"GABY - UMA HISTÓRIA VERDADEIRA" - estréia do diretor Luiz Mandocki, em 1987.
(Gaby é portadora de grave deficiência física: não anda, não fala e movimenta apenas o pé esquerdo. Com enorme esforço e o incondicional amor de uma babá, consegue ir para a escola até o Ensino Médio. Está para entrar na Universidade, quando é acometida de desânimo e pensa em desistir.
Os trechos transcritos abaixo me impressionaram profundamente na época - há tantos anos...- e marcaram, dali pra frente, um jeito de lidar comigo mesma.)
Um poema de Gaby:
"Como posso gritar
se não consigo falar?
Como posso deixar de amar,
com a semente
de uma mulher
dentro de mim?
Deus,
Se a vida é tantas coisas
que não sou e nunca serei,
dê-me forças
para ser o que sou."
O pai de Gaby conversa com ela...:
" (...) As coisas não são simples. Para ninguém. Nossas limitações podem ser menos aparentes, mas são reais como as suas. Talvez mais perigosas, por serem menos visíveis.
Você sabia que Beethoven era surdo quando compôs essa melodia? (o pai coloca no toca-discos um trecho de uma sinfonia do compositor alemão).
Como pôde compor uma música tão magnífica? Ele ouviu de dentro, "aqui" dentro... (O pai aponta para a própria cabeça). Um milagre. Mas um milagre que todos os homens compartilham. Fisicamente não somos diferentes dos macacos. A verdadeira diferença está "aqui dentro" (aponta novamente para a própria cabeça) na música de Beethoven, nos textos de Kafka, nas cores de Van Gogh. Tudo é possível "aqui dentro" (mesmo gesto anterior).
Você não é incapaz. Você tem tudo o que é necessário para criar. Seu pé pode escrever as mesmas palavras que qualquer filósofo.
Nego-me a ter pena de você. Nós inventamos limitações que não existem.
A dificuldade é distinguir as limitações reais dos nossos próprios medos. "
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