terça-feira, 23 de novembro de 2010

RUI BARBOSA ATUALÍSSIMO


SINTO VERGONHA DE MIM
Rui Barbosa - (1849-1923)

Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo,
por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a
honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado
varonil enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar
aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes
pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade,
a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada
preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal
"felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar
meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para justificar atos criminosos, a tanta relutância
em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás e
mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo
que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra,
das minhas desilusões e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir
meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto.

*           *           *
                                                     

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