impõe e faz-se personagem. Cobrindo-se de cores, descobre-se para a felicidade ; entrega-se aos sonhos – e os realiza – sem se preocupar com a opinião alheia.
O chapéu é vermelho, arrematado por uma flor amarela ; vestido comprido, estampado com flores miúdas e alegres, grandes mangas bufantes – aquelas que lembram um abajur ; as pernas recheiam meias coloridas em listras horizontais; as botas curtas, recobertas com o mesmo estampado do vestido. Flores da cabeça aos pés.
Comenta-se que sua casa confirma, na fachada e no interior, essa alegria de cores; é até ponto de visitação turística, principalmente para as crianças das escolas públicas da região. As paredes são pintadas e desenhadas com os tons mais inesperados e vibrantes. Diz-se também – o povo aumenta, e às vezes, inventa – que mesmo os bichos de estimação receberam tintura nos pêlos: cachorro verde, gato azul; o casco da tartaruga pintado como o de uma joaninha.
Embora se tenha feito personagem, ela é real. Seu apelido, “Xuxa”, um paralelo com o nome da apresentadora infantil, talvez se deva ao colorido atraente do qual emanam lembranças de um tempo de alegre inocência . Não sei seu nome de batismo. Desconfio que pouca gente sabe.
A moça faz um aceno jovial, como se quisesse me dizer que o sol pode estar dentro de nós e em breve acenderá o dia. Acredito na mensagem, devolvo-lhe o gesto amigável e volto aos meus afazeres.
Sueli.
Itatiaia, julho/2004
'Xuxa' de Itatiaia |
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